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Desafios e estratégias para inovação farmacêutica no Brasil

Núcleo de Estudos Avançados reuniu diretor do Cienp, líderes de projetos inovadores, gestores públicos e representantes da comunidade científica para debate de alto nível
Por Maíra Menezes03/10/2025 - Atualizado em 09/10/2025

Desafios e estratégias para fortalecer o desenvolvimento e a produção de medicamentos e vacinas no Brasil, tendo em vista as demandas de saúde da população e a soberania nacional, foram discutidos no Núcleo de Estudos Avançados do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) no dia 1º de outubro.   

Com o tema 'Inovação farmacêutica no Brasil: desafios, oportunidades e a necessidade de visão estratégica’, o evento recebeu como palestrante João Batista Calixto, diretor-presidente do Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos (Cienp). 

A sessão contou ainda com sete debatedores, incluindo especialistas à frente de importantes iniciativas para desenvolvimento de fármacos e vacinas, gestores públicos e representantes da comunidade científica.  

O evento foi transmitido pelo canal do IOC no Youtube. 

Assista à íntegra da sessão: 

A atividade foi mediada pelo pesquisador emérito da Fiocruz e farmacologista, Renato Cordeiro, coordenador do Núcleo de Estudos Avançados do IOC. Na abertura da sessão, ele destacou a necessidade de reverter a dependência do Brasil de importações na área farmacêutica.  

 “A pandemia de Covid-19 expôs de forma inequívoca a fragilidade estrutural do Brasil no que se refere à soberania em saúde. Reverter esse cenário exige uma visão estratégica de longo prazo que combine investimentos maciços em capital humano e infraestrutura industrial. E uma das principais soluções reside no investimento no Complexo Econômico Industrial da Saúde (Ceis), que foi bem debatido na 5ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia”, declarou Renato. 

Na palestra, Calixto discutiu o panorama da área farmacêutica no Brasil, apontou desafios e apresentou sugestões. Um dos principais farmacólogos do país, o pesquisador é autor de 26 patentes. Em 2008, assumiu o projeto do Cienp, a partir de demanda do Ministérios da Saúde e da Ciência, Tecnologia e Inovação. O Centro de Inovação foi inaugurado em 2014, com o objetivo de catalisar o desenvolvimento de novos insumos farmacêuticos. 

Considerando a complexidade do setor, Calixto ressaltou o longo tempo e o alto custo necessários para produzir um novo fármaco e enfatizou a necessidade de considerar toda a cadeia de desenvolvimento, desde a fase pré-clínica até os ensaios clínicos. Ele salientou ainda o papel da pesquisa básica para buscar competitividade no setor. 

“Os medicamentos nascem exatamente da ciência básica. Esse é o pilar. Se ela não é forte, não há como você estudar as doenças, entender os processos e encontrar os alvos terapêuticos", disse Calixto. 

Observando o histórico do Brasil, o farmacologista notou que o país perdeu capacidade de produção na área. De um cenário onde cerca de 50% do volume de insumos farmacêuticos ativos (IFA) eram produzidos localmente, o país passou a importar 96% dos compostos. 

Na comparação com outros países, o volume de publicações científicas nacionais aumentou, mas não houve incremento semelhante nos registros de patentes. No começo dos anos 90, o número de patentes brasileiras registradas era similar ao da China. Atualmente, o gigante asiático tem 120 vezes mais registros. 

“O Brasil é o 13º país em publicação científica. Muito bom, na frente de vários outros países. Mas nosso problema maior foi a falta de incentivo e política para transformar esse conhecimento em produtos para a sociedade", apontou Calixto. 

Entre as sugestões para o avanço da inovação farmacêutica, o pesquisador destacou a capacitação de recursos humanos com foco no desenvolvimento tecnológico e de planejamento de longo prazo nas políticas públicas.  

Calixto considerou que o financiamento da área não deve se concentrar em editais de curta duração, defendendo, por exemplo, o uso de encomendas tecnológicas.    

