Herman Lent, falecido em 7 de julho de 2004 aos 93 anos, era pesquisador emérito da Fundação Oswaldo Cruz, membro da Academia Brasileira de Ciências e Pesquisador 1A do CNPq, além de detentor da Ordem do Mérito Científico na categoria Grã-Cruz. Foi pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz durante 41 anos, ingressando em 1931 ainda como estudante do 2º ano da Faculdade de Medicina. Por uma concessão especial do diretor Carlos Chagas, foi admitido no Curso de Aplicação, tendo se formado em 1932. Logo iniciou seus trabalhos no Laboratório de Helmintologia sob a orientação de Lauro Travassos. Foi um dos maiores especialista sobre triatomíneos vetores da doença de Chagas.

Trabalhou ininterruptamente em Manguinhos durante 49 anos (1931-1970). Em 1º de abril de 1970 teve seus direitos políticos cassados e foi aposentado compulsoriamente juntamente com outros nove pesquisadores, episódio que ele imortalizou no livro Massacre de Manguinhos. Desde 1934 até a data de seu falecimento publicou 240 artigos científicos, sendo 81 sobre Helmintologia e 159 relativos a Entomologia, a maioria dos quais abrangendo os Triatomíneos vetores da doença de Chagas.

Sua dedicação e empenho no estudo dos Helmintos e dos Hemípteros lhe trouxeram fama internacional, tendo sido homenageado e imortalizado com cerca de 21 espécies e gêneros de helmintos e hemípteros com seu nome. Em Entomologia criou uma tribo, dez gêneros e noventa e sete espécies. Em Helmintologia criou uma família, uma subfamília, vinte e um gêneros e oitenta e oito espécies. Foi editor das Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, da Revista Brasileira de Biologia, dos Anais da Academia Brasileira de Ciências, das Atas do Simpósio da Biota Amazônica, co-editor do Atlas dos vetores da doença de Chagas nas Américas e consultor científico da Revista Entomologia y Vectores.

Foi autor de uma das obras mais importantes da Triatominologia, publicando em 1979 uma obra clássica em colaboração com Petr Wygodzinsky – Revision of the Triatominae (Hemiptera – Reduviidae) and their significance as vectors of Chagas disease – com a descrição pormenorizada, sinonímias, biologia, morfologia, sistemática e distribuição geográfica de todas as espécies conhecidas no mundo até então. A obra foi publicada pelo American Museum of Natural History de Nova York, pois estava proibido de trabalhar no Brasil. Foi professor do Colégio Pedro II, da Universidade do Estado da Guanabara, da Universidade Santa Úrsula, do Instituto Oswaldo Cruz e da Universidade de Los Andes na Venezuela.

A partir de 1935 estabeleceu no IOC a Coleção de Triatomíneos, que atualmente leva seu nome.  O prestígio dos trabalhos sobre barbeiros que o antigo Laboratório de Triatomíneos cultivou fez com que outros pesquisadores, em várias partes do mundo, mandassem suas coleções e triatomíneos para serem incorporados à Coleção Herman Lent. O IOC comprou a coleção de barbeiros do Prof. Rodolfo Carcavallo, com cerca de 15 mil exemplares, por cerca de cinco mil dólares. Atualmente, a coleção possui em seu acervo mais de 22 mil exemplares e continua aberta ao recebimento de exemplares.

Herman Lent criou o insetário de triatomíneos e o manteve durante 35 anos ligado ao laboratório. Atualmente, o IOC possui a maior diversidade do mundo em espécies e populações, no mesmo ambiente, com cerca de 45 espécies em 150 cristalizadores. Criou uma biblioteca de Separatas ligadas a Parasitologia, que se tornou fonte de referência para os especialistas. Em vida doou o acervo para a Biblioteca de Manguinhos, que criou um espaço especial para resguardá-la e fornecer informações.