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Pesquisa alerta para risco de contaminação em cação no RJ

Níveis de mercúrio acima do limite permitido pela Anvisa foram detectados em pequenos tubarões comumente consumidos
Por Maíra Menezes03/09/2021 - Atualizado em 30/09/2021

O risco de contaminação humana a partir do consumo de pequenos tubarões, comumente chamados de cação, é apontado em um estudo liderado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Entre 42 animais capturados no litoral fluminense, cinco tubarões pescados em Copacabana e no Recreio dos Bandeirantes apresentaram níveis de mercúrio acima do permitido para consumo pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 

O mercúrio é um metal tóxico, listado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um dos dez contaminantes de maior preocupação para a saúde pública. Segundo a coordenadora do estudo e pesquisadora do Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental do IOC, Rachel Ann Hauser Davis, os resultados da pesquisa reforçam a importância de ações de conscientização e de medidas de combate à poluição ambiental.

“Detectamos mercúrio no músculo, fígado e cérebro dos tubarões, assim como nos embriões identificados nas fêmeas grávidas. Essa contaminação pode prejudicar a saúde e a reprodução dos animais, contribuindo para desequilíbrios ambientais. Também representa um risco para a saúde humana, pois o cação é um pescado altamente consumido”, afirma a bióloga.

Tubarões da espécie Rhizoprionodon porosus são encontrados na região costeira desde o Panamá até o sul do Brasil. Foto: Trevor Meyer (CC BY-NC 3.0)

O estudo foi publicado na revista científica internacional ‘Elementa: Science of the Anthropocene’ . Além do IOC, UFRJ, Uerj e Unirio, a pesquisa contou com a participação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e do Instituto Museu Aquário Marinho do Rio de Janeiro (Imam/AquaRio). O trabalho foi financiado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Fêmeas grávidas

Diferentes espécies de tubarões e raias costumam ser vendidos como cação. Na pesquisa, foram analisados animais das espécies Rhizoprionodon lalandii e Rhizoprionodon porosus, que são frequentemente capturados no Brasil. Os 42 tubarões foram pescados entre 2017 e 2019, em Copacabana e no Recreio dos Bandeirantes, na capital fluminense, e nas cidades de Saquarema, Rio das Ostras e Cabo Frio, na Região dos Lagos.

Índices de contaminação por mercúrio acima do limite estabelecido pela Anvisa foram detectados em cinco fêmeas grávidas, sendo quatro de Copacabana e uma do Recreio dos Bandeirantes. Os demais animais apresentaram o metal em níveis reduzidos. 

De acordo com os autores do trabalho, os índices elevados observados nas fêmeas grávidas da capital fluminense podem ter dois motivos: o maior tempo de vida desses animais e a contaminação mais intensa da região. 

O mercúrio chega ao mar principalmente pelo despejo inadequado de resíduos industriais e domésticos. Como não é metabolizado pelos seres vivos, este metal se acumula ao longo da cadeia alimentar, o que faz com que predadores de vida longa, como os tubarões, sejam mais contaminados.

“As fêmeas grávidas são tubarões adultos. Pela idade, podem ter acumulado mais do metal do que os animais juvenis capturados na Região dos Lagos. Além disso, o litoral carioca sofre influência da Baía de Guanabara, que é uma área muito contaminada” pontua Rachel. 

No Brasil, os tubarões não costumam ser o alvo da atividade pesqueira. Porém, o volume de animais capturados acidentalmente por redes de pesca é significativo. Segundo dados da Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (Fiperj), mais de cinco toneladas de cação-frango – nome popular que pode incluir animais das espécies R. porosus e R. lalandi – foram desembarcadas no estado em 2016. 

Para Rachel, tubarões e raias não deveriam ser consumidos. “Os tubarões são mais contaminados por serem predadores e viverem muito tempo. Já as raias ficam no fundo do mar, em contato direto com o sedimento, onde os contaminantes se depositam. Muitas das espécies de tubarões e raias brasileiras também estão ameaçadas de extinção”, diz a bióloga.

A captura de tubarões ocorre tanto na pesca artesanal, como na industrial. No estudo, foram analisados animais obtidos pelos cientistas em colônias de pesca do Rio de Janeiro. Rachel ressalta a importância da parceria com pescadores artesanais para a realização do trabalho. 

“A conscientização dos pescadores artesanais sobre os riscos da contaminação é ainda mais importante considerando que esta é uma população vulnerável, que tem no pescado uma fonte importante de proteínas na sua alimentação”, destaca Rachel. 

