Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - Ano XIII - n0 34 - 09/11/2007

Estudo mostra que caramujo africano pode transmitir doença pulmonar a gatos

Pesquisa identificou, em 12 municípios do Brasil, presença de verme responsáveis por infecção pulmonar em felinos

Um estudo do Laboratório de Malacologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) identificou a importância do caramujo Achatina fulica (conhecido como caramujo africano) na transmissão do nematódeo (verme fino e alongado) Aelurostrongylus abstrusus, capaz de causar infecção pulmonar em gatos. O trabalho foi premiado com menção honrosa na categoria pôster durante o XX Congresso Brasileiro de Parasitologia, que aconteceu em Recife, entre os dias 28 de outubro e 1 de novembro. A pesquisa tem importância no trabalho de monitoramento do caramujo, uma das espécies mais comuns no país, e será publicado em breve no Journal of Invertebrate Pathology.

Lab. de Malacologia / IOC
As imagens apresentam o verme A. abstrusus identificado em exemplares de caramujo africano

Como Centro de Referência Nacional em Malacologia Médica, o Laboratório de Malacologia do IOC recebe amostras de moluscos provenientes de diversas regiões do Brasil, sendo as de Achatina fulica algumas das mais comuns, pela sua disseminação em pelo menos 23 estados brasileiros. “Essa espécie é uma praga, se reproduz muito, competindo com as espécies nativas”, conta Pablo Coelho, pesquisador do laboratório. “Entretanto os maiores problemas envolvendo esses caramujos estão associados a prejuízos agrícolas, pois destroem hortas e pequenas plantações e à medicina humana e veterinária, por fazer parte do ciclo de transmissão de diversas zoonoses”. Um dos trabalhos mais importantes realizados no laboratório é a verificação da contaminação desses caramujos por larvas, através de um processo de digestão artificial, que digere o molusco e preserva qualquer larva que possa estar infectando-o. “O caramujo atua como um hospedeiro intermediário, abrigando as larvas de helmintos, antes de chegarem ao seu hospedeiro final”, explica o pesquisador.

O trabalho premiado no XX Congresso Brasileiro de Parasitologia identificou a presença, em amostras de diversas regiões do país (12 municípios de sete estados brasileiros) do nematódeo Aelurostrongylus abstrusus, responsável por causar infecções pulmonares em gatos. Segundo Pablo, identificar a presença de larvas como essa em Achatina fulica é um trabalho muito importante para o monitoramento da espécie. “Este estudo evidencia a participação de A. fulica em ciclos de vários nematódeos no país”, afirma o pesquisador, “por isso é importante manter um controle sobre o molusco, saber que tipo de parasita ele está transmitindo”. Apesar de ser importante na transmissão de diversas zoonoses, Pablo lembra que, ao homem, o molusco causa apenas infecções acidentais, em geral. “Existe a possibilidade de transmitir dois tipos de angiostrongilose, por exemplo, doença que pode até causar a morte”, comenta Pablo.

O trabalho foi coordenado pela pesquisadora Silvana Thiengo e contou com a participação dos pesquisadores Mônica Fernandez e Pablo Coelho, todos do Laboratório de Malacologia do IOC e de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Marcelo Garcia

 

IOC - Ciência para a Saúde da População Brasileira