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Bem-estar estudantil em primeiro plano

Na manhã desta segunda-feira, dia 25 de setembro, foi dado início à programação da edição 2023 da Semana da Pós-graduação do IOC. O evento vai até sexta-feira (29)
Por Kadu Cayres e Vinicius Ferreira25/09/2023 - Atualizado em 03/10/2023

:: Confira a cobertura especial

Mesa de abertura contou com a presença de Tania Araujo-Jorge, Cristiani Vieira Machado, Elmo Amaral, Paulo D’Andrea, Ademir Martins, Deyvison Rhuan e Norma Brandão. Foto: Gutemberg Brito 

Sob o tema ‘Somos IOC, somos plurais: diálogos sobre diversidade na pós-graduação’, a edição 2023 da Semana da Pós-graduação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) deu início às atividades na manhã desta segunda-feira, dia 25 de setembro, com uma programação repleta de ciência, arte e discussões em torno de equidade, inclusão e políticas afirmativas. 

A abertura do evento contou com a presença da diretora do IOC, Tania Araujo-Jorge; da vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado; dos vice-diretores Elmo Amaral (Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação), Paulo D’Andrea e Ademir Martins (Ensino, Informação e Comunicação); do representante discente dos Programas de Pós-graduação do Instituto, Deyvison Rhuan; e da assessora da Vice-Diretoria de Ensino, Informação e Comunicação do IOC, Norma Brandão.   

“Quando olho para o auditório cheio, vejo, em cada um de vocês, uma estrada. Estrada essa que a gente ainda não sabe onde vai dar, mas que temos a certeza de que levará benefícios ao Sistema Único de Saúde [SUS] e, consequentemente, à população brasileira”, destacou Tania durante a mesa de abertura.  

A vice-presidente Cristiani Vieira parabenizou os estudantes pela elaboração da Semana, que, segundo ela, aborda uma temática institucionalmente importante. Além disso, chamou atenção para o atual cenário de retomada da valorização da ciência no país.  

“Estamos vivendo um momento de recuperar a valorização da ciência e da educação. Passamos um processo brutal de desgastes dessas áreas, que afetou até o interesse dos jovens pela carreira científica. Olhar para os rostos que estão aqui, nos faz perceber que o fascínio pela profissão de pesquisador/professor segue vivo”, declarou. 

Diretoria e representação discente do IOC e a Presidência da Fiocruz na abertura da Semana de Pós. Foto: Gutemberg Brito 

Os vice-diretores Ademir Martins e Paulo D’Andrea ressaltaram a importância da Semana da Pós-graduação para a troca de experiência entre os discentes.   

“Desejo que, ao longo desses cinco dias, vocês busquem conhecer um pouco da história profissional e pessoal dos colegas e que, partir desta troca, surjam parcerias científicas e de vida”, disse Ademir.  

“A edição 2023 está com o perfil do atual corpo discente do IOC, que pediu maior liberdade de atuação na organização e na escolha do tema. Portanto, aproveitem a programação que vocês elaboraram e se joguem”, incentivou Paulo.  

Quem também ressaltou a importância da troca de conhecimento e vivências entre os estudantes foi o vice-diretor de Pesquisa, Elmo Amaral.  

“A pós-graduação é um momento de grande aprendizado. Seja dentro do Laboratório ou na copa durante um café, tudo pode se transformar em conhecimento, em troca de saberes. Vocês, estudantes de pós-graduação, têm um papel importantíssimo no avanço da ciência. Acreditem: os projetos desenvolvidos aqui farão a diferença para a população brasileira”, comentou.   

O representante discente Deyvison Rhuan saudou a presença dos colegas pós-graduandos e reforçou que a edição 2023 é o espaço para que eles se sintam à vontade para ser o que são.  

“Com o mesmo rigor e ética que tratamos o fazer científico, vamos discutir a verdadeira situação de cada um de nós. Espero que, nestes cinco dias de intensa programação, cada um não tenha medo de dizer ‘Eu sou’ ou ‘Eu estou’”, enfatizou.    

