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Prêmio Alexandre Peixoto destaca as melhores teses do IOC

Vencedores abordaram tratamentos para diabetes e esclerose múltipla, vigilância de arbovírus e rotavírus, biotecnologia para combate a moscas e educação sexual
Por Maíra Menezes16/09/2024 - Atualizado em 17/09/2024

O último dia da 10ª edição da Semana da Pós-graduação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) foi marcado pela entrega do Prêmio Anual IOC de Teses Alexandre Peixoto. 

A atividade foi realizada no dia 13 de setembro, no Auditório Maria Deane, do Pavilhão Leônidas Deane, no campus da Fiocruz em Manguinhos, no Rio de Janeiro.  

Principal honraria do ensino do IOC, o Prêmio reconheceu seis pesquisas selecionadas como as melhores em cada um dos seis programas de pós-graduação do IOC com formação de doutorado. 

Indicados pelos programas para concorrer ao Prêmio Capes de Tese, os trabalhos se destacaram pela relevância científica e social, com potencial de impacto para a saúde pública e caráter inovador. 

Vencedores do Prêmio Alexandre Peixoto: no telão, Beatriz Chaves e Helver Gonçalves; à frente, Lorrane Pereira, Meylin Gutierrez, Suellen de Oliveira e Amanda Chaves. Foto: Ricardo Schmidt

Os estudos vencedores abordaram tratamentos para diabetes e esclerose múltipla, vigilância de arbovírus e rotavírus, biotecnologia para combate a moscas e educação sexual. 

A entrega da premiação foi realizada pela diretora do IOC, Tania Cremonini de Araujo-Jorge; pela vice-diretora de Ensino, Informação e Comunicação, Norma Brandão, e pelo vice-diretor de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, Ademir Martins. 

A relevância do prêmio foi destacada por Tania, que recordou a criação da honraria, em 2013, logo após o falecimento precoce do pesquisador Alexandre Peixoto, então coordenador da Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular. 

“Tem uma memória afetiva muito forte nesse prêmio. Parabéns aos premiados, aos orientadores e aos coordenadores dos programas. Toda a nossa comunidade se junta a vocês pela memória do Alexandre e na excelência da pesquisa", disse a diretora. 

Os vice-diretores também parabenizaram os premiados e ressaltaram o saldo positivo da 10ª edição da Semana da Pós-graduação, observando o auditório lotado no último dia do evento. 

“Promover a Semana da Pós-graduação é um grande esforço de vários atores. É importante reconhecer o trabalho dos representantes discentes, que organizaram essa semana. Também dos coordenadores dos programas que se engajaram no evento”, salientou Norma, levantando aplausos para os envolvidos na organização. 

“Levem com vocês as lembranças dos momentos vividos nessa semana e sintam-se orgulhosos por fazerem pós-graduação nessa casa, que tem cursos excelentes e alunos tão dedicados”, declarou Ademir. 

Ademir Martins, Tania Araujo-Jorge e Norma Brandão ressaltaram o alto nível da produção acadêmica da pós-graduação do IOC. Foto: Ricardo Schmidt

Os vencedores foram: 

:: Amanda da Silva Chaves - Pós em Biologia Celular e Molecular 
Tese: Papel do sistema renina angiotensina sobre a hiperatividade do eixo hipotálamo pituitária adrenal observada em modelo animal de diabetes tipo 1 
Orientação: Vinicius de Frias Carvalho 

:: Beatriz Chaves - Pós em Biologia Computacional e Sistemas 
Tese: Anti-VLA-4 antibodies for multiple sclerosis treatment: rational design and study of their mechanisms of action by high-content cell imaging 
Orientação: Joao Herminio Martins da Silva 

:: Helver Gonçalves Dias - Pós em Medicina Tropical 
Tese: Investigação dos vírus Mayaro e Oropouche na interface humano-animal em regiões metropolitanas do Centro-Oeste do Brasil, 2016-2018 
Orientação: Flavia Barreto dos Santos e co-orientada por Alex Pauvolid-Corrêa 

