Portuguese English Spanish
Interface
Adjust the interface to make it easier to use for different conditions.
This renders the document in high contrast mode.
This renders the document as white on black
This can help those with trouble processing rapid screen movements.
This loads a font easier to read for people with dyslexia.
Busca Avançada
Você está aqui: Notícias » Em busca de novos medicamentos e inseticidas

Em busca de novos medicamentos e inseticidas

Teses ganhadoras do Prêmio Alexandre Peixoto 2018 apresentam contribuições para o controle de moscas, desenvolvimento de antivirais e terapias contra micose
Por Maíra Menezes11/09/2018 - Atualizado em 18/04/2024

:: Conheça outras teses premiadas

Três resultados de pesquisas que podem contribuir para o desenvolvimento de novos medicamentos e de inseticidas foram apresentados à sociedade nesta terça-feira (11/09), durante a entrega do Prêmio Anual IOC de Teses Alexandre Peixoto 2018. Criado em 2013 para contemplar, anualmente, as melhores teses desenvolvidas por doutorandos dos Programas de Pós-graduação Stricto sensu do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), a premiação é uma homenagem ao pesquisador Alexandre Peixoto, falecido precocemente no mesmo ano.

O estudo da farmacêutica Idelsy Chil Núñez demonstrou a segurança e a eficácia do óleo essencial da planta Ocimum sanctum var. cubensis - uma variedade de manjericão sagrado encontrada em Cuba - como inseticida contra moscas, assim como para o tratamento de miíase, infecção causada pelas larvas destes insetos. A caracterização de moléculas ativas contra os vírus influenza, causadores da gripe, foi alvo do trabalho da biomédica Carolina de Queiroz Sacramento, que também contribuiu para o desenvolvimento de uma plataforma para ensaios pré-clínicos de antivirais. Já a pesquisa da bióloga Marcela Queiroz Granato, identificou compostos com ação contra o fungo Phialophora verrucosa, causador de micoses de difícil tratamento, como cromoblastomicose e micetoma.

Saiba mais sobre os trabalhos:

Planta medicinal contra moscas
Associado a propriedades medicinais, o manjericão sagrado já teve ação inseticida contra mosquitos apontada em pesquisas, mas nunca tinha sido investigado no controle de moscas. Na tese 'Segurança e eficácia do óleo essencial de Ocimum sanctum l. var. cubensis para o controle de dípteros muscoides', a farmacêutica Idelsy Chil Núñez, professora da Universidade de Oriente, em Cuba, demonstrou que a planta pode ser a base para o desenvolvimento de inseticidas botânicos contra moscas, assim como de medicamentos para tratamento de miíases.

Desenvolvida na Pós-graduação em Biodiversidade e Saúde do IOC, a pesquisa foi orientada pela pesquisadora Margareth Maria de Carvalho Queiroz, chefe do Laboratório de Entomologia Médica e Forense do IOC, e co-orientada pelo professor Julio César Escalona Arranz, da Universidade de Oriente, em Cuba.

Margareth Queiroz representou Idelsy Núñez na cerimônia e recebeu a premiação entregue pelo vice-diretor Marcelo Alves Pinto. Foto: Gutemberg Brito

Analisando o óleo essencial extraído de folhas de manjericão sagrado selvagem do leste de Cuba, o estudo identificou oito moléculas principais e apontou que três substâncias reconhecidas pela atividade inseticida respondem por mais de 60% do composto. A ação contra larvas e pupas - estágios iniciais de desenvolvimento das moscas - foi observada em seis espécies diferentes do inseto, com mortalidade corrigida variando entre 27% e 70%. Já o efeito contra insetos adultos foi analisado para a espécie Musca domestica, a popular mosca de casa, considerada a principal variedade de interesse sanitário por ser a mais comum nas regiões urbanas e apontada como responsável pela transmissão de mais de 60 patógenos para o homem e para animais domésticos e em cativeiro.

O efeito observado foi proporcional à dose, sendo que o composto com concentração de 100% provocou a morte de todas as moscas em uma hora. Um unguento preparado com lanolina, vaselina e óleo essencial na concentração de 15% foi testado ainda no tratamento de uma miíase causada por larvas de M. domestica em porcos. Em sete dias, a terapia levou à cicatrização completa da lesão, mesmo prazo normalmente observado para o tratamento com Asuntol, medicamento utilizado rotineiramente nestes casos em Cuba.