A cerimônia de abertura foi marcada, ainda, pela apresentação do hino nacional com a discente do Programa de Pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde, Nureane Abdalla. A iniciativa faz parte da exposição ‘Cientista Artista’, uma novidade da edição 2023, que tem como intuito valorizar e incentivar o talento artístico dos pós-graduandos.

Apresentações da exposição ‘Cientista Artista’, uma novidade da edição 2023 da Semana da Pós. Fotos: Gutemberg Brito. Montagem: João Veras


Equidade, diversidade e inclusão em pauta 

A primeira palestra do dia ficou por conta da coordenadora de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas (CEDIPA) da Fiocruz, Hilda da Silva Gomes. Ela destacou o papel da Coordenação no estimulo à integração e a transversalidade das políticas de equidade étnico-racial, de gênero, acessibilidade e inclusão em todas as ações, projetos, programas e serviços da Fiocruz. 

“A sociedade brasileira passou nos últimos anos por um profundo retrocesso nas políticas públicas, na saúde e na ciência, tendo atualmente que lidar com a degradação das condições de vida. Por esse motivo, considero importante que nossa instituição siga colaborando para a reconstrução do país, na base da inclusão, diversidade, do respeito e da equidade de gênero e étnico-racial em todos os eventos”, salientou.  

Hilda realçou também a necessidade de se construir outras narrativas e de fortalecer novos alinhamentos dentro da instituição para o enfrentamento das desigualdades. 

“A Política de Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência (2019), a Política de Apoio ao Estudante (2022) e a Política de Equidade Étnico-racial e de Gênero da Fiocruz (2023) representam um avanço na agenda institucional, e ao mesmo tempo um desafio no que diz respeito à implementação, expressando-se em diretrizes e bases de construção de processos no âmbito das missões e da gestão”, disse. 

A coordenadora encerrou a palestra chamando atenção para o fortalecimento da atuação da Fiocruz no enfrentamento ao capacitismo, às desigualdades étnico-raciais e de gênero, nas diferentes frentes de atuação.  

“É preciso assegurarmos a estrutura para consolidação de ações estratégicas e reforçarmos o compromisso institucional por meio de práticas mais inclusivas e de valorização da diversidade na perspectiva da equidade”, concluiu. 

Trajetórias que inspiram

Na sequência, o auditório Emmanuel Dias, o mais tradicional do Instituto, sediou um dia de luta e resistência: recebeu a mesa-redonda 'Trajetórias negras na ciência: superando barreiras e rompendo padrões'. 

A atividade contou com a participação da diretora do Departamento de Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde (SVSA/MS), Alda Maria da Cruz, e do coordenador da Assessoria de Relações Institucionais da Presidência da Fiocruz, Valber da Silva Frutuoso. A mediação ficou a cargo da diretora da Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG), Natália Silva Trindade. 

Em cena rara na ciência, Semana da Pós promoveu mesa-redonda composta somente por autoridades negras. Alda Maria da Cruz (esq.) e Valber Frutuoso contaram um pouco de suas trajetórias profissionais e pessoais aos estudantes. Ao centro, a mediadora Natália Trindade, diretora da ANPG. Foto: Gutemberg Brito 

A primeira a contar um pouco sobre sua vida e carreira foi Alda. Com família natural de Miguel Pereira, cidade do interior do estado do Rio de Janeiro, ela começou relembrando, a partir de um álbum de fotos, o caminho trilhado pelo pai, uma de suas inspirações. A pesquisadora contou que ele realizou toda a fase estudantil contra a vontade do avô, que acreditava que o ideal seria apenas trabalhar para ajudar a sustentar a família. E, ao ser impedido de tentar realizar o sonho de ser jogador de futebol profissional, o pai se viu "obrigado" a seguir na carreira militar. Graças ao estudo e ao emprego, o pai pôde proporcionar uma situação financeira razoavelmente confortável para eles. 

Nascida em Curitiba, cidade para a qual o pai foi transferido a trabalho, Alda compartilhou, pela primeira vez, uma triste realidade do passado que marca sua vida até os dias de hoje. Foi imposta a ela a cor branca na certidão de nascimento no momento do registro no cartório.  