Além disso, ele reforçou a necessidade de apoio a startups e de estimular o investimento da indústria farmacêutica nacional em pesquisa e desenvolvimento.  

“Em 2024, a indústria farmacêutica faturou 160 bilhões de reais no Brasil, sendo que as farmacêuticas brasileiras faturaram 80 bilhões. Então, não é verdade que a indústria brasileira não está capitalizada para poder fazer inovação radical, é porque não é tradição, não é interesse”, ponderou Calixto, que apontou também a importância de intensificar a cooperação entre atores dos setores público e privado e de aprimorar o sistema regulatório para registro de novos fármacos. 

O debate contou com a participação de:   

  • Igor Ferreira Bueno, diretor do Departamento do Complexo Industrial e Inovação em Saúde do Ministério da Saúde;   

  • Adriana Boueri Battaglia, gerente do Departamento de Saúde e Qualidade de Vida da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep);   

  • Vitor Paiva Pimentel, economista e gerente de Estratégia Setorial para Saúde no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES);  

  • Jorge Almeida Guimarães, professor emérito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ex-presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii);   

  • Patricia Neves, gerente do projeto de implantação da plataforma de desenvolvimento e produção de vacinas de RNA em Bio-Manguinhos/Fiocruz;   

  • Reinaldo Guimarães, vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e pesquisador associado ao Núcleo de Bioética e Ética Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e  

  • Thiago Moreno, pesquisador especialista do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz). 

Entre os temas, foram discutidas questões centrais para a inovação farmacêutica no Brasil, como a necessidade de qualificação de recursos humanos especializados para fortalecer a pesquisa e o desenvolvimento; os desafios de infraestrutura, tanto em laboratórios quanto em capacidade produtiva; o papel estratégico dos mecanismos de financiamento, com apresentação de iniciativas em curso e ênfase na perspectiva de longo prazo; a urgência de maior coordenação entre governo, agências de fomento, universidades e setor privado; e a importância de buscar inovação radical com impacto global, para além da inovação incremental voltada ao SUS. 

Núcleo de Estudos Avançados reuniu diretor do Cienp, líderes de projetos inovadores, gestores públicos e representantes da comunidade científica para debate de alto nível
Por: 
maira

Desafios e estratégias para fortalecer o desenvolvimento e a produção de medicamentos e vacinas no Brasil, tendo em vista as demandas de saúde da população e a soberania nacional, foram discutidos no Núcleo de Estudos Avançados do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) no dia 1º de outubro.   

Com o tema 'Inovação farmacêutica no Brasil: desafios, oportunidades e a necessidade de visão estratégica’, o evento recebeu como palestrante João Batista Calixto, diretor-presidente do Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos (Cienp). 

A sessão contou ainda com sete debatedores, incluindo especialistas à frente de importantes iniciativas para desenvolvimento de fármacos e vacinas, gestores públicos e representantes da comunidade científica.  

O evento foi transmitido pelo canal do IOC no Youtube. 

Assista à íntegra da sessão: 

A atividade foi mediada pelo pesquisador emérito da Fiocruz e farmacologista, Renato Cordeiro, coordenador do Núcleo de Estudos Avançados do IOC. Na abertura da sessão, ele destacou a necessidade de reverter a dependência do Brasil de importações na área farmacêutica.  

 “A pandemia de Covid-19 expôs de forma inequívoca a fragilidade estrutural do Brasil no que se refere à soberania em saúde. Reverter esse cenário exige uma visão estratégica de longo prazo que combine investimentos maciços em capital humano e infraestrutura industrial. E uma das principais soluções reside no investimento no Complexo Econômico Industrial da Saúde (Ceis), que foi bem debatido na 5ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia”, declarou Renato. 

Na palestra, Calixto discutiu o panorama da área farmacêutica no Brasil, apontou desafios e apresentou sugestões. Um dos principais farmacólogos do país, o pesquisador é autor de 26 patentes. Em 2008, assumiu o projeto do Cienp, a partir de demanda do Ministérios da Saúde e da Ciência, Tecnologia e Inovação. O Centro de Inovação foi inaugurado em 2014, com o objetivo de catalisar o desenvolvimento de novos insumos farmacêuticos. 

