Atuação rápida de cientistas e profissionais da saúde no Brasil para responder à emergência de saúde pública foi destacada na abertura do seminário
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Desde que o aumento de casos de microcefalia foi declarado pelo Ministério da Saúde como emergência nacional de saúde pública no Brasil, em 11 de novembro de 2015, o avanço do conhecimento científico permitiu confirmar que o vírus Zika está associado não apenas a este quadro, mas a diversas malformações que atualmente caracterizam a síndrome da Zika congênita. Também se tornou clara a associação do patógeno com manifestações neurológicas em adultos, como a síndrome de Guillain Barré, e os mecanismos através dos quais a doença danifica os neurônios são cada vez mais compreendidos. Ao mesmo tempo, numerosos desafios persistem: ainda não se sabe com que frequência as malformações ocorrem ou que danos poderão ser observados no longo prazo; os testes de diagnóstico precisam ser aprimorados; tratamentos e vacinas devem ser desenvolvidos; e o controle do mosquito Aedes aegypti, principal transmissor do agravo, demanda ações efetivas. O balanço dos esforços dos últimos 12 meses e as perspectivas para o futuro no enfrentamento da doença marcaram a abertura do evento internacional Zika, nesta segunda-feira, 07/11. Promovido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Academia Nacional de Medicina (ANM) e Academia Brasileira de Ciências (ABC), o seminário é realizado na sede da ANM, no Rio de Janeiro. Na programação estão previstos 60 pesquisadores, originários de 13 países. A atividade inclui os simpósios The Zika menace in Americas: challenges and perspectives e One year after the announcement of the national public health emergency in Brazil: lessons, achievements and challenges.
Gutemberg Brito / IOC
Mesa de abertura teve a participação de Jorge Neira, da IAP for Health (em primeiro plano); Wilson Savino, diretor do IOC; Paulo Gadelha, presidente da Fiocruz; e Marcello Barcinscki, da ANM
Na mesa de abertura, a reação rápida dos cientistas e dos profissionais de saúde brasileiros ao vírus Zika foi destacada, com ênfase para a colaboração estabelecida. A maturidade da área de ciência e tecnologia no país e a presença do Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o território nacional foram fundamentais para identificar esse fenômeno novo e rapidamente gerar evidências que permitiram decretar a situação de emergência de saúde pública e começar a construir respostas, afirmou o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha. As comunidades científica e de saúde do Brasil trabalharam de forma exemplar. A formação de redes de pesquisa, tanto no plano nacional como internacional, foi essencial para responder de forma rápida e eficaz às demandas da sociedade, declarou o diretor do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Wilson Savino, um dos organizadores do evento. A Zika mostrou que temos competência na área de ciência e saúde não apenas para gerar conhecimento, mas para responder a uma emergência, avaliou o integrante da ANM e da ABC Marcello Barcinski, também organizador da iniciativa.
Gutemberg Brito / IOC
O evento atingiu 460 inscritos de diversos estados do país. Na programação estão previstos 60 pesquisadores, originários de 13 países
Os múltiplos desafios que o vírus Zika representa para a comunidade científica também foram ressaltados na abertura do seminário. "A Zika continua se espalhando e há situações diferentes nos vários países. Precisamos trabalhar juntos para entender essas diferenças e levá-las em consideração ao traçar estratégias de enfrentamento, disse o co-presidente da Rede Interamericana de Academias de Ciências (Ianas, na sigla em inglês), Jeremy McNeil. A realização desse seminário um ano depois da declaração de emergência é muito importante porque precisamos trocar informações de diversas áreas, não apenas da medicina e da biologia, mas das ciências sociais e de outros campos do conhecimento para formular respostas, ressaltou o representante da Parceria Interacademias para Saúde (IAP for Health, na sigla em inglês) Jorge Neira. Além dos desafios biomédicos, questões urbanas como a carência de saneamento e a pobreza saltam aos olhos quando observamos a situação da Zika e precisarão ser abordadas no controle da doença, reforçou o diretor da ABC José Murilo de Carvalho. Agenda científica para enfrentar a doença