"Meu pai nunca soube explicar o ocorrido. Tendo em vista a época, ele imagina que o racismo era tão elevado que era inconcebível ter um cidadão negro nascido naquela cidade", lamentou. 

Já adolescente, a pesquisadora recordou com alegria uma carta enviada para a avó, que à época estava doente.   

"Meu sonho é ser médica e pretendo conquistar meu objetivo, porque nada na vida não é difícil ou impossível", escreveu a neta que idealizava poder cuidar da saúde da avó e de outras pessoas.  

"Na vida adulta passei a ter outros dois grandes sonhos, que eram me tornar pesquisadora da Fiocruz e cantar com Tom Jobim. O primeiro deu certo, mas o segundo, não", contou humorada a médica formada pela Faculdade Souza Marques, com mestrado e doutorado em Medicina Tropical pelo Instituto Oswaldo Cruz. 

Atualmente no Ministério da Saúde, Alda atuou por anos na chefia do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas Médicas do IOC. Ela contou que no atual governo foram instaladas assessorias especiais que cuidam exclusivamente de igualdade de gênero, raça e de atenção às pessoas com deficiência para que seja possível desenvolver políticas de saúde em sua dimensão macro, que abranjam realmente toda a população.  

"São necessárias algumas gerações para mudarmos a realidade de desigualdade. Mas é preciso que se comece desde já", frisou. 

Luta e resistência: trajetórias negras que inspiram. Foto: Gutemberg Brito

Já Valber contou, de forma extrovertida, que o pontapé para iniciar sua trajetória científica foi o pai ter sido curado de úlcera após um vizinho indicar a ingestão de chá da folha de alumã, uma espécie de boldo. 

Intrigado e curioso, a situação o levou a enveredar pelo mundo dos fitoterápicos. Ingressou no curso de Biologia e se encantou pelas aulas práticas de botânica. trabalhou no campo da biologia marinha, identificando plânctons, até chegar ao departamento de farmacologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde finalmente se achou e começou a estudar a ação terapêutica das plantas. 

Nesse ínterim, algumas decepções. Valber lembra que, por duas vezes, seu ingresso no mestrado foi barrado. 

"Na época, as desculpas foram a quantidade de vagas e minha área de atuação. Não entendi muito bem, mas acreditei. Hoje, entendo que questões sociais estavam envolvidas nas recusas", disse com a voz embargada se referindo à possibilidade de ter sofrido racismo. 

Nascido na Baixada Fluminense, na cidade de São João de Meriti, ele é servidor da Fiocruz desde 1998, foi vice-diretor de pesquisa da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), coordenador do Programa de Vocação Científica da Fiocruz, membro do Grupo de Trabalho Interministerial para elaboração do Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos do Ministério da Saúde e vice-diretor de Desenvolvimento Institucional e Gestão do IOC. 

"Para além da questão científica, é importante um espaço como esse para discutirmos questões sociais, que impactam diretamente no processo de formação de cada um de nós", salientou.  

A mediadora encerrou a mesa chamando atenção para o fato de que muito se fala em meritocracia também na ciência. E que as trajetórias dos palestrantes precisam ser vistas como exceção, uma vez que a maioria da população negra não possui oportunidades iguais às da população branca. 

"A sociedade e os governantes precisam se empenhar em mudar essa realidade para que possamos nos tornar uma sociedade igualitária", bradou. 

Workshops temáticos

O primeiro dia da edição 2023 trouxe, ainda, uma novidade: diversos workshops temáticos foram ministrados por alunos de pós-graduação, pós-doutorandos, tecnologistas e pesquisadores do Instituto. As atividades foram realizadas em formato presencial, e tiveram duração máxima de 3h.

Mais de dez workshops temáticos foram ministrados por alunos de pós-graduação, pós-doutorandos, tecnologistas e pesquisadores do Instituto. Fotos: Gutemberg Brito. Montagem: João Veras

Dentre os temas abordados estavam 'análise de redes sociais e inteligência artificial para pesquisa'; 'citometria de fluxo'; 'análise de dados quantitativos'; 'o uso da metodologia da problematização e dos quadrinhos como recurso didático-pedagógico'; dentre outros.

