Gestores do IOC e do IFF reunidos na mesa de abertura do evento. Foto: Rudson Amorim
Nesta quinta-feira, 30 de outubro, a cooperação científica entre o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) foi o mote das atividades do 3º ato do Simpósio IOC Jubileu 125 anos.
O encontro colocou em destaque a parceria das Unidades na realização de pesquisas em doenças raras, medicina de precisão, imunologia e diagnóstico de arboviroses.
Na ocasião, foi lançado o hotsite "Simpósio IOC Jubileu 125 anos", que reúne em uma página especial todo o conteúdo noticioso referente às celebrações pelos 125 anos do IOC. O site agrega reportagens, história, linha do tempo, galeria de fotos, vídeos, premiações e calendário de eventos.
A mesa de abertura do evento foi composta por gestores de ambos os Institutos. Pelo IOC, participaram a diretora Tania Araujo-Jorge e os diretores Luciana Lopes de Almeida Ribeiro Garzoni (Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação) e Eduardo de Mello Volotão (Laboratórios de Referência, Ambulatórios e Coleções Biológicas). Pelo IFF, estiveram presentes Zilton Vasconcelos, coordenador de Pesquisa, e Tânia Wrobel, chefe do Centro de Referência em Fibrose Cística (CRFC).
Garzoni frisou que a Fiocruz se destaca ainda mais como potência quando as unidades trabalham em conjunto e Volotão reforçou que a relação de parceria entre IOC e IFF é de longa data, em especial, em estudos sobre genética humana.
Vasconcelos informou que os estudos em fibrose cística são um dos elos mais fortes entre os dois institutos. Também comentou sobre os diversos profissionais formados no IOC que atuam no IFF.
A chefe do CRFC corroborou a fala de Vasconcelos e contou que a parceria com o IOC no campo da fibrose cística data da década de 1990. Já a diretora Tania Araújo-Jorge relembrou que o IFF “nasceu” a partir da criação do complexo que hoje é a Fiocruz, na década de 1970, e salientou que o evento ressalta a grandiosidade de ambas as Unidades.
A primeira palestra do dia ficou a cargo do coordenador de Pesquisa do IFF, Zilton Vasconcelos. Com o tema “Integração IOC/IFF”, o especialista salientou o papel primordial das pessoas nas relações de cooperação.
Dentre os destaques históricos da parceria, Zilton ressaltou os trabalhos desenvolvidos no campo da fibrose cística, a partir de pesquisas com os pesquisadores Pedro e Giselda Cabello, do Laboratório de Genética Humana, e Laurinda Yoko Higa, ex-chefe do CRFC.
Coordenador de Pesquisa do IFF, Zilton destacou as principais cooperações entre os institutos. Foto: Rudson Amorim
Zilton também destacou parceria com o cientista Vinicius Cotta de Almeida, do Laboratório de Pesquisas sobre o Timo.
“Posso dizer que essa cooperação mudou a minha vida. Foi durante nossos estudos que tive o prazer de realizar meu pós-doutorado na França com o renomado cientista Loic Dupré”, rememorou.
“Desde esse período, nos dedicamos à formação de recursos humanos, promovendo um curso internacional, de caráter teórico-pratico, em motilidade linfocitária que busca capacitar estudantes na condução de pesquisas sobre a função imune”, completou.
Outro campo de intensa parceria entre as Unidades acontece na busca de respostas a emergências em saúde pública, como na epidemia de Zika congênita e em Covid-19.
Confira a transmissão:
As áreas de Medicina e Saúde de Precisão, diagnóstico de arboviroses, como dengue, e doenças genéticas também unem os institutos.
“Criada em 2024, a rede Fiocruz de doenças raras [FioRaras] busca unir diversos grupos de pesquisa da Fundação que já realizam ou desejam realizar estudos na área. O programa tem como objetivo fortalecer o cuidado aos pacientes, ampliar trabalhos experimentais, clínicos, tecnológicos e integrativos, além de desenvolver terapias avançadas”, comentou Zilton.
Ainda no que diz respeito a doenças raras, foi realizada, na sequência, a sessão “Doenças raras: da fibrose cística às diabetes monogênicas”, que recebeu os pesquisadores Tânia Wrobel e Laurinda Higa, que são, respectivamente, atual e ex-chefe do Centro de Referência em Fibrose Cística do IFF, e Mário Campos, chefe do Laboratório de Genética Humana do IOC.
