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Avanços e perspectivas para a eliminação da malária

Segundo dia da Reunião Nacional de Pesquisa em Malária recebeu representantes do Ministério da Saúde e debateu especificidades sobre a pesquisa em território nacional
Por Max Gomes e Vinicius Ferreira27/04/2022 - Atualizado em 30/06/2022

O segundo dia (26) de atividades da 16ª edição da Reunião Nacional de Pesquisa em Malária (XVI RNPM) foi, novamente, marcado por profundas discussões. A urbanização da doença na região amazônica, as perspectivas para a eliminação do agravo no Brasil, Ásia e África, além de especificidades sobre a pesquisa em território nacional e a descoberta de novos alvos terapêuticos e produção de medicamentos foram os temas em foco.

Apresentações de trabalhos de doutores e pós-doutores de diversas instituições espalhadas pelo país também abrilhantaram o dia. Estudos de ponta foram debatidos, como coinfecção de malária e parasitose intestinal em área indígena Yanomami, identificação de biomarcadores preditivos de disfunção placentária na malária e dados sobre infecções em importantes espécies de mosquitos.

A primeira sessão científica, mediada por Martha Suárez-Mutis, pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), e Ronan Rocha Coelho, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS), girou em torno da vigilância, tendências e impacto do programa nacional de controle.

Iniciando as apresentações, Marcelo Urbano Ferreira, do Departamento de Parasitologia da Universidade de São Paulo (USP), falou sobre a urbanização da malária na região amazônica. Apesar da grande área de floresta virgem, o especialista ressaltou que cerca de 70% da população habita em área urbana e há cidades com mais de 500 mil habitantes, o que ajuda a explicar o alto número de notificações na região.

Marcelo Urbano e Anna Rosanas-Urgell: urbanização da malária e novas metodologias de vigilância genômica em foco. Fotos: Peter Ilicciev / Arte: Jefferson Mendes

Como exemplo, Marcelo apresentou detalhes de estudo realizado na cidade de Mâncio Lima, no Acre, que na época em que foi conduzido (2015), era o principal foco de transmissão de malária da região amazônica, com mais de 2 mil notificações anuais. O especialista explicitou que este fato estava relacionado à intensa atividade de piscicultura do município, uma vez que é realizada em tanques artificiais, espaços atrativos para os mosquitos depositarem seus ovos. O estudo mostrou ainda que indivíduos adultos jovens eram os que mais possuíam o risco de se infectar e de adoecer, sugerindo impacto pela ocupação profissional.

As tecnologias moleculares, ômicas e celulares de última geração, desenvolvidas no Instituto de Medicina Tropical da Antuérpia, na Bélgica, para estudar como a adaptação dos parasitas ao ambiente hospedeiro é moderada no nível genômico e transcriptômico foram apresentadas pela geneticista Anna Rosanas-Urgell, chefe do setor de malariologia da unidade.

Uma das ferramentas apresentadas se refere à criação de um banco de dados internacional com informações sobre variabilidade genética de Plasmodium vivax de diferentes partes do mundo. Na região das Américas, por exemplo, o sistema já conta com mais de 380 genomas referenciados. A especialista também abordou algumas dificuldades, como a falta de informações em algumas regiões, em especial, na Venezuela, o que impacta na visão global da pesquisa.

Outro destaque foi o desenvolvimento de uma espécie de ‘caixa de ferramenta’ para vigilância molecular que será compartilhada com diferentes instituições espalhadas pelo mundo, com destaque para os países em desenvolvimento.

As ações do Programa Nacional de Controle da Malária (PNCM) do Ministério da Saúde foram o mote da apresentação da técnica Joyce Pereira, da coordenação-geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial da Secretaria de Vigilância em Saúde (CGZV/SVS/MS).

Joyce Pereira e Daniel Villela: debates em torno dos avanços e desafios para a eliminação da malária e do aprimoramento do sistema de notificação de casos. Fotos: Peter Ilicciev / Arte: Jefferson Mendes

A representante destacou as quatro diretrizes do PNCM – ‘Diagnóstico e Tratamento’, ‘Controle integrado e seletivo de vetores’, ‘Promoção da educação em saúde’ e ‘Prevenção, detecção e contenção de surtos’ – ressaltando que elas convergem para as tomadas de decisão em âmbito nacional. O Plano está alinhado à Estratégia Global de Malária, objetivos internacionais e a metas pactuadas em outros meios de gestão, e tem como objetivo maior a eliminação da doença em território nacional, porém com meta intermediária de reduzir em 90% a incidência da doença no Brasil até 2030, assim como reduzir o número de óbitos para zero até o mesmo ano.