A primeira conferência do seminário abordou itens que devem ser priorizados nas pesquisas relacionadas ao vírus Zika e às consequências da infecção. O pesquisador da Fiocruz-Bahia Maurício Barreto lembrou que o patógeno era considerado causador de quadros sem gravidade até 2015. Segundo ele, a associação com malformações congênitas, observada pela primeira vez no Brasil, foi uma surpresa para cientistas de todo o mundo. Por outro lado, considerando a ampla presença do mosquito A. aegypti na América Latina, a rápida disseminação da doença na região era uma questão previsível. A dengue está presente no Brasil desde a década de 1980, com epidemias periódicas. Em 2014, assistimos à chegada da chikungunya, e em 2015, da Zika. As três doenças são transmitidas pelo A. aegypti. A dificuldade para combater o mosquito está ligada a problemas estruturais do ambiente urbano, que não conseguimos superar, afirmou o pesquisador. Barreto detalhou uma agenda científica proposta por pesquisadores brasileiros em um artigo publicado na revista científica The Lancet em maio deste ano, incluindo itens relativos a coleta de evidências sobre doença, desenvolvimento de métodos de diagnóstico, tratamento e vacina, controle do A. aegypti e a preparação dos sistemas de saúde. A liberação de verbas para financiamento e a redução dos entraves burocráticos foram destacadas como fundamentais para acelerar o progresso das pesquisas. Mediador da conferência, o vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rodrigo Stabelli, também comentou as dificuldades enfrentadas pelos cientistas. A comunidade científica brasileira mostrou extrema capacidade de resposta, mas ainda temos que destravar regras para liberação de financiamento em situações de emergência, avaliou.
Gutemberg Brito / IOC
Parceria para criação de prêmio internacional teve o pré-lançamento realizado durante o evento
Premiação em neurociências
Durante o seminário, foi realizado o pré-lançamento do Prêmio Internacional Fiocruz-Servier de Neurociência. O acordo foi assinado pelo presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, e pelo presidente da Servier Brasil, Christophe Sabathier. O edital da premiação deve ser divulgado nas próximas semanas nos sites da Fundação e da farmacêutica. A iniciativa vai reconhecer pesquisadores brasileiros que atuam nas áreas de neuroinflamação e doenças neurodegenerativas, incluindo uma premiação especial para estudos sobre o vírus Zika. Reportagem: Maíra Menezes / Edição: Raquel Aguiar 07/11/2016
Atuação rápida de cientistas e profissionais da saúde no Brasil para responder à emergência de saúde pública foi destacada na abertura do seminário
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Desde que o aumento de casos de microcefalia foi declarado pelo Ministério da Saúde como emergência nacional de saúde pública no Brasil, em 11 de novembro de 2015, o avanço do conhecimento científico permitiu confirmar que o vírus Zika está associado não apenas a este quadro, mas a diversas malformações que atualmente caracterizam a síndrome da Zika congênita. Também se tornou clara a associação do patógeno com manifestações neurológicas em adultos, como a síndrome de Guillain Barré, e os mecanismos através dos quais a doença danifica os neurônios são cada vez mais compreendidos. Ao mesmo tempo, numerosos desafios persistem: ainda não se sabe com que frequência as malformações ocorrem ou que danos poderão ser observados no longo prazo; os testes de diagnóstico precisam ser aprimorados; tratamentos e vacinas devem ser desenvolvidos; e o controle do mosquito Aedes aegypti, principal transmissor do agravo, demanda ações efetivas. O balanço dos esforços dos últimos 12 meses e as perspectivas para o futuro no enfrentamento da doença marcaram a abertura do evento internacional Zika, nesta segunda-feira, 07/11. Promovido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Academia Nacional de Medicina (ANM) e Academia Brasileira de Ciências (ABC), o seminário é realizado na sede da ANM, no Rio de Janeiro. Na programação estão previstos 60 pesquisadores, originários de 13 países. A atividade inclui os simpósios The Zika menace in Americas: challenges and perspectives e One year after the announcement of the national public health emergency in Brazil: lessons, achievements and challenges.
