A disseminação da subvariante XBB.1.5, recentemente detectada no Brasil, e a escalda de casos na China foram os temas discutidos pelo Grupo Consultivo Técnico sobre Evolução do VÃrus SARS-CoV-2 (TAG-VE, na sigla em inglês), que assessora a Organização Mundial da Saúde (OMS), na primeira reunião do ano, em 5 de janeiro.
Após o encontro, o grupo reforçou a necessidade crÃtica de mais dados sobre os vÃrus em circulação na China e informou que está em andamento uma avaliação de risco atualizada sobre a subvariante XBB.1.5.
Única brasileira no grupo, que reúne 25 especialistas, a chefe do Laboratório de VÃrus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Marilda Siqueira, ressalta que ampliar a cobertura vacinal, usar máscaras e manter a vigilância são as principais recomendações nesse momento.
Em entrevista, a virologista detalha ainda o que se sabe, até agora, sobre a subvariante XBB.1.5 e a situação da epidemia na China. Confira a seguir:
Temos dois cenários que requerem maior atenção e que foram discutidos na primeira reunião do ano: a disseminação, nos Estados Unidos e em outros paÃses, da variante XBB.1.5, que é altamente transmissÃvel, e a escalada de casos na China, onde vemos possÃvel subnotificação e baixo número de sequenciamentos genéticos.
Essa sublinhagem está apresentando um crescimento muito rápido do número de casos. Nos Estados Unidos, em novembro, cerca 4% das linhagens detectadas eram XBB.1.5. No final de dezembro, já estava em 41%. As autoridades americanas também relataram aumento do número de internações. Em testes em laboratório, essa linhagem apresentou menor chance de ser neutralizada por anticorpos do que outras subvariantes da Ômicron, como BA.2, BA.4 e BA.5, que tiveram grande circulação. Porém, isso não significa que ela vai ser mais grave. É uma situação que estamos acompanhando.
A experiência tem mostrado, nas ondas de casos anteriores de diferentes variantes, a eficácia das vacinas na proteção contra casos graves e mortes. Em populações altamente imunizadas, podemos até ter um aumento do número de pessoas infectadas, mas que não necessariamente se refletirá, na mesma proporção, no aumento de pessoas hospitalizadas. Por exemplo, após a introdução da variante Ômicron no Brasil, tivemos aumento exponencial do número de infectados em janeiro e fevereiro do ano passado. No entanto, o número de hospitalizações e mortes, felizmente, não acompanhou isso. Mesmo que essas variantes sejam diferentes, os anticorpos que nós temos dão proteção suficiente para que grande parte da população infectada não necessite de hospitalização.
É muito difÃcil anteciparmos qual pode ser o tamanho de uma nova onda. Temos uma população vacinada, mas precisamos melhorar a taxa de reforço. Isso é muito importante para todos os grupos: tanto populações vulneráveis, como idosos e portadores de doenças crônicas, quanto adultos e jovens, que ainda têm baixa taxa de reforço. Também precisamos reforçar o uso de máscaras em locais fechados, em aglomerações e em contato com pessoas vulneráveis, como ocorre em hospitais, clÃnicas e asilos. Além disso, devemos continuar com a vigilância genômica, reforçando as estratégias de amostragem para monitorarmos as linhagens em circulação no Brasil.
O aumento de casos na China não é causado pela variante XBB.1.5. Lá, as variantes que predominam são BA.5.2 e BF.7. Porém, o que vemos, com os dados até o momento, é que a China está com uma vigilância genômica não condizente com o tamanho da sua população e com o número de casos registrados. É preciso aumentar o número de amostras sequenciadas para que possamos ter um panorama mais preciso das variantes em circulação. Além disso, com a escalada de casos pode ocorrer o aparecimento de outras variantes. Não quer dizer que isso necessariamente vai acontecer. Mas, quanto mais o vÃrus se multiplica, maior a chance de mutações.
Os chineses utilizaram por três anos estratégias de lockdown bem mais duras do que o restante da população mundial. Eles podem ter tido baixo contato com a doença. Também apresentam lacunas na cobertura vacinal, principalmente nas doses de reforço e em populações mais vulneráveis, como idosos acima de 80 anos. Além disso, não estão utilizando vacinas de outras tecnologias, como as vacinas de RNA, que já contam com versões bivalentes e podem proteger mais contra as variantes da Ômicron. Nesse cenário, com a escalda de casos, pode ocorrer não só o surgimento de novas variantes, como também o aumento das hospitalizações e da letalidade.
A vacinação pode proteger da infecção ou, quando há infecção, reduz a gravidade da doença. Com isso, ela diminui a taxa de transmissão do vÃrus e também a taxa de multiplicação no organismo. Isso tudo contribui para reduzir a chance de produzir novas variantes.