A autora da pesquisa ressalta que testes realizados com culturas de células e com camundongos - considerados modelos para este tipo de estudo - indicaram ausência de qualquer sinal de toxicidade, comprovando a segurança do composto. "Nossos resultados demonstraram que o óleo essencial de O. sanctum pode representar um método alternativo eficaz para controlar moscas de importância médico-sanitária, com possível aplicação como inseticida e como princípio ativo de formulações farmacêuticas para miíases", afirma Idelsy.

A orientadora do trabalho enfatiza a relevância dos achados. "Considerando que a M. domestica é um vetor de diversas doenças e apresenta resistência à maioria dos inseticidas químicos conhecidos, o desenvolvimento de um inseticida botânico pode ser uma alternativa importante", declara.

Inibidores do vírus influenza
Reunindo ensaios em culturas de células, com técnicas de biologia celular e molecular, análises de biologia computacional, de farmacologia e de imunologia, além de testes em modelo animal, a pesquisa da biomédica Carolina de Queiroz Sacramento identificou moléculas promissoras para o tratamento da gripe e contribuiu para o estabelecimento de uma plataforma de ensaios pré-clínicos, que pode acelerar a busca por novas terapias para doenças virais. Com o título 'Estudo in vitro e in vivo da ação de novas drogas sobre a replicação do vírus influenza', o trabalho foi desenvolvido no Programa de Biologia Celular e Molecular do IOC, sob orientação do pesquisador Thiago Moreno Lopes e Souza, do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), e co-orientação do pesquisador Fernando Augusto Bozza, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz).

A plataforma para ensaios pré-clínicos de antivirais desenvolvida na tese de Carolina Sacramento contribuiu para estudos sobre o vírus Zika. Foto: Gutemberg Brito

Selecionadas entre centenas de compostos testados, quatro moléculas capazes de inibir a replicação dos vírus influenza são apresentadas no estudo, com análises sobre mecanismo de ação, concentração necessária para inibição e toxicidade, entre outros fatores. Produto natural derivado do fungo Chaetomium sp., o aureonitol foi considerado promissor por apresentar muito baixa toxicidade e alta seletividade, o que sugere segurança para utilização.

Apresentando o mesmo mecanismo de ação do principal medicamento usado atualmente no tratamento da gripe, os compostos sintéticos 1i e tritempo destacaram-se por atuar sobre cepas virais que já desenvolveram resistência contra a terapia de referência. Com estrutura semelhante à ribavirina, antiviral de amplo espectro que tem aplicação restrita pela alta toxicidade, o composto sintético 5b mostrou-se cerca de 300 vezes mais potente e 10 vezes menos tóxico, além de ter ação anti-inflamatória.

Os resultados motivaram a avaliação da molécula em ensaios in vivo, conduzidos com camundongos, considerados modelos para esse tipo de estudo. Foi verificada ausência de toxicidade, indicando segurança para administração oral. Além disso, a molécula conseguiu preservar as vias aéreas e o tecido pulmonar dos animais na infecção pelo vírus influenza.

"Atualmente existe apenas uma classe de inibidores do vírus influenza para utilização clínica por via oral e há relatos de resistência ao medicamento, o que reforça a necessidade de novos fármacos. Entre as moléculas analisadas, destaca-se o composto análogo da ribavirina, que apresentou resultados positivos nos ensaios in vitro e in vivo", comenta Carolina.

O orientador da pesquisa ressalta o potencial da plataforma para ensaios pré-clínicos estabelecida durante o trabalho para acelerar a identificação de novos antivirais. "Vencer a barreira dos estudos in vitro para as análises in vivo é difícil. A estrutura operacional estabelecida na tese contribuiu, por exemplo, para a rápida identificação do potencial de utilização do antiviral sofosbuvir contra o vírus Zika ainda durante a emergência em saúde pública causada pela doença", relata Thiago. Publicado na revista Scientifc Reports, o artigo sobre o achado, do qual Carolina é primeira autora, foi incluído na tese como produção científica durante o período do doutorado.

Ação contra doenças fúngicas negligenciadas
Classificadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como doenças negligenciadas, a cromoblastomicose e o micetoma estão entre as infecções que podem ser provocadas pelo fungo Phialophora verrucosa. Causados geralmente pela penetração de fungos na pele após trauma provocado por espinhos e farpas, os agravos acarretam desde lesões cutâneas a infecções cerebrais, trazendo impactos negativos para a saúde e as condições de vida dos pacientes.

Considerando que estas infecções são frequentemente refratárias aos antifúngicos atualmente disponíveis, a tese defendida pela bióloga Marcela Queiroz Granato, investigou duas classes de compostos com potencial terapêutico, identificando moléculas efetivas contra P. verrucosa em ensaios in vitro e in vivo.

