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Mundo ganhará em breve uma nova e eficaz vacina contra a malária

O imunizante desenvolvido pelo pesquisador irlandês Adrian Hill, da Universidade de Oxford, foi um dos destaques do terceiro dia da 16ª Reunião Nacional de Pesquisa em Malária
Por Max Gomes28/04/2022 - Atualizado em 30/06/2022

Há mais de um século, a comunidade científica tenta desenvolver uma vacina eficaz contra a malária. Tendo em vista a alta relevância do assunto, o tema não poderia ficar de fora da programação da 16ª edição da Reunião Nacional de Pesquisa em Malária (XVI RNPM), sendo um dos destaques do terceiro dia de evento, que aconteceu na última quarta-feira, 27 de abril.

Para discorrer sobre o tópico, o evento recebeu o pesquisador irlandês Adrian Hill, do Jenner Institute, da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Hill é um dos líderes da equipe responsável pelo desenvolvimento da vacina de Oxford/AstraZeneca contra a Covid-19 e concentra seus esforços no desenvolvimento da vacina R21/MM – imunizante que tem demonstrado alta eficácia contra a malária e que avançou recentemente para as etapas finais de testes.

Adrian Hill apresentou resultados de ensaios realizados com a vacina R21/MM. Foto: Peter Ilicciev

O pesquisador afirmou que este é “um período incrível para as vacinas contra a malária” e vê como promissoras as recentes conquistas para o enfrentamento desse antigo agravo. Entre os progressos alcançados, Adrian mencionou a vacina RTS,S/AS01 (conhecida também pelo nome comercial Mosquirix), primeiro imunizante recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para o uso em larga escala.

O cientista também elencou a R21/MM, que ultrapassou a marca pré-estabelecida pela OMS de 75% de eficiência após dois anos, tornando-se a candidata a vacina mais eficaz contra a doença na atualidade; a PfRH5 e a PvDBP, duas vacinas de estágio sanguíneo que mostraram eficiência em ensaios controlados de infecção com malária humana (CHMI); e a Pfs230D1M, uma vacina bloqueadora de transmissão do Plasmodium falciparum que apresentou 74% de eficiência no primeiro estudo de eficácia de campo. 

“De repente, diferentes vacinas [para malária] se mostraram eficientes. Acredito que o potencial delas impactarem essa doença pela primeira vez nos próximos dois ou cinco anos é extraordinário”, afirmou Adrian.

A sessão foi mediada por Irene Soares, da Universidade de São Paulo (USP), e Josué da Costa Lima Junior, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Foto: Peter Ilicciev

Com a apresentação de resultados recentes do imunizante no qual está trabalhando, Adrian declarou que a R21/MM está assumindo a posição da RTS,S/AS01 como a vacina mais eficiente contra malária, baseado no uso controlado em crianças do continente africano. Além do seu potencial imunológico, a R21/MM possui uma grande vantagem comercial devido ao menor custo de fabricação, a partir de 3 dólares por dose. E isso combinado com a capacidade de produção em larga escala em razão da parceria da Universidade de Oxford com o Instituto Serum da Índia, que permite produzir cerca de 200 milhões de vacinas por ano, oportunizando uma eventual prevenção de centenas de milhares de mortes por ano.

O pesquisador lembra que a R21/MM está em sua terceira fase, com testes para serem realizados durante e fora dos períodos de maior incidência de malária em países da África. Caso os resultados sejam positivos e o imunizante seja aprovado pela OMS, ele possivelmente poderá ser utilizado a partir do próximo ano.

Anticorpos e tratamentos

O desenvolvimento de anticorpos monoclonais (mAb) para a prevenção da malária também foi tema da sessão. Robert Seder, do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID-NIH), dos Estados Unidos, compartilhou estudos da primeira geração desses anticorpos, conhecida como mAb CIS43, e a descoberta recente e ensaios clínicos de uma segunda geração da tecnologia, a mAb L9 – com potencial de ser até duas ou três vezes mais eficiente que seu predecessor.

De acordo com Seder, o uso de anticorpos monoclonais pode ser vantajoso por atingir regiões específicas no parasito e pela limitada interferência na imunidade pré-existente à malária. O cientista destaca também que a tecnologia apresenta alto potencial de eficácia com apenas uma dose e pode possuir uma tolerabilidade melhor que vacinas e uma menor resistência que medicamentos.