Na manhã desta segunda-feira, dia 25 de setembro, foi dado início à programação da edição 2023 da Semana da Pós-graduação do IOC. O evento vai até sexta-feira (29)
Por: 
kadu
viniciusferreira

:: Confira a cobertura especial

Mesa de abertura contou com a presença de Tania Araujo-Jorge, Cristiani Vieira Machado, Elmo Amaral, Paulo D’Andrea, Ademir Martins, Deyvison Rhuan e Norma Brandão. Foto: Gutemberg Brito 

Sob o tema ‘Somos IOC, somos plurais: diálogos sobre diversidade na pós-graduação’, a edição 2023 da Semana da Pós-graduação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) deu início às atividades na manhã desta segunda-feira, dia 25 de setembro, com uma programação repleta de ciência, arte e discussões em torno de equidade, inclusão e políticas afirmativas. 

A abertura do evento contou com a presença da diretora do IOC, Tania Araujo-Jorge; da vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado; dos vice-diretores Elmo Amaral (Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação), Paulo D’Andrea e Ademir Martins (Ensino, Informação e Comunicação); do representante discente dos Programas de Pós-graduação do Instituto, Deyvison Rhuan; e da assessora da Vice-Diretoria de Ensino, Informação e Comunicação do IOC, Norma Brandão.   

“Quando olho para o auditório cheio, vejo, em cada um de vocês, uma estrada. Estrada essa que a gente ainda não sabe onde vai dar, mas que temos a certeza de que levará benefícios ao Sistema Único de Saúde [SUS] e, consequentemente, à população brasileira”, destacou Tania durante a mesa de abertura.  

A vice-presidente Cristiani Vieira parabenizou os estudantes pela elaboração da Semana, que, segundo ela, aborda uma temática institucionalmente importante. Além disso, chamou atenção para o atual cenário de retomada da valorização da ciência no país.  

“Estamos vivendo um momento de recuperar a valorização da ciência e da educação. Passamos um processo brutal de desgastes dessas áreas, que afetou até o interesse dos jovens pela carreira científica. Olhar para os rostos que estão aqui, nos faz perceber que o fascínio pela profissão de pesquisador/professor segue vivo”, declarou. 

Diretoria e representação discente do IOC e a Presidência da Fiocruz na abertura da Semana de Pós. Foto: Gutemberg Brito 

Os vice-diretores Ademir Martins e Paulo D’Andrea ressaltaram a importância da Semana da Pós-graduação para a troca de experiência entre os discentes.   

“Desejo que, ao longo desses cinco dias, vocês busquem conhecer um pouco da história profissional e pessoal dos colegas e que, partir desta troca, surjam parcerias científicas e de vida”, disse Ademir.  

“A edição 2023 está com o perfil do atual corpo discente do IOC, que pediu maior liberdade de atuação na organização e na escolha do tema. Portanto, aproveitem a programação que vocês elaboraram e se joguem”, incentivou Paulo.  

Quem também ressaltou a importância da troca de conhecimento e vivências entre os estudantes foi o vice-diretor de Pesquisa, Elmo Amaral.  

“A pós-graduação é um momento de grande aprendizado. Seja dentro do Laboratório ou na copa durante um café, tudo pode se transformar em conhecimento, em troca de saberes. Vocês, estudantes de pós-graduação, têm um papel importantíssimo no avanço da ciência. Acreditem: os projetos desenvolvidos aqui farão a diferença para a população brasileira”, comentou.   

O representante discente Deyvison Rhuan saudou a presença dos colegas pós-graduandos e reforçou que a edição 2023 é o espaço para que eles se sintam à vontade para ser o que são.  

“Com o mesmo rigor e ética que tratamos o fazer científico, vamos discutir a verdadeira situação de cada um de nós. Espero que, nestes cinco dias de intensa programação, cada um não tenha medo de dizer ‘Eu sou’ ou ‘Eu estou’”, enfatizou.    

