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Do laboratório ao mercado: a inovação que nasce na ciência pública 

No 'Simpósio IOC Jubileu 125 anos', especialistas debateram o papel das políticas públicas, dos NITs e do empreendedorismo para transformar ciência em inovação 
Por Yuri Neri22/05/2025 - Atualizado em 27/05/2025

:: Confira a cobertura especial

Inovar no setor público não é fácil, mas o segundo dia (21/05) do Simpósio Jubileu IOC 125 Anos mostrou que é possível. A manhã foi marcada por reflexões sobre o papel das Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) e sobre o empreendedorismo no ambiente científico. 

Realizados no auditório do Pavilhão Arthur Neiva, no campus Manguinhos da Fiocruz, no Rio de Janeiro, os dois painéis reuniram representantes de universidades públicas, órgãos de fomento e empresas emergentes para discutir desafios e aprendizados no ecossistema de inovação brasileiro. 

O evento evidenciou que transformar ciência em soluções inovadoras exige articulação entre políticas públicas, estruturas institucionais e estratégias de fomento. 


O protagonismo feminino marcou a primeira mesa do dia, dedicada ao papel das ICTs na inovação científica. Foto: Henrique Nobre

Marco legal e NITs 

A primeira mesa-redonda, ‘O Papel das ICTs na inovação tecnológica’, foi moderada pelo assessor técnico da Vice-Presidência de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz (VPPIS/Fiocruz), Ramon Neves.  

A discussão destacou a ação dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) e as dificuldades enfrentadas pelas instituições públicas para transformar conhecimento científico em soluções de impacto.  

Abrindo o painel, a supervisora de propriedade intelectual da Universidade de Campinas (Unicamp), Elisama Campelo, defendeu a importância de ações educativas, inclusive sobre conceitos aparentemente simples, como ponto de partida para promover um ambiente inovador. 

“Às vezes, parece que estamos falando o óbvio, mas é o óbvio que precisa ser dito. Por isso, na Unicamp, desenvolvemos um projeto chamado ‘Trilha do Conhecimento’, que explica desde o que é a propriedade intelectual e os conceitos básicos, até a criação de uma empresa — passando pela modelagem de negócios e outros assuntos mais complexos”, explicou.  

Além de ações educativas, segundo ela, o avanço da inovação na Unicamp também se deve à restruturação da gestão. A especialista explicou que modernizar o NIT à luz do Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação foi determinante para superar dificuldades. 

“Antes, tínhamos muitos problemas, como a rotatividade e a falta de profissionais. A nova legislação, porém, trouxe mecanismos que ajudaram a superar esses desafios”, relatou. 


Público acompanha o painel sobre empreendedorismo científico no Simpósio IOC 125. Foto: Henrique Nobre​​​​​​

Elisama citou o artigo 9º da Lei 13.243/2016, que permite que o NIT das ICTs seja operado em parceria com fundações. Na Unicamp, por exemplo, a gestão hoje é feita junto à Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp), o que gerou, segundo a especialista, agilidade para contratações, compras e outros processos burocráticos. 

Já a procuradora federal Deolinda Costa, que integra a equipe nacional de ciência, tecnologia e inovação da Advocacia-Geral da União (AGU), reforçou que o pesquisador deve se manter próximo ao NIT de sua ICT e sempre o consultar em casos de dúvidas. 

 “O NIT é o porto seguro do pesquisador. Ele tem que se aconselhar com o NIT. É um dos órgãos mais importantes de uma ICT quando se trata de ciência, tecnologia e inovação”, afirmou. 

Para a procuradora, que atuou na Fiocruz entre 2004 e 2023, a aproximação entre a academia e empresas privadas, por muito tempo, não foi vista com bons olhos, o que comprometia o potencial inovador das pesquisas.  

“Fomos desconstruindo essas ideias e chegamos à conclusão de que essa interação entre o público e o privado era necessária”, completou. 