Fazendo um breve panorama histórico da fibrose cística, Laurinda comentou que a partir da descoberta do gene CFTR, em 1989. Ele é crucial para manter a viscosidade do muco e o equilíbrio hídrico em órgãos como pulmões, pâncreas e intestinos. Mutações no gene CFTR levam a doenças como a fibrose cística, onde o muco se torna espesso e causa problemas respiratórios e digestivos.
Laurinda Higa chefiou o Centro de Referência em Fibrose Cística do IFF por mais de duas décadas.Os cientistas, então, se depararam com inúmeros desafios, como a compreensão da fisiopatologia da proteína, entendimento das manifestações clínicas e laboratoriais, criação de terapias e diagnósticos, além da formação e capacitação de profissionais.
“Por se tratar de uma doença genética, foi necessário buscar parcerias externas ao IFF com cientistas e instituições que atuavam na área, como a UERJ, Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas e o Instituto Oswaldo Cruz”, relembrou Laurinda, que chefiou o CRFC de 1990 a 2014.
O início da realização dos testes diagnósticos para a doença também foi comentado pela especialista. O exame diagnóstico padrão para fibrose cística é feito por teste do suor, que mede a quantidade de sal.
Para comentar o trabalho realizado pelo Centro de Referência em Fibrose Cística e alguns aspectos da doença, a atual chefe do CRFC, Tania Wrobel, contou que o Centro, criado na década de 1960, é o primeiro serviço de fibrose cística do país.
“Fomos reconhecidos como referência nacional pelo Ministério da Saúde em 2005. Atualmente, desempenhamos papel de destaque em boas práticas em saúde na assistência, na pesquisa e formação de profissionais de saúde para o SUS através da residência médica e multiprofissional”, disse Wrobel.
Tânia Wrobel abordou as principais missões do CRFC. Foto: Rudson Amorim
Formado por uma equipe interdisciplinar, o CRFC acompanha mais de 200 crianças e adolescentes de todo o estado do Rio de Janeiro. O Centro atua na formação de residentes em pneumologia pediátrica, promove comunicação contínua com associação de pais e cuidadores, realiza pesquisas e inovações em saúde e desempenha importante papel na articulação da garantia e manutenção de direitos aos pacientes.
Já o chefe do Laboratório de Genética Humana do IOC, Mario Campos Junior, fez um passeio histórico pela criação do laboratório e início dos estudos relacionados à fibrose cística.
Ele lembrou a participação em eventos internacionais, estabelecimento de parcerias e realização dos primeiros testes moleculares para o rastreamento e genotipagem de mutações do gene CFTR.
Mario abordou estudos relacionados à fibrose cística. Foto: Rudson Amorim
Os trabalhos do laboratório em FC começaram em 1994 como tema de dissertação de mestrado, cujo objetivo inicial era apenas de pesquisa, resultando em um único artigo publicado. Em 2000 virou tema de tese de doutorado, com cinco artigos publicados.
A partir de 2004, a equipe realizou a implementação de diagnóstico molecular, com painel composto por 12 mutações identificadas na população do RJ. Entre 2005 e 2014 passou a utilizar novas ferramentas moleculares, com painel completo com 28 mutações. Nos anos de 2015 e 2016, o laboratório conseguiu definir e fechar o diagnóstico de mais de 180 pacientes.
Para abordar os aspectos imunológicos inerentes à síndrome congênita da Zika (SCZ), o Simpósio recebeu os pesquisadores, Tamires Azamor, do IFF, Wilson Savino, do IOC.
Tamires Azamor, do IFF, explicou a relação entre os interferons tipos I e III e a Zika congênita. Foto: Rudson Amorim
Tamires apresentou estudos que ligam fatores genéticos do hospedeiro à SCZ, que começou a ser identificada no Brasil a partir de 2015.
O principal achado genético demonstrou que um polimorfismo no receptor de interferon alfa do bebê elevou em mais de 3 vezes o risco de desenvolvimento da SCZ.
A cientista também abordou as sequelas em fetos expostos ao Zika, mas que não desenvolveram SCZ aparente. Essas crianças apresentam atraso no desenvolvimento neuronal e problemas de linguagem.
Por sua vez, Savino detalhou estudos que revelaram que o Zika pode infectar células mononucleares do sangue, incluindo células T, B e monócitos, em modelos in vitro.
A resposta do sistema imune em Zika e em Covid-19 foram abordadas por Savino. Foto: Rudson Amorim
A pesquisa detectou atrofia do timo em fetos. Análises no tecido tímico revelaram células epiteliais com imunorreatividade para Zika, sugerindo infecção in vivo.