Robert Seder, Caroline Junqueira e Joana Carneiro da Silva durante a sessão “Imunidade, vacinas e imunoterapias”. Fotos: Peter Ilicciev / Arte: Jefferson Mendes

Robert discorreu ainda que essa classe de anticorpos pode ser utilizada em intervenções de controle da malária em regiões endêmicas; na proteção de gestantes em diferentes estágios da gravidez, bem como na proteção de profissionais de saúde e militares que viajam a serviço para regiões com alta incidência da infecção; e para atender o objetivo internacional da erradicação mundial da malária.

A sessão ‘Imunidade, vacinas e imunoterapias’ também contou com a participação de Joana Carneiro da Silva, da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, e Caroline Junqueira, do Instituto René Rachou (Fiocruz-Minas). Joana debateu sobre a identificação de alvos em espécies de Plasmodium, enquanto Caroline apresentou estudos sobre imunidade em malária com base em células T gama-delta e destacou que “o mundo está desesperado por uma vacina contra a malária”, sendo a diversidade de espécies do parasito uma das maiores dificuldades atuais no tratamento da infecção. 

Para Caroline, é preciso ir além da imunidade mediada por anticorpos e explorar a imunidade convencional de células T, tal como aumentar o repertório de candidatos a antígenos para uma vacina, indo além dos estudos atuais com antígenos de proteína.

Mais debates

O terceiro dia de evento também contou com sessões sobre “Patogênese e relevância translacional de modelos in vitro e in vivo”, com Georges Grau (Univ Sidney), Sabrina Epiphanio (USP), Roberto Moraes Barros (Unifesp) e Stefanie Costa Pinto Lopes (ILMD-Fiocruz); e “Diagnóstico da malária”, com Giselle Rachid Viana (IEC), Maria de la Paz Ade y Torrent (OPAS, Washington), Gisely Melo (FMT-HVD) e Marcelo Addas-Carvalho (Unicamp).

Nos intervalos das sessões científicas, doutores e pós-doutores de diversas instituições nacionais também realizaram apresentações de estudos de ponta, como “alterações neuroquímicas associadas a disfunções neurológicas em modelo murino de malária cerebral” e “Dinâmica e imunomodulação de déficits cognitivos e alterações comportamentais da malária não grave experimental”.

O imunizante desenvolvido pelo pesquisador irlandês Adrian Hill, da Universidade de Oxford, foi um dos destaques do terceiro dia da 16ª Reunião Nacional de Pesquisa em Malária
Por: 
max.gomes

Há mais de um século, a comunidade científica tenta desenvolver uma vacina eficaz contra a malária. Tendo em vista a alta relevância do assunto, o tema não poderia ficar de fora da programação da 16ª edição da Reunião Nacional de Pesquisa em Malária (XVI RNPM), sendo um dos destaques do terceiro dia de evento, que aconteceu na última quarta-feira, 27 de abril.

Para discorrer sobre o tópico, o evento recebeu o pesquisador irlandês Adrian Hill, do Jenner Institute, da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Hill é um dos líderes da equipe responsável pelo desenvolvimento da vacina de Oxford/AstraZeneca contra a Covid-19 e concentra seus esforços no desenvolvimento da vacina R21/MM – imunizante que tem demonstrado alta eficácia contra a malária e que avançou recentemente para as etapas finais de testes.

Adrian Hill apresentou resultados de ensaios realizados com a vacina R21/MM. Foto: Peter Ilicciev

O pesquisador afirmou que este é “um período incrível para as vacinas contra a malária” e vê como promissoras as recentes conquistas para o enfrentamento desse antigo agravo. Entre os progressos alcançados, Adrian mencionou a vacina RTS,S/AS01 (conhecida também pelo nome comercial Mosquirix), primeiro imunizante recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para o uso em larga escala.

O cientista também elencou a R21/MM, que ultrapassou a marca pré-estabelecida pela OMS de 75% de eficiência após dois anos, tornando-se a candidata a vacina mais eficaz contra a doença na atualidade; a PfRH5 e a PvDBP, duas vacinas de estágio sanguíneo que mostraram eficiência em ensaios controlados de infecção com malária humana (CHMI); e a Pfs230D1M, uma vacina bloqueadora de transmissão do Plasmodium falciparum que apresentou 74% de eficiência no primeiro estudo de eficácia de campo. 