A disseminação da subvariante XBB.1.5, recentemente detectada no Brasil, e a escalda de casos na China foram os temas discutidos pelo Grupo Consultivo Técnico sobre Evolução do VÃrus SARS-CoV-2 (TAG-VE, na sigla em inglês), que assessora a Organização Mundial da Saúde (OMS), na primeira reunião do ano, em 5 de janeiro.
Após o encontro, o grupo reforçou a necessidade crÃtica de mais dados sobre os vÃrus em circulação na China e informou que está em andamento uma avaliação de risco atualizada sobre a subvariante XBB.1.5. Â
Única brasileira no grupo, que reúne 25 especialistas, a chefe do Laboratório de VÃrus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Marilda Siqueira, ressalta que ampliar a cobertura vacinal, usar máscaras e manter a vigilância são as principais recomendações nesse momento.
Em entrevista, a virologista detalha ainda o que se sabe, até agora, sobre a subvariante XBB.1.5 e a situação da epidemia na China. Confira a seguir:
Temos dois cenários que requerem maior atenção e que foram discutidos na primeira reunião do ano: a disseminação, nos Estados Unidos e em outros paÃses, da variante XBB.1.5, que é altamente transmissÃvel, e a escalada de casos na China, onde vemos possÃvel subnotificação e baixo número de sequenciamentos genéticos.
Essa sublinhagem está apresentando um crescimento muito rápido do número de casos. Nos Estados Unidos, em novembro, cerca 4% das linhagens detectadas eram XBB.1.5. No final de dezembro, já estava em 41%. As autoridades americanas também relataram aumento do número de internações. Em testes em laboratório, essa linhagem apresentou menor chance de ser neutralizada por anticorpos do que outras subvariantes da Ômicron, como BA.2, BA.4 e BA.5, que tiveram grande circulação. Porém, isso não significa que ela vai ser mais grave. É uma situação que estamos acompanhando.
A experiência tem mostrado, nas ondas de casos anteriores de diferentes variantes, a eficácia das vacinas na proteção contra casos graves e mortes. Em populações altamente imunizadas, podemos até ter um aumento do número de pessoas infectadas, mas que não necessariamente se refletirá, na mesma proporção, no aumento de pessoas hospitalizadas. Por exemplo, após a introdução da variante Ômicron no Brasil, tivemos aumento exponencial do número de infectados em janeiro e fevereiro do ano passado. No entanto, o número de hospitalizações e mortes, felizmente, não acompanhou isso. Mesmo que essas variantes sejam diferentes, os anticorpos que nós temos dão proteção suficiente para que grande parte da população infectada não necessite de hospitalização.
É muito difÃcil anteciparmos qual pode ser o tamanho de uma nova onda. Temos uma população vacinada, mas precisamos melhorar a taxa de reforço. Isso é muito importante para todos os grupos: tanto populações vulneráveis, como idosos e portadores de doenças crônicas, quanto adultos e jovens, que ainda têm baixa taxa de reforço. Também precisamos reforçar o uso de máscaras em locais fechados, em aglomerações e em contato com pessoas vulneráveis, como ocorre em hospitais, clÃnicas e asilos. Além disso, devemos continuar com a vigilância genômica, reforçando as estratégias de amostragem para monitorarmos as linhagens em circulação no Brasil.
O aumento de casos na China não é causado pela variante XBB.1.5. Lá, as variantes que predominam são BA.5.2 e BF.7. Porém, o que vemos, com os dados até o momento, é que a China está com uma vigilância genômica não condizente com o tamanho da sua população e com o número de casos registrados. É preciso aumentar o número de amostras sequenciadas para que possamos ter um panorama mais preciso das variantes em circulação. Além disso, com a escalada de casos pode ocorrer o aparecimento de outras variantes. Não quer dizer que isso necessariamente vai acontecer. Mas, quanto mais o vÃrus se multiplica, maior a chance de mutações.
Os chineses utilizaram por três anos estratégias de lockdown bem mais duras do que o restante da população mundial. Eles podem ter tido baixo contato com a doença. Também apresentam lacunas na cobertura vacinal, principalmente nas doses de reforço e em populações mais vulneráveis, como idosos acima de 80 anos. Além disso, não estão utilizando vacinas de outras tecnologias, como as vacinas de RNA, que já contam com versões bivalentes e podem proteger mais contra as variantes da Ômicron. Nesse cenário, com a escalda de casos, pode ocorrer não só o surgimento de novas variantes, como também o aumento das hospitalizações e da letalidade.Â
A vacinação pode proteger da infecção ou, quando há infecção, reduz a gravidade da doença. Com isso, ela diminui a taxa de transmissão do vÃrus e também a taxa de multiplicação no organismo. Isso tudo contribui para reduzir a chance de produzir novas variantes.Â
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)