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Expedições do Instituto Oswaldo Cruz: 100 anos depois

:: Exposição Virtual: 100 anos das Expedições do
Instituto Oswaldo Cruz ao Nordeste do Brasil

Dia 18 de março de 1912: os pesquisadores Arthur Neiva e Belisário Penna deixavam o Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, rumo ao Nordeste. Aquela seria uma das mais importantes Expedições Científicas, que marcaram o início do século XX com verdadeiras desbravações do interior do Brasil. O objetivo era conhecer as doenças, realizar diagnóstico e levar atendimento à população do interior do país.

Exatamente um século depois, as Expedições Científicas são reeditadas, com novo enfoque: a perspectiva é de agir sobre o cenário atual da saúde, que é diferente em cada região, e associar seus determinantes biológicos aos determinantes sociais da saúde, como renda, educação, habitação, saneamento e outros.

 

Distribuição de água aos moradores de Itumerim pelo trem de carreira da E. de Ferro São Francisco, Bahia, 1912

As expedições contemporâneas começam justamente pelo Nordeste, região brasileira que mais cresce economicamente e que, ao mesmo tempo, abriga mais pessoas vivendo em condições de extrema pobreza. Lá estão 9,6 milhões de pessoas nessa condição – 59% dos 16,2 milhões de brasileiros que ainda vivem com menos de R$ 70 per capita por mês, ou seja, menos de R$ 350 para uma família com cinco pessoas, segundo dados do IBGE.

Estas pessoas são o foco prioritário das ações do Plano Brasil Sem Miséria, com o qual o governo federal pretende enfrentar o desafio de erradicar a pobreza extrema no país. Além da busca ativa no Nordeste, o Brasil Sem Miséria que encontrar e restituir a cidadania de mais 2,7 milhões de brasileiros no Sudeste (17%), 2,65 milhões no Norte (17%), 715 mil no Sul (4%) e 557 mil no Centro-Oeste (3%).

De 1912 a 1914, as expedições do Instituto Oswaldo Cruz ao Nordeste foram particularmente impactantes, caracterizando imagens de doença, isolamento geográfico e cultural, analfabetismo e pobreza, com destaque para endemias rurais que ainda hoje desafiam as políticas públicas sem terem sido controladas como problema de saúde. 

Seu relatório foi publicado como artigo científico na revista “Memórias do Instituto Oswaldo Cruz”, cujo acervo está acessível de forma gratuita na internet. Na análise da historiadora Dominichi Sá, “de todas as expedições realizadas pelo IOC, a expedição Neiva-Penna foi a de maior repercussão nos meios intelectuais, médicos e políticos brasileiros”. 

Juazeiro, Largo da Prefeitura, Bahia, 1912

As expedições do século XXI trazem à cena novamente o Instituto Oswaldo Cruz, agora associado a todos demais Institutos da Fiocruz e a diversos parceiros em universidades, secretarias de saúde, grupos culturais, organizações não governamentais, escolas técnicas, institutos federais, e outras instâncias da sociedade civil.

Não precisam mais relatar a realidade sanitária e ambiental, já conhecida através dos sistemas de informação do Ministério da Saúde. O que essas novas expedições objetivam é mobilizar uma articulação intersetorial para o enfrentamento dos determinantes sociais das doenças associadas à pobreza, trabalhando educação e promoção da saúde, prevenção e vigilância ambiental.

Querem colocar em pauta as doenças negligenciadas pela indústria farmacêutica, que não se interessa em inovar e em produzir para populações negligenciadas que não tem como pagar por remédios caros, negligenciadas em sua saúde e sua cidadania, mais vulneráveis às doenças em função de sua baixa renda e má alimentação, de seu baixo nível de escolaridade, e suas inadequadas condições de moradia e de saneamento.

Determinantes sociais que realimentam as sequelas de anemias carenciais e de doenças bacterianas com tratamentos disponíveis, como a cegueira causada por tracoma ou a cirurgia vascular em crianças com doença reumática, além de potencializar os riscos biológicos que advém da presença de transmissores e de agentes causadores de doenças seculares como hanseníase e tuberculose, verminoses e parasitoses, leishmanioses, dengue e malária e todas as combinações dessas com as viroses emergentes e com as doenças crônicas.

Determinantes que também são foco do Plano Brasil Sem Miséria, com a compreensão de que a miséria é multidimensional e que a saúde não é apenas uma questão do setor da saúde.

 

Rua principal de S. José da Canastra – lugarejo do sertão baiano, a 100 quilômetros de Remanso, 1912

Revisitar as regiões que os pioneiros do Instituto descreveram, cidades que se engajaram nas ações do Brasil sem Miséria e no enfrentamento das doenças negligenciadas, compartilhar atividades educativas com professores, agentes de saúde, profissionais da cultura e da assistência social, construir pontes entre os setores e fortalecer as existentes, imergir seus estudantes nos territórios do Brasil real onde os determinantes sociais da saúde são percebidos, são os novos produtos esperados pela Fiocruz nas suas novas expedições de ciência, educação e cultura para a saúde e a superação da pobreza.

A primeira parada, em caráter piloto, ocorreu de 23 a 27 de janeiro, no município de Paudalho, no interior de Pernambuco.

Os pouco mais de 50 mil moradores da cidade participaram de atividades na praça, sessões de cinema, oficinas e exposição a céu aberto. Para 40 professores, agentes de saúde e estudantes da localidade, o curso de férias ‘Saúde é o que interessa, doença é o que não presta’ abordará temas de saúde. O foco principal são as doenças associadas à pobreza, como esquistossomose, tuberculose, geohelmintoses, hanseníase e filariose.

“Combinar promoção da saúde com prevenção de doenças implica em conhecimento, troca de saberes e aplicação de conhecimentos. Implica em mudanças culturais locais, onde as escolas, as unidades básicas de saúde e os grupos culturais têm um papel muito relevante. Atingir esse público, difundir e trocar conhecimentos, sensibilizar e mobilizar as pessoas é o principal objetivo das expedições contemporâneas da Fiocruz, que começarão pelo Nordeste e se espalharão por todo o país, consolidando nossas redes de parcerias”, afirma Tania Araújo-Jorge, diretora do IOC e líder da iniciativa. [::Leia a cobertura da Expedição Paudalho].  

 

Família de Paudalho em 1912, época em que as expedições científicas originais do Instituto Oswaldo Cruz percorreram o interior do país.

O Brasil já retirou 40 milhões de pessoas da faixa da pobreza e alterou parte dos principais determinantes sociais das doenças transmissíveis. Isto, associado à promoção da saúde e a intervenções preventivas e curativas, já reduziu de mais de 50% para menos de 5% o impacto das doenças infecciosas na mortalidade da população.

No entanto, restam 16,2 milhões de brasileiros na extrema pobreza. Decididos a participar desse esforço nacional, o Instituto Oswaldo Cruz mergulhou em suas origens e revisitou as expedições científicas realizadas pelos seus pioneiros. Desde então foram várias, realizadas por diversos pesquisadores e em diversos circuitos, todas buscando retratar o quadro sanitário local, colher amostras e descrever o panorama biológico e epidemiológico de Norte a Sul do Brasil.

E como viagens para trabalhos de campo, continuaram e continuam ativas até hoje.