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Variante delta do coronavírus: pesquisa sugere maior risco de reinfecção

Estudo indica também efetividade de vacinas contra cepa inicialmente detectada na Índia
Por Maíra Menezes25/06/2021 - Atualizado em 28/06/2022

Um estudo recém-publicado com a participação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sugere que a variante delta do novo coronavírus, detectada inicialmente na Índia, pode aumentar o risco de reinfecções. A pesquisa aponta que o soro de pessoas previamente infectadas por outras cepas é menos potente contra esta variante viral. O problema é observado de forma marcante entre os indivíduos anteriormente infectados pela variante gama, identificada originalmente em Manaus e atualmente dominante no Brasil, assim como pela variante beta, detectada pela primeira vez na África do Sul. Nestes casos, a capacidade de neutralizar a cepa delta é onze vezes menor.

O soro de pessoas vacinadas também tem potência reduzida contra a variante originária da Índia, mas os dados apontam que as vacinas continuam efetivas. A capacidade de neutralizar a cepa é 2,5 vezes menor para o imunizante da Pfizer e 4,3 vezes menor para o da Astrazeneca. Os autores do trabalho ressaltam que os índices são semelhantes aos verificados com as variantes gama e alfa – que emergiram no Brasil e no Reino Unido, respectivamente. Não há evidência de fuga generalizada da neutralização, diferentemente do registrado com a variante beta – com origem na África do Sul.

“Parece provável, a partir desses resultados, que as vacinas atuais de RNA e vetor viral fornecerão proteção contra a linhagem B.1.617 [que possui três sublinhagens, incluindo a variante delta], embora um aumento nas infecções possa ocorrer como resultado da capacidade de neutralização reduzida dos soros”, afirmam os pesquisadores no artigo.

A pesquisa foi publicada na renomada revista científica “Cell”. Liderado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, o estudo foi realizado por meio de uma grande colaboração científica envolvendo 59 pesquisadores do Reino Unido, China, Brasil, Estados Unidos, África do Sul e Tailândia. No Brasil, participaram o Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o Laboratório de Ecologia de Doenças Transmissíveis na Amazônia do Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz-AM) e a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS/AM).

Cepas divergentes

A variante delta é um subtipo da linhagem viral B.1.617, que emergiu na Índia em outubro de 2020. Em maio deste ano, após ser associada ao agravamento da pandemia na Índia e no Reino Unido, a cepa foi declarada como variante de preocupação pela Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com a OMS, a variante circula em, pelo menos, 85 países do mundo. Além disso, nove nações sequenciaram vírus da linhagem B.1.617, sem realizar a identificação da sublinhagem viral.

No Brasil, infecções causadas pela variante delta foram diagnosticadas em viajantes no Maranhão, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Goiás, segundo o Ministério da Saúde. No dia 19 de junho, a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia confirmou o primeiro registro de transmissão local da cepa.

Assim como outras variantes de preocupação, a delta possui mutações na região do genoma responsável por orientar a produção da proteína espícula do novo coronavírus – também chamada de proteína S ou Spike, na nomenclatura em inglês. Essa molécula, que se localiza na superfície da membrana viral, compondo a coroa do vírus, é responsável pela primeira etapa do processo de infecção: a adesão do vírus às células. Por isso mesmo, é o alvo dos anticorpos mais potentes produzidos pelo organismo para neutralizar o SARS-CoV-2.

Segundo os cientistas, mutações na proteína S podem ser positivas para o vírus de duas formas. De um lado, aumentando sua capacidade de adesão aos receptores presentes células do hospedeiro, o que leva à maior transmissibilidade do patógeno. De outro, modificando a região da proteína S onde se ligam os anticorpos, permitindo, assim, que o vírus escape do sistema imune.

As análises do novo estudo mostram que a afinidade da variante delta pelos receptores celulares é maior do que a observada nas linhagens que circularam no começo da pandemia. No entanto, é inferior à verificada com as outras variantes de preocupação. Por outro lado, a variante originária da Índia apresenta um perfil antigênico bastante divergente em relação aos outros vírus estudados.

Para chegar a esse resultado, os pesquisadores analisaram a ação de 113 soros, obtidos a partir de pacientes infectados e imunizados, sobre seis cepas do novo coronavírus. São elas: uma linhagem próxima do vírus inicialmente detectado em Wuhan, na China, no começo da pandemia; as variantes de preocupação alfa, beta, gama e delta; e a variante de interesse kapa, que é intimamente relacionada à variante delta, sendo também um subtipo da linhagem B.1.617.

A metodologia permitiu mapear o espaço antigênico das diferentes cepas. Além de confirmar o distanciamento expressivo da variante delta em relação às variantes gama e beta, a análise revelou a posição central da cepa alfa, originária do Reino Unido. De acordo com os cientistas, o achado indica que vacinas baseadas na variante alfa podem proteger amplamente contra as variantes atuais, o que pode ser uma informação relevante para a formulação de novos imunizantes.

“Está se tornando mais provável que mais de uma variante seja necessária para fornecer proteção conforme o complexo sorológico do SARS-CoV-2 continua a evoluir. Sugerimos que um componente, provavelmente, continuará a incluir cepas relacionadas a Wuhan ou B.1.1.7 [variante alfa] visto que, pelo menos até agora, elas parecem estar mais centralmente posicionadas no complexo sorológico, sendo capazes de fornecer proteção contra múltiplas variantes virais”, dizem os pesquisadores no trabalho.

