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Pesquisador aponta diferenças entre A. aegypti e pernilongo doméstico

Depósitos de água suja nas ruas são criadouros do Culex quinquefaciatus, que não transmite dengue, mas causa incômodo com seu zumbido
Por Jornalismo IOC04/03/2009 - Atualizado em 10/12/2019

Um é muito ágil, se reproduz em água limpa, ataca em plena luz do dia e transmite a dengue, doença que tem preocupado a população nos últimos verões. O outro prefere a madrugada, coloca seus ovos em água suja rica em matéria organica e atormenta as noites de sono com seu zumbido. Os dois espreitam nas sombras, dentro de casa, esperando a oportunidade de se alimentar com sangue necessário para produzir seus ovos. Com a chegada do verão, acelera-se o ciclo reprodutivo e de desenvolvimento dos dois mosquitos mais urbanos do mundo: o Aedes aegypti, o já conhecido vetor da dengue, e o Culex quinquefaciatus, o pernilongo doméstico. O pesquisador José Bento Pereira Lima, do Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), alerta que, para controlar a população dos dois insetos, é preciso entender as diferenças entre eles e eliminar seus criadouros, sejam os focos de água parada e limpa, no caso do A. aegypti, ou suja, no caso do Culex.

Gustavo Rezende

Diferente do A. aegypti, que dissemina seus ovos por diversos criadouros, o Culex deposita seus ovos na água, sempre todos juntos, no mesmo criadouro. Uma substância viscosa une uns aos outros, formando uma “jangada” com dezenas de ovos, de pé, flutuando na superfície da água. Essa é apenas uma das diferenças entre as duas espécies de mosquito

Com a frequência das chuvas durante o verão, é comum encontrar pelas ruas e calçadas depósitos de água suja e cheia de matéria orgânica em decomposição. Muitas vezes, quando a população encontra larvas de mosquitos nesses depósitos, assim como em valões e esgotos a céu aberto, acredita estar diante de criadouros do mosquito transmissor da dengue. No entanto, José Bento reforça que o A. aegypti só deposita seus ovos em água limpa, não necessariamente potável, mas com pouco material orgânico em decomposição. Reservatórios com água suja e contaminada são criadouros potenciais do Culex. Apesar de conviverem bem no ambiente doméstico e dividirem os mesmos abrigos, o pesquisador explica que existem muitas diferenças entre as duas espécies.

É muito comum na época de chuvas encontrar larvas de mosquitos em águas sujas, cheias de material em decomposição, como esgotos e fossas. Essas larvas podem ser de A. aegypti?
Não. É importante lembrar à população que o A. aegypti só deposita seus ovos em águas limpas. Suas larvas não conseguem sobreviver em reservatórios poluídos, com dejetos e muita matéria orgânica. Quando são encontradas larvas em poças com água contaminada, muito barrenta, em esgotos a céu aberto, em valões ou outros criadouros semelhantes, certamente não são larvas de A. aegypti. Provavelmente, trata-se de larvas de Culex quinquefaciatus, o pernilongo doméstico. Ao contrário do A. aegypti, o Culex prefere colocar seus ovos em criadouros bastante poluídos, com muita matéria orgânica em decomposição.

Gutemberg Brito / Rosane Meirelles

Enquanto reservatórios de água limpa à céu aberto, com pouco material orgânico (esq.), são possíveis criadouros de A aegypti, cisternas (dir.) e valões, que acumulam água suja,são ideais para ovos e larvas de Culex



Quais são os criadouros preferenciais dos dois mosquitos?
O A. aegypti só coloca seus ovos em água limpa, não necessariamente potável, mas obrigatoriamente com pouco material em decomposição. Por isso, é importante reforçar para a população que o controle do vetor da dengue deve ser feito mediante a eliminação de reservatórios de água limpa e parada: tampar caixas e tonéis de água, desentupir ralos que possam acumular água, jogar fora pneus velhos, evitar deixar garrafas e recipientes que possam acumular água da chuva em área descoberta e virá-los de cabeça para baixo, e eliminar pratinhos com água embaixo dos vasos de planta, por exemplo. Depósitos de água suja e contaminada, esgotos, valões, fossas e todo reservatório de água com muito material orgânico são os criadouros preferenciais do Culex. Portanto, água contaminada acumulada e esgotos a céu aberto têm grande importância para a saúde pública, pois podem causar diversos problemas à população, mas não se configuram como criadouros potenciais do mosquito transmissor da dengue.