A cerimônia de abertura foi marcada, ainda, pela apresentação do hino nacional com a discente do Programa de Pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde, Nureane Abdalla. A iniciativa faz parte da exposição ‘Cientista Artista’, uma novidade da edição 2023, que tem como intuito valorizar e incentivar o talento artístico dos pós-graduandos.

Apresentações da exposição ‘Cientista Artista’, uma novidade da edição 2023 da Semana da Pós. Fotos: Gutemberg Brito. Montagem: João Veras

Equidade, diversidade e inclusão em pauta 

A primeira palestra do dia ficou por conta da coordenadora de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas (CEDIPA) da Fiocruz, Hilda da Silva Gomes. Ela destacou o papel da Coordenação no estimulo à integração e a transversalidade das políticas de equidade étnico-racial, de gênero, acessibilidade e inclusão em todas as ações, projetos, programas e serviços da Fiocruz. 

“A sociedade brasileira passou nos últimos anos por um profundo retrocesso nas políticas públicas, na saúde e na ciência, tendo atualmente que lidar com a degradação das condições de vida. Por esse motivo, considero importante que nossa instituição siga colaborando para a reconstrução do país, na base da inclusão, diversidade, do respeito e da equidade de gênero e étnico-racial em todos os eventos”, salientou.  

Hilda realçou também a necessidade de se construir outras narrativas e de fortalecer novos alinhamentos dentro da instituição para o enfrentamento das desigualdades. 

“A Política de Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência (2019), a Política de Apoio ao Estudante (2022) e a Política de Equidade Étnico-racial e de Gênero da Fiocruz (2023) representam um avanço na agenda institucional, e ao mesmo tempo um desafio no que diz respeito à implementação, expressando-se em diretrizes e bases de construção de processos no âmbito das missões e da gestão”, disse. 

A coordenadora encerrou a palestra chamando atenção para o fortalecimento da atuação da Fiocruz no enfrentamento ao capacitismo, às desigualdades étnico-raciais e de gênero, nas diferentes frentes de atuação.  

“É preciso assegurarmos a estrutura para consolidação de ações estratégicas e reforçarmos o compromisso institucional por meio de práticas mais inclusivas e de valorização da diversidade na perspectiva da equidade”, concluiu. 

Trajetórias que inspiram

Na sequência, o auditório Emmanuel Dias, o mais tradicional do Instituto, sediou um dia de luta e resistência: recebeu a mesa-redonda 'Trajetórias negras na ciência: superando barreiras e rompendo padrões'. 

A atividade contou com a participação da diretora do Departamento de Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde (SVSA/MS), Alda Maria da Cruz, e do coordenador da Assessoria de Relações Institucionais da Presidência da Fiocruz, Valber da Silva Frutuoso. A mediação ficou a cargo da diretora da Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG), Natália Silva Trindade. 

Em cena rara na ciência, Semana da Pós promoveu mesa-redonda composta somente por autoridades negras. Alda Maria da Cruz (esq.) e Valber Frutuoso contaram um pouco de suas trajetórias profissionais e pessoais aos estudantes. Ao centro, a mediadora Natália Trindade, diretora da ANPG. Foto: Gutemberg Brito 

A primeira a contar um pouco sobre sua vida e carreira foi Alda. Com família natural de Miguel Pereira, cidade do interior do estado do Rio de Janeiro, ela começou relembrando, a partir de um álbum de fotos, o caminho trilhado pelo pai, uma de suas inspirações. A pesquisadora contou que ele realizou toda a fase estudantil contra a vontade do avô, que acreditava que o ideal seria apenas trabalhar para ajudar a sustentar a família. E, ao ser impedido de tentar realizar o sonho de ser jogador de futebol profissional, o pai se viu "obrigado" a seguir na carreira militar. Graças ao estudo e ao emprego, o pai pôde proporcionar uma situação financeira razoavelmente confortável para eles. 

Nascida em Curitiba, cidade para a qual o pai foi transferido a trabalho, Alda compartilhou, pela primeira vez, uma triste realidade do passado que marca sua vida até os dias de hoje. Foi imposta a ela a cor branca na certidão de nascimento no momento do registro no cartório.  