Estudo indica também efetividade de vacinas contra cepa inicialmente detectada na Índia
Por: 
maira

Um estudo recém-publicado com a participação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sugere que a variante delta do novo coronavírus, detectada inicialmente na Índia, pode aumentar o risco de reinfecções. A pesquisa aponta que o soro de pessoas previamente infectadas por outras cepas é menos potente contra esta variante viral. O problema é observado de forma marcante entre os indivíduos anteriormente infectados pela variante gama, identificada originalmente em Manaus e atualmente dominante no Brasil, assim como pela variante beta, detectada pela primeira vez na África do Sul. Nestes casos, a capacidade de neutralizar a cepa delta é onze vezes menor.

O soro de pessoas vacinadas também tem potência reduzida contra a variante originária da Índia, mas os dados apontam que as vacinas continuam efetivas. A capacidade de neutralizar a cepa é 2,5 vezes menor para o imunizante da Pfizer e 4,3 vezes menor para o da Astrazeneca. Os autores do trabalho ressaltam que os índices são semelhantes aos verificados com as variantes gama e alfa – que emergiram no Brasil e no Reino Unido, respectivamente. Não há evidência de fuga generalizada da neutralização, diferentemente do registrado com a variante beta – com origem na África do Sul.

“Parece provável, a partir desses resultados, que as vacinas atuais de RNA e vetor viral fornecerão proteção contra a linhagem B.1.617 [que possui três sublinhagens, incluindo a variante delta], embora um aumento nas infecções possa ocorrer como resultado da capacidade de neutralização reduzida dos soros”, afirmam os pesquisadores no artigo.

A pesquisa foi publicada na renomada revista científica “Cell”. Liderado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, o estudo foi realizado por meio de uma grande colaboração científica envolvendo 59 pesquisadores do Reino Unido, China, Brasil, Estados Unidos, África do Sul e Tailândia. No Brasil, participaram o Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o Laboratório de Ecologia de Doenças Transmissíveis na Amazônia do Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz-AM) e a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS/AM).

Cepas divergentes

A variante delta é um subtipo da linhagem viral B.1.617, que emergiu na Índia em outubro de 2020. Em maio deste ano, após ser associada ao agravamento da pandemia na Índia e no Reino Unido, a cepa foi declarada como variante de preocupação pela Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com a OMS, a variante circula em, pelo menos, 85 países do mundo. Além disso, nove nações sequenciaram vírus da linhagem B.1.617, sem realizar a identificação da sublinhagem viral.

No Brasil, infecções causadas pela variante delta foram diagnosticadas em viajantes no Maranhão, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Goiás, segundo o Ministério da Saúde. No dia 19 de junho, a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia confirmou o primeiro registro de transmissão local da cepa.

Assim como outras variantes de preocupação, a delta possui mutações na região do genoma responsável por orientar a produção da proteína espícula do novo coronavírus – também chamada de proteína S ou Spike, na nomenclatura em inglês. Essa molécula, que se localiza na superfície da membrana viral, compondo a coroa do vírus, é responsável pela primeira etapa do processo de infecção: a adesão do vírus às células. Por isso mesmo, é o alvo dos anticorpos mais potentes produzidos pelo organismo para neutralizar o SARS-CoV-2.

Segundo os cientistas, mutações na proteína S podem ser positivas para o vírus de duas formas. De um lado, aumentando sua capacidade de adesão aos receptores presentes células do hospedeiro, o que leva à maior transmissibilidade do patógeno. De outro, modificando a região da proteína S onde se ligam os anticorpos, permitindo, assim, que o vírus escape do sistema imune.

As análises do novo estudo mostram que a afinidade da variante delta pelos receptores celulares é maior do que a observada nas linhagens que circularam no começo da pandemia. No entanto, é inferior à verificada com as outras variantes de preocupação. Por outro lado, a variante originária da Índia apresenta um perfil antigênico bastante divergente em relação aos outros vírus estudados.

Para chegar a esse resultado, os pesquisadores analisaram a ação de 113 soros, obtidos a partir de pacientes infectados e imunizados, sobre seis cepas do novo coronavírus. São elas: uma linhagem próxima do vírus inicialmente detectado em Wuhan, na China, no começo da pandemia; as variantes de preocupação alfa, beta, gama e delta; e a variante de interesse kapa, que é intimamente relacionada à variante delta, sendo também um subtipo da linhagem B.1.617.

A metodologia permitiu mapear o espaço antigênico das diferentes cepas. Além de confirmar o distanciamento expressivo da variante delta em relação às variantes gama e beta, a análise revelou a posição central da cepa alfa, originária do Reino Unido. De acordo com os cientistas, o achado indica que vacinas baseadas na variante alfa podem proteger amplamente contra as variantes atuais, o que pode ser uma informação relevante para a formulação de novos imunizantes.

“Está se tornando mais provável que mais de uma variante seja necessária para fornecer proteção conforme o complexo sorológico do SARS-CoV-2 continua a evoluir. Sugerimos que um componente, provavelmente, continuará a incluir cepas relacionadas a Wuhan ou B.1.1.7 [variante alfa] visto que, pelo menos até agora, elas parecem estar mais centralmente posicionadas no complexo sorológico, sendo capazes de fornecer proteção contra múltiplas variantes virais”, dizem os pesquisadores no trabalho.

Edição: 
Vinicius Ferreira

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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