Os avanços e perspectivas do campo da entomologia e do controle vetorial também foram destacados. Como conquistas, a representante citou a ampliação do apoio técnico, a partir da Câmara Técnica de Assessoramento, a publicação de documentos norteadores e a disponibilização contínua de insumos para controle. Como desafios, elencou o fortalecimento e estruturação da rede de entomologia no país e das equipes de campo, capacitação e certificação de profissionais, implementação do sistema de informação de qualidade, avaliação das metodologias recomendadas nos diferentes cenários de transmissão, além da organização e implementação de rede de monitoramento de susceptibilidade dos vetores aos inseticidas.

Encerrando as primeiras apresentações, o especialista em modelagem matemática e métodos quantitativos em epidemiologia e ecologia de vetores de importância para a saúde pública, Daniel Villela, abordou a importância do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica (SIVEP) para estimar recorrências de P. vivax no Brasil.

Villela, que é coordenador do Programa de Computação Científica (PROCC) da Fiocruz, comentou que, apesar da excelência do sistema como fonte de informações, há limitações relevantes que precisam ser melhoradas, como a explicitação de dados sobre recidivas, recrudescimentos, infecções de curto prazo e reinfecções, que podem contribuir para a definição de políticas públicas de saúde mais precisas e que acelerem a eliminação da doença no país.

Esforços para a eliminação

A segunda sessão científica de palestras, sob mediação de Dhelio Pereira (Fiocruz Rondônia) e André Siqueira Machado (Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/Fiocruz), deu enfoque nos esforços nacionais e internacionais para a erradicação da malária.

Trazendo os pilares e objetivos do plano nacional de eliminação da doença, cujo lançamento está previsto para o dia 11 de maio, Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS-MS), destacou as estratégias traçadas pela pasta em concordância com o plano internacional desenvolvido pela OMS, que visa a erradicação total da infecção até 2035.

A importância da contribuição de estados e municípios para o alcance da eliminação da malária foi acentuada por Francisco Júnior, da SVS/MS. Foto: Peter Ilicciev

O documento brasileiro está divido em quatro fases, com as duas primeiras tendo como objetivo a preparação do país para a eliminação da doença, com a redução para menos de 68.000 casos até 2025, e a consolidação dessa redução, com a eliminação da transmissão por P. falciparum e a ocorrência de nenhum óbito a partir de 2030. As duas últimas fases são a eliminação da transmissão da malária até 2035 e a manutenção desse status para os anos seguintes. 

“Tradicionalmente a malária é vista no Brasil como uma competência para vigilância, mas a atenção primária é extremamente importante para que a gente consiga sair da rotina de controle e partir para a eliminação”, enfatizou o especialista. 

Francisco reforçou ainda que, atualmente, a maior fortaleza para o enfrentamento da malária no Brasil é o Serviço Único de Saúde (SUS), com a possibilidade de diagnósticos e tratamentos gratuitos. Outros pontos fortes são análise e disseminação das informações, sistema de informação online e bem estabelecido e redes de pesquisa em malária. Em contrapartida, os principais desafios são a falta de estruturação na vigilância como estratégia para eliminação da endemia e o difícil acesso a localidades remotas com baixa cobertura de diagnóstico, principalmente áreas indígenas e de garimpos.

Dando sequência, o pesquisador Ric Price, da Universidade Charles Darwin (Austrália), discorreu sobre os desafios e oportunidades para a eliminação do parasita Plasmodium vivax na região da Ásia Pacífico (localidade que compreende a Oceania, Ásia Oriental, além do Sul e Sudeste da Ásia). Price afirmou que, apesar dos obstáculos encontrados pelos países endêmicos para malária parecerem semelhantes, há heterogeneidade no combate à doença que faz cada região necessitar de atenção específica.

A eficiência de fármacos esteve em foco na palestra do professor Ric Price, da Universidade Charles Darwin. Foto: Peter Ilicciev

Price apresentou estudos recentes sobre os medicamentos utilizados para o tratamento da malária e salientou que, ainda que algumas das medicações estejam disponíveis há bastante tempo, seu uso permanece inadequado. O pesquisador acrescentou também que novas ferramentas e estratégias precisam ser adaptadas aos cenários endêmicos locais, e que se altos investimentos forem realizados no presente, custos serão reduzidos futuramente.

