Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - 13/04/2006

 

Pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde do IOC completa dois anos

Hoje, 13 de abril, o programa de pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde (PGEBS) do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) completa dois anos. Com nove teses defendidas, cerca de 90 alunos ativos entre mestrandos e doutorandos, e a modalidade do mestrado profissional abrindo o primeiro processo seletivo no final de 2006, sobram motivos para celebrar o aniversário do mais novo programa de pós-graduação do Instituto.

Tendo como público alvo educadores, professores e profissionais dos serviços de saúde, ciência e tecnologia, o programa forma docentes e pesquisadores com o objetivo de desenvolver e avaliar projetos de pesquisas e criar novas metodologias e produtos para o ensino em biociências e saúde, nas áreas de ensino formal e não-formal. “É um curso muito diversificado, com abrangência ampla. Entre os alunos, temos médicos, jornalistas, historiadores, químicos e professores do ensino médio”, resume o coordenador do programa, Júlio Vianna Barbosa.

Foto: Gutemberg Brito
Alunos do PGEBS durante aula da disciplina de Biologia Básica

Credenciado pela Capes em 2003, o Programa conta com um quadro formado por cerca de 50 orientadores de diversas instituições. “Não só o IOC tem representantes no corpo docente e no Colegiado de Pós-graduação, mas também instituições como a Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz e o Centro Federal de Educação Tecnológica de Química (CEFETEC-Química)”, Júlio explica.

Uma das maiores conquistas do PGEBS aconteceu em fevereiro, quando o mestrado profissional do programa foi aprovado pelo Conselho Técnico Científico da Capes/MEC. O processo seletivo será aberto no final do ano. Este é o segundo curso no IOC na modalidade mestrado profissional, que se diferencia do mestrado acadêmico por sua avaliação final, que não está restrita à produção de um artigo científico. “Para receber a titulação, o aluno de mestrado profissional tem a opção de apresentar uma nova metodologia a ser utilizada na sua prática profissional ”, o coordenador ressalta.

Na avaliação inicial feita pela Capes, que serve como base para a avaliação trienal, o PGEBS obteve nível 4, numa área em que, no momento, a maior nota atribuída a um programa de pós-graduação é 5. “Esta avaliação, feita anualmente, sinaliza possíveis indicadores para a avaliação feita a cada três anos. Nós fomos muito bem. A meta agora é manter este conceito para que no próximo ano possamos alcançar o nível 5”, Júlio comemora. “Estamos em um processo de ascensão. Mesmo com pouco tempo de vida, o programa acumula conquistas”, finaliza.

Conheça o trabalho feito nestes dois anos através do
depoimento de professores e estudantes:

“Estamos todos de parabéns pela reconhecida seriedade do programa de pós-graduação em Ensino em Biociência e Saúde que vem, já em sua fase de "engatinhamento", afirmando-se no cenário acadêmico, mantendo a reputação da Fiocruz e, particularmente, do IOC, pela qualidade dos trabalhos que vêm sendo apresentados. A dedicação incansável e apoio de todos é fator fundamental para este sucesso.”

Aparecida de Fátima Tiradentes dos Santos, docente do PGEBS e professora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fiocruz

“Escolhi o mestrado em Ensino em Biociência e Saúde por causa da minha formação. Sou bióloga e desde 1979 atuo como professora do ensino fundamental e médio das redes municipal e estadual. O curso me proporcionou a oportunidade de unir as questões da saúde, da biologia e da ciência com a educação. Já aplico o conhecimento em sala de aula, já que antes de ingressar no mestrado, cursei o lato sensu em Atualização e Educação Cientifica em Biologia e Saúde também no IOC.”

Edinéia Jerônimo dos Santos de Souza Andrade, que cursa mestrado no PGEBS, defenderá sua tese dentro de quatro dias

“Neste curso somos biólogos, médicos, pisicólogos, jornalistas, enfermeiros; uma gama muito ampla de profissionais. Compartilhamos experiências, esforços e diferentes visões, porque todos os professores são de alto nível. Eu estou na primeira turma que, apesar de ser muito grande, é uma turma onde houve um bom entrosamento entre os colegas. São várias teses com produtos aplicados e isso é muito interessante.”