Por fim, a coordenadora da Plataforma de Apoio à Pesquisa e Inovação do IOC, Aline Moraes, apresentou um panorama da cultura de inovação no Instituto.  


A procuradora Deolinda Costa inicia sua fala sobre as ICTs. Foto: Henrique Nobre

Em sua fala, ela enfatizou a importância de amadurecer tecnologias com potencial de impacto social, destacando casos de sucesso, como o kit de diagnóstico de diarreia aguda, feito em parceria com o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), e os larvicidas em cápsula contra o Aedes aegypti, frutos de colaboração com a Universidade do Novo México (UNM). Ambas as inovações já promovem royalties para o IOC.   

“Nós precisamos pensar na proteção intelectual e no estabelecimento de parcerias. Nosso propósito é apoiar a geração de produtos, processos e serviços inovadores para o atendimento das necessidades de saúde da população”, afirmou.  

Políticas públicas são essenciais 

A segunda mesa da manhã, intitulada “Empreendedorismo de base científica”, reuniu representantes da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da startup Escalab e da empresa Nanonib para discutir os caminhos possíveis entre a academia e o mercado.  

O encontro foi moderado pela coordenadora de Gestão Tecnológica da VPPIS, Celeste Emerick. Em comum, os palestrantes destacaram a importância das políticas públicas e de ambientes estruturados para transformar conhecimento científico em inovação. 

O superintendente da Área de Pesquisa Aplicada e Desenvolvimento Tecnológico da Finep, André Nunes, destacou o papel da agência na viabilização de projetos científicos de alto risco tecnológico. Ele lembrou que, por muitos anos, os recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) eram contingenciados, o que limitava a execução das políticas públicas para inovação.  


A segunda mesa do dia destacou a importância das políticas públicas para o empreendedorismo. Foto: Henrique Nobre.

A situação mudou com a aprovação da Lei Complementar n.º 177/2021, que proibiu o contingenciamento dos recursos do fundo, garantindo repasses mais regulares e previsíveis.  

Os recursos do FNDCT são destinados a financiar projetos de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação em todo o país, desde a aquisição de equipamentos científicos em universidades até o apoio a startups e empresas de base tecnológica. 

“A Finep financia toda a cadeia de inovação, desde a pesquisa básica até a introdução do produto no mercado. Para cada etapa, temos um instrumento adequado”, explicou. 

O gestor também apresentou os principais instrumentos de apoio da Finep e citou programas como o Centelha, voltado para empresas nascentes, e o Mulheres Inovadoras, que fomenta o empreendedorismo feminino.  

Na sequência, o membro da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica da UFMG, Frank Gomes, defendeu que as ICTs precisam fortalecer suas estratégias indiretas, e não apenas as diretas. 


Participantes da segunda mesa posam com a vice-diretora de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do IOC, Luciana Garzoni. Foto: Henrique Nobre

As estratégias diretas são aquelas voltadas à formação e ao apoio prático a empreendedores, como mentorias e incubadores, enquanto as indiretas são as responsáveis por criar condições para que esses empreendimentos possam crescer com segurança jurídica e respaldo da universidade. 

“Se esses programas de empreendedorismo não encontram terreno fértil dentro da instituição, eles morrem ali mesmo. Por isso, precisamos olhar as estratégias indiretas”, ponderou Gomes. 

Para encerrar a manhã, representantes de empresas inovadoras compartilharam suas trajetórias. A CEO da Escalab, Maria Paula de Oliveira, afirmou que ambientes promotores de inovação, como sua própria empresa, podem orientar pesquisadores iniciantes, oferecendo suporte em decisões estratégicas e conexões com o mercado.  

O diretor da Nanonib, Joel Passos, também destacou o papel dos investimentos públicos na viabilização de tecnologias de alto risco, como demonstrado pela trajetória de sua própria empresa. 