Assim como muitos países na África, Angola enfrenta uma endemia grave de malária. Não obstante, a nação africana encara também algumas circunstâncias específicas que dificultam ainda mais a erradicação da doença, como apontou Filomeno Fortes, da Universidade Nova de Lisboa (Portugal). A comercialização de antimaláricos falsos, insuficiência de recursos no combate ao mosquito vetor e dificuldades no aumento da cobertura no tratamento preventivo com gestantes são alguns desses desafios.

Para Fortes, Angola não possui condições de assumir um compromisso de erradicação da doença na atualidade, precisando alcançar ainda o estágio de controle da endemia. No entanto, o pesquisador destaca que a maior distribuição e utilização de testes rápidos para o diagnóstico diferencial de doenças endêmicas no país contribuiria para a identificação mais rápida de casos de malária, possibilitando o tratamento mais oportuno.

Encerrando a sessão, o pesquisador Shigeyuki Kano, diretor do Departamento de Medicina Tropical e Malária no Centro Nacional para Saúde Global e Medicina (NCGM – Japão), lembrou a apreensão dos especialistas no início da pandemia da Covid-19 sobre os impactos negativos que a emergência mundial em saúde poderia ter nos recentes avanços no controle da malária. Kano destacou que a previsão da OMS era que mortes pela infecção poderiam dobrar em 2020 na África subsaariana. Entretanto, devido às ações urgentes realizadas por vários países, o cenário foi contornado.

Aprofundando o tema de sua palestra, o pesquisador discutiu tecnologias disponíveis para o diagnóstico da malária, diferenciando-as pelo potencial de uso em países endêmicos e não-endêmicos. Kano reforçou a importância de detectar portadores assintomáticos da doença, tendo em vista que são indivíduos que não irão procurar tratamentos, passando despercebidos pela vigilância passiva e servindo de reservatórios silenciosos para a transmissão da infecção.

Outros debates

O segundo dia da XVI RNPM também contou com sessões científicas sobre medicamentos com Richard Culleton (Ehime University), Fabio Costa (Unicamp), Wuelton M. Monteiro (FMT-HVD), Nubia Boechat (Farmanguinhos/Fiocruz) e Daniel Bargieri (USP); e sobre a pesquisa em malária no Brasil com Marcela Dourado (SVS/MS), Sheila Rodovalho (OPAS, Brasília) e Marcus Vinicius G. Lacerda (ILMD/Fiocruz).

As atividades vão até quinta-feira, 28 de abril. Clique aqui e confira a programação completa.

Segundo dia da Reunião Nacional de Pesquisa em Malária recebeu representantes do Ministério da Saúde e debateu especificidades sobre a pesquisa em território nacional
Por: 
max.gomes
viniciusferreira

O segundo dia (26) de atividades da 16ª edição da Reunião Nacional de Pesquisa em Malária (XVI RNPM) foi, novamente, marcado por profundas discussões. A urbanização da doença na região amazônica, as perspectivas para a eliminação do agravo no Brasil, Ásia e África, além de especificidades sobre a pesquisa em território nacional e a descoberta de novos alvos terapêuticos e produção de medicamentos foram os temas em foco.

Apresentações de trabalhos de doutores e pós-doutores de diversas instituições espalhadas pelo país também abrilhantaram o dia. Estudos de ponta foram debatidos, como coinfecção de malária e parasitose intestinal em área indígena Yanomami, identificação de biomarcadores preditivos de disfunção placentária na malária e dados sobre infecções em importantes espécies de mosquitos.

A primeira sessão científica, mediada por Martha Suárez-Mutis, pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), e Ronan Rocha Coelho, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS), girou em torno da vigilância, tendências e impacto do programa nacional de controle.

Iniciando as apresentações, Marcelo Urbano Ferreira, do Departamento de Parasitologia da Universidade de São Paulo (USP), falou sobre a urbanização da malária na região amazônica. Apesar da grande área de floresta virgem, o especialista ressaltou que cerca de 70% da população habita em área urbana e há cidades com mais de 500 mil habitantes, o que ajuda a explicar o alto número de notificações na região.

Marcelo Urbano e Anna Rosanas-Urgell: urbanização da malária e novas metodologias de vigilância genômica em foco. Fotos: Peter Ilicciev / Arte: Jefferson Mendes

Como exemplo, Marcelo apresentou detalhes de estudo realizado na cidade de Mâncio Lima, no Acre, que na época em que foi conduzido (2015), era o principal foco de transmissão de malária da região amazônica, com mais de 2 mil notificações anuais. O especialista explicitou que este fato estava relacionado à intensa atividade de piscicultura do município, uma vez que é realizada em tanques artificiais, espaços atrativos para os mosquitos depositarem seus ovos. O estudo mostrou ainda que indivíduos adultos jovens eram os que mais possuíam o risco de se infectar e de adoecer, sugerindo impacto pela ocupação profissional.