:: Lorrane de Andrade Pereira - Pós em Biodiversidade e Saúde 
Tese: Atividade inseticida e fatores de virulência de Brevibacillus laterosporus sobre dípteros muscoides das famílias Calliphoridae e Muscidae 
Orientação: Viviane Zahner 

:: Meylin Bautista Gutierrez - Pós em Biologia Parasitária 
Tese: Epidemiologia e caracterização molecular de rotavírus A no Brasil, 2018-2022: diversidade genética e dinâmica evolutiva de genótipos emergentes e incomuns 
Orientação: Tulio Machado Fumian 

:: Suellen de Oliveira - Pós em Ensino em Biociências e Saúde 
Tese: Educação sexual no contexto museal: situações, desafios e potencialidades 
Orientação: Robson Coutinho Silva 

Saiba mais sobre os estudos. 

Complicações da diabetes na mira 

A tese desenvolvida por Amanda da Silva Chaves no Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular desvenda mecanismos envolvidos em complicações da diabetes e aponta estratégias para seu tratamento. 

Orientada pelo pesquisador Vinicius de Frias Carvalho, chefe substituto do Laboratório de Inflamação, a teste é intitulada ‘Papel do sistema renina angiotensina sobre a hiperatividade do eixo hipotálamo pituitária adrenal observada em modelo animal de diabetes tipo 1’. 

O trabalho revela a relação entre duas importantes vias de regulação do organismo na diabetes tipo 1.  

De um lado, o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), que tem participação de componentes dos sistemas nervoso, endócrino, imune e cardiovascular para controlar a liberação do hormônio cortisol, que atua no equilíbrio do organismo.  

De outro, o sistema renina-agiotensina, que regula a pressão sanguínea e o balanço hidroeletrolítico do corpo, através da interação entre proteínas, peptídeos, enzimas e receptores. 

Em testes com camundongos, considerados como modelo para estudo da doença, o estudo mostrou que fármacos que modulam o sistema renina-angiotensina inibem a hiperatividade do eixo HPA, que leva à alta de níveis de cortisol na diabetes tipo 1. 

Os resultados sugerem que o reposicionamento desses fármacos, geralmente usados no tratamento de problemas cardiovasculares, pode ser uma estratégia terapêutica para complicações associadas ao aumento do cortisol em pacientes diabéticos, que causa distúrbios como neuropatia e deficiência na cicatrização de feridas. 

Terapias para esclerose múltipla 

A tese de Beatriz Chaves, realizada no Programa de Pós-graduação em Biologia Computacional e Sistemas, apresenta ferramentas com potencial de aprimorar o tratamento da esclerose múltipla.  

Na doença autoimune, células de defesa, principalmente linfócitos T, atacam o próprio organismo provocando inflamação no sistema nervoso central.  

O estudo tem como ponto de partida a proteína VLA-4, presente em linfócitos-T, e o anticorpo monoclonal natalizumabe, que inibe essa proteína e é um dos principais tratamentos para a esclerose múltipla. 

Utilizando uma metodologia de análise de imagens de microscopia por computador, chamada de high-content imaging (HCI), a pesquisa aponta características dos linfótcitos-T que podem ser utilizadas como biomarcadores para prever a resposta dos pacientes ao tratamento com natalizumabe.  

Estes parâmetros podem contribuir para a indicação personalizada da terapia, o que é interessante considerando que 30% dos pacientes não respondem completamente ao medicamento, que tem risco de efeito colateral grave. 

Dois anticorpos contra a proteína VLA-4 também foram desenvolvidos na tese e podem ser o ponto de partida para o desenvolvimento de novas terapias contra a esclerose múltipla. 

A pesquisa foi orientada pelo pesquisador João Hermínio Martins da Silva, da Fiocruz-Ceará, e contou com período sanduíche no Centro de Fisiopatologia de Toulouse-Purpan, na França. 

A tese recebeu o título ‘Anti-VLA-4 antibodies for multiple sclerosis treatment: rational design and study of their mechanisms of action by high-content cell imaging’. 