Em outro trabalho foi possível demonstrar que pobreza, baixa escolaridade e salários reduzidos estavam correlacionados com a maior sensibilidade à infecção por SARS-CoV-2. Savino destacou que a vacinação, posteriormente, atuou como um fator de diminuição da desigualdade social ao reduzir o impacto dessas variáveis.
Na parte da tarde, a sessão iniciou com Roberta Soares, do IFF, e Paola Resende, do IOC. Elas apresentaram a rede SIRAG-SIMP Kids e MISC, parceria entre laboratórios das duas Unidades voltada ao estudo de síndromes graves em crianças, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (MISC), relacionada à infecção pelo SARS-CoV-2.
Roberta e Paola comentaram sobre vírus que afetam crianças. Foto: Rudson Amorim
Roberta destacou que a rede envolve grupos do IOC, do IFF e de CTIs pediátricos de todo o país, permitindo acesso rápido a amostras e o avanço de pesquisas translacionais. O grupo já analisou amostras de 30 casos de MISC, identificando 35 novos genes associados à doença.
Paola apresentou a parte virológica do projeto, voltada à vigilância de vírus como o sincicial respiratório (VSR) e o rinovírus. A pesquisadora explicou que o grupo busca entender como a pandemia influenciou a dinâmica do VSR no Brasil e ressaltou a importância da colaboração com o IFF e hospitais na geração de dados que apoiem o desenvolvimento de antivirais.
A sessão seguinte abordou o projeto “DetectArbo: inovação em diagnóstico das arboviroses”, apresentado por Leonardo Ferreira, do IFF, e Patrícia Sequeira, do IOC. A iniciativa desenvolve um método molecular para detecção e diferenciação de arbovírus. A parceria surgiu de pesquisas sobre dengue e reforça o elo entre a pesquisa básica e a assistência clínica.
Leonardo e Patrícia explicaram sobre kit que detecta e diferencia arbovírus. Foto: Rudson Amorim
O destaque foi o kit dengue multiplex, capaz de identificar os quatro sorotipos do vírus e distinguir linhagens em amostras biológicas, com redução de custos e tempo de análise. Enquanto métodos convencionais atuais custam cerca de R$ 200 a R$ 600 por amostra, o novo teste tem custo estimado de R$ 50 e entrega resultados em até quatro horas. Patrícia ressaltou o potencial da inovação para fortalecer a vigilância e apoiar o SUS.
Encerrando o evento, a sessão “Short communication” reuniu três apresentações com resultados de pesquisas em andamento sobre diabetes monogênico, Zika vírus e vírus sincicial respiratório (RSV).
Déborah Snaider, aluna de mestrado do IOC, apresentou o estudo “Desenvolvendo o MODY: quando o DNA revela novos caminhos para o diagnóstico do diabetes”. Ela explicou que o MODY (Maturity Onset Diabetes of the Young) é um tipo raro e hereditário de diabetes, geralmente diagnosticado em adolescentes ou adultos jovens. O projeto busca rastrear variantes genéticas associadas ao MODY em pacientes brasileiros, contribuindo para diagnósticos mais precisos e tratamentos personalizados.
Luana, Débora e Daniela encerraram a programação do dia 30 de outubro. Foto: Rudson Amorim
Em seguida, Daniela Cunha, do IFF, apresentou um estudo sobre o impacto da detecção do Zika vírus na placenta, realizado com 65 gestantes atendidas no Instituto. A pesquisa identificou que a carga viral é maior na placenta do que no sangue materno e analisou a persistência do vírus e sua relação com a ocorrência da síndrome congênita associada ao Zika.
Fechando a sessão, Luana Reis, do IFF, compartilhou resultados parciais de sua tese “Investigação clínica, epidemiológica e genômica da infecção por RSV em pacientes pediátricos no Rio de Janeiro (2018–2024)”. Foram analisadas 40 amostras sequenciadas, e os dados indicaram que o grupo mais acometido é o de lactentes (bebês ou crianças que ainda mamam).
Segundo Luana, antes da pandemia havia sazonalidade bem definida nas infecções por SRAG-RSV, com picos regulares de casos, mas que, após o período pandêmico, observou-se redução e deslocamento da sazonalidade. A conclusão preliminar aponta que a pandemia influenciou o perfil clínico, epidemiológico e genético do RSV, reforçando a importância da integração entre vigilância clínica e genômica para orientar estratégias de imunização e prevenção.
