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Violência urbana e longevidade: confira a cobertura das últimas sessões do Núcleo de Estudos Avançados do IOC

Encontros contaram com a participação de renomados especialistas das áreas
Por Lucas Rocha e Vinicius Ferreira08/05/2018 - Atualizado em 09/06/2021

Quando se trata da violência urbana que impacta a vida de populações de médias e grandes cidades, uma pergunta ainda permanece sem respostas: “esse problema tem solução?”. Em relação à longevidade, cuja expectativa de vida no Brasil aumentou mais de 30 anos, desde 1945, chegando atualmente aos cerca de 80 anos, outra pergunta fica em evidência: “estamos preparados para a longevidade?”. Para discutir a complexa questão da violência, que perpassa diferentes esferas da sociedade, o Núcleo de Estudos Avançados do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), realizado no dia 27 de abril, contou com a participação dos pesquisadores Bruno Paes Manso, da Universidade de São Paulo (USP), e Ignácio Cano, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Já a sessão sobre longevidade, que aconteceu em 04 de maio de forma integrada às comemorações pelos 118 anos do Instituto, foi ministrada por Alexandre Kalache, ex-diretor do Programa de Envelhecimento da Organização Mundial da Saúde. “As discussões do NEA são pautadas pela ideia de interdisciplinaridade. Por isso, é fundamental ampliar a percepção de pesquisadores e estudantes sobre tudo o que permeia os desejos, ansiedades e problemas da sociedade, incluindo os desafios impostos pela violência urbana”, destacou Renato Cordeiro, coordenador da iniciativa.

Crime e vida urbana

Pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, Bruno Manso abordou o ‘protagonismo’ paulista na ampliação do crime em âmbito nacional, a partir do surgimento da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), em 1993. “Este fato alterou o cenário carcerário em todo o país”, pontuou. A criação da facção teve como motivação a chacina de 111 detentos em São Paulo, em 1992, no episódio conhecido como massacre do Carandiru. Hoje, o grupo atua dentro e fora do sistema prisional. 

Pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, Bruno Manso discutiu o cenário do crime organizado no Estado de São Paulo. Foto: Peter Ilicciev/CCS/Fiocruz

Para Bruno, a queda gradativa na taxa de homicídios no Estado de São Paulo nos últimos anos está relacionada, entre outros motivos, a um fator a princípio controverso: o crescimento do crime organizado. Segundo o Governo do Estado, houve uma redução em 77% de assassinatos em todo o território paulista de 1999 a 2018. “Existe, hoje, uma grande capacidade de gestão e de organização no mercado de drogas em São Paulo que, apesar de ser o maior mercado consumidor e produtor de drogas do Brasil, é o menos violento. É importante levar em consideração e tentar entender como o crime conseguiu se autogerir, se tornar mais forte e poderoso politicamente”, ponderou. “Os índices também são reflexos de fatores como políticas públicas, mudanças no perfil etário da população, endurecimento nas leis de porte de armas nas ruas e o fortalecimento da sociedade civil”, disse o pesquisador. 

Professor da Uerj com atuação nas áreas de segurança pública e violência, Ignácio Cano discutiu o impacto da intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro, estabelecida em fevereiro. “Infelizmente, o que temos observado nos últimos tempos é uma tentativa do poder público de adotar medidas de segurança pública dirigidas simplesmente a ganhar visibilidade. Cria-se uma percepção de que o poder público está intervindo, mesmo que, depois, muitos presos sejam liberados e poucos processos penais sejam instaurados”, ressaltou Ignácio. Para ele, a estratégia não é a melhor forma de alcançar avanços na área da segurança pública. “É muito importante avaliar qualquer intervenção de segurança pública não em função dos jornais, mas em função dos indicadores de segurança, que têm que ser acompanhados ao longo do tempo. Do contrário, estamos sujeitos a esse tipo de operação espetaculosa”, afirmou.