Vírus Mayaro e Oropouche no Centro-Oeste 

A exposição de animais domésticos aos vírus Mayaro e Oropouche no Centro-Oeste foi identificada na tese de Helver Gonçalves Dias, desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical. 

O trabalho ampliou as evidências de circulação silenciosa dos patógenos na região entre 2016 e 2018, chamando atenção para o potencial do monitoramento de animais domésticos na vigilância dos agravos. 

Transmitidos por mosquitos ou maruins, os dois vírus são historicamente conhecidos por provocar casos principalmente na Amazônia. Porém, em 2024, a circulação do Oropouche foi confirmada na maior parte do país. 

Com o título ‘Investigação dos vírus Mayaro e Oropouche na interface humano-animal em regiões metropolitanas do Centro-Oeste do Brasil, 2016-2018', a tese foi orientada pela pesquisadora Flavia Barreto dos Santos, do Laboratório de Interações Vírus-Hospedeiros, e co-orientada pelo professor Alex Pauvolid-Corrêa, da Universidade Federal de Viçosa (UFV) 

O estudo abrangeu as regiões metropolitanas de Campo Grande e Cuiabá. Foram analisadas amostras coletadas entre 2016 e 2018, referentes a 670 animais domésticos, 215 bichos silvestres e 107 pacientes, além de mais de 23 mil mosquitos. 

O genoma viral não foi detectado em nenhuma das amostras, sugerindo que não havia circulação ativa dos patógenos na região no período.  

Sete animais apresentaram anticorpos para o vírus Mayaro e seis, para o vírus Oropouche, o que indica exposição anterior aos microrganismos. 

A presença de anticorpos foi verificada em bovinos, equinos e caninos, sendo esta a primeira evidência de infecção de cachorros pelos patógenos no Brasil. 

Biotecnologia contra moscas 

O potencial biotecnológico da bactéria Brevibacillus laterosporus para o combate a moscas é demonstrado na tese de Lorrane de Andrade Pereira, realizada no Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Saúde. 

Com o título ‘Atividade inseticida e fatores de virulência de Brevibacillus laterosporus sobre dípteros muscoides das famílias Calliphoridae e Muscidae’, o estudo foi orientado pela pesquisadora Viviane Zahner, chefe substituta do Laboratório Integrado – Simulídeos e Oncocercose & Entomologia Médica e Forense. 

Em laboratório, a pesquisa investigou a eficácia da solução contendo esporos da bactéria para controle de larvas e adultos de duas espécies de moscas: Musca domestica (popularmente chamada de mosca doméstica) e Chrysomya megacephala (conhecida como mosca varejeira). 

Duas cepas da bactéria foram avaliadas, sendo que uma delas conseguiu eliminar mais de 80% das larvas e mais de 50% das moscas adultas. O potencial inseticida desta cepa foi observado também em testes preliminares de campo. 

O estudo da bactéria identificou genes e proteínas associados com a virulência contra moscas. Também foram detectadas substâncias produzidas pelo microrganismo com atividade contra fungos e que podem beneficiar áreas de mangue e vegetais. 

Desta forma, o trabalho confirma o potencial da bactéria B. laterosporus para formulação de bioinseticidas contra moscas e aponta ainda sua possível utilização para produção de bacteriocidas e antifúngicos seguros para mamíferos e o meio ambiente. 

Linhagens de rotavírus no Brasil 

A tese de Meylin Bautista Gutierrez, realizada no Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária, mapeou as linhagens de rotavírus causadores de gastroenterite aguda no Brasil entre 2018 e 2022.  

A tese ‘Epidemiologia e caracterização molecular de rotavírus A no Brasil, 2018-2022: diversidade genética e dinâmica evolutiva de genótipos emergentes e incomuns’, analisou cerca de 3,7 mil amostras de fezes coletadas pela Rede de Vigilância de Rotavírus.  

O trabalho foi orientado pelo pesquisador Tulio Machado Fumian, chefe substituto do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental. 

O estudo apontou mudanças na transmissão da doença durante a pandemia de Covid-19, com queda nas infecções, que pode ser associada a medidas como uso de máscaras, higiene das mãos e distanciamento social. 

