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Uma mulher à frente do seu tempo

Mais que uma cientista pioneira, Maria Deane foi uma mulher à frente de seu tempo: na década de 1930, formou-se em medicina, tornou-se cientista e desbravou o interior do país para investigar doenças até hoje negligenciadas.
Por Jornalismo IOC17/07/2008 - Atualizado em 03/08/2022

A contribuição científica do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) é resultado do esforço cotidiano de pesquisadores empenhados no enfrentamento de importantes problemas de saúde pública – homens e mulheres que em 108 anos de história contribuíram para produção de conhecimento na área da saúde e firmaram-se como ícones da ciência brasileira.

É o caso da protozoologista Maria Deane (1916-1995), que registrou significativas descobertas sobre leishmaniose visceral, malária e doença de Chagas durante a carreira científica iniciada em 1936, no Pará, sua terra natal.

Pioneira na área da protozoologia, Maria Deane desbravou o interior do país para investigar importantes problemas de saúde pública. Foto: Arquivo pessoal

“Percebi minha vocação para ciência quando, ainda criança, passava tardes inteiras nos laboratórios da Universidade de São Paulo (USP), onde Maria e Leonidas Deane trabalhavam. Cresci com uma visão idealizada do cientista, formada a partir das características que observava em meus tios: o apreço pelo trabalho e o comprometimento com a ciência, independentemente de vaidades pessoais ou status político”, reconhece o sobrinho do casal, o farmacologista Francisco Paumgartten, hoje pesquisador do Laboratório de Toxicologia Ambiental da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz).

Responsável pela consolidação de unidades de ensino e pesquisa na área da protozoologia em diversas instituições – como o Departamento de Zoologia da USP e o Departamento de Parasitologia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Carabobo, na Venezuela – Maria sempre teve a formação de profissionais de saúde como uma preocupação pessoal. O principal exemplo desta motivação é a trajetória de Marcos Antônio dos Santos Lima, motorista da família que se tornou técnico de laboratório por incentivo e investimento da pesquisadora.

Marcos Lima, motorista da família Deane, tornou-se técnico em pesquisa por incentivo e investimento de Maria. Foto: Gutemberg Brito

“Sempre tive curiosidade sobre a área de pesquisa, mas nunca tive oportunidade de estudar e me dedicar à ciência. Quando percebeu isto, Maria fez questão de me trazer ao laboratório e me ensinar tudo o que sei hoje. Aprendi toda a prática com ela e depois, com o tempo, participei de cursos e capacitações que permitiram que eu me formasse como técnico de laboratório”, conta Marcos, que atua como técnico em pesquisa do Laboratório de Biologia de Tripanossomatídeos do IOC.

“De origem humilde, minha avó enfrentou muitas dificuldades durante a infância. Ela contava que dividia com as duas irmãs um único par de sandálias. Acredito que esta experiência tenha lhe dado o senso de solidariedade e justiça tão marcantes em sua personalidade”, considera Camilo Deane, neto de Maria.

“Apesar da postura austera como frequentemente é lembrada, resultado da educação rígida que recebeu da família de origem austríaca, em sua vida pessoal minha avó era uma pessoa carinhosa”, Camilo recorda, destacando o tradicional frango ao curry preparado por Maria aos domingos, ao som de música clássica.

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Mais que uma cientista pioneira, Maria Deane foi uma mulher à frente de seu tempo: na década de 1930, formou-se em medicina, tornou-se cientista e desbravou o interior do país para investigar doenças até hoje negligenciadas.
Por: 
jornalismo

A contribuição científica do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) é resultado do esforço cotidiano de pesquisadores empenhados no enfrentamento de importantes problemas de saúde pública – homens e mulheres que em 108 anos de história contribuíram para produção de conhecimento na área da saúde e firmaram-se como ícones da ciência brasileira.

É o caso da protozoologista Maria Deane (1916-1995), que registrou significativas descobertas sobre leishmaniose visceral, malária e doença de Chagas durante a carreira científica iniciada em 1936, no Pará, sua terra natal.

Pioneira na área da protozoologia, Maria Deane desbravou o interior do país para investigar importantes problemas de saúde pública. Foto: Arquivo pessoal

“Percebi minha vocação para ciência quando, ainda criança, passava tardes inteiras nos laboratórios da Universidade de São Paulo (USP), onde Maria e Leonidas Deane trabalhavam. Cresci com uma visão idealizada do cientista, formada a partir das características que observava em meus tios: o apreço pelo trabalho e o comprometimento com a ciência, independentemente de vaidades pessoais ou status político”, reconhece o sobrinho do casal, o farmacologista Francisco Paumgartten, hoje pesquisador do Laboratório de Toxicologia Ambiental da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz).

Responsável pela consolidação de unidades de ensino e pesquisa na área da protozoologia em diversas instituições – como o Departamento de Zoologia da USP e o Departamento de Parasitologia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Carabobo, na Venezuela – Maria sempre teve a formação de profissionais de saúde como uma preocupação pessoal. O principal exemplo desta motivação é a trajetória de Marcos Antônio dos Santos Lima, motorista da família que se tornou técnico de laboratório por incentivo e investimento da pesquisadora.

Marcos Lima, motorista da família Deane, tornou-se técnico em pesquisa por incentivo e investimento de Maria. Foto: Gutemberg Brito

“Sempre tive curiosidade sobre a área de pesquisa, mas nunca tive oportunidade de estudar e me dedicar à ciência. Quando percebeu isto, Maria fez questão de me trazer ao laboratório e me ensinar tudo o que sei hoje. Aprendi toda a prática com ela e depois, com o tempo, participei de cursos e capacitações que permitiram que eu me formasse como técnico de laboratório”, conta Marcos, que atua como técnico em pesquisa do Laboratório de Biologia de Tripanossomatídeos do IOC.

“De origem humilde, minha avó enfrentou muitas dificuldades durante a infância. Ela contava que dividia com as duas irmãs um único par de sandálias. Acredito que esta experiência tenha lhe dado o senso de solidariedade e justiça tão marcantes em sua personalidade”, considera Camilo Deane, neto de Maria.

“Apesar da postura austera como frequentemente é lembrada, resultado da educação rígida que recebeu da família de origem austríaca, em sua vida pessoal minha avó era uma pessoa carinhosa”, Camilo recorda, destacando o tradicional frango ao curry preparado por Maria aos domingos, ao som de música clássica.

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Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)