Gutemberg Brito / IOC
Mesa de abertura teve a participação de Jorge Neira, da IAP for Health (em primeiro plano); Wilson Savino, diretor do IOC; Paulo Gadelha, presidente da Fiocruz; e Marcello Barcinscki, da ANM
Na mesa de abertura, a reação rápida dos cientistas e dos profissionais de saúde brasileiros ao vírus Zika foi destacada, com ênfase para a colaboração estabelecida. A maturidade da área de ciência e tecnologia no país e a presença do Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o território nacional foram fundamentais para identificar esse fenômeno novo e rapidamente gerar evidências que permitiram decretar a situação de emergência de saúde pública e começar a construir respostas, afirmou o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha. As comunidades científica e de saúde do Brasil trabalharam de forma exemplar. A formação de redes de pesquisa, tanto no plano nacional como internacional, foi essencial para responder de forma rápida e eficaz às demandas da sociedade, declarou o diretor do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Wilson Savino, um dos organizadores do evento. A Zika mostrou que temos competência na área de ciência e saúde não apenas para gerar conhecimento, mas para responder a uma emergência, avaliou o integrante da ANM e da ABC Marcello Barcinski, também organizador da iniciativa.
Gutemberg Brito / IOC
O evento atingiu 460 inscritos de diversos estados do país. Na programação estão previstos 60 pesquisadores, originários de 13 países
Os múltiplos desafios que o vírus Zika representa para a comunidade científica também foram ressaltados na abertura do seminário. "A Zika continua se espalhando e há situações diferentes nos vários países. Precisamos trabalhar juntos para entender essas diferenças e levá-las em consideração ao traçar estratégias de enfrentamento, disse o co-presidente da Rede Interamericana de Academias de Ciências (Ianas, na sigla em inglês), Jeremy McNeil. A realização desse seminário um ano depois da declaração de emergência é muito importante porque precisamos trocar informações de diversas áreas, não apenas da medicina e da biologia, mas das ciências sociais e de outros campos do conhecimento para formular respostas, ressaltou o representante da Parceria Interacademias para Saúde (IAP for Health, na sigla em inglês) Jorge Neira. Além dos desafios biomédicos, questões urbanas como a carência de saneamento e a pobreza saltam aos olhos quando observamos a situação da Zika e precisarão ser abordadas no controle da doença, reforçou o diretor da ABC José Murilo de Carvalho. Agenda científica para enfrentar a doença
A primeira conferência do seminário abordou itens que devem ser priorizados nas pesquisas relacionadas ao vírus Zika e às consequências da infecção. O pesquisador da Fiocruz-Bahia Maurício Barreto lembrou que o patógeno era considerado causador de quadros sem gravidade até 2015. Segundo ele, a associação com malformações congênitas, observada pela primeira vez no Brasil, foi uma surpresa para cientistas de todo o mundo. Por outro lado, considerando a ampla presença do mosquito A. aegypti na América Latina, a rápida disseminação da doença na região era uma questão previsível. A dengue está presente no Brasil desde a década de 1980, com epidemias periódicas. Em 2014, assistimos à chegada da chikungunya, e em 2015, da Zika. As três doenças são transmitidas pelo A. aegypti. A dificuldade para combater o mosquito está ligada a problemas estruturais do ambiente urbano, que não conseguimos superar, afirmou o pesquisador. Barreto detalhou uma agenda científica proposta por pesquisadores brasileiros em um artigo publicado na revista científica The Lancet em maio deste ano, incluindo itens relativos a coleta de evidências sobre doença, desenvolvimento de métodos de diagnóstico, tratamento e vacina, controle do A. aegypti e a preparação dos sistemas de saúde. A liberação de verbas para financiamento e a redução dos entraves burocráticos foram destacadas como fundamentais para acelerar o progresso das pesquisas. Mediador da conferência, o vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rodrigo Stabelli, também comentou as dificuldades enfrentadas pelos cientistas. A comunidade científica brasileira mostrou extrema capacidade de resposta, mas ainda temos que destravar regras para liberação de financiamento em situações de emergência, avaliou.
Gutemberg Brito / IOC
Parceria para criação de prêmio internacional teve o pré-lançamento realizado durante o evento
Premiação em neurociências
Durante o seminário, foi realizado o pré-lançamento do Prêmio Internacional Fiocruz-Servier de Neurociência. O acordo foi assinado pelo presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, e pelo presidente da Servier Brasil, Christophe Sabathier. O edital da premiação deve ser divulgado nas próximas semanas nos sites da Fundação e da farmacêutica. A iniciativa vai reconhecer pesquisadores brasileiros que atuam nas áreas de neuroinflamação e doenças neurodegenerativas, incluindo uma premiação especial para estudos sobre o vírus Zika. Reportagem: Maíra Menezes / Edição: Raquel Aguiar 07/11/2016
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)