Ao lado do A. aegypti, o Culex é considerado uma das mais importantes pragas urbanas do mundo. Quais as diferenças entre os dois mosquitos?
O Culex é considerado uma espécie cosmopolita, ou seja, presente em quase todo o mundo, e é ainda mais urbano que o A. aegypti. Os dois possuem uma preferência por se alimentar de sangue humano e estão muito associados à presença do homem. No Brasil, quando nos afastamos de cidades e áreas urbanas, é difícil verificar a presença de qualquer um dos dois. Todo o seu ciclo de vida, o acasalamento e a postura dos ovos, se dá dentro ou próximo de domicílios. Apesar disso, os dois mosquitos apresentam muitas diferenças entre si. Além de preferirem criadouros diferentes, ovos, larvas e os próprios indivíduos adultos das duas espécies são muito distintos. Dentro das casas, é fácil diferenciá-los: quando adulto, o Culex tem uma coloração marrom e as pernas não possuem marcação clara, enquanto o A. aegypti é mais escuro e possui marcações brancas no corpo e nas patas.

Gustavo Rezende

Eles são capazes de ficar até um ano no seco e permanecer viáveis, capazes de originar mosquitos adultos quando encontram as condições propícias para eclodir. Juntas, essas características são muito importantes para a dispersão do mosquito e para a epidemiologia da dengue, uma vez que os ovos podem ser carregados para outras regiões pela ação humana e resistir até as chuvas do próximo verão, dificultando as ações de controle. Outra característica importante para a epidemiologia da dengue é que a fêmea do A. aegypti costuma depositar seus ovos em diferentes criadouros na mesma postura. O Culex coloca seus ovos diretamente na água, sempre todos juntos, no mesmo criadouro. Envolvendo cada um deles existe uma substancia viscosa que os prende uns aos outros, formando uma “jangada”, formada por dezenas de ovos de pé, grudados entre si, flutuando na superfície da água. Os ovos do Culex não possuem resistência à dessecação e murcham quando retirados da água, não sendo mais viáveis.

Quantos ovos estas espécies chegam a colocar, em cada postura?
A quantidade de ovos colocados pelos dois mosquitos depende muito da quantidade de sangue ingerido, que é necessário para a maturação dos ovos. Em geral, as duas espécies costumam colocar cerca de cem ovos por postura, mas esse número pode chegar a 150 ou 200. 

Gustavo Rezende

Os ovos do A. aegypti (esq.) possuem grande resistência à dessecação, podendo podendo permanecer fora da água por até um ano. Os ovos de Culex (dir.) murcham assim que são retirados da água

O A. aegypti é o vetor da dengue, responsável pelos casos da doença que ocorrem no Brasil. O Culex também tem importância para a saúde pública?
O Culex não transmite o vírus da dengue. Porém, além do incômodo que gera para a população, em algumas regiões do Brasil ele é responsável pela transmissão da filariose e de algumas arboviroses. O Culex é o principal vetor da filariose, popularmente conhecida como elefantíase. A doença é causada por vermes nematóides, conhecidos como filárias, que se alojam nos vasos linfáticos do hospedeiro, podendo levar, na fase crônica, ao inchaço e aumento excessivo dos membros inferiores. A predileção do Culex por sangue humano e seu hábito noturno facilitam a transmissão da doença. À noite, quando o indivíduo infectado está em repouso, as filárias deslocam-se para os vasos periféricos, ficando mais próximas da superfície da pele, o que facilita a infecção do mosquito quando este se alimenta de seu sangue. Apesar da incidência da doença ter diminuído muito no Brasil nas últimas décadas, ela ainda representa um problema grave em algumas regiões do país. O Culex é capaz de transmitir outras arboviroses, em especial encefalites e febres hemorrágicas graves, como a causada pelo vírus Oropouche, que no Brasil já ocorreu no Pará e em Rondônia. Além disso, o acúmulo de água contaminada e a existência de valões e esgotos a céu aberto, criadouros preferenciais do Culex, são demonstrações da falta de infraestrutura de algumas regiões do país e podem ser relacionadas a outras importantes doenças que ameaçam a população.