Por outro lado, foi observada maior proporção de casos em bebês de zero a seis meses, o que foi atribuído à baixa cobertura vacinal para rotavírus no período. 

A análise genética mostrou a substituição das linhagens de rotavírus predominantes no país ao longo do tempo, mapeando introduções a partir do exterior e disseminação no Brasil.  

Além disso, genótipos incomuns, observados em poucos casos, foram analisados. Em alguns casos foram identificadas variações em relação às cepas presentes nas vacinas disponíveis. 

Tendo em vista as linhagens dominantes em circulação, o estudo confirma que a vacinação oferecida gratuitamente no Sistema Único de saúde (SUS) permanece efetiva.  

O trabalho reforça a importância da vigilância genômica dos rotavírus para detectar novas cepas e monitorar a eficácia da imunização. 

Educação sexual em museus 

A tese ‘Educação sexual no contexto museal: situações, desafios e potencialidades’, de Suellen de Oliveira, apresenta uma ampla investigação sobre a abordagem da educação sexual em museus brasileiros.  

Realizada no Programa de Pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde, a pesquisa foi orientada pelo professor Robson Coutinho Silva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

O trabalho analisa publicações científicas, relatos na mídia e em redes sociais e propostas de projetos submetidos por museus. Também conta com visitas a instituições e entrevistas com profissionais da área. 

A tese resgata a história de exposições pioneiras no tema no Brasil e aponta fatores que afastam os museus da educação sexual, destacando a percepção da equipe gestora, dos curadores e educadores da instituição, o currículo escolar e a oposição social. 

Por outro lado, o estudo indica que os museus podem promover o acesso à educação sexual integral emancipatória, com base no conhecimento científico e histórico, contribuindo para a efetivação dos direitos humanos, a formação de educadores e profissionais de saúde e a redução do tabu associado à sexualidade, entre outras potencialidades. 

O trabalho inclui ainda criação e aprimoramento de produtos desenvolvidos para educação sexual em museus a partir da teoria da aprendizagem significativa, incluindo uma exposição, um jogo e uma dinâmica, que abordam infecções sexualmente transmissíveis. 

Vencedores abordaram tratamentos para diabetes e esclerose múltipla, vigilância de arbovírus e rotavírus, biotecnologia para combate a moscas e educação sexual
Por: 
maira

O último dia da 10ª edição da Semana da Pós-graduação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) foi marcado pela entrega do Prêmio Anual IOC de Teses Alexandre Peixoto. 

A atividade foi realizada no dia 13 de setembro, no Auditório Maria Deane, do Pavilhão Leônidas Deane, no campus da Fiocruz em Manguinhos, no Rio de Janeiro.  

Principal honraria do ensino do IOC, o Prêmio reconheceu seis pesquisas selecionadas como as melhores em cada um dos seis programas de pós-graduação do IOC com formação de doutorado. 

Indicados pelos programas para concorrer ao Prêmio Capes de Tese, os trabalhos se destacaram pela relevância científica e social, com potencial de impacto para a saúde pública e caráter inovador. 

Vencedores do Prêmio Alexandre Peixoto: no telão, Beatriz Chaves e Helver Gonçalves; à frente, Lorrane Pereira, Meylin Gutierrez, Suellen de Oliveira e Amanda Chaves. Foto: Ricardo Schmidt

Os estudos vencedores abordaram tratamentos para diabetes e esclerose múltipla, vigilância de arbovírus e rotavírus, biotecnologia para combate a moscas e educação sexual. 

A entrega da premiação foi realizada pela diretora do IOC, Tania Cremonini de Araujo-Jorge; pela vice-diretora de Ensino, Informação e Comunicação, Norma Brandão, e pelo vice-diretor de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, Ademir Martins. 

A relevância do prêmio foi destacada por Tania, que recordou a criação da honraria, em 2013, logo após o falecimento precoce do pesquisador Alexandre Peixoto, então coordenador da Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular. 

“Tem uma memória afetiva muito forte nesse prêmio. Parabéns aos premiados, aos orientadores e aos coordenadores dos programas. Toda a nossa comunidade se junta a vocês pela memória do Alexandre e na excelência da pesquisa", disse a diretora. 