Gestores do IOC e do IFF reunidos na mesa de abertura do evento. Foto: Rudson Amorim
Nesta quinta-feira, 30 de outubro, a cooperação científica entre o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) foi o mote das atividades do 3º ato do Simpósio IOC Jubileu 125 anos.
O encontro colocou em destaque a parceria das Unidades na realização de pesquisas em doenças raras, medicina de precisão, imunologia e diagnóstico de arboviroses.
Na ocasião, foi lançado o hotsite "Simpósio IOC Jubileu 125 anos", que reúne em uma página especial todo o conteúdo noticioso referente às celebrações pelos 125 anos do IOC. O site agrega reportagens, história, linha do tempo, galeria de fotos, vídeos, premiações e calendário de eventos.
A mesa de abertura do evento foi composta por gestores de ambos os Institutos. Pelo IOC, participaram a diretora Tania Araujo-Jorge e os diretores Luciana Lopes de Almeida Ribeiro Garzoni (Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação) e Eduardo de Mello Volotão (Laboratórios de Referência, Ambulatórios e Coleções Biológicas). Pelo IFF, estiveram presentes Zilton Vasconcelos, coordenador de Pesquisa, e Tânia Wrobel, chefe do Centro de Referência em Fibrose Cística (CRFC).
Garzoni frisou que a Fiocruz se destaca ainda mais como potência quando as unidades trabalham em conjunto e Volotão reforçou que a relação de parceria entre IOC e IFF é de longa data, em especial, em estudos sobre genética humana.
Vasconcelos informou que os estudos em fibrose cística são um dos elos mais fortes entre os dois institutos. Também comentou sobre os diversos profissionais formados no IOC que atuam no IFF.
A chefe do CRFC corroborou a fala de Vasconcelos e contou que a parceria com o IOC no campo da fibrose cística data da década de 1990. Já a diretora Tania Araújo-Jorge relembrou que o IFF “nasceu” a partir da criação do complexo que hoje é a Fiocruz, na década de 1970, e salientou que o evento ressalta a grandiosidade de ambas as Unidades.
A primeira palestra do dia ficou a cargo do coordenador de Pesquisa do IFF, Zilton Vasconcelos. Com o tema “Integração IOC/IFF”, o especialista salientou o papel primordial das pessoas nas relações de cooperação.
Dentre os destaques históricos da parceria, Zilton ressaltou os trabalhos desenvolvidos no campo da fibrose cística, a partir de pesquisas com os pesquisadores Pedro e Giselda Cabello, do Laboratório de Genética Humana, e Laurinda Yoko Higa, ex-chefe do CRFC.
Coordenador de Pesquisa do IFF, Zilton destacou as principais cooperações entre os institutos. Foto: Rudson Amorim
Zilton também destacou parceria com o cientista Vinicius Cotta de Almeida, do Laboratório de Pesquisas sobre o Timo.
“Posso dizer que essa cooperação mudou a minha vida. Foi durante nossos estudos que tive o prazer de realizar meu pós-doutorado na França com o renomado cientista Loic Dupré”, rememorou.
“Desde esse período, nos dedicamos à formação de recursos humanos, promovendo um curso internacional, de caráter teórico-pratico, em motilidade linfocitária que busca capacitar estudantes na condução de pesquisas sobre a função imune”, completou.
Outro campo de intensa parceria entre as Unidades acontece na busca de respostas a emergências em saúde pública, como na epidemia de Zika congênita e em Covid-19.
Confira a transmissão:
As áreas de Medicina e Saúde de Precisão, diagnóstico de arboviroses, como dengue, e doenças genéticas também unem os institutos.
“Criada em 2024, a rede Fiocruz de doenças raras [FioRaras] busca unir diversos grupos de pesquisa da Fundação que já realizam ou desejam realizar estudos na área. O programa tem como objetivo fortalecer o cuidado aos pacientes, ampliar trabalhos experimentais, clínicos, tecnológicos e integrativos, além de desenvolver terapias avançadas”, comentou Zilton.
Ainda no que diz respeito a doenças raras, foi realizada, na sequência, a sessão “Doenças raras: da fibrose cística às diabetes monogênicas”, que recebeu os pesquisadores Tânia Wrobel e Laurinda Higa, que são, respectivamente, atual e ex-chefe do Centro de Referência em Fibrose Cística do IFF, e Mário Campos, chefe do Laboratório de Genética Humana do IOC.