Desenvolvido no Programa de Biologia Parasitária do IOC, o estudo 'Efeito de compostos com atividade antifúngica sobre aspectos biológicos e virulência de Phialophora verrucosa' foi orientado pela pesquisadora Lucimar Ferreira Kneipp, do Laboratório de Taxonomia, Bioquímica e Bioprospecção de Fungos do IOC, e co-orientado pela pesquisadora Maria Cristina Vidal Pessolani, chefe do Laboratório de Microbiologia Celular do IOC.

Marcela Granato ressaltou a importância de buscar alternativas de tratamento para infecções negligenciadas, como a cromoblastomicose. Foto: Gutemberg Brito

As análises foram realizadas com diferentes compostos derivados da molécula chamada 1,10-fenantrolina associados a metais, sintetizados por um grupo de pesquisadores irlandeses, parceiros no projeto. Também foram investigados inibidores enzimáticos utilizados no tratamento do HIV.

"Compostos a base de metal apresentam notória atividade antimicrobiana, mas são muito tóxicos. A associação com a 1,10-fenantrolina visa reduzir a toxidez. Os inibidores da enzima aspártico peptidase do HIV foram escolhidos, uma vez que são candidatos ao reposicionamento de fármacos, por serem aprovados e utilizados na clínica para o tratamento de outras patologias, além de apresentar experimentalmente atividade contra patógenos fúngicos", explica Marcela.

A maior atividade foi observada entre os derivados de 1,10-fenantrolina, com destaque para a molécula associada à prata, enquanto os inibidores do HIV tiveram menor efeito sobre P. verrucosa. Nos ensaios in vitro, fungos tratados com o derivado de prata foram mais sensíveis a ação dos macrófagos humanos, células de defesa do organismo.

A toxicidade também foi avaliada e os macrófagos apresentaram boa tolerância aos compostos. Nos testes in vivo, utilizando como modelo experimental larvas do inseto Galleria mellonella, o derivado de 1,10-fenantrolina associado à prata conseguiu promover a sobrevivência das larvas infectadas com P. verrucosa, demonstrando assim um efeito protetor.

A orientadora do projeto afirma que os dados obtidos evidenciam a potente ação antifúngica dos derivados de 1,10-fenantrolina. "Os resultados sugerem que esses compostos, isolados ou em associação com antifúngicos clássicos, possam ser uma alternativa para o desenvolvimento futuro de metalofármacos para o tratamento da cromoblastomicose", aponta Lucimar.

Teses ganhadoras do Prêmio Alexandre Peixoto 2018 apresentam contribuições para o controle de moscas, desenvolvimento de antivirais e terapias contra micose
Por: 
maira

:: Conheça outras teses premiadas

Três resultados de pesquisas que podem contribuir para o desenvolvimento de novos medicamentos e de inseticidas foram apresentados à sociedade nesta terça-feira (11/09), durante a entrega do Prêmio Anual IOC de Teses Alexandre Peixoto 2018. Criado em 2013 para contemplar, anualmente, as melhores teses desenvolvidas por doutorandos dos Programas de Pós-graduação Stricto sensu do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), a premiação é uma homenagem ao pesquisador Alexandre Peixoto, falecido precocemente no mesmo ano.

O estudo da farmacêutica Idelsy Chil Núñez demonstrou a segurança e a eficácia do óleo essencial da planta Ocimum sanctum var. cubensis - uma variedade de manjericão sagrado encontrada em Cuba - como inseticida contra moscas, assim como para o tratamento de miíase, infecção causada pelas larvas destes insetos. A caracterização de moléculas ativas contra os vírus influenza, causadores da gripe, foi alvo do trabalho da biomédica Carolina de Queiroz Sacramento, que também contribuiu para o desenvolvimento de uma plataforma para ensaios pré-clínicos de antivirais. Já a pesquisa da bióloga Marcela Queiroz Granato, identificou compostos com ação contra o fungo Phialophora verrucosa, causador de micoses de difícil tratamento, como cromoblastomicose e micetoma.

Saiba mais sobre os trabalhos:

Planta medicinal contra moscas
Associado a propriedades medicinais, o manjericão sagrado já teve ação inseticida contra mosquitos apontada em pesquisas, mas nunca tinha sido investigado no controle de moscas. Na tese 'Segurança e eficácia do óleo essencial de Ocimum sanctum l. var. cubensis para o controle de dípteros muscoides', a farmacêutica Idelsy Chil Núñez, professora da Universidade de Oriente, em Cuba, demonstrou que a planta pode ser a base para o desenvolvimento de inseticidas botânicos contra moscas, assim como de medicamentos para tratamento de miíases.