Karina Saavedra Acero Cabello é mestranda do programa e defende sua tese no próximo dia 8 de maio

“O programa de p ós-graduação em Ensino de Biociências e Saúde permite o contato do cientista de bancada com os outros segmentos da sociedade. Hoje, há teses na área de educação básica – tanto ensino fundamental como ensino médio –, teses de avaliação de currículo e teses na área de divulgação científica. O PGEBS está crescendo e, como uma área nova de pesquisa em ensino de ciências, vem amadurecendo metodologicamente. Estamos realmente conseguindo desenvolver um programa que terá um impacto social a curto prazo. É um programa importante para o IOC e deve ser estimulado ao máximo.”

Luiz Anastácio Alves, ex-vice coordenador e atual docente do PGEBS

 

 

Por Renata Fontoura

 

Jornalismo científico na América Latina ganha panorama

A primeira tese da linha Comunicação, Ciência e Mídia do programa de pós-graduação em Ensino em Biociência e Saúde (PGEBS) do IOC é também o primeiro panorama realizado no país sobre o jornalismo científico na América Latina. Apresentado por Luís Henrique Amorim como conclusão de seu mestrado, o estudo usou técnicas quantitativas e qualitativas para observar a produção das editorias científicas de sete jornais em cinco países da América Latina – Brasil, Argentina, Chile, México e Equador.

“Coletamos 482 textos durante os 30 dias do mês de abril de 2004. Selecionamos jornais de destaque em seu contexto, que possuem versões online e que contam com editorias voltadas especificamente para temas científicos”, resume o pesquisador, que é jornalista e há cinco anos atua como repórter do Jornal da Ciência, veículo de comunicação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Dos jornais diários analisados, três eram brasileiros.

A média de reportagens publicadas a cada dia variou entre 0,8 e 3,6 reportagens diárias. Na comparação entre os países, o perfil dos temas abordados também varia, mas as principais áreas de cobertura envolvem saúde, meio ambiente, astronomia e tecnologia. Para avaliar aspectos qualitativos, os editores de cada jornal foram entrevistados com base em um questionário formulado a partir dos dados observados na análise quantitativa. “Nas entrevistas todos demonstraram estar cientes do papel democrático do jornalismo científico na difusão do conhecimento, seu caráter educativo e a contribuição para o fortalecimento da própria ciência”, Luís resume.

Nas respostas dos editores, foi consenso que a novidade define o que é notícia em ciência. Os entrevistados também foram unânimes em declarar que a participação dos cientistas é fundamental na elaboração das reportagens. Sobre a relação entre jornalistas e cientistas, a maioria comentou que tem havido uma aproximação. Quanto à rotina de trabalho, foram observadas dimensões variáveis de equipe, porém em todos os veículos estudados os repórteres cobriam diversas áreas da ciência. Em relação ao estereótipo do cientista na abordagem jornalística, o estudo aponta que apenas em 14 reportagens foram verificados estereótipos claros – nove deles mediante o uso do termo gênio . “Este quadro pode ser bastante diferente em outros veículos, que não o jornal impresso”, o pesquisador pondera.

Entre as principais conclusões do estudo está o baixo teor crítico das reportagens. “Das 482 matérias analisadas, apenas 29 expressam controvérsia de forma clara. Sabemos que a ciência está associada a avanços tecnológicos para a sociedade, mas é preciso mostrar que também existem incertezas e riscos”, Luís opina. Outro dado interessante é que um número reduzido de reportagens incluiu informações sobre fontes de financiamento. O pesquisador ressalta que este não pretendeu ser um estudo exaustivo, mas, por seu próprio caráter pioneiro, buscou ser um panorama inicial da cobertura científica na América Latina. “A idéia é que esta seja uma porta aberta para novas pesquisas, que permitam não só conhecer a prática do jornalismo científico, mas que forneçam subsídios para seu aperfeiçoamento”, completa.

Por Raquel Aguiar