"O que temos observado nos últimos tempos é uma tentativa do poder público de adotar medidas de segurança pública dirigidas simplesmente a ganhar visibilidade", destacou Ignácio Cano. Foto: Peter Ilicciev/CCS/Fiocruz

O pesquisador também abordou aspectos políticos e sociais da violência e chamou a atenção para o processo de normalização do problema. Segundo Ignácio, a violência é utilizada como método de controle social, em disputas pelo poder, além de prejudicar a articulação política nas comunidades. Ele destacou as dificuldades enfrentadas pelas lideranças comunitárias. “Há centenas de líderes comunitários mortos nos últimos anos no Rio de Janeiro. São pessoas que sofrem um processo muito perverso: quando interessa ao estado, a liderança é usada como intermediária em relação aos poderes armados do tráfico, mas quando não interessa, ela é culpada de colaboração com o poder paralelo e associação ao tráfico. É uma situação extremamente delicada de vulnerabilidade e criminalização”, exclamou.

Os especialistas consideram que repressões violentas tendem a piorar a situação. “Tentativas de combater a violência com mais blindagem, mais calibre e mais tanque, em geral, levam a mais violência”, afirmou Ignácio. “A gente tem que pensar no papel do Estado para conquistar principalmente os jovens, para gerar sonhos e expectativas em contrapartida ao que o tráfico de drogas oferece. Isso passa por políticas públicas, educação de qualidade, atendimento em saúde, opções de esporte, arte e cultura. É uma visão estratégica de médio prazo”, complementou Bruno. Um dos pontos enfatizados pelos especialistas é a necessidade de investimento pelo poder público na educação básica, como única forma de resolver a longo prazo esse triste momento vivido pela nossa sociedade.

O Brasil face à revolução da longevidade

Se você é jovem ou adulto, se prepare: segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda terá muita estrada pela frente. Enquanto, em 1945, a expectativa de vida beirava os 43 anos, hoje, a média chega próximo aos 80. Isso significa que, em breve, você será considerado um idoso. E viverá nessa etapa por um bom tempo. Mas será que estamos preparados para a longevidade?

Por mais que o Brasil esteja envelhecendo rápido – passando de cerca de 24 milhões de pessoas com mais de 60 anos em 2015 para quase 70 milhões em 2065, um aumento de 34% – nem todas as pessoas alcançarão essa faixa etária. "Ainda não estamos preparados como sociedade. Os impactos às pessoas mais velhas estão em todos os setores, do imobiliário ao da saúde, em especial", respondeu Alexandre Kalache, ex-diretor do Programa de Envelhecimento da Organização Mundial da Saúde, durante sua palestra.

Tendo como gancho a palestra sobre violência urbana do dia 27/04, Kalache frisou que esta brutalidade é um dos preços da desigualdade a que os mais idosos são submetidos. “Quanto mais velho, mais vulnerável aos mais diversos tipos de criminalidade, como os assaltos, por exemplo”, disse. O especialista apresentou, ainda, um dado alarmante: 2/3 das mortes no país acontecem em pessoas com mais de 60 anos, sendo cerca de 74% causadas por doenças crônicas, 14% por doenças infecciosas e 12% por outras causas, como a violência.

Alexandre Kalache ressaltou impactos de diversos setores sobre as pessoas mais velhas, do imobiliário à saúde. Foto: Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Outro fator que mostra o despreparo da nossa sociedade para o acolhimento ao envelhecimento dos cidadãos é a falta de políticas públicas direcionadas à melhoria e adaptação da infraestrutura urbana, condição indispensável para proporcionar qualidade de vida. “Quanto menor a atenção do poder público, maiores serão as chances de os moradores não chegarem à terceira idade ou de envelhecerem sem saúde e dependentes de terceiros para realizar suas atividades, até mesmo as mais básicas. Na verdade, essas pessoas serão as vítimas da falta de oportunidade”, exclamou Alexandre, que atualmente é presidente do Centro Internacional da Longevidade - Brazil (International Longevity Center), vinculado ao Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE).

