Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - Ano XIV - n0 17- 27/11/2007

 

Pesquisa translacional: o IOC desenvolve?

O Ministério da Saúde, através de sua Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação em Insumos Estratégicos (SCTIE), organizou essa semana uma reunião para sugerir o lançamento de um programa de apoio à Pesquisa Translacional em Doenças Negligenciadas. Como diretora do IOC, fui chamada a participar. Como contribuir? Como melhor aproveitar essa oportunidade para o Instituto?

Pesquisa Translacional, tradução literal de Translational Research (TR), é um anglicanismo, pois vem do termo em inglês “translate”, que em português é “traduzir”. Trata-se de como traduzir a pesquisa biológica em práticas clínicas. Os periódicos Nature e Science já publicaram números especiais sobre TR. Há um periódico da Elsevier chamado Translational Research com 2.02 de fator de impacto (FI) e outro, com livre acesso pela BioMed Central, chamado Journal of Translational Medicine, com 2.94 de FI.

O INCA tem um curso de um ano de “Pesquisa Clínica Integrada Translacional”. E o IOC?  Como saber quais os resultados de nossa pesquisa básica que estão sendo traduzidos em práticas no sistema de saúde? Como agregar valor a esses resultados? Nossos indicadores atuais disponíveis no sistema Coleta-IOC não dão visibilidade a isso e nem valorizam especificamente tais resultados. Deveriam? Sabemos que os pesquisadores do IOC realizam pesquisa pré-clinica e clínica em diversos laboratórios;  iniciamos a organização de uma Rede de Pesquisa Clínica no IOC, mas optamos por não criar uma “Área de Pesquisa Clínica” por entender que seria transversal a todas as demais Áreas, tanto estruturadas por agravos como por abordagens. Mas com isso não demos ainda o necessário salto na identificação de nossas competências acumuladas no campo, nem das parcerias já existentes ou ainda necessárias de serem estabelecidas. Há, portanto, muito o que aperfeiçoar nesse campo.

Uma publicação de 2005 no Chem-Bio Inf J (5:27-38), analisando a atual pesquisa translacional na Austrália, começa com o seguinte texto: “In the post-genomic era, translational research that tries to bridge basic research and clinical practice is receiving considerable attentions at various international biomedical research scenes as exit research which is noted in NIH roadmap. In the context of untouched aging society, the importance of health related biomedical researches and their translation to practical clinical fields are rising. The Translational Research (TR) is the inevitable path to develop human health”. E esse trabalho estudou cinco instituições científicas da Austrália: o “Ludwig Institute for Cancer Research”, o “Walter and Elisa Hall Institute of Medical Research”, o “Austin Repartriation Medical Center”, o “Royal Melbourne Hospital” e o “Peter MacCallum Cancer Centre”. Tanto esforço internacional para se situar nesse contexto. E o IOC?

A força de conhecer bem o IOC, seus laboratórios, projetos e produtos, conseqüência quase osmótica da atividade como diretora, ao participar da reunião da SCTIE, percebi muito claramente um enorme potencial que se apresentará muito em breve. Um potencial que nos permitiria, por exemplo, postular um papel de Centro Nacional de Referência em Pesquisa Translacional para o Ministério da Saúde, ou um papel de elemento central de uma rede nesse sentido, articulando a nova oportunidade de investimentos nessa área com os investimentos continuados que temos feito na modernização de nosso parque laboratorial, na implantação da gestão da qualidade em muitos laboratórios, na formação de pessoal em boas práticas laboratoriais e boas práticas clínicas, enfim, com a coordenação dessa atividade que já vem sendo realizada no IOC. Mas para isso temos que nos abrir conceitualmente, acompanhar as tendências da pesquisa em saúde no Brasil e no mundo e, sempre que possível, assumir o protagonismo e liderança nessas ações. Claro, o desafio não é somente para a direção, mas para todo o IOC. Mas as oportunidades certamente vão se apresentar e precisamos estar prontos para aproveitá-las.

 

Tania Araújo-Jorge

 

 

 

IOC - Ciência para a Saúde da População Brasileira