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Virologista reforça importância da vacinação e da vigilância no atual momento da pandemia

Em entrevista, pesquisadora do IOC que integra o grupo consultivo da OMS fala sobre a variante XBB.1.5 e escalada de casos de Covid-19 na China
Por Maíra Menezes11/01/2023 - Atualizado em 16/01/2023
Marilda Siqueira (esq.) recepcionando Maria Van Kerkhove, líder técnica da OMS para Covid-19, e Socorro Gross, representante da OPAS no Brasil

A disseminação da subvariante XBB.1.5, recentemente detectada no Brasil, e a escalda de casos na China foram os temas discutidos pelo Grupo Consultivo Técnico sobre Evolução do Vírus SARS-CoV-2 (TAG-VE, na sigla em inglês), que assessora a Organização Mundial da Saúde (OMS), na primeira reunião do ano, em 5 de janeiro.

Após o encontro, o grupo reforçou a necessidade crítica de mais dados sobre os vírus em circulação na China e informou que está em andamento uma avaliação de risco atualizada sobre a subvariante XBB.1.5.  

Única brasileira no grupo, que reúne 25 especialistas, a chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Marilda Siqueira, ressalta que ampliar a cobertura vacinal, usar máscaras e manter a vigilância são as principais recomendações nesse momento.

Em entrevista, a virologista detalha ainda o que se sabe, até agora, sobre a subvariante XBB.1.5 e a situação da epidemia na China. Confira a seguir:

Qual a avaliação do Grupo Consultivo Técnico da OMS nesse momento?

Temos dois cenários que requerem maior atenção e que foram discutidos na primeira reunião do ano: a disseminação, nos Estados Unidos e em outros países, da variante XBB.1.5, que é altamente transmissível, e a escalada de casos na China, onde vemos possível subnotificação e baixo número de sequenciamentos genéticos.

O que se sabe sobre a subvariante XBB.1.5?

Essa sublinhagem está apresentando um crescimento muito rápido do número de casos. Nos Estados Unidos, em novembro, cerca 4% das linhagens detectadas eram XBB.1.5. No final de dezembro, já estava em 41%. As autoridades americanas também relataram aumento do número de internações. Em testes em laboratório, essa linhagem apresentou menor chance de ser neutralizada por anticorpos do que outras subvariantes da Ômicron, como BA.2, BA.4 e BA.5, que tiveram grande circulação. Porém, isso não significa que ela vai ser mais grave. É uma situação que estamos acompanhando.

As vacinas protegem contra essa variante?

A experiência tem mostrado, nas ondas de casos anteriores de diferentes variantes, a eficácia das vacinas na proteção contra casos graves e mortes. Em populações altamente imunizadas, podemos até ter um aumento do número de pessoas infectadas, mas que não necessariamente se refletirá, na mesma proporção, no aumento de pessoas hospitalizadas. Por exemplo, após a introdução da variante Ômicron no Brasil, tivemos aumento exponencial do número de infectados em janeiro e fevereiro do ano passado. No entanto, o número de hospitalizações e mortes, felizmente, não acompanhou isso. Mesmo que essas variantes sejam diferentes, os anticorpos que nós temos dão proteção suficiente para que grande parte da população infectada não necessite de hospitalização.

A subvariante XBB.1.5 foi recentemente detectada no Brasil. O que podemos esperar e quais as recomendações nesse momento?

É muito difícil anteciparmos qual pode ser o tamanho de uma nova onda. Temos uma população vacinada, mas precisamos melhorar a taxa de reforço. Isso é muito importante para todos os grupos: tanto populações vulneráveis, como idosos e portadores de doenças crônicas, quanto adultos e jovens, que ainda têm baixa taxa de reforço. Também precisamos reforçar o uso de máscaras em locais fechados, em aglomerações e em contato com pessoas vulneráveis, como ocorre em hospitais, clínicas e asilos. Além disso, devemos continuar com a vigilância genômica, reforçando as estratégias de amostragem para monitorarmos as linhagens em circulação no Brasil.

Por que há preocupação em relação à China?

O aumento de casos na China não é causado pela variante XBB.1.5. Lá, as variantes que predominam são BA.5.2 e BF.7. Porém, o que vemos, com os dados até o momento, é que a China está com uma vigilância genômica não condizente com o tamanho da sua população e com o número de casos registrados. É preciso aumentar o número de amostras sequenciadas para que possamos ter um panorama mais preciso das variantes em circulação. Além disso, com a escalada de casos pode ocorrer o aparecimento de outras variantes. Não quer dizer que isso necessariamente vai acontecer. Mas, quanto mais o vírus se multiplica, maior a chance de mutações.

O que levou a esse aumento de casos?

Os chineses utilizaram por três anos estratégias de lockdown bem mais duras do que o restante da população mundial. Eles podem ter tido baixo contato com a doença. Também apresentam lacunas na cobertura vacinal, principalmente nas doses de reforço e em populações mais vulneráveis, como idosos acima de 80 anos. Além disso, não estão utilizando vacinas de outras tecnologias, como as vacinas de RNA, que já contam com versões bivalentes e podem proteger mais contra as variantes da Ômicron. Nesse cenário, com a escalda de casos, pode ocorrer não só o surgimento de novas variantes, como também o aumento das hospitalizações e da letalidade. 

Como a vacinação contribui no contexto do surgimento de novas variantes?

A vacinação pode proteger da infecção ou, quando há infecção, reduz a gravidade da doença. Com isso, ela diminui a taxa de transmissão do vírus e também a taxa de multiplicação no organismo. Isso tudo contribui para reduzir a chance de produzir novas variantes. 