Considerando a complexidade do setor, Calixto ressaltou o longo tempo e o alto custo necessários para produzir um novo fármaco e enfatizou a necessidade de considerar toda a cadeia de desenvolvimento, desde a fase pré-clínica até os ensaios clínicos. Ele salientou ainda o papel da pesquisa básica para buscar competitividade no setor. 

“Os medicamentos nascem exatamente da ciência básica. Esse é o pilar. Se ela não é forte, não há como você estudar as doenças, entender os processos e encontrar os alvos terapêuticos", disse Calixto. 

Observando o histórico do Brasil, o farmacologista notou que o país perdeu capacidade de produção na área. De um cenário onde cerca de 50% do volume de insumos farmacêuticos ativos (IFA) eram produzidos localmente, o país passou a importar 96% dos compostos. 

Na comparação com outros países, o volume de publicações científicas nacionais aumentou, mas não houve incremento semelhante nos registros de patentes. No começo dos anos 90, o número de patentes brasileiras registradas era similar ao da China. Atualmente, o gigante asiático tem 120 vezes mais registros. 

“O Brasil é o 13º país em publicação científica. Muito bom, na frente de vários outros países. Mas nosso problema maior foi a falta de incentivo e política para transformar esse conhecimento em produtos para a sociedade", apontou Calixto. 

Entre as sugestões para o avanço da inovação farmacêutica, o pesquisador destacou a capacitação de recursos humanos com foco no desenvolvimento tecnológico e de planejamento de longo prazo nas políticas públicas.  

Calixto considerou que o financiamento da área não deve se concentrar em editais de curta duração, defendendo, por exemplo, o uso de encomendas tecnológicas.    

Além disso, ele reforçou a necessidade de apoio a startups e de estimular o investimento da indústria farmacêutica nacional em pesquisa e desenvolvimento.  

“Em 2024, a indústria farmacêutica faturou 160 bilhões de reais no Brasil, sendo que as farmacêuticas brasileiras faturaram 80 bilhões. Então, não é verdade que a indústria brasileira não está capitalizada para poder fazer inovação radical, é porque não é tradição, não é interesse”, ponderou Calixto, que apontou também a importância de intensificar a cooperação entre atores dos setores público e privado e de aprimorar o sistema regulatório para registro de novos fármacos. 

O debate contou com a participação de:   

  • Igor Ferreira Bueno, diretor do Departamento do Complexo Industrial e Inovação em Saúde do Ministério da Saúde;   

  • Adriana Boueri Battaglia, gerente do Departamento de Saúde e Qualidade de Vida da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep);   

  • Vitor Paiva Pimentel, economista e gerente de Estratégia Setorial para Saúde no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES);  

  • Jorge Almeida Guimarães, professor emérito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ex-presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii);   

  • Patricia Neves, gerente do projeto de implantação da plataforma de desenvolvimento e produção de vacinas de RNA em Bio-Manguinhos/Fiocruz;   

  • Reinaldo Guimarães, vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e pesquisador associado ao Núcleo de Bioética e Ética Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e  

  • Thiago Moreno, pesquisador especialista do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz). 

Entre os temas, foram discutidas questões centrais para a inovação farmacêutica no Brasil, como a necessidade de qualificação de recursos humanos especializados para fortalecer a pesquisa e o desenvolvimento; os desafios de infraestrutura, tanto em laboratórios quanto em capacidade produtiva; o papel estratégico dos mecanismos de financiamento, com apresentação de iniciativas em curso e ênfase na perspectiva de longo prazo; a urgência de maior coordenação entre governo, agências de fomento, universidades e setor privado; e a importância de buscar inovação radical com impacto global, para além da inovação incremental voltada ao SUS. 

Edição: 
Vinicius Ferreira

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)