"Meu pai nunca soube explicar o ocorrido. Tendo em vista a época, ele imagina que o racismo era tão elevado que era inconcebível ter um cidadão negro nascido naquela cidade", lamentou. 

Já adolescente, a pesquisadora recordou com alegria uma carta enviada para a avó, que à época estava doente.   

"Meu sonho é ser médica e pretendo conquistar meu objetivo, porque nada na vida não é difícil ou impossível", escreveu a neta que idealizava poder cuidar da saúde da avó e de outras pessoas.  

"Na vida adulta passei a ter outros dois grandes sonhos, que eram me tornar pesquisadora da Fiocruz e cantar com Tom Jobim. O primeiro deu certo, mas o segundo, não", contou humorada a médica formada pela Faculdade Souza Marques, com mestrado e doutorado em Medicina Tropical pelo Instituto Oswaldo Cruz. 

Atualmente no Ministério da Saúde, Alda atuou por anos na chefia do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas Médicas do IOC. Ela contou que no atual governo foram instaladas assessorias especiais que cuidam exclusivamente de igualdade de gênero, raça e de atenção às pessoas com deficiência para que seja possível desenvolver políticas de saúde em sua dimensão macro, que abranjam realmente toda a população.  

"São necessárias algumas gerações para mudarmos a realidade de desigualdade. Mas é preciso que se comece desde já", frisou. 

Luta e resistência: trajetórias negras que inspiram. Foto: Gutemberg Brito

Já Valber contou, de forma extrovertida, que o pontapé para iniciar sua trajetória científica foi o pai ter sido curado de úlcera após um vizinho indicar a ingestão de chá da folha de alumã, uma espécie de boldo. 

Intrigado e curioso, a situação o levou a enveredar pelo mundo dos fitoterápicos. Ingressou no curso de Biologia e se encantou pelas aulas práticas de botânica. trabalhou no campo da biologia marinha, identificando plânctons, até chegar ao departamento de farmacologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde finalmente se achou e começou a estudar a ação terapêutica das plantas. 

Nesse ínterim, algumas decepções. Valber lembra que, por duas vezes, seu ingresso no mestrado foi barrado. 

"Na época, as desculpas foram a quantidade de vagas e minha área de atuação. Não entendi muito bem, mas acreditei. Hoje, entendo que questões sociais estavam envolvidas nas recusas", disse com a voz embargada se referindo à possibilidade de ter sofrido racismo. 

Nascido na Baixada Fluminense, na cidade de São João de Meriti, ele é servidor da Fiocruz desde 1998, foi vice-diretor de pesquisa da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), coordenador do Programa de Vocação Científica da Fiocruz, membro do Grupo de Trabalho Interministerial para elaboração do Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos do Ministério da Saúde e vice-diretor de Desenvolvimento Institucional e Gestão do IOC. 

"Para além da questão científica, é importante um espaço como esse para discutirmos questões sociais, que impactam diretamente no processo de formação de cada um de nós", salientou.  

A mediadora encerrou a mesa chamando atenção para o fato de que muito se fala em meritocracia também na ciência. E que as trajetórias dos palestrantes precisam ser vistas como exceção, uma vez que a maioria da população negra não possui oportunidades iguais às da população branca. 

"A sociedade e os governantes precisam se empenhar em mudar essa realidade para que possamos nos tornar uma sociedade igualitária", bradou. 

Workshops temáticos

O primeiro dia da edição 2023 trouxe, ainda, uma novidade: diversos workshops temáticos foram ministrados por alunos de pós-graduação, pós-doutorandos, tecnologistas e pesquisadores do Instituto. As atividades foram realizadas em formato presencial, e tiveram duração máxima de 3h.

Mais de dez workshops temáticos foram ministrados por alunos de pós-graduação, pós-doutorandos, tecnologistas e pesquisadores do Instituto. Fotos: Gutemberg Brito. Montagem: João Veras

Dentre os temas abordados estavam 'análise de redes sociais e inteligência artificial para pesquisa'; 'citometria de fluxo'; 'análise de dados quantitativos'; 'o uso da metodologia da problematização e dos quadrinhos como recurso didático-pedagógico'; dentre outros.

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)