“De repente, diferentes vacinas [para malária] se mostraram eficientes. Acredito que o potencial delas impactarem essa doença pela primeira vez nos próximos dois ou cinco anos é extraordinário”, afirmou Adrian.

A sessão foi mediada por Irene Soares, da Universidade de São Paulo (USP), e Josué da Costa Lima Junior, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Foto: Peter Ilicciev

Com a apresentação de resultados recentes do imunizante no qual está trabalhando, Adrian declarou que a R21/MM está assumindo a posição da RTS,S/AS01 como a vacina mais eficiente contra malária, baseado no uso controlado em crianças do continente africano. Além do seu potencial imunológico, a R21/MM possui uma grande vantagem comercial devido ao menor custo de fabricação, a partir de 3 dólares por dose. E isso combinado com a capacidade de produção em larga escala em razão da parceria da Universidade de Oxford com o Instituto Serum da Índia, que permite produzir cerca de 200 milhões de vacinas por ano, oportunizando uma eventual prevenção de centenas de milhares de mortes por ano.

O pesquisador lembra que a R21/MM está em sua terceira fase, com testes para serem realizados durante e fora dos períodos de maior incidência de malária em países da África. Caso os resultados sejam positivos e o imunizante seja aprovado pela OMS, ele possivelmente poderá ser utilizado a partir do próximo ano.

Anticorpos e tratamentos

O desenvolvimento de anticorpos monoclonais (mAb) para a prevenção da malária também foi tema da sessão. Robert Seder, do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID-NIH), dos Estados Unidos, compartilhou estudos da primeira geração desses anticorpos, conhecida como mAb CIS43, e a descoberta recente e ensaios clínicos de uma segunda geração da tecnologia, a mAb L9 – com potencial de ser até duas ou três vezes mais eficiente que seu predecessor.

De acordo com Seder, o uso de anticorpos monoclonais pode ser vantajoso por atingir regiões específicas no parasito e pela limitada interferência na imunidade pré-existente à malária. O cientista destaca também que a tecnologia apresenta alto potencial de eficácia com apenas uma dose e pode possuir uma tolerabilidade melhor que vacinas e uma menor resistência que medicamentos.

Robert Seder, Caroline Junqueira e Joana Carneiro da Silva durante a sessão “Imunidade, vacinas e imunoterapias”. Fotos: Peter Ilicciev / Arte: Jefferson Mendes

Robert discorreu ainda que essa classe de anticorpos pode ser utilizada em intervenções de controle da malária em regiões endêmicas; na proteção de gestantes em diferentes estágios da gravidez, bem como na proteção de profissionais de saúde e militares que viajam a serviço para regiões com alta incidência da infecção; e para atender o objetivo internacional da erradicação mundial da malária.

A sessão ‘Imunidade, vacinas e imunoterapias’ também contou com a participação de Joana Carneiro da Silva, da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, e Caroline Junqueira, do Instituto René Rachou (Fiocruz-Minas). Joana debateu sobre a identificação de alvos em espécies de Plasmodium, enquanto Caroline apresentou estudos sobre imunidade em malária com base em células T gama-delta e destacou que “o mundo está desesperado por uma vacina contra a malária”, sendo a diversidade de espécies do parasito uma das maiores dificuldades atuais no tratamento da infecção. 

Para Caroline, é preciso ir além da imunidade mediada por anticorpos e explorar a imunidade convencional de células T, tal como aumentar o repertório de candidatos a antígenos para uma vacina, indo além dos estudos atuais com antígenos de proteína.

Mais debates

O terceiro dia de evento também contou com sessões sobre “Patogênese e relevância translacional de modelos in vitro e in vivo”, com Georges Grau (Univ Sidney), Sabrina Epiphanio (USP), Roberto Moraes Barros (Unifesp) e Stefanie Costa Pinto Lopes (ILMD-Fiocruz); e “Diagnóstico da malária”, com Giselle Rachid Viana (IEC), Maria de la Paz Ade y Torrent (OPAS, Washington), Gisely Melo (FMT-HVD) