Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - Ano XIII - n0 11- 10/05/2007

A ciência do ponto de vista da sociedade

Na semana passada foram divulgados os resultados da pesquisa nacional sobre percepção pública da C&T, realizada pelo Ministério de Ciência e Tecnologia em parceria com o Museu da Vida, Academia Brasileira de Ciências, FAPESP e LabJor (UNICAMP). O último levantamento deste porte havia sido realizado em 1987. Os dados que vêm recobrir esta lacuna de 20 anos nos fazem deparar com algumas novidades sobre como a população brasileira vê a ciência e a divulgação científica.

Surpreendentemente, o interesse declarado por temas de medicina e saúde (60% da amostra de 2004 entrevistados) e ciência e tecnologia (41%) não devem nada aos 47% alcançados pelo esporte ou aos 51% relativos aos temas de economia. Mais inesperadas que a alta satisfação do brasileiro com as reportagens sobre ciência divulgadas em TV (58% declararam ter alta satisfação) e jornal (53%) talvez sejam as razões apontadas para estas afirmativas: a boa qualidade das matérias (mais de 80% em jornal e TV) e o fácil entendimento das reportagens (cerca de 80% em ambos os casos). Também curioso é o dado que justifica a insatisfação: uma porcentagem de 70% dos insatisfeitos em relação à divulgação da ciência em jornal e TV apontam o pequeno número de matérias como motivo.
 
Convenhamos que estes números derrubam por terra muitos preconceitos sobre o suposto desinteresse do brasileiro por temas científicos. O impacto destas estatísticas é bastante claro: a divulgação da atividade científica é condição de democracia e de cidadania, mas também constitui – e isso representa uma importante novidade – um tema de apelo popular.
 
O grau de credibilidade das fontes de informação também traz dados que merecem ser conhecidos. Somando as duas primeiras menções apontadas pelos entrevistados, os médicos (43%) e os jornalistas (42%) lideram o ranking, seguidos pelos cientistas atuando em instituições públicas (30%). Os resultados para as perguntas sobre as instituições de ciência e os cientistas brasileiros conhecidos evidenciam um amplo desconhecimento dos entrevistados: 84% não souberam mencionar o nome de sequer uma instituição de pesquisa e este índice cresce para 86% no caso de cientistas. Em meio ao desconhecimento da maioria da população, a Fiocruz e Oswaldo Cruz são os principais nomes citados (presentes respectivamente em 18% e 36% das respostas afirmativas).
 
Repensando então esses dados, à luz de nossas responsabilidades: não só somos cientistas, como somos cientistas atuando em instituição pública; justamente na casa onde Oswaldo Cruz, ainda hoje o cientista mais conhecido pelos brasileiros, deixou seu legado. É uma responsabilidade sem tamanho, mas que assumimos com a tranqüilidade de quem faz questão de que a ciência feita nas bancadas ultrapasse as paredes dos laboratórios e se torne assunto corrente nas conversas mais cotidianas.
 
Estimulamos que, à divulgação entre os pares, já parte de nossa rotina, possamos cada vez mais agregar a divulgação popular da ciência. Que cada palestra que os cientistas e técnicos do IOC façam em escolas e comunidades possa ser divulgada e estimulada. Que cada contato  de nossa ciência com qualquer segmento da sociedade ganhe visibilidade e valor. A equipe de jornalismo do IOC tem como objetivo fazer com que nós mesmos nos conheçamos mais, mas também fazer chegar à sociedade a ciência produzida no Instituto. Uma parceria ativa com essa equipe cabe a cada um de nós. O brasileiro já tem a cultura de buscar informações sobre ciência. Vamos enraizar em nós a cultura de divulgar a ciência que fazemos.

                                                                       Tania Araújo-Jorge