As tecnologias moleculares, ômicas e celulares de última geração, desenvolvidas no Instituto de Medicina Tropical da Antuérpia, na Bélgica, para estudar como a adaptação dos parasitas ao ambiente hospedeiro é moderada no nível genômico e transcriptômico foram apresentadas pela geneticista Anna Rosanas-Urgell, chefe do setor de malariologia da unidade.

Uma das ferramentas apresentadas se refere à criação de um banco de dados internacional com informações sobre variabilidade genética de Plasmodium vivax de diferentes partes do mundo. Na região das Américas, por exemplo, o sistema já conta com mais de 380 genomas referenciados. A especialista também abordou algumas dificuldades, como a falta de informações em algumas regiões, em especial, na Venezuela, o que impacta na visão global da pesquisa.

Outro destaque foi o desenvolvimento de uma espécie de ‘caixa de ferramenta’ para vigilância molecular que será compartilhada com diferentes instituições espalhadas pelo mundo, com destaque para os países em desenvolvimento.

As ações do Programa Nacional de Controle da Malária (PNCM) do Ministério da Saúde foram o mote da apresentação da técnica Joyce Pereira, da coordenação-geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial da Secretaria de Vigilância em Saúde (CGZV/SVS/MS).

Joyce Pereira e Daniel Villela: debates em torno dos avanços e desafios para a eliminação da malária e do aprimoramento do sistema de notificação de casos. Fotos: Peter Ilicciev / Arte: Jefferson Mendes

A representante destacou as quatro diretrizes do PNCM – ‘Diagnóstico e Tratamento’, ‘Controle integrado e seletivo de vetores’, ‘Promoção da educação em saúde’ e ‘Prevenção, detecção e contenção de surtos’ – ressaltando que elas convergem para as tomadas de decisão em âmbito nacional. O Plano está alinhado à Estratégia Global de Malária, objetivos internacionais e a metas pactuadas em outros meios de gestão, e tem como objetivo maior a eliminação da doença em território nacional, porém com meta intermediária de reduzir em 90% a incidência da doença no Brasil até 2030, assim como reduzir o número de óbitos para zero até o mesmo ano.

Os avanços e perspectivas do campo da entomologia e do controle vetorial também foram destacados. Como conquistas, a representante citou a ampliação do apoio técnico, a partir da Câmara Técnica de Assessoramento, a publicação de documentos norteadores e a disponibilização contínua de insumos para controle. Como desafios, elencou o fortalecimento e estruturação da rede de entomologia no país e das equipes de campo, capacitação e certificação de profissionais, implementação do sistema de informação de qualidade, avaliação das metodologias recomendadas nos diferentes cenários de transmissão, além da organização e implementação de rede de monitoramento de susceptibilidade dos vetores aos inseticidas.

Encerrando as primeiras apresentações, o especialista em modelagem matemática e métodos quantitativos em epidemiologia e ecologia de vetores de importância para a saúde pública, Daniel Villela, abordou a importância do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica (SIVEP) para estimar recorrências de P. vivax no Brasil.

Villela, que é coordenador do Programa de Computação Científica (PROCC) da Fiocruz, comentou que, apesar da excelência do sistema como fonte de informações, há limitações relevantes que precisam ser melhoradas, como a explicitação de dados sobre recidivas, recrudescimentos, infecções de curto prazo e reinfecções, que podem contribuir para a definição de políticas públicas de saúde mais precisas e que acelerem a eliminação da doença no país.

Esforços para a eliminação

A segunda sessão científica de palestras, sob mediação de Dhelio Pereira (Fiocruz Rondônia) e André Siqueira Machado (Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/Fiocruz), deu enfoque nos esforços nacionais e internacionais para a erradicação da malária.

Trazendo os pilares e objetivos do plano nacional de eliminação da doença, cujo lançamento está previsto para o dia 11 de maio, Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS-MS), destacou as estratégias traçadas pela pasta em concordância com o plano internacional desenvolvido pela OMS, que visa a erradicação total da infecção até 2035.

A importância da contribuição de estados e municípios para o alcance da eliminação da malária foi acentuada por Francisco Júnior, da SVS/MS. Foto: Peter Ilicciev

O documento brasileiro está divido em quatro fases, com as duas primeiras tendo como objetivo a preparação do país para a eliminação da doença, com a redução para menos de 68.000 casos até 2025, e a consolidação dessa redução, com a eliminação da transmissão por P. falciparum e a ocorrência de nenhum óbito a partir de 2030. As duas últimas fases são a eliminação da transmissão da malária até 2035 e a manutenção desse status para os anos seguintes. 