Níveis de mercúrio acima do limite permitido pela Anvisa foram detectados em pequenos tubarões comumente consumidos
Por: 
maira

O risco de contaminação humana a partir do consumo de pequenos tubarões, comumente chamados de cação, é apontado em um estudo liderado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Entre 42 animais capturados no litoral fluminense, cinco tubarões pescados em Copacabana e no Recreio dos Bandeirantes apresentaram níveis de mercúrio acima do permitido para consumo pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 

O mercúrio é um metal tóxico, listado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um dos dez contaminantes de maior preocupação para a saúde pública. Segundo a coordenadora do estudo e pesquisadora do Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental do IOC, Rachel Ann Hauser Davis, os resultados da pesquisa reforçam a importância de ações de conscientização e de medidas de combate à poluição ambiental.

“Detectamos mercúrio no músculo, fígado e cérebro dos tubarões, assim como nos embriões identificados nas fêmeas grávidas. Essa contaminação pode prejudicar a saúde e a reprodução dos animais, contribuindo para desequilíbrios ambientais. Também representa um risco para a saúde humana, pois o cação é um pescado altamente consumido”, afirma a bióloga.

Tubarões da espécie Rhizoprionodon porosus são encontrados na região costeira desde o Panamá até o sul do Brasil. Foto: Trevor Meyer (CC BY-NC 3.0)

O estudo foi publicado na revista científica internacional ‘Elementa: Science of the Anthropocene’ . Além do IOC, UFRJ, Uerj e Unirio, a pesquisa contou com a participação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e do Instituto Museu Aquário Marinho do Rio de Janeiro (Imam/AquaRio). O trabalho foi financiado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Fêmeas grávidas

Diferentes espécies de tubarões e raias costumam ser vendidos como cação. Na pesquisa, foram analisados animais das espécies Rhizoprionodon lalandii e Rhizoprionodon porosus, que são frequentemente capturados no Brasil. Os 42 tubarões foram pescados entre 2017 e 2019, em Copacabana e no Recreio dos Bandeirantes, na capital fluminense, e nas cidades de Saquarema, Rio das Ostras e Cabo Frio, na Região dos Lagos.

Índices de contaminação por mercúrio acima do limite estabelecido pela Anvisa foram detectados em cinco fêmeas grávidas, sendo quatro de Copacabana e uma do Recreio dos Bandeirantes. Os demais animais apresentaram o metal em níveis reduzidos. 

De acordo com os autores do trabalho, os índices elevados observados nas fêmeas grávidas da capital fluminense podem ter dois motivos: o maior tempo de vida desses animais e a contaminação mais intensa da região. 

O mercúrio chega ao mar principalmente pelo despejo inadequado de resíduos industriais e domésticos. Como não é metabolizado pelos seres vivos, este metal se acumula ao longo da cadeia alimentar, o que faz com que predadores de vida longa, como os tubarões, sejam mais contaminados.

“As fêmeas grávidas são tubarões adultos. Pela idade, podem ter acumulado mais do metal do que os animais juvenis capturados na Região dos Lagos. Além disso, o litoral carioca sofre influência da Baía de Guanabara, que é uma área muito contaminada” pontua Rachel. 

No Brasil, os tubarões não costumam ser o alvo da atividade pesqueira. Porém, o volume de animais capturados acidentalmente por redes de pesca é significativo. Segundo dados da Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (Fiperj), mais de cinco toneladas de cação-frango – nome popular que pode incluir animais das espécies R. porosus e R. lalandi – foram desembarcadas no estado em 2016. 

Para Rachel, tubarões e raias não deveriam ser consumidos. “Os tubarões são mais contaminados por serem predadores e viverem muito tempo. Já as raias ficam no fundo do mar, em contato direto com o sedimento, onde os contaminantes se depositam. Muitas das espécies de tubarões e raias brasileiras também estão ameaçadas de extinção”, diz a bióloga.

A captura de tubarões ocorre tanto na pesca artesanal, como na industrial. No estudo, foram analisados animais obtidos pelos cientistas em colônias de pesca do Rio de Janeiro. Rachel ressalta a importância da parceria com pescadores artesanais para a realização do trabalho. 

“A conscientização dos pescadores artesanais sobre os riscos da contaminação é ainda mais importante considerando que esta é uma população vulnerável, que tem no pescado uma fonte importante de proteínas na sua alimentação”, destaca Rachel. 

Edição: 
Vinicius Ferreira

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)