Desenvolvida na Pós-graduação em Biodiversidade e Saúde do IOC, a pesquisa foi orientada pela pesquisadora Margareth Maria de Carvalho Queiroz, chefe do Laboratório de Entomologia Médica e Forense do IOC, e co-orientada pelo professor Julio César Escalona Arranz, da Universidade de Oriente, em Cuba.

Margareth Queiroz representou Idelsy Núñez na cerimônia e recebeu a premiação entregue pelo vice-diretor Marcelo Alves Pinto. Foto: Gutemberg Brito

Analisando o óleo essencial extraído de folhas de manjericão sagrado selvagem do leste de Cuba, o estudo identificou oito moléculas principais e apontou que três substâncias reconhecidas pela atividade inseticida respondem por mais de 60% do composto. A ação contra larvas e pupas - estágios iniciais de desenvolvimento das moscas - foi observada em seis espécies diferentes do inseto, com mortalidade corrigida variando entre 27% e 70%. Já o efeito contra insetos adultos foi analisado para a espécie Musca domestica, a popular mosca de casa, considerada a principal variedade de interesse sanitário por ser a mais comum nas regiões urbanas e apontada como responsável pela transmissão de mais de 60 patógenos para o homem e para animais domésticos e em cativeiro.

O efeito observado foi proporcional à dose, sendo que o composto com concentração de 100% provocou a morte de todas as moscas em uma hora. Um unguento preparado com lanolina, vaselina e óleo essencial na concentração de 15% foi testado ainda no tratamento de uma miíase causada por larvas de M. domestica em porcos. Em sete dias, a terapia levou à cicatrização completa da lesão, mesmo prazo normalmente observado para o tratamento com Asuntol, medicamento utilizado rotineiramente nestes casos em Cuba.

A autora da pesquisa ressalta que testes realizados com culturas de células e com camundongos - considerados modelos para este tipo de estudo - indicaram ausência de qualquer sinal de toxicidade, comprovando a segurança do composto. "Nossos resultados demonstraram que o óleo essencial de O. sanctum pode representar um método alternativo eficaz para controlar moscas de importância médico-sanitária, com possível aplicação como inseticida e como princípio ativo de formulações farmacêuticas para miíases", afirma Idelsy.

A orientadora do trabalho enfatiza a relevância dos achados. "Considerando que a M. domestica é um vetor de diversas doenças e apresenta resistência à maioria dos inseticidas químicos conhecidos, o desenvolvimento de um inseticida botânico pode ser uma alternativa importante", declara.

Inibidores do vírus influenza
Reunindo ensaios em culturas de células, com técnicas de biologia celular e molecular, análises de biologia computacional, de farmacologia e de imunologia, além de testes em modelo animal, a pesquisa da biomédica Carolina de Queiroz Sacramento identificou moléculas promissoras para o tratamento da gripe e contribuiu para o estabelecimento de uma plataforma de ensaios pré-clínicos, que pode acelerar a busca por novas terapias para doenças virais. Com o título 'Estudo in vitro e in vivo da ação de novas drogas sobre a replicação do vírus influenza', o trabalho foi desenvolvido no Programa de Biologia Celular e Molecular do IOC, sob orientação do pesquisador Thiago Moreno Lopes e Souza, do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), e co-orientação do pesquisador Fernando Augusto Bozza, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz).

A plataforma para ensaios pré-clínicos de antivirais desenvolvida na tese de Carolina Sacramento contribuiu para estudos sobre o vírus Zika. Foto: Gutemberg Brito

Selecionadas entre centenas de compostos testados, quatro moléculas capazes de inibir a replicação dos vírus influenza são apresentadas no estudo, com análises sobre mecanismo de ação, concentração necessária para inibição e toxicidade, entre outros fatores. Produto natural derivado do fungo Chaetomium sp., o aureonitol foi considerado promissor por apresentar muito baixa toxicidade e alta seletividade, o que sugere segurança para utilização.

Apresentando o mesmo mecanismo de ação do principal medicamento usado atualmente no tratamento da gripe, os compostos sintéticos 1i e tritempo destacaram-se por atuar sobre cepas virais que já desenvolveram resistência contra a terapia de referência. Com estrutura semelhante à ribavirina, antiviral de amplo espectro que tem aplicação restrita pela alta toxicidade, o composto sintético 5b mostrou-se cerca de 300 vezes mais potente e 10 vezes menos tóxico, além de ter ação anti-inflamatória.

Os resultados motivaram a avaliação da molécula em ensaios in vivo, conduzidos com camundongos, considerados modelos para esse tipo de estudo. Foi verificada ausência de toxicidade, indicando segurança para administração oral. Além disso, a molécula conseguiu preservar as vias aéreas e o tecido pulmonar dos animais na infecção pelo vírus influenza.

"Atualmente existe apenas uma classe de inibidores do vírus influenza para utilização clínica por via oral e há relatos de resistência ao medicamento, o que reforça a necessidade de novos fármacos. Entre as moléculas analisadas, destaca-se o composto análogo da ribavirina, que apresentou resultados positivos nos ensaios in vitro e in vivo", comenta Carolina.

O orientador da pesquisa ressalta o potencial da plataforma para ensaios pré-clínicos estabelecida durante o trabalho para acelerar a identificação de novos antivirais. "Vencer a barreira dos estudos in vitro para as análises in vivo é difícil. A estrutura operacional estabelecida na tese contribuiu, por exemplo, para a rápida identificação do potencial de utilização do antiviral sofosbuvir contra o vírus Zika ainda durante a emergência em saúde pública causada pela doença", relata Thiago. Publicado na revista Scientifc Reports, o artigo sobre o achado, do qual Carolina é primeira autora, foi incluído na tese como produção científica durante o período do doutorado.

Ação contra doenças fúngicas negligenciadas
Classificadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como doenças negligenciadas, a cromoblastomicose e o micetoma estão entre as infecções que podem ser provocadas pelo fungo Phialophora verrucosa. Causados geralmente pela penetração de fungos na pele após trauma provocado por espinhos e farpas, os agravos acarretam desde lesões cutâneas a infecções cerebrais, trazendo impactos negativos para a saúde e as condições de vida dos pacientes.

Considerando que estas infecções são frequentemente refratárias aos antifúngicos atualmente disponíveis, a tese defendida pela bióloga Marcela Queiroz Granato, investigou duas classes de compostos com potencial terapêutico, identificando moléculas efetivas contra P. verrucosa em ensaios in vitro e in vivo.

Desenvolvido no Programa de Biologia Parasitária do IOC, o estudo 'Efeito de compostos com atividade antifúngica sobre aspectos biológicos e virulência de Phialophora verrucosa' foi orientado pela pesquisadora Lucimar Ferreira Kneipp, do Laboratório de Taxonomia, Bioquímica e Bioprospecção de Fungos do IOC, e co-orientado pela pesquisadora Maria Cristina Vidal Pessolani, chefe do Laboratório de Microbiologia Celular do IOC.

Marcela Granato ressaltou a importância de buscar alternativas de tratamento para infecções negligenciadas, como a cromoblastomicose. Foto: Gutemberg Brito

As análises foram realizadas com diferentes compostos derivados da molécula chamada 1,10-fenantrolina associados a metais, sintetizados por um grupo de pesquisadores irlandeses, parceiros no projeto. Também foram investigados inibidores enzimáticos utilizados no tratamento do HIV.

"Compostos a base de metal apresentam notória atividade antimicrobiana, mas são muito tóxicos. A associação com a 1,10-fenantrolina visa reduzir a toxidez. Os inibidores da enzima aspártico peptidase do HIV foram escolhidos, uma vez que são candidatos ao reposicionamento de fármacos, por serem aprovados e utilizados na clínica para o tratamento de outras patologias, além de apresentar experimentalmente atividade contra patógenos fúngicos", explica Marcela.

A maior atividade foi observada entre os derivados de 1,10-fenantrolina, com destaque para a molécula associada à prata, enquanto os inibidores do HIV tiveram menor efeito sobre P. verrucosa. Nos ensaios in vitro, fungos tratados com o derivado de prata foram mais sensíveis a ação dos macrófagos humanos, células de defesa do organismo.

A toxicidade também foi avaliada e os macrófagos apresentaram boa tolerância aos compostos. Nos testes in vivo, utilizando como modelo experimental larvas do inseto Galleria mellonella, o derivado de 1,10-fenantrolina associado à prata conseguiu promover a sobrevivência das larvas infectadas com P. verrucosa, demonstrando assim um efeito protetor.

A orientadora do projeto afirma que os dados obtidos evidenciam a potente ação antifúngica dos derivados de 1,10-fenantrolina. "Os resultados sugerem que esses compostos, isolados ou em associação com antifúngicos clássicos, possam ser uma alternativa para o desenvolvimento futuro de metalofármacos para o tratamento da cromoblastomicose", aponta Lucimar.

Edição: 
Vinicius Ferreira

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)