Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - Ano XII - n0 47- 21/12/2006

 

Curso Técnico de Pesquisa em Biologia Parasitária:
25 anos comemorados em clima de emoção

A emoção que marcou a formatura da turma de 2006 do Curso Técnico de Pesquisa em Biologia Parasitária do Instituto Oswaldo Cruz, no último dia 14, antecipou o grande encontro que, no dia seguinte, marcaria a comemoração dos 25 anos do curso, festejado em edição especial do Centro de Estudos. Reunindo diferentes gerações de estudantes e professores, os eventos foram oportunidade para resgatar a trajetória percorrida em um quarto de século.

15 alunos formados em 2006

O curso, com duração de um ano, destina-se a alunos egressos do Ensino Médio, capacitando-os a cooperar nas atividades de pesquisa e ensino e a torná-los aptos a fazer, executar e controlar atribuições dadas aos auxiliares nas técnicas laboratoriais. As técnicas, no entanto, não são nem de longe a principal lição que os estudantes levam desta experiência. “Como aqui não há nenhum outro lugar. Todo mundo entra com uma idéia na cabeça e não se desaponta. Neste curso formamos uma família. Nos unimos mais a cada dia, a cada aula. Os professores são como pais, pelo zelo, pela dedicação. Não importava a hora, estavam lá para nos ajudar”, comenta Rafael Macedo, 24 anos, formando da turma de 2006.

Maria Castro
Rafael Macedo (terceiro da esquerda para a direita), formando da turma de 2006, entre colegas do curso

Ricardo Lourenço, vice-diretor de Políticas de Ciência & Tecnologia em Saúde e antigo colaborador do curso, afirma que o IOC tem grande confiança nestes alunos, que saem qualificados para trabalhar em laboratórios de ponta e muitas vezes retornam à Fiocruz em sua trajetória profissional. No último concurso público da Fiocruz, 7 dos 10 primeiros lugares do cargo de técnicos de pesquisa foram conquistados por egressos do Curso Técnico de Pesquisa em Biologia Parasitária. Ricardo comenta que o evento de comemoração dos 25 anos do curso diploma e coroa um ano de realizações. “Estes alunos são jovens cheios de gás, cheios de energia. É por isso que temos orgulho e sabemos do talento que têm”. E deu o seu recado: “As portas do IOC estão abertas. Cabe a cada um achar a melhor”.

O patrono da turma, Henrique Lenzi – pesquisador do Laboratório de Patologia do IOC –, fez um amplo discurso. Lenzi comparou o aprendizado da ciência ao sabor do chocolate: não pode ser ensinado, apenas descoberto por meio da prática. Lenzi criticou o sistema de ensino “do tipo bancário”, tão combatido por Paulo Freire. “Devemos valorizar o saber não-bancário e abrir espaço para novas informações”, argumentou, citando os insetos, que passam por “profundas metamorfoses” em ciclos intermináveis. “Vocês irão vivenciar muitos ciclos em seus laboratórios”, afirmou.

O capital que será essencial no futuro, argumentou, será o capital humano. “Esse profissional do futuro necessita pensar sua relação com o tempo. Tempo para planejar, estudar, pensar, escutar, dialogar. Precisa de tempo para executar o essencial, mas também para descansar, tempo para a arte, para ser terno e gentil com os outros. Precisa ter tempo para plantar e esperar o tempo da plantação. Dar tempo à semente para que ela possa crescer no seu próprio tempo”. E completou: “Aprender é atividade produtiva”. Ao final do discurso, Lenzi fez uma homenagem a José Rodrigues Coura , então diretor do IOC quando foi criado o curso, a quem se referiu como “um exemplo de vida”.