Como exemplo do descaso com a sociedade, Kalache citou os constantes cortes de orçamento de importantes ministérios, como o da Educação, que perdeu 55% de verba entre 2014 e 2017, e o da Saúde, que teve os repasses diminuídos em 29,3%. “Diante desses números estarrecedores, o que serão de nossas crianças? Como a sociedade irá recebê-las?”, indagou. Em relação à educação, o ex-diretor do Programa de Envelhecimento da OMS advertiu que esta área está diretamente ligada à taxa de fecundidade: quanto maior a taxa de escolaridade, menor a quantidade de filhos. “As mulheres que possuem mais de oito anos de estudo, terão, em média, um filho. Já aquelas que possuem menos tempo de estudo, apresentam taxa de fecundidade de cerca de três a quatro filhos”, comparou. “Quando a população de hoje for idosa, essas crianças serão os adultos que terão ou não capacidade de sustentar o nosso país. Logo, é do interesse de todos proporcionar uma vida melhor para essas crianças, com oportunidade de saúde e educação de qualidades”, argumentou.

Diante da eminente perspectiva do envelhecimento, Kalache estimulou os presentes a, além de buscarem hábitos saudáveis, terem um propósito de vida: “Procure saber o que você quer fazer da vida. Tenha um objetivo que te faça seguir adiante. A vida deixou de ser uma corrida de 100 metros e se transformou em uma maratona com muitos quilômetros. E quanto mais longo o caminho maiores são as chances de percalços no meio da jornada e precisamos estar preparados”, concluiu.

Sobre o NEA

O Núcleo de Estudos Avançados do IOC discute temas de importância para a saúde pública com a participação de convidados de diversas áreas do conhecimento. Confira a cobertura das edições anteriores, clique aqui.

Próximas edições

22 de Maio
"Lei da Biodiversidade: uma lei necessária e equivocada"
• Roberto Leher, reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
• Marcelo Morales, diretor de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
• Paulo Andreas Buckup, Museu Nacional, UFRJ
• Arion Tulio Aranda, Laboratório de Simulídios e Oncocercose, Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz)
• Maria de Lourdes Oliveira, Laboratório de Desenvolvimento Tecnológico em Virologia, Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz)
Dia 22 de Maio de 2018, às 14h, no Aud. Emmanuel Dias, no Pav. Arthur Neiva

15 de Junho
"Meio Ambiente Global e Amazônia em crise: o que fazer?"
• Paulo Eduardo Artaxo Netto, pesquisador do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP)

Encontros contaram com a participação de renomados especialistas das áreas
Por: 
lucas
viniciusferreira

Quando se trata da violência urbana que impacta a vida de populações de médias e grandes cidades, uma pergunta ainda permanece sem respostas: “esse problema tem solução?”. Em relação à longevidade, cuja expectativa de vida no Brasil aumentou mais de 30 anos, desde 1945, chegando atualmente aos cerca de 80 anos, outra pergunta fica em evidência: “estamos preparados para a longevidade?”. Para discutir a complexa questão da violência, que perpassa diferentes esferas da sociedade, o Núcleo de Estudos Avançados do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), realizado no dia 27 de abril, contou com a participação dos pesquisadores Bruno Paes Manso, da Universidade de São Paulo (USP), e Ignácio Cano, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Já a sessão sobre longevidade, que aconteceu em 04 de maio de forma integrada às comemorações pelos 118 anos do Instituto, foi ministrada por Alexandre Kalache, ex-diretor do Programa de Envelhecimento da Organização Mundial da Saúde. “As discussões do NEA são pautadas pela ideia de interdisciplinaridade. Por isso, é fundamental ampliar a percepção de pesquisadores e estudantes sobre tudo o que permeia os desejos, ansiedades e problemas da sociedade, incluindo os desafios impostos pela violência urbana”, destacou Renato Cordeiro, coordenador da iniciativa.

Crime e vida urbana

Pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, Bruno Manso abordou o ‘protagonismo’ paulista na ampliação do crime em âmbito nacional, a partir do surgimento da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), em 1993. “Este fato alterou o cenário carcerário em todo o país”, pontuou. A criação da facção teve como motivação a chacina de 111 detentos em São Paulo, em 1992, no episódio conhecido como massacre do Carandiru. Hoje, o grupo atua dentro e fora do sistema prisional. 

Pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, Bruno Manso discutiu o cenário do crime organizado no Estado de São Paulo. Foto: Peter Ilicciev/CCS/Fiocruz

Para Bruno, a queda gradativa na taxa de homicídios no Estado de São Paulo nos últimos anos está relacionada, entre outros motivos, a um fator a princípio controverso: o crescimento do crime organizado. Segundo o Governo do Estado, houve uma redução em 77% de assassinatos em todo o território paulista de 1999 a 2018. “Existe, hoje, uma grande capacidade de gestão e de organização no mercado de drogas em São Paulo que, apesar de ser o maior mercado consumidor e produtor de drogas do Brasil, é o menos violento. É importante levar em consideração e tentar entender como o crime conseguiu se autogerir, se tornar mais forte e poderoso politicamente”, ponderou. “Os índices também são reflexos de fatores como políticas públicas, mudanças no perfil etário da população, endurecimento nas leis de porte de armas nas ruas e o fortalecimento da sociedade civil”, disse o pesquisador. 

Professor da Uerj com atuação nas áreas de segurança pública e violência, Ignácio Cano discutiu o impacto da intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro, estabelecida em fevereiro. “Infelizmente, o que temos observado nos últimos tempos é uma tentativa do poder público de adotar medidas de segurança pública dirigidas simplesmente a ganhar visibilidade. Cria-se uma percepção de que o poder público está intervindo, mesmo que, depois, muitos presos sejam liberados e poucos processos penais sejam instaurados”, ressaltou Ignácio. Para ele, a estratégia não é a melhor forma de alcançar avanços na área da segurança pública. “É muito importante avaliar qualquer intervenção de segurança pública não em função dos jornais, mas em função dos indicadores de segurança, que têm que ser acompanhados ao longo do tempo. Do contrário, estamos sujeitos a esse tipo de operação espetaculosa”, afirmou.

"O que temos observado nos últimos tempos é uma tentativa do poder público de adotar medidas de segurança pública dirigidas simplesmente a ganhar visibilidade", destacou Ignácio Cano. Foto: Peter Ilicciev/CCS/Fiocruz

O pesquisador também abordou aspectos políticos e sociais da violência e chamou a atenção para o processo de normalização do problema. Segundo Ignácio, a violência é utilizada como método de controle social, em disputas pelo poder, além de prejudicar a articulação política nas comunidades. Ele destacou as dificuldades enfrentadas pelas lideranças comunitárias. “Há centenas de líderes comunitários mortos nos últimos anos no Rio de Janeiro. São pessoas que sofrem um processo muito perverso: quando interessa ao estado, a liderança é usada como intermediária em relação aos poderes armados do tráfico, mas quando não interessa, ela é culpada de colaboração com o poder paralelo e associação ao tráfico. É uma situação extremamente delicada de vulnerabilidade e criminalização”, exclamou.

Os especialistas consideram que repressões violentas tendem a piorar a situação. “Tentativas de combater a violência com mais blindagem, mais calibre e mais tanque, em geral, levam a mais violência”, afirmou Ignácio. “A gente tem que pensar no papel do Estado para conquistar principalmente os jovens, para gerar sonhos e expectativas em contrapartida ao que o tráfico de drogas oferece. Isso passa por políticas públicas, educação de qualidade, atendimento em saúde, opções de esporte, arte e cultura. É uma visão estratégica de médio prazo”, complementou Bruno. Um dos pontos enfatizados pelos especialistas é a necessidade de investimento pelo poder público na educação básica, como única forma de resolver a longo prazo esse triste momento vivido pela nossa sociedade.

O Brasil face à revolução da longevidade

Se você é jovem ou adulto, se prepare: segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda terá muita estrada pela frente. Enquanto, em 1945, a expectativa de vida beirava os 43 anos, hoje, a média chega próximo aos 80. Isso significa que, em breve, você será considerado um idoso. E viverá nessa etapa por um bom tempo. Mas será que estamos preparados para a longevidade?

Por mais que o Brasil esteja envelhecendo rápido – passando de cerca de 24 milhões de pessoas com mais de 60 anos em 2015 para quase 70 milhões em 2065, um aumento de 34% – nem todas as pessoas alcançarão essa faixa etária. "Ainda não estamos preparados como sociedade. Os impactos às pessoas mais velhas estão em todos os setores, do imobiliário ao da saúde, em especial", respondeu Alexandre Kalache, ex-diretor do Programa de Envelhecimento da Organização Mundial da Saúde, durante sua palestra.