Os vice-diretores também parabenizaram os premiados e ressaltaram o saldo positivo da 10ª edição da Semana da Pós-graduação, observando o auditório lotado no último dia do evento. 

“Promover a Semana da Pós-graduação é um grande esforço de vários atores. É importante reconhecer o trabalho dos representantes discentes, que organizaram essa semana. Também dos coordenadores dos programas que se engajaram no evento”, salientou Norma, levantando aplausos para os envolvidos na organização. 

“Levem com vocês as lembranças dos momentos vividos nessa semana e sintam-se orgulhosos por fazerem pós-graduação nessa casa, que tem cursos excelentes e alunos tão dedicados”, declarou Ademir. 

Ademir Martins, Tania Araujo-Jorge e Norma Brandão ressaltaram o alto nível da produção acadêmica da pós-graduação do IOC. Foto: Ricardo Schmidt

Os vencedores foram: 

:: Amanda da Silva Chaves - Pós em Biologia Celular e Molecular 
Tese: Papel do sistema renina angiotensina sobre a hiperatividade do eixo hipotálamo pituitária adrenal observada em modelo animal de diabetes tipo 1 
Orientação: Vinicius de Frias Carvalho 

:: Beatriz Chaves - Pós em Biologia Computacional e Sistemas 
Tese: Anti-VLA-4 antibodies for multiple sclerosis treatment: rational design and study of their mechanisms of action by high-content cell imaging 
Orientação: Joao Herminio Martins da Silva 

:: Helver Gonçalves Dias - Pós em Medicina Tropical 
Tese: Investigação dos vírus Mayaro e Oropouche na interface humano-animal em regiões metropolitanas do Centro-Oeste do Brasil, 2016-2018 
Orientação: Flavia Barreto dos Santos e co-orientada por Alex Pauvolid-Corrêa 

:: Lorrane de Andrade Pereira - Pós em Biodiversidade e Saúde 
Tese: Atividade inseticida e fatores de virulência de Brevibacillus laterosporus sobre dípteros muscoides das famílias Calliphoridae e Muscidae 
Orientação: Viviane Zahner 

:: Meylin Bautista Gutierrez - Pós em Biologia Parasitária 
Tese: Epidemiologia e caracterização molecular de rotavírus A no Brasil, 2018-2022: diversidade genética e dinâmica evolutiva de genótipos emergentes e incomuns 
Orientação: Tulio Machado Fumian 

:: Suellen de Oliveira - Pós em Ensino em Biociências e Saúde 
Tese: Educação sexual no contexto museal: situações, desafios e potencialidades 
Orientação: Robson Coutinho Silva 

Saiba mais sobre os estudos. 

Complicações da diabetes na mira 

A tese desenvolvida por Amanda da Silva Chaves no Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular desvenda mecanismos envolvidos em complicações da diabetes e aponta estratégias para seu tratamento. 

Orientada pelo pesquisador Vinicius de Frias Carvalho, chefe substituto do Laboratório de Inflamação, a teste é intitulada ‘Papel do sistema renina angiotensina sobre a hiperatividade do eixo hipotálamo pituitária adrenal observada em modelo animal de diabetes tipo 1’. 

O trabalho revela a relação entre duas importantes vias de regulação do organismo na diabetes tipo 1.  

De um lado, o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), que tem participação de componentes dos sistemas nervoso, endócrino, imune e cardiovascular para controlar a liberação do hormônio cortisol, que atua no equilíbrio do organismo.  

De outro, o sistema renina-agiotensina, que regula a pressão sanguínea e o balanço hidroeletrolítico do corpo, através da interação entre proteínas, peptídeos, enzimas e receptores. 

Em testes com camundongos, considerados como modelo para estudo da doença, o estudo mostrou que fármacos que modulam o sistema renina-angiotensina inibem a hiperatividade do eixo HPA, que leva à alta de níveis de cortisol na diabetes tipo 1. 