“Tradicionalmente a malária é vista no Brasil como uma competência para vigilância, mas a atenção primária é extremamente importante para que a gente consiga sair da rotina de controle e partir para a eliminação”, enfatizou o especialista. 

Francisco reforçou ainda que, atualmente, a maior fortaleza para o enfrentamento da malária no Brasil é o Serviço Único de Saúde (SUS), com a possibilidade de diagnósticos e tratamentos gratuitos. Outros pontos fortes são análise e disseminação das informações, sistema de informação online e bem estabelecido e redes de pesquisa em malária. Em contrapartida, os principais desafios são a falta de estruturação na vigilância como estratégia para eliminação da endemia e o difícil acesso a localidades remotas com baixa cobertura de diagnóstico, principalmente áreas indígenas e de garimpos.

Dando sequência, o pesquisador Ric Price, da Universidade Charles Darwin (Austrália), discorreu sobre os desafios e oportunidades para a eliminação do parasita Plasmodium vivax na região da Ásia Pacífico (localidade que compreende a Oceania, Ásia Oriental, além do Sul e Sudeste da Ásia). Price afirmou que, apesar dos obstáculos encontrados pelos países endêmicos para malária parecerem semelhantes, há heterogeneidade no combate à doença que faz cada região necessitar de atenção específica.

A eficiência de fármacos esteve em foco na palestra do professor Ric Price, da Universidade Charles Darwin. Foto: Peter Ilicciev

Price apresentou estudos recentes sobre os medicamentos utilizados para o tratamento da malária e salientou que, ainda que algumas das medicações estejam disponíveis há bastante tempo, seu uso permanece inadequado. O pesquisador acrescentou também que novas ferramentas e estratégias precisam ser adaptadas aos cenários endêmicos locais, e que se altos investimentos forem realizados no presente, custos serão reduzidos futuramente.

Assim como muitos países na África, Angola enfrenta uma endemia grave de malária. Não obstante, a nação africana encara também algumas circunstâncias específicas que dificultam ainda mais a erradicação da doença, como apontou Filomeno Fortes, da Universidade Nova de Lisboa (Portugal). A comercialização de antimaláricos falsos, insuficiência de recursos no combate ao mosquito vetor e dificuldades no aumento da cobertura no tratamento preventivo com gestantes são alguns desses desafios.

Para Fortes, Angola não possui condições de assumir um compromisso de erradicação da doença na atualidade, precisando alcançar ainda o estágio de controle da endemia. No entanto, o pesquisador destaca que a maior distribuição e utilização de testes rápidos para o diagnóstico diferencial de doenças endêmicas no país contribuiria para a identificação mais rápida de casos de malária, possibilitando o tratamento mais oportuno.

Encerrando a sessão, o pesquisador Shigeyuki Kano, diretor do Departamento de Medicina Tropical e Malária no Centro Nacional para Saúde Global e Medicina (NCGM – Japão), lembrou a apreensão dos especialistas no início da pandemia da Covid-19 sobre os impactos negativos que a emergência mundial em saúde poderia ter nos recentes avanços no controle da malária. Kano destacou que a previsão da OMS era que mortes pela infecção poderiam dobrar em 2020 na África subsaariana. Entretanto, devido às ações urgentes realizadas por vários países, o cenário foi contornado.

Aprofundando o tema de sua palestra, o pesquisador discutiu tecnologias disponíveis para o diagnóstico da malária, diferenciando-as pelo potencial de uso em países endêmicos e não-endêmicos. Kano reforçou a importância de detectar portadores assintomáticos da doença, tendo em vista que são indivíduos que não irão procurar tratamentos, passando despercebidos pela vigilância passiva e servindo de reservatórios silenciosos para a transmissão da infecção.

Outros debates

O segundo dia da XVI RNPM também contou com sessões científicas sobre medicamentos com Richard Culleton (Ehime University), Fabio Costa (Unicamp), Wuelton M. Monteiro (FMT-HVD), Nubia Boechat (Farmanguinhos/Fiocruz) e Daniel Bargieri (USP); e sobre a pesquisa em malária no Brasil com Marcela Dourado (SVS/MS), Sheila Rodovalho (OPAS, Brasília) e Marcus Vinicius G. Lacerda (ILMD/Fiocruz).

As atividades vão até quinta-feira, 28 de abril. Clique aqui e confira a programação completa.

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)