Considerado vetor secundário do vírus do dengue, o Aedes albopictus – mosquito que apresenta características morfológicas semelhantes e a mesma capacidade de proliferação do Aedes aegypti – é motivo de preocupação em países do continente asiático, onde é responsável por alguns surtos da doença. No Brasil, o A. albopictus foi introduzido na década de 1980 e, apesar de não haver nenhum registro de exemplares adultos infectados com o vírus dengue no país, a espécie é alvo de estudos que monitoram o crescimento de sua população e investigam seus aspectos biológicos e ecológicos em comparação aos do A. aegypti.
Tamara Lima / Lab. de Biologia Molecular de Insetos / IOC
O Aedes albopictus apresenta características morfológicas semelhantes e a mesma capacidade de proliferação do Aedes aegypti (foto)
A presença do A. albopictus é recente no Brasil. Qual a sua situação atual no país?
O A. aegypti é um vetor já estabelecido no Brasil, trazido da África, provavelmente com o tráfico de escravos. Já o A. albopictus é recente, chegou ao país na década de 80. Nas Américas, mais especificamente, foi capturado pela primeira vez em 1985, nos Estados Unidos. No Brasil, os primeiros estados que registraram a presença do vetor foram Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Segundo a literatura, não foram encontrados adultos de A. albopictus naturalmente infectados com o vírus da dengue no Brasil. Porém, trabalhos realizados em laboratório já comprovaram sua capacidade de transmissão do vírus, inclusive transovariana, ou seja, a capacidade de se infectar com o vírus e transmiti-lo para seus descentes.
Qual a principal diferença entre os dois vetores?
Apesar de necessitarem dos mesmos meios para o desenvolvimento, o A. aegypti, tem maior preferência de pôr seus ovos em criadouros artificiais, já que se adaptou muito bem ao ambiente urbano. No Brasil, o A. albopictus é mais exofílico: escolhe lugares com maior cobertura vegetal para viver e se reproduzir, como matas. Seus hábitos são mais silvestres e, por isso, é mais encontrado em áreas rurais e suburbanas. Diferentemente do A. aegypti, o A. albopictus não tem preferência tão assídua pelo sangue humano e se alimenta com certa freqüência em outros animais vertebrados, como cachorros, gatos e bois.
A aparência das duas espécies é muito parecida. Existe algum detalhe que os diferencie?
A olho nu é muito comum confundir as duas espécies, porque as duas têm patas rajadas. No entanto, um olhar mais atento ao tórax e à coloração dos mosquitos pode diferenciá-los. O A. agepyti tem o desenho de uma lira – instrumento de cordas muito utilizado na antiguidade – no toráx e o A. albopictus, uma linha longitudinal. Além disso, de uma maneira geral, o A. albopictus é mais escuro que o A. aegypti.
Gutemberg Brito
A doutoranda Tamara Lima-Camara, do Laboratório de Biologia Molecular de Insetos do IOC, se dedica ao estudo dos vetores desde a iniciação científica, em 2002
Qual é a maior preocupação em relação ao A. albopictus?
Ele consegue se dispersar muito bem entre a mata e a cidade. Como existem muito vírus circulando em ambiente silvestre, o A. albopictus, por sua cacterística exofílica, se torna um vetor com potencial para se infectar com um vírus silvestre e trazer este vírus para o ambiente urbano.
O A. albopictus é responsável por casos de dengue em outros países?
Sim. Em alguns países do continente asiático são registrados surtos de dengue em locais onde o A. aegypti não é encontrado. O isolamento viral nestes mosquitos comprova a possibilidade de transmissão.
E no Brasil, ele pode se tornar um vetor importante?
Até o momento, não existe nenhum trabalho que registre a presença do vírus da dengue em exemplares adultos. O vírus foi isolado uma única vez em larvas do vetor, no estado de Minas Gerais na década de 1990, o que comprova sua capacidade de transmitir o vírus para sua prole. Por isso, é necessário monitorar a população.
Qual o principal objetivo da pesquisa que está sendo desenvolvida sobre a atividade biológica dos vetores no Laboratório de Biologia Molecular do IOC?