Tendo como gancho a palestra sobre violência urbana do dia 27/04, Kalache frisou que esta brutalidade é um dos preços da desigualdade a que os mais idosos são submetidos. “Quanto mais velho, mais vulnerável aos mais diversos tipos de criminalidade, como os assaltos, por exemplo”, disse. O especialista apresentou, ainda, um dado alarmante: 2/3 das mortes no país acontecem em pessoas com mais de 60 anos, sendo cerca de 74% causadas por doenças crônicas, 14% por doenças infecciosas e 12% por outras causas, como a violência.

Alexandre Kalache ressaltou impactos de diversos setores sobre as pessoas mais velhas, do imobiliário à saúde. Foto: Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Outro fator que mostra o despreparo da nossa sociedade para o acolhimento ao envelhecimento dos cidadãos é a falta de políticas públicas direcionadas à melhoria e adaptação da infraestrutura urbana, condição indispensável para proporcionar qualidade de vida. “Quanto menor a atenção do poder público, maiores serão as chances de os moradores não chegarem à terceira idade ou de envelhecerem sem saúde e dependentes de terceiros para realizar suas atividades, até mesmo as mais básicas. Na verdade, essas pessoas serão as vítimas da falta de oportunidade”, exclamou Alexandre, que atualmente é presidente do Centro Internacional da Longevidade - Brazil (International Longevity Center), vinculado ao Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE).

Como exemplo do descaso com a sociedade, Kalache citou os constantes cortes de orçamento de importantes ministérios, como o da Educação, que perdeu 55% de verba entre 2014 e 2017, e o da Saúde, que teve os repasses diminuídos em 29,3%. “Diante desses números estarrecedores, o que serão de nossas crianças? Como a sociedade irá recebê-las?”, indagou. Em relação à educação, o ex-diretor do Programa de Envelhecimento da OMS advertiu que esta área está diretamente ligada à taxa de fecundidade: quanto maior a taxa de escolaridade, menor a quantidade de filhos. “As mulheres que possuem mais de oito anos de estudo, terão, em média, um filho. Já aquelas que possuem menos tempo de estudo, apresentam taxa de fecundidade de cerca de três a quatro filhos”, comparou. “Quando a população de hoje for idosa, essas crianças serão os adultos que terão ou não capacidade de sustentar o nosso país. Logo, é do interesse de todos proporcionar uma vida melhor para essas crianças, com oportunidade de saúde e educação de qualidades”, argumentou.

Diante da eminente perspectiva do envelhecimento, Kalache estimulou os presentes a, além de buscarem hábitos saudáveis, terem um propósito de vida: “Procure saber o que você quer fazer da vida. Tenha um objetivo que te faça seguir adiante. A vida deixou de ser uma corrida de 100 metros e se transformou em uma maratona com muitos quilômetros. E quanto mais longo o caminho maiores são as chances de percalços no meio da jornada e precisamos estar preparados”, concluiu.

Sobre o NEA

O Núcleo de Estudos Avançados do IOC discute temas de importância para a saúde pública com a participação de convidados de diversas áreas do conhecimento. Confira a cobertura das edições anteriores, clique aqui.

Próximas edições

22 de Maio
"Lei da Biodiversidade: uma lei necessária e equivocada"
• Roberto Leher, reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
• Marcelo Morales, diretor de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
• Paulo Andreas Buckup, Museu Nacional, UFRJ
• Arion Tulio Aranda, Laboratório de Simulídios e Oncocercose, Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz)
• Maria de Lourdes Oliveira, Laboratório de Desenvolvimento Tecnológico em Virologia, Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz)
Dia 22 de Maio de 2018, às 14h, no Aud. Emmanuel Dias, no Pav. Arthur Neiva

15 de Junho
"Meio Ambiente Global e Amazônia em crise: o que fazer?"
• Paulo Eduardo Artaxo Netto, pesquisador do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP)

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)