Em entrevista, pesquisadora do IOC que integra o grupo consultivo da OMS fala sobre a variante XBB.1.5 e escalada de casos de Covid-19 na China
Por: 
maira
Marilda Siqueira (esq.) recepcionando Maria Van Kerkhove, líder técnica da OMS para Covid-19, e Socorro Gross, representante da OPAS no Brasil

A disseminação da subvariante XBB.1.5, recentemente detectada no Brasil, e a escalda de casos na China foram os temas discutidos pelo Grupo Consultivo Técnico sobre Evolução do Vírus SARS-CoV-2 (TAG-VE, na sigla em inglês), que assessora a Organização Mundial da Saúde (OMS), na primeira reunião do ano, em 5 de janeiro.

Após o encontro, o grupo reforçou a necessidade crítica de mais dados sobre os vírus em circulação na China e informou que está em andamento uma avaliação de risco atualizada sobre a subvariante XBB.1.5.  

Única brasileira no grupo, que reúne 25 especialistas, a chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Marilda Siqueira, ressalta que ampliar a cobertura vacinal, usar máscaras e manter a vigilância são as principais recomendações nesse momento.

Em entrevista, a virologista detalha ainda o que se sabe, até agora, sobre a subvariante XBB.1.5 e a situação da epidemia na China. Confira a seguir:

Qual a avaliação do Grupo Consultivo Técnico da OMS nesse momento?

Temos dois cenários que requerem maior atenção e que foram discutidos na primeira reunião do ano: a disseminação, nos Estados Unidos e em outros países, da variante XBB.1.5, que é altamente transmissível, e a escalada de casos na China, onde vemos possível subnotificação e baixo número de sequenciamentos genéticos.

O que se sabe sobre a subvariante XBB.1.5?

Essa sublinhagem está apresentando um crescimento muito rápido do número de casos. Nos Estados Unidos, em novembro, cerca 4% das linhagens detectadas eram XBB.1.5. No final de dezembro, já estava em 41%. As autoridades americanas também relataram aumento do número de internações. Em testes em laboratório, essa linhagem apresentou menor chance de ser neutralizada por anticorpos do que outras subvariantes da Ômicron, como BA.2, BA.4 e BA.5, que tiveram grande circulação. Porém, isso não significa que ela vai ser mais grave. É uma situação que estamos acompanhando.

As vacinas protegem contra essa variante?

A experiência tem mostrado, nas ondas de casos anteriores de diferentes variantes, a eficácia das vacinas na proteção contra casos graves e mortes. Em populações altamente imunizadas, podemos até ter um aumento do número de pessoas infectadas, mas que não necessariamente se refletirá, na mesma proporção, no aumento de pessoas hospitalizadas. Por exemplo, após a introdução da variante Ômicron no Brasil, tivemos aumento exponencial do número de infectados em janeiro e fevereiro do ano passado. No entanto, o número de hospitalizações e mortes, felizmente, não acompanhou isso. Mesmo que essas variantes sejam diferentes, os anticorpos que nós temos dão proteção suficiente para que grande parte da população infectada não necessite de hospitalização.

A subvariante XBB.1.5 foi recentemente detectada no Brasil. O que podemos esperar e quais as recomendações nesse momento?

É muito difícil anteciparmos qual pode ser o tamanho de uma nova onda. Temos uma população vacinada, mas precisamos melhorar a taxa de reforço. Isso é muito importante para todos os grupos: tanto populações vulneráveis, como idosos e portadores de doenças crônicas, quanto adultos e jovens, que ainda têm baixa taxa de reforço. Também precisamos reforçar o uso de máscaras em locais fechados, em aglomerações e em contato com pessoas vulneráveis, como ocorre em hospitais, clínicas e asilos. Além disso, devemos continuar com a vigilância genômica, reforçando as estratégias de amostragem para monitorarmos as linhagens em circulação no Brasil.

Por que há preocupação em relação à China?

O aumento de casos na China não é causado pela variante XBB.1.5. Lá, as variantes que predominam são BA.5.2 e BF.7. Porém, o que vemos, com os dados até o momento, é que a China está com uma vigilância genômica não condizente com o tamanho da sua população e com o número de casos registrados. É preciso aumentar o número de amostras sequenciadas para que possamos ter um panorama mais preciso das variantes em circulação. Além disso, com a escalada de casos pode ocorrer o aparecimento de outras variantes. Não quer dizer que isso necessariamente vai acontecer. Mas, quanto mais o vírus se multiplica, maior a chance de mutações.

O que levou a esse aumento de casos?

Os chineses utilizaram por três anos estratégias de lockdown bem mais duras do que o restante da população mundial. Eles podem ter tido baixo contato com a doença. Também apresentam lacunas na cobertura vacinal, principalmente nas doses de reforço e em populações mais vulneráveis, como idosos acima de 80 anos. Além disso, não estão utilizando vacinas de outras tecnologias, como as vacinas de RNA, que já contam com versões bivalentes e podem proteger mais contra as variantes da Ômicron. Nesse cenário, com a escalda de casos, pode ocorrer não só o surgimento de novas variantes, como também o aumento das hospitalizações e da letalidade. 

Como a vacinação contribui no contexto do surgimento de novas variantes?

A vacinação pode proteger da infecção ou, quando há infecção, reduz a gravidade da doença. Com isso, ela diminui a taxa de transmissão do vírus e também a taxa de multiplicação no organismo. Isso tudo contribui para reduzir a chance de produzir novas variantes. 

Edição: 
Vinicius Ferreira

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)