Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - Ano XIV - n0 32 - 29/10/2009

 

Ciência viva e engajada: em memória de Bazin


Na semana passada o Brasil perdeu um dos pioneiros no movimento de divulgação científica: Maurice Bazin, francês, brasileiro, cidadão do mundo, meu amigo, amigo do IOC e da Fiocruz há 27 anos. Maurice se formou na École Polytechnique de Paris e concluiu seu PhD em física nuclear experimental de altas energias pela Stanford University em 1962, tendo trabalhado até 1975 como professor na Princeton University e na Rutgers University. Naquele tempo já atuava em educação científica nos Estados Unidos, quando iniciou sua onda de explorações pelo mundo, que o levou ao Chile, à África e o trouxe ao Brasil. Desenvolveu oficinas de treinamento de professores de Ciências em vários países da América Latina e África por meio de agências das Nações Unidas e, nos anos 70 e 80, foi correspondente da revista Nature, primeiro em Portugal, depois no Brasil. Nos anos 80, adotou o Brasil definitivamente, lecionou na PUC-Rio e organizou, com a participação de diversos profissionais e estudantes do IOC, o primeiro museu interativo de Ciências no Brasil, o Espaço Ciência Viva.

Nos anos 90, distribuiu seu tempo entre o Teacher Institute, do Exploratorium de São Francisco, as Oficinas Comunitárias de Ciência na Califórnia e o Brasil, onde organizou vários treinamentos de professores em ciências e participou da revista Ciência Hoje das Crianças. Foi membro da Comissão Científica do Pavilhão do Conhecimento - Centro Ciência Viva de Lisboa, Portugal. Regressou recentemente ao Rio depois de um período de cerca de dez anos morando em Florianópolis, onde foi diretor de educação e cultura da Associação dos Moradores do Campeche.
Conheci Maurice em 1982, um ano antes de entrar na Fiocruz. Ele me influenciou profundamente com sua prática de aproximar a ciência das pessoas comuns, de construir parcerias multidisciplinares e de fazer e impulsionar as coisas intensamente. Para ele, nada era difícil, nada era impossível. Aprendi com ele que no processo educativo não precisamos ter respostas, nem dar respostas, mas temos sim que fomentar perguntas. Perguntar é o centro do movimento inteligente, que permite progredir e avançar o conhecimento, bem como partilhá-lo com a sociedade.
Maurice estava sempre de bom humor, ria, sorria, brincava. Buscava as soluções e nunca se intimidava com os problemas. Tinha amigos por toda parte e nos dava seus telefones e endereços, compartilhando seus amigos conosco para que a rede se fortalecesse. Ele me ensinou a fazer isso, parcerias, redes, cooperações, relações de confiança e de construção de coisas e pensamentos, atos e afetos. Maurice buscava parcerias, e se abria o mundo. Ciência para ele era viva e alegre. Era cheia de gente, de crianças, de jovens, de liberdade, de educadores, de aventura. O Espaço Ciência Viva fará uma sessão especial de atividades em sua homenagem no próximo sábado, 31 de outubro.
Mais que nunca, Maurice merece que sigamos seu exemplo. Espero que hoje, na direção do IOC, estejamos conseguindo manter esse espírito, com o que penso honrar a memória desse educador de cientistas, que deixa muitas, muitas saudades.

Tania Araújo-Jorge

 

 

 

 

IOC - Ciência para a Saúde da População Brasileira