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: : Próxima matéria

Marcelo Garcia

04/03/09

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Depósitos de água suja nas ruas são criadouros do Culex quinquefaciatus, que não transmite dengue, mas causa incômodo com seu zumbido
Por: 
jornalismo

Um é muito ágil, se reproduz em água limpa, ataca em plena luz do dia e transmite a dengue, doença que tem preocupado a população nos últimos verões. O outro prefere a madrugada, coloca seus ovos em água suja rica em matéria organica e atormenta as noites de sono com seu zumbido. Os dois espreitam nas sombras, dentro de casa, esperando a oportunidade de se alimentar com sangue necessário para produzir seus ovos. Com a chegada do verão, acelera-se o ciclo reprodutivo e de desenvolvimento dos dois mosquitos mais urbanos do mundo: o Aedes aegypti, o já conhecido vetor da dengue, e o Culex quinquefaciatus, o pernilongo doméstico. O pesquisador José Bento Pereira Lima, do Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), alerta que, para controlar a população dos dois insetos, é preciso entender as diferenças entre eles e eliminar seus criadouros, sejam os focos de água parada e limpa, no caso do A. aegypti, ou suja, no caso do Culex.


Gustavo Rezende

Diferente do A. aegypti, que dissemina seus ovos por diversos criadouros, o Culex deposita seus ovos na água, sempre todos juntos, no mesmo criadouro. Uma substância viscosa une uns aos outros, formando uma “jangada” com dezenas de ovos, de pé, flutuando na superfície da água. Essa é apenas uma das diferenças entre as duas espécies de mosquito

Com a frequência das chuvas durante o verão, é comum encontrar pelas ruas e calçadas depósitos de água suja e cheia de matéria orgânica em decomposição. Muitas vezes, quando a população encontra larvas de mosquitos nesses depósitos, assim como em valões e esgotos a céu aberto, acredita estar diante de criadouros do mosquito transmissor da dengue. No entanto, José Bento reforça que o A. aegypti só deposita seus ovos em água limpa, não necessariamente potável, mas com pouco material orgânico em decomposição. Reservatórios com água suja e contaminada são criadouros potenciais do Culex. Apesar de conviverem bem no ambiente doméstico e dividirem os mesmos abrigos, o pesquisador explica que existem muitas diferenças entre as duas espécies.

É muito comum na época de chuvas encontrar larvas de mosquitos em águas sujas, cheias de material em decomposição, como esgotos e fossas. Essas larvas podem ser de A. aegypti?

Não. É importante lembrar à população que o A. aegypti só deposita seus ovos em águas limpas. Suas larvas não conseguem sobreviver em reservatórios poluídos, com dejetos e muita matéria orgânica. Quando são encontradas larvas em poças com água contaminada, muito barrenta, em esgotos a céu aberto, em valões ou outros criadouros semelhantes, certamente não são larvas de A. aegypti. Provavelmente, trata-se de larvas de Culex quinquefaciatus, o pernilongo doméstico. Ao contrário do A. aegypti, o Culex prefere colocar seus ovos em criadouros bastante poluídos, com muita matéria orgânica em decomposição.


Gutemberg Brito / Rosane Meirelles

Enquanto reservatórios de água limpa à céu aberto, com pouco material orgânico (esq.), são possíveis criadouros de A aegypti, cisternas (dir.) e valões, que acumulam água suja,são ideais para ovos e larvas de Culex





Quais são os criadouros preferenciais dos dois mosquitos?

O A. aegypti só coloca seus ovos em água limpa, não necessariamente potável, mas obrigatoriamente com pouco material em decomposição. Por isso, é importante reforçar para a população que o controle do vetor da dengue deve ser feito mediante a eliminação de reservatórios de água limpa e parada: tampar caixas e tonéis de água, desentupir ralos que possam acumular água, jogar fora pneus velhos, evitar deixar garrafas e recipientes que possam acumular água da chuva em área descoberta e virá-los de cabeça para baixo, e eliminar pratinhos com água embaixo dos vasos de planta, por exemplo. Depósitos de água suja e contaminada, esgotos, valões, fossas e todo reservatório de água com muito material orgânico são os criadouros preferenciais do Culex. Portanto, água contaminada acumulada e esgotos a céu aberto têm grande importância para a saúde pública, pois podem causar diversos problemas à população, mas não se configuram como criadouros potenciais do mosquito transmissor da dengue.