Investigamos os ritmos de atividade locomotora das duas espécies em diferentes condições de luz e temperatura no laboratório. Estes ritmos são controlados pelo relógio biológico, um mecanismo endógeno que controla variações cíclicas em aspectos da fisiologia e comportamento. O objetivo do nosso trabalho é o de comparar as atividades das duas espécies, já que os dois vetores transmitem o vírus da dengue e tem potencial para transmitir outros vírus. Investigamos também se a alimentação sangüínea e a inseminação têm efeitos diferentes na atividade das duas espécies.
Gutemberg Brito
Apesar dos dois vetores apresentarem um padrão de atividade semelhante, com picos no início da manhã e ao entardecer, o A. aegypti apresentou maior atividade na fase clara que A. albopictus.
Qual a metodologia utilizada e quais são os principais resultados até o momento?
Durante o estudo, expomos os mosquitos a períodos de claro e escuro, mimetizando uma noite e um dia, igualmente divididos em 12 horas cada. Percebemos que, apesar dos dois vetores apresentarem um padrão de atividade semelhante, com picos no início da manhã e ao entardecer, o A. aegypti apresentou maior atividade na fase clara que A. albopictus. Também testamos a atividade com 16 horas de claro e 8 horas de escuro para saber se o ritmo mudaria ou se eles se adaptariam com o período claro mais longo. Vimos que a atividade de ambas as espécies continuou sendo crepuscular com o pico principal ocorrendo no final da fase clara.
Qual a importância desses resultados?
O A. aegypti está no ambiente doméstico. Normalmente, acendemos a luz por volta das 18h, e esta luminosidade artificial pode fazer com que ele amplie seu período de atividade. Na literatura, já existem trabalhos que comprovam o maior tempo de atividade desse vetor em cidades em relação à área rural em função desse aspecto.
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Renata Fontoura
18/12/08
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Considerado vetor secundário do vírus do dengue, o Aedes albopictus – mosquito que apresenta características morfológicas semelhantes e a mesma capacidade de proliferação do Aedes aegypti – é motivo de preocupação em países do continente asiático, onde é responsável por alguns surtos da doença. No Brasil, o A. albopictus foi introduzido na década de 1980 e, apesar de não haver nenhum registro de exemplares adultos infectados com o vírus dengue no país, a espécie é alvo de estudos que monitoram o crescimento de sua população e investigam seus aspectos biológicos e ecológicos em comparação aos do A. aegypti.
Tamara Lima / Lab. de Biologia Molecular de Insetos / IOC
O Aedes albopictus apresenta características morfológicas semelhantes e a mesma capacidade de proliferação do Aedes aegypti (foto)
Pesquisa desenvolvida pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) comprovou que o comportamento do A. aegypti em condições de laboratório apresenta diferenças em relação ao do A. albopictus. O resultado foi apresentado pela doutoranda Tamara Lima-Camara, do Laboratório de Biologia Molecular de Insetos do IOC, no 5º Encontro sobre a dengue, promovido pelo Instituto Virtual da Dengue no mês de novembro. Em entrevista, a bióloga – que se dedica ao estudo dos vetores desde a iniciação científica, em 2002 - apresenta as principais diferenças entre o A. aegypti e o A. albopictus e reforça a importância de conhecer as duas espécies para combater a doença.
A presença do A. albopictus é recente no Brasil. Qual a sua situação atual no país?
O A. aegypti é um vetor já estabelecido no Brasil, trazido da África, provavelmente com o tráfico de escravos. Já o A. albopictus é recente, chegou ao país na década de 80. Nas Américas, mais especificamente, foi capturado pela primeira vez em 1985, nos Estados Unidos. No Brasil, os primeiros estados que registraram a presença do vetor foram Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Segundo a literatura, não foram encontrados adultos de A. albopictus naturalmente infectados com o vírus da dengue no Brasil. Porém, trabalhos realizados em laboratório já comprovaram sua capacidade de transmissão do vírus, inclusive transovariana, ou seja, a capacidade de se infectar com o vírus e transmiti-lo para seus descentes.
Qual a principal diferença entre os dois vetores?