Fazendo um breve panorama histórico da fibrose cística, Laurinda comentou que a partir da descoberta do gene CFTR, em 1989. Ele é crucial para manter a viscosidade do muco e o equilíbrio hídrico em órgãos como pulmões, pâncreas e intestinos. Mutações no gene CFTR levam a doenças como a fibrose cística, onde o muco se torna espesso e causa problemas respiratórios e digestivos.
Laurinda Higa chefiou o Centro de Referência em Fibrose Cística do IFF por mais de duas décadas.Os cientistas, então, se depararam com inúmeros desafios, como a compreensão da fisiopatologia da proteína, entendimento das manifestações clínicas e laboratoriais, criação de terapias e diagnósticos, além da formação e capacitação de profissionais.
“Por se tratar de uma doença genética, foi necessário buscar parcerias externas ao IFF com cientistas e instituições que atuavam na área, como a UERJ, Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas e o Instituto Oswaldo Cruz”, relembrou Laurinda, que chefiou o CRFC de 1990 a 2014.
O início da realização dos testes diagnósticos para a doença também foi comentado pela especialista. O exame diagnóstico padrão para fibrose cística é feito por teste do suor, que mede a quantidade de sal.
Para comentar o trabalho realizado pelo Centro de Referência em Fibrose Cística e alguns aspectos da doença, a atual chefe do CRFC, Tania Wrobel, contou que o Centro, criado na década de 1960, é o primeiro serviço de fibrose cística do país.
“Fomos reconhecidos como referência nacional pelo Ministério da Saúde em 2005. Atualmente, desempenhamos papel de destaque em boas práticas em saúde na assistência, na pesquisa e formação de profissionais de saúde para o SUS através da residência médica e multiprofissional”, disse Wrobel.
Tânia Wrobel abordou as principais missões do CRFC. Foto: Rudson Amorim
Formado por uma equipe interdisciplinar, o CRFC acompanha mais de 200 crianças e adolescentes de todo o estado do Rio de Janeiro. O Centro atua na formação de residentes em pneumologia pediátrica, promove comunicação contínua com associação de pais e cuidadores, realiza pesquisas e inovações em saúde e desempenha importante papel na articulação da garantia e manutenção de direitos aos pacientes.
Já o chefe do Laboratório de Genética Humana do IOC, Mario Campos Junior, fez um passeio histórico pela criação do laboratório e início dos estudos relacionados à fibrose cística.
Ele lembrou a participação em eventos internacionais, estabelecimento de parcerias e realização dos primeiros testes moleculares para o rastreamento e genotipagem de mutações do gene CFTR.
Mario abordou estudos relacionados à fibrose cística. Foto: Rudson Amorim
Os trabalhos do laboratório em FC começaram em 1994 como tema de dissertação de mestrado, cujo objetivo inicial era apenas de pesquisa, resultando em um único artigo publicado. Em 2000 virou tema de tese de doutorado, com cinco artigos publicados.
A partir de 2004, a equipe realizou a implementação de diagnóstico molecular, com painel composto por 12 mutações identificadas na população do RJ. Entre 2005 e 2014 passou a utilizar novas ferramentas moleculares, com painel completo com 28 mutações. Nos anos de 2015 e 2016, o laboratório conseguiu definir e fechar o diagnóstico de mais de 180 pacientes.
Para abordar os aspectos imunológicos inerentes à síndrome congênita da Zika (SCZ), o Simpósio recebeu os pesquisadores, Tamires Azamor, do IFF, Wilson Savino, do IOC.
Tamires Azamor, do IFF, explicou a relação entre os interferons tipos I e III e a Zika congênita. Foto: Rudson Amorim
Tamires apresentou estudos que ligam fatores genéticos do hospedeiro à SCZ, que começou a ser identificada no Brasil a partir de 2015.
O principal achado genético demonstrou que um polimorfismo no receptor de interferon alfa do bebê elevou em mais de 3 vezes o risco de desenvolvimento da SCZ.
A cientista também abordou as sequelas em fetos expostos ao Zika, mas que não desenvolveram SCZ aparente. Essas crianças apresentam atraso no desenvolvimento neuronal e problemas de linguagem.
Por sua vez, Savino detalhou estudos que revelaram que o Zika pode infectar células mononucleares do sangue, incluindo células T, B e monócitos, em modelos in vitro.
A resposta do sistema imune em Zika e em Covid-19 foram abordadas por Savino. Foto: Rudson Amorim
A pesquisa detectou atrofia do timo em fetos. Análises no tecido tímico revelaram células epiteliais com imunorreatividade para Zika, sugerindo infecção in vivo.