O evento está disponível na íntegra no canal do YouTube do IOC.

No 'Simpósio IOC Jubileu 125 anos', especialistas debateram o papel das políticas públicas, dos NITs e do empreendedorismo para transformar ciência em inovação 
Por: 
yuri.neri

:: Confira a cobertura especial

Inovar no setor público não é fácil, mas o segundo dia (21/05) do Simpósio Jubileu IOC 125 Anos mostrou que é possível. A manhã foi marcada por reflexões sobre o papel das Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) e sobre o empreendedorismo no ambiente científico. 

Realizados no auditório do Pavilhão Arthur Neiva, no campus Manguinhos da Fiocruz, no Rio de Janeiro, os dois painéis reuniram representantes de universidades públicas, órgãos de fomento e empresas emergentes para discutir desafios e aprendizados no ecossistema de inovação brasileiro. 

O evento evidenciou que transformar ciência em soluções inovadoras exige articulação entre políticas públicas, estruturas institucionais e estratégias de fomento. 


O protagonismo feminino marcou a primeira mesa do dia, dedicada ao papel das ICTs na inovação científica. Foto: Henrique Nobre

Marco legal e NITs 

A primeira mesa-redonda, ‘O Papel das ICTs na inovação tecnológica’, foi moderada pelo assessor técnico da Vice-Presidência de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz (VPPIS/Fiocruz), Ramon Neves.  

A discussão destacou a ação dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) e as dificuldades enfrentadas pelas instituições públicas para transformar conhecimento científico em soluções de impacto.  

Abrindo o painel, a supervisora de propriedade intelectual da Universidade de Campinas (Unicamp), Elisama Campelo, defendeu a importância de ações educativas, inclusive sobre conceitos aparentemente simples, como ponto de partida para promover um ambiente inovador. 

“Às vezes, parece que estamos falando o óbvio, mas é o óbvio que precisa ser dito. Por isso, na Unicamp, desenvolvemos um projeto chamado ‘Trilha do Conhecimento’, que explica desde o que é a propriedade intelectual e os conceitos básicos, até a criação de uma empresa — passando pela modelagem de negócios e outros assuntos mais complexos”, explicou.  

Além de ações educativas, segundo ela, o avanço da inovação na Unicamp também se deve à restruturação da gestão. A especialista explicou que modernizar o NIT à luz do Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação foi determinante para superar dificuldades. 

“Antes, tínhamos muitos problemas, como a rotatividade e a falta de profissionais. A nova legislação, porém, trouxe mecanismos que ajudaram a superar esses desafios”, relatou. 


Público acompanha o painel sobre empreendedorismo científico no Simpósio IOC 125. Foto: Henrique Nobre​​​​​​

Elisama citou o artigo 9º da Lei 13.243/2016, que permite que o NIT das ICTs seja operado em parceria com fundações. Na Unicamp, por exemplo, a gestão hoje é feita junto à Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp), o que gerou, segundo a especialista, agilidade para contratações, compras e outros processos burocráticos. 

Já a procuradora federal Deolinda Costa, que integra a equipe nacional de ciência, tecnologia e inovação da Advocacia-Geral da União (AGU), reforçou que o pesquisador deve se manter próximo ao NIT de sua ICT e sempre o consultar em casos de dúvidas. 

 “O NIT é o porto seguro do pesquisador. Ele tem que se aconselhar com o NIT. É um dos órgãos mais importantes de uma ICT quando se trata de ciência, tecnologia e inovação”, afirmou. 

Para a procuradora, que atuou na Fiocruz entre 2004 e 2023, a aproximação entre a academia e empresas privadas, por muito tempo, não foi vista com bons olhos, o que comprometia o potencial inovador das pesquisas.  

“Fomos desconstruindo essas ideias e chegamos à conclusão de que essa interação entre o público e o privado era necessária”, completou. 