Ao lado do A. aegypti, o Culex é considerado uma das mais importantes pragas urbanas do mundo. Quais as diferenças entre os dois mosquitos?

O Culex é considerado uma espécie cosmopolita, ou seja, presente em quase todo o mundo, e é ainda mais urbano que o A. aegypti. Os dois possuem uma preferência por se alimentar de sangue humano e estão muito associados à presença do homem. No Brasil, quando nos afastamos de cidades e áreas urbanas, é difícil verificar a presença de qualquer um dos dois. Todo o seu ciclo de vida, o acasalamento e a postura dos ovos, se dá dentro ou próximo de domicílios. Apesar disso, os dois mosquitos apresentam muitas diferenças entre si. Além de preferirem criadouros diferentes, ovos, larvas e os próprios indivíduos adultos das duas espécies são muito distintos. Dentro das casas, é fácil diferenciá-los: quando adulto, o Culex tem uma coloração marrom e as pernas não possuem marcação clara, enquanto o A. aegypti é mais escuro e possui marcações brancas no corpo e nas patas.


Gustavo Rezende

Eles são capazes de ficar até um ano no seco e permanecer viáveis, capazes de originar mosquitos adultos quando encontram as condições propícias para eclodir. Juntas, essas características são muito importantes para a dispersão do mosquito e para a epidemiologia da dengue, uma vez que os ovos podem ser carregados para outras regiões pela ação humana e resistir até as chuvas do próximo verão, dificultando as ações de controle. Outra característica importante para a epidemiologia da dengue é que a fêmea do A. aegypti costuma depositar seus ovos em diferentes criadouros na mesma postura. O Culex coloca seus ovos diretamente na água, sempre todos juntos, no mesmo criadouro. Envolvendo cada um deles existe uma substancia viscosa que os prende uns aos outros, formando uma “jangada”, formada por dezenas de ovos de pé, grudados entre si, flutuando na superfície da água. Os ovos do Culex não possuem resistência à dessecação e murcham quando retirados da água, não sendo mais viáveis.

Quantos ovos estas espécies chegam a colocar, em cada postura?

A quantidade de ovos colocados pelos dois mosquitos depende muito da quantidade de sangue ingerido, que é necessário para a maturação dos ovos. Em geral, as duas espécies costumam colocar cerca de cem ovos por postura, mas esse número pode chegar a 150 ou 200. 


Gustavo Rezende

Os ovos do A. aegypti (esq.) possuem grande resistência à dessecação, podendo podendo permanecer fora da água por até um ano. Os ovos de Culex (dir.) murcham assim que são retirados da água

O A. aegypti é o vetor da dengue, responsável pelos casos da doença que ocorrem no Brasil. O Culex também tem importância para a saúde pública?

O Culex não transmite o vírus da dengue. Porém, além do incômodo que gera para a população, em algumas regiões do Brasil ele é responsável pela transmissão da filariose e de algumas arboviroses. O Culex é o principal vetor da filariose, popularmente conhecida como elefantíase. A doença é causada por vermes nematóides, conhecidos como filárias, que se alojam nos vasos linfáticos do hospedeiro, podendo levar, na fase crônica, ao inchaço e aumento excessivo dos membros inferiores. A predileção do Culex por sangue humano e seu hábito noturno facilitam a transmissão da doença. À noite, quando o indivíduo infectado está em repouso, as filárias deslocam-se para os vasos periféricos, ficando mais próximas da superfície da pele, o que facilita a infecção do mosquito quando este se alimenta de seu sangue. Apesar da incidência da doença ter diminuído muito no Brasil nas últimas décadas, ela ainda representa um problema grave em algumas regiões do país. O Culex é capaz de transmitir outras arboviroses, em especial encefalites e febres hemorrágicas graves, como a causada pelo vírus Oropouche, que no Brasil já ocorreu no Pará e em Rondônia. Além disso, o acúmulo de água contaminada e a existência de valões e esgotos a céu aberto, criadouros preferenciais do Culex, são demonstrações da falta de infraestrutura de algumas regiões do país e podem ser relacionadas a outras importantes doenças que ameaçam a população.



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Marcelo Garcia

04/03/09

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Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)