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Desdobramentos para a ciência e a sociedade

Vinte anos depois do isolamento do HIV-1 no Brasil, a Fiocruz continua em destaque no cenário internacional de pesquisa científica em HIV/Aids. Segundo o Institute for Scientific Information (ISI), órgão internacional responsável por avaliar a relevância de periódicos científicos indexados de todo o mundo, quatro pesquisadores da Fundação estão entre os 15 autores residentes na América Latina e Caribe mais citados em artigos de todo o mundo sobre o tema entre 2001 e 2005: Mariza Morgado e Vera Bongertz (IOC), Bernardo Galvão (CPqGM) e Francisco Bastos (Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica –ICICT). Este reconhecimento resulta da combinação entre tecnologias de ponta, investimento financeiro e recursos humanos especializados – fatores diretamente influenciados pelo isolamento do vírus no Brasil, que gerou também a publicação de uma série de trabalhos pioneiros, que incluem a descrição biológica e molecular e a caracterização da variabilidade genética e antigênica dos vírus circulante no país.

Foto: Gutemberg Brito

José Carlos Couto Fernandez tinha apenas 22 anos quando integrou a equipe responsável pelo isolamento do HIV no país. Hoje é especialista em resistência viral.

Em reconhecimento pelo esforço empreendido para o enfrentamento da Aids, a Fiocruz foi convidada em 1991 pelo Programa Mundial de Aids das Nações Unidas e Organização Mundial da Saúde (Unaids/OMS) para participar da Rede Internacional de Laboratórios para Isolamento e Caracterização do HIV-1. A transferência de tecnologia e conhecimento entre os diversos países que compõem a Rede resultou na rápida geração de informações sobre a diversidade do HIV-1 no mundo – aspecto fundamental para o melhor entendimento da epidemia da Aids – e na criação de programas nacionais, implantados com apoio da OMS e da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Um desdobramento desta iniciativa é a implantação, em 1993, da Rede Nacional de Isolamento do HIV-1 no Brasil, criada com suporte do Ministério da Saúde e da Unaids/OMS para mapear a diversidade genética do vírus no país e orientar a seleção de potenciais vacinas e medicamentos anti-aids a serem utilizados por brasileiros.

Foto: Gutemberg Brito

Atualmente, Fernando Sion (à esquerda) contribui para a formação de novos especialistas em Aids como professor da Uni-Rio

“O isolamento do HIV-1 no Brasil foi o primeiro passo para que pudéssemos conhecer mais profundamente o vírus circulante no país, através de análises bioquímicas, moleculares, antigênicas e filogenéticas. Essas informações permitiram a realização de estudos de diversidade genética, epidemiologia molecular e comportamento biológico do HIV-1 circulante no Brasil, que forneceram as bases para a comparação com isolados virais de outros países. Avaliações como estas são fundamentais para o desenvolvimento de vacinas e medicamentos, pois permitem analisar, por exemplo, se um produto desenvolvido com sucesso em outro continente será igualmente eficaz no Brasil”, esclarece o imunologista Dumith Chequer Bou-Habib, pesquisador do Laboratório de Imunologia Clínica do IOC. “A caracterização dos perfis genéticos dos vírus brasileiros, que se tornou possível a partir do advento das técnicas moleculares, permite também a determinação do subtipo viral dos pacientes e o monitoramento da resistência das diferentes amostras do HIV-1 aos medicamentos antirretrovirais administrados no tratamento da Aids. Este controle é estratégico para garantir a eficácia do tratamento, pois permite a indicação de esquemas terapêuticos específicos, estabelecidos a partir das características genéticas do vírus que infecta o paciente”, complementa José Carlos Couto-Fernandez, atual assessor científico da Rede Nacional de Genotipagem do HIV-1 do Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde e pesquisador do Laboratório de Aids e Imunologia Molecular do IOC.

 

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