Em outro trabalho foi possível demonstrar que pobreza, baixa escolaridade e salários reduzidos estavam correlacionados com a maior sensibilidade à infecção por SARS-CoV-2. Savino destacou que a vacinação, posteriormente, atuou como um fator de diminuição da desigualdade social ao reduzir o impacto dessas variáveis.
Na parte da tarde, a sessão iniciou com Roberta Soares, do IFF, e Paola Resende, do IOC. Elas apresentaram a rede SIRAG-SIMP Kids e MISC, parceria entre laboratórios das duas Unidades voltada ao estudo de síndromes graves em crianças, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (MISC), relacionada à infecção pelo SARS-CoV-2.
Roberta e Paola comentaram sobre vírus que afetam crianças. Foto: Rudson Amorim
Roberta destacou que a rede envolve grupos do IOC, do IFF e de CTIs pediátricos de todo o país, permitindo acesso rápido a amostras e o avanço de pesquisas translacionais. O grupo já analisou amostras de 30 casos de MISC, identificando 35 novos genes associados à doença.
Paola apresentou a parte virológica do projeto, voltada à vigilância de vírus como o sincicial respiratório (VSR) e o rinovírus. A pesquisadora explicou que o grupo busca entender como a pandemia influenciou a dinâmica do VSR no Brasil e ressaltou a importância da colaboração com o IFF e hospitais na geração de dados que apoiem o desenvolvimento de antivirais.
A sessão seguinte abordou o projeto “DetectArbo: inovação em diagnóstico das arboviroses”, apresentado por Leonardo Ferreira, do IFF, e Patrícia Sequeira, do IOC. A iniciativa desenvolve um método molecular para detecção e diferenciação de arbovírus. A parceria surgiu de pesquisas sobre dengue e reforça o elo entre a pesquisa básica e a assistência clínica.
Leonardo e Patrícia explicaram sobre kit que detecta e diferencia arbovírus. Foto: Rudson Amorim
O destaque foi o kit dengue multiplex, capaz de identificar os quatro sorotipos do vírus e distinguir linhagens em amostras biológicas, com redução de custos e tempo de análise. Enquanto métodos convencionais atuais custam cerca de R$ 200 a R$ 600 por amostra, o novo teste tem custo estimado de R$ 50 e entrega resultados em até quatro horas. Patrícia ressaltou o potencial da inovação para fortalecer a vigilância e apoiar o SUS.
Encerrando o evento, a sessão “Short communication” reuniu três apresentações com resultados de pesquisas em andamento sobre diabetes monogênico, Zika vírus e vírus sincicial respiratório (RSV).
Déborah Snaider, aluna de mestrado do IOC, apresentou o estudo “Desenvolvendo o MODY: quando o DNA revela novos caminhos para o diagnóstico do diabetes”. Ela explicou que o MODY (Maturity Onset Diabetes of the Young) é um tipo raro e hereditário de diabetes, geralmente diagnosticado em adolescentes ou adultos jovens. O projeto busca rastrear variantes genéticas associadas ao MODY em pacientes brasileiros, contribuindo para diagnósticos mais precisos e tratamentos personalizados.
Luana, Débora e Daniela encerraram a programação do dia 30 de outubro. Foto: Rudson Amorim
Em seguida, Daniela Cunha, do IFF, apresentou um estudo sobre o impacto da detecção do Zika vírus na placenta, realizado com 65 gestantes atendidas no Instituto. A pesquisa identificou que a carga viral é maior na placenta do que no sangue materno e analisou a persistência do vírus e sua relação com a ocorrência da síndrome congênita associada ao Zika.
Fechando a sessão, Luana Reis, do IFF, compartilhou resultados parciais de sua tese “Investigação clínica, epidemiológica e genômica da infecção por RSV em pacientes pediátricos no Rio de Janeiro (2018–2024)”. Foram analisadas 40 amostras sequenciadas, e os dados indicaram que o grupo mais acometido é o de lactentes (bebês ou crianças que ainda mamam).
Segundo Luana, antes da pandemia havia sazonalidade bem definida nas infecções por SRAG-RSV, com picos regulares de casos, mas que, após o período pandêmico, observou-se redução e deslocamento da sazonalidade. A conclusão preliminar aponta que a pandemia influenciou o perfil clínico, epidemiológico e genético do RSV, reforçando a importância da integração entre vigilância clínica e genômica para orientar estratégias de imunização e prevenção.
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)