Os resultados sugerem que o reposicionamento desses fármacos, geralmente usados no tratamento de problemas cardiovasculares, pode ser uma estratégia terapêutica para complicações associadas ao aumento do cortisol em pacientes diabéticos, que causa distúrbios como neuropatia e deficiência na cicatrização de feridas. 

Terapias para esclerose múltipla 

A tese de Beatriz Chaves, realizada no Programa de Pós-graduação em Biologia Computacional e Sistemas, apresenta ferramentas com potencial de aprimorar o tratamento da esclerose múltipla.  

Na doença autoimune, células de defesa, principalmente linfócitos T, atacam o próprio organismo provocando inflamação no sistema nervoso central.  

O estudo tem como ponto de partida a proteína VLA-4, presente em linfócitos-T, e o anticorpo monoclonal natalizumabe, que inibe essa proteína e é um dos principais tratamentos para a esclerose múltipla. 

Utilizando uma metodologia de análise de imagens de microscopia por computador, chamada de high-content imaging (HCI), a pesquisa aponta características dos linfótcitos-T que podem ser utilizadas como biomarcadores para prever a resposta dos pacientes ao tratamento com natalizumabe.  

Estes parâmetros podem contribuir para a indicação personalizada da terapia, o que é interessante considerando que 30% dos pacientes não respondem completamente ao medicamento, que tem risco de efeito colateral grave. 

Dois anticorpos contra a proteína VLA-4 também foram desenvolvidos na tese e podem ser o ponto de partida para o desenvolvimento de novas terapias contra a esclerose múltipla. 

A pesquisa foi orientada pelo pesquisador João Hermínio Martins da Silva, da Fiocruz-Ceará, e contou com período sanduíche no Centro de Fisiopatologia de Toulouse-Purpan, na França. 

A tese recebeu o título ‘Anti-VLA-4 antibodies for multiple sclerosis treatment: rational design and study of their mechanisms of action by high-content cell imaging’. 

Vírus Mayaro e Oropouche no Centro-Oeste 

A exposição de animais domésticos aos vírus Mayaro e Oropouche no Centro-Oeste foi identificada na tese de Helver Gonçalves Dias, desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical. 

O trabalho ampliou as evidências de circulação silenciosa dos patógenos na região entre 2016 e 2018, chamando atenção para o potencial do monitoramento de animais domésticos na vigilância dos agravos. 

Transmitidos por mosquitos ou maruins, os dois vírus são historicamente conhecidos por provocar casos principalmente na Amazônia. Porém, em 2024, a circulação do Oropouche foi confirmada na maior parte do país. 

Com o título ‘Investigação dos vírus Mayaro e Oropouche na interface humano-animal em regiões metropolitanas do Centro-Oeste do Brasil, 2016-2018', a tese foi orientada pela pesquisadora Flavia Barreto dos Santos, do Laboratório de Interações Vírus-Hospedeiros, e co-orientada pelo professor Alex Pauvolid-Corrêa, da Universidade Federal de Viçosa (UFV) 

O estudo abrangeu as regiões metropolitanas de Campo Grande e Cuiabá. Foram analisadas amostras coletadas entre 2016 e 2018, referentes a 670 animais domésticos, 215 bichos silvestres e 107 pacientes, além de mais de 23 mil mosquitos. 

O genoma viral não foi detectado em nenhuma das amostras, sugerindo que não havia circulação ativa dos patógenos na região no período.  

Sete animais apresentaram anticorpos para o vírus Mayaro e seis, para o vírus Oropouche, o que indica exposição anterior aos microrganismos. 

A presença de anticorpos foi verificada em bovinos, equinos e caninos, sendo esta a primeira evidência de infecção de cachorros pelos patógenos no Brasil. 

Biotecnologia contra moscas 

O potencial biotecnológico da bactéria Brevibacillus laterosporus para o combate a moscas é demonstrado na tese de Lorrane de Andrade Pereira, realizada no Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Saúde. 

Com o título ‘Atividade inseticida e fatores de virulência de Brevibacillus laterosporus sobre dípteros muscoides das famílias Calliphoridae e Muscidae’, o estudo foi orientado pela pesquisadora Viviane Zahner, chefe substituta do Laboratório Integrado – Simulídeos e Oncocercose & Entomologia Médica e Forense. 