A paraninfa da turma, Luzia Caputo, recebeu a homenagem feita a ela como um presente. Ex-aluna, Luzia é professora do curso há 20 anos. Atualmente é tecnologista do Laboratório de Patologia do IOC e coordenadora adjunta do curso. “Estes não serão alunos mecanizados. Tenho certeza que estes conhecimentos lhes acompanharão por toda a vida”, ressaltou. O mais importante durante as atividades, destacou, foi “atender as necessidades do coração e trabalhar com paixão”. Luzia homenageou a pesquisadora Joseli Lannes Vieira , do Laboratório de Pesquisa em Auto-imunidade e Imuno-regulação e professora do curso. “Lembro algo que Joseli me ensinou e que nunca esqueço: o crescimento é um processo de tentativa e erro, de experimentação. Tudo o que fazemos é analisar, ouvir e acreditar”, concluiu.

Maria Castro
Ricardo Lourenço, Luzia Caputo e Regina Amendoeira,
durante a formatura da turma de 2006

 “Sabemos que o curso são os alunos. São vocês os verdadeiros responsáveis por este sucesso”, concluiu a coordenadora geral do curso, Regina Amendoeira, que relembrou o cientista inglês Isaac Newton (1643-1727) para afirmar: “O que sabemos é uma gota, o que ignoramos é um oceano”. O evento de formatura foi precedido por uma apresentação do Coral da Fiocruz.

Homenagem a Henry Willcox marcou comemoração dos 25 anos

Um homem de aparência simples e robusta toca violão com gotas de suor escorrendo pelo rosto, enquanto o público no auditório do Pavilhão Arthur Neiva observa, emocionado, a vivacidade de um realizador. As imagens são do pesquisador Henry Willcox (1937-2004), um dos principais formuladores do Curso de Técnico de Pesquisa em Biologia Parasitária do IOC, exibidas no documentário Curso Técnico de Pesquisa em Biologia Parasitária do Instituto Oswaldo Cruz: uma história de 25 anos , produzido pelo Setor de Produção e Tratamento de Imagens do IOC e apresentado na edição especial do Centro de Estudos, no dia 15 de dezembro.

Gutemberg Brito
O documentário comemorativo dos 25 anos do curso emocionou a platéia com a performance de Henry Willcox ao violão

A presença do nome de Henry é justificada: ele foi um dos maiores entusiastas do curso e durante muitos anos liderou o grupo de pesquisadores e alunos nesta empreitada. Sua lembrança, repleta de carinho, é acompanhada também pela dor de não tê-lo mais por perto. Marli Willcox, viúva de Henry e primeira secretária do curso (1981-1988), leu um texto de seu marido em que ele elogia o “rigor com que os alunos responderam ao rigor com que cobrava deles” e concluiu: “Onde ele estiver, está vibrando com o sucesso de vocês”.

Gutemberg Brito
Marli Willcox leu carta de Henry, seu marido
e um dos formuladores do curso

A diretora do IOC, Tania Araújo-Jorge, que abriu o encontro do dia, concordou: “É uma honra estar na Direção do Instituto no momento de tantas comemorações. A festa é de vocês, alunos, coordenadores e professores, que fazem isto tudo acontecer”. Regina Amendoeira comentou a emoção em participar daquele momento. “Olha que coisa linda, é um quarto de século. Ser convidada para coordenar esta iniciativa em 1990 foi um prêmio que o IOC me deu. A partir desse momento eu me apaixonei por este curso”. Para representar o momento, Regina citou São Francisco de Assis (1181-1226): “Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível e, de repente, estará fazendo o impossível”.

Representando os alunos egressos, Maurício Vilela, aluno da primeira turma (1981) e atualmente professor do curso, resumiu: “Essa experiência foi um divisor na minha vida. A gente ganha um carimbo institucional e passa a vestir a camisa e acreditar na transformação no campo da saúde que o Brasil tanto precisa”. Outro egresso no curso, Leandro Neves foi um dos homenageados, representando os alunos oriundos do curso que se tornaram servidores do IOC no último concurso público.

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Gustavo Barreto


IOC - Ciência para a Saúde da População Brasileira