Por fim, a coordenadora da Plataforma de Apoio à Pesquisa e Inovação do IOC, Aline Moraes, apresentou um panorama da cultura de inovação no Instituto.  


A procuradora Deolinda Costa inicia sua fala sobre as ICTs. Foto: Henrique Nobre

Em sua fala, ela enfatizou a importância de amadurecer tecnologias com potencial de impacto social, destacando casos de sucesso, como o kit de diagnóstico de diarreia aguda, feito em parceria com o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), e os larvicidas em cápsula contra o Aedes aegypti, frutos de colaboração com a Universidade do Novo México (UNM). Ambas as inovações já promovem royalties para o IOC.   

“Nós precisamos pensar na proteção intelectual e no estabelecimento de parcerias. Nosso propósito é apoiar a geração de produtos, processos e serviços inovadores para o atendimento das necessidades de saúde da população”, afirmou.  

Políticas públicas são essenciais 

A segunda mesa da manhã, intitulada “Empreendedorismo de base científica”, reuniu representantes da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da startup Escalab e da empresa Nanonib para discutir os caminhos possíveis entre a academia e o mercado.  

O encontro foi moderado pela coordenadora de Gestão Tecnológica da VPPIS, Celeste Emerick. Em comum, os palestrantes destacaram a importância das políticas públicas e de ambientes estruturados para transformar conhecimento científico em inovação. 

O superintendente da Área de Pesquisa Aplicada e Desenvolvimento Tecnológico da Finep, André Nunes, destacou o papel da agência na viabilização de projetos científicos de alto risco tecnológico. Ele lembrou que, por muitos anos, os recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) eram contingenciados, o que limitava a execução das políticas públicas para inovação.  


A segunda mesa do dia destacou a importância das políticas públicas para o empreendedorismo. Foto: Henrique Nobre.

A situação mudou com a aprovação da Lei Complementar n.º 177/2021, que proibiu o contingenciamento dos recursos do fundo, garantindo repasses mais regulares e previsíveis.  

Os recursos do FNDCT são destinados a financiar projetos de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação em todo o país, desde a aquisição de equipamentos científicos em universidades até o apoio a startups e empresas de base tecnológica. 

“A Finep financia toda a cadeia de inovação, desde a pesquisa básica até a introdução do produto no mercado. Para cada etapa, temos um instrumento adequado”, explicou. 

O gestor também apresentou os principais instrumentos de apoio da Finep e citou programas como o Centelha, voltado para empresas nascentes, e o Mulheres Inovadoras, que fomenta o empreendedorismo feminino.  

Na sequência, o membro da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica da UFMG, Frank Gomes, defendeu que as ICTs precisam fortalecer suas estratégias indiretas, e não apenas as diretas. 


Participantes da segunda mesa posam com a vice-diretora de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do IOC, Luciana Garzoni. Foto: Henrique Nobre

As estratégias diretas são aquelas voltadas à formação e ao apoio prático a empreendedores, como mentorias e incubadores, enquanto as indiretas são as responsáveis por criar condições para que esses empreendimentos possam crescer com segurança jurídica e respaldo da universidade. 

“Se esses programas de empreendedorismo não encontram terreno fértil dentro da instituição, eles morrem ali mesmo. Por isso, precisamos olhar as estratégias indiretas”, ponderou Gomes. 

Para encerrar a manhã, representantes de empresas inovadoras compartilharam suas trajetórias. A CEO da Escalab, Maria Paula de Oliveira, afirmou que ambientes promotores de inovação, como sua própria empresa, podem orientar pesquisadores iniciantes, oferecendo suporte em decisões estratégicas e conexões com o mercado.  

O diretor da Nanonib, Joel Passos, também destacou o papel dos investimentos públicos na viabilização de tecnologias de alto risco, como demonstrado pela trajetória de sua própria empresa. 

O evento está disponível na íntegra no canal do YouTube do IOC.

Edição: 
Maíra Menezes

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)