Apesar de necessitarem dos mesmos meios para o desenvolvimento, o A. aegypti, tem maior preferência de pôr seus ovos em criadouros artificiais, já que se adaptou muito bem ao ambiente urbano. No Brasil, o A. albopictus é mais exofílico: escolhe lugares com maior cobertura vegetal para viver e se reproduzir, como matas. Seus hábitos são mais silvestres e, por isso, é mais encontrado em áreas rurais e suburbanas. Diferentemente do A. aegypti, o A. albopictus não tem preferência tão assídua pelo sangue humano e se alimenta com certa freqüência em outros animais vertebrados, como cachorros, gatos e bois.
A aparência das duas espécies é muito parecida. Existe algum detalhe que os diferencie?
A olho nu é muito comum confundir as duas espécies, porque as duas têm patas rajadas. No entanto, um olhar mais atento ao tórax e à coloração dos mosquitos pode diferenciá-los. O A. agepyti tem o desenho de uma lira – instrumento de cordas muito utilizado na antiguidade – no toráx e o A. albopictus, uma linha longitudinal. Além disso, de uma maneira geral, o A. albopictus é mais escuro que o A. aegypti.
Gutemberg Brito
A doutoranda Tamara Lima-Camara, do Laboratório de Biologia Molecular de Insetos do IOC, se dedica ao estudo dos vetores desde a iniciação científica, em 2002
Qual é a maior preocupação em relação ao A. albopictus?
Ele consegue se dispersar muito bem entre a mata e a cidade. Como existem muito vírus circulando em ambiente silvestre, o A. albopictus, por sua cacterística exofílica, se torna um vetor com potencial para se infectar com um vírus silvestre e trazer este vírus para o ambiente urbano.
O A. albopictus é responsável por casos de dengue em outros países?
Sim. Em alguns países do continente asiático são registrados surtos de dengue em locais onde o A. aegypti não é encontrado. O isolamento viral nestes mosquitos comprova a possibilidade de transmissão.
E no Brasil, ele pode se tornar um vetor importante?
Até o momento, não existe nenhum trabalho que registre a presença do vírus da dengue em exemplares adultos. O vírus foi isolado uma única vez em larvas do vetor, no estado de Minas Gerais na década de 1990, o que comprova sua capacidade de transmitir o vírus para sua prole. Por isso, é necessário monitorar a população.
Qual o principal objetivo da pesquisa que está sendo desenvolvida sobre a atividade biológica dos vetores no Laboratório de Biologia Molecular do IOC?
Investigamos os ritmos de atividade locomotora das duas espécies em diferentes condições de luz e temperatura no laboratório. Estes ritmos são controlados pelo relógio biológico, um mecanismo endógeno que controla variações cíclicas em aspectos da fisiologia e comportamento. O objetivo do nosso trabalho é o de comparar as atividades das duas espécies, já que os dois vetores transmitem o vírus da dengue e tem potencial para transmitir outros vírus. Investigamos também se a alimentação sangüínea e a inseminação têm efeitos diferentes na atividade das duas espécies.
Gutemberg Brito
Apesar dos dois vetores apresentarem um padrão de atividade semelhante, com picos no início da manhã e ao entardecer, o A. aegypti apresentou maior atividade na fase clara que A. albopictus.
Qual a metodologia utilizada e quais são os principais resultados até o momento?
Durante o estudo, expomos os mosquitos a períodos de claro e escuro, mimetizando uma noite e um dia, igualmente divididos em 12 horas cada. Percebemos que, apesar dos dois vetores apresentarem um padrão de atividade semelhante, com picos no início da manhã e ao entardecer, o A. aegypti apresentou maior atividade na fase clara que A. albopictus. Também testamos a atividade com 16 horas de claro e 8 horas de escuro para saber se o ritmo mudaria ou se eles se adaptariam com o período claro mais longo. Vimos que a atividade de ambas as espécies continuou sendo crepuscular com o pico principal ocorrendo no final da fase clara.
Qual a importância desses resultados?
O A. aegypti está no ambiente doméstico. Normalmente, acendemos a luz por volta das 18h, e esta luminosidade artificial pode fazer com que ele amplie seu período de atividade. Na literatura, já existem trabalhos que comprovam o maior tempo de atividade desse vetor em cidades em relação à área rural em função desse aspecto.
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Renata Fontoura
18/12/08
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Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)