Fiocruz
Fotografia

Afeito a inovações, Oswaldo Cruz ganhou o apelido de Jacintho entre colegas de Manguinhos, numa referência ao personagem de Eça de Queirós no livro ‘A cidade e as serras’ que adquiria todas as novidades do engenho humano. Em meio a essas modernidades, um dos passatempos prediletos era a fotografia.

O neto Eduardo Oswaldo Cruz resume que a fotografia foi uma “paixão”, incluindo registros de viagens a passeio e em família e dos momentos iniciais de Manguinhos. Esta faceta ainda pouco explorada do cientista ganha contornos mais claros a partir do acervo doado após a morte do neto: vêm a público dois álbuns de imagens produzidas por Oswaldo Cruz, dando uma amostra importante do seu interesse pelo tema. Algumas das fotografias, cuidadosamente montadas em álbum com caligrafia caprichada descrevendo os lugares visitados, retratam a convivência familiar na época em que o cientista, a esposa e os filhos viveram em Paris, na fase de estudos no Instituto Pasteur, entre 1897 e 1899. Outros registros mostram cenas da vida cotidiana na Europa e também no Brasil. As imagens foram gentilmente disponibilizadas pela Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz).

Ironia pensar que Oswaldo Cruz recebeu o apelido de “Dr. Fotógrafo” de um grupo de estudantes, em referência à pasta preta de couro que sempre o acompanhava, parecida com a que era usada para os equipamentos fotográficos da época. Ezequiel Dias descreve Oswaldo como “perito”, um fotógrafo “habilíssimo”. O neto conta que tinha inicialmente um equipamento Richard Vérascope: as fotografias estereoscópicas capturam duas imagens, com angulações levemente diferentes, a serem visualizadas de forma sobreposta usando-se um equipamento específico, o que resulta em um efeito tridimensional. Ezequiel Dias relata que o cientista costumava revê-las em casa, aos domingos. A paixão motivaria a montagem de um pequeno laboratório de revelação fotográfica no porão da residência da família Cruz.

Em um episódio por volta de 1912, narrado pelo neto, o cientista estava em viagem a Londres e aproveitou para levar o equipamento fotográfico à Vérascope para reparos. Ele não poderia aguardar o prazo que lhe estipulavam para o conserto. Mas o atendente reconheceu o nome do cientista por uma notícia no jornal e perguntou se ele era familiar de Oswaldo Cruz. Ao responder que era o próprio, o reparo foi de imediato providenciado.

A fotografia também era assunto de trabalho. Como aponta o depoimento do neto, nos primeiros anos de Manguinhos era o próprio Oswaldo Cruz quem fotografava as atividades no instituto. Em carta de 1901, Henrique da Rocha Lima, que já integrava o quadro de profissionais de Manguinhos, se refere às “fotografias de nossa excursão a Sarapuhy”, mencionando as imagens produzidas em viagem para estudos sobre malária.

Manguinhos foi uma das instituições pioneiras no registro de imagens, em especial no que se refere à fotografia aplicada à microscopia. Um laboratório de revelação fotográfica foi estruturado e o fotógrafo J. Pinto prestaria serviços ao Instituto, estabelecendo a prática como uma atividade institucionalizada, parte da rotina dos cientistas.

O apreço pela fotografia se estendia para as imagens em movimento. O empenho em registrar em filme as atividades científicas de Manguinhos e as medidas de controle sanitário realizadas pela Diretoria Geral de Saúde Pública no Rio de Janeiro foi responsável por uma das maiores atrações do premiado pavilhão brasileiro liderado por Oswaldo Cruz na Exposição Internacional de Higiene de Dresden, na Alemanha, em 1911. O cinematógrafo, uma sala de projeções montada no pavilhão, exibia diariamente quatro filmes brasileiros sobre a temática da saúde, dois deles retratando atividades de Manguinhos. Um dos filmes mostrava as ações de combate à febre amarela no Rio de Janeiro. O outro tratava da tripanossomíase americana (que ficaria conhecida como doença de Chagas) na cidade de Lassance, em Minas Gerais – a exposição de Dresden marcou a primeira divulgação internacional da doença. Os dois filmes constituem o mais antigo acervo audiovisual científico preservado de que se tem notícia no país.

Os dois filmes apresentados na Exposição de Higiene de 1911 são tema do documentário ‘Cinematógrafo Brasileiro em Dresden’, dirigido por Eduardo Thielen e Stella Oswaldo Cruz Penido.

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