Em laboratório, a pesquisa investigou a eficácia da solução contendo esporos da bactéria para controle de larvas e adultos de duas espécies de moscas: Musca domestica (popularmente chamada de mosca doméstica) e Chrysomya megacephala (conhecida como mosca varejeira). 

Duas cepas da bactéria foram avaliadas, sendo que uma delas conseguiu eliminar mais de 80% das larvas e mais de 50% das moscas adultas. O potencial inseticida desta cepa foi observado também em testes preliminares de campo. 

O estudo da bactéria identificou genes e proteínas associados com a virulência contra moscas. Também foram detectadas substâncias produzidas pelo microrganismo com atividade contra fungos e que podem beneficiar áreas de mangue e vegetais. 

Desta forma, o trabalho confirma o potencial da bactéria B. laterosporus para formulação de bioinseticidas contra moscas e aponta ainda sua possível utilização para produção de bacteriocidas e antifúngicos seguros para mamíferos e o meio ambiente. 

Linhagens de rotavírus no Brasil 

A tese de Meylin Bautista Gutierrez, realizada no Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária, mapeou as linhagens de rotavírus causadores de gastroenterite aguda no Brasil entre 2018 e 2022.  

A tese ‘Epidemiologia e caracterização molecular de rotavírus A no Brasil, 2018-2022: diversidade genética e dinâmica evolutiva de genótipos emergentes e incomuns’, analisou cerca de 3,7 mil amostras de fezes coletadas pela Rede de Vigilância de Rotavírus.  

O trabalho foi orientado pelo pesquisador Tulio Machado Fumian, chefe substituto do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental. 

O estudo apontou mudanças na transmissão da doença durante a pandemia de Covid-19, com queda nas infecções, que pode ser associada a medidas como uso de máscaras, higiene das mãos e distanciamento social. 

Por outro lado, foi observada maior proporção de casos em bebês de zero a seis meses, o que foi atribuído à baixa cobertura vacinal para rotavírus no período. 

A análise genética mostrou a substituição das linhagens de rotavírus predominantes no país ao longo do tempo, mapeando introduções a partir do exterior e disseminação no Brasil.  

Além disso, genótipos incomuns, observados em poucos casos, foram analisados. Em alguns casos foram identificadas variações em relação às cepas presentes nas vacinas disponíveis. 

Tendo em vista as linhagens dominantes em circulação, o estudo confirma que a vacinação oferecida gratuitamente no Sistema Único de saúde (SUS) permanece efetiva.  

O trabalho reforça a importância da vigilância genômica dos rotavírus para detectar novas cepas e monitorar a eficácia da imunização. 

Educação sexual em museus 

A tese ‘Educação sexual no contexto museal: situações, desafios e potencialidades’, de Suellen de Oliveira, apresenta uma ampla investigação sobre a abordagem da educação sexual em museus brasileiros.  

Realizada no Programa de Pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde, a pesquisa foi orientada pelo professor Robson Coutinho Silva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

O trabalho analisa publicações científicas, relatos na mídia e em redes sociais e propostas de projetos submetidos por museus. Também conta com visitas a instituições e entrevistas com profissionais da área. 

A tese resgata a história de exposições pioneiras no tema no Brasil e aponta fatores que afastam os museus da educação sexual, destacando a percepção da equipe gestora, dos curadores e educadores da instituição, o currículo escolar e a oposição social. 

Por outro lado, o estudo indica que os museus podem promover o acesso à educação sexual integral emancipatória, com base no conhecimento científico e histórico, contribuindo para a efetivação dos direitos humanos, a formação de educadores e profissionais de saúde e a redução do tabu associado à sexualidade, entre outras potencialidades. 

O trabalho inclui ainda criação e aprimoramento de produtos desenvolvidos para educação sexual em museus a partir da teoria da aprendizagem significativa, incluindo uma exposição, um jogo e uma dinâmica, que abordam infecções sexualmente transmissíveis. 

Edição: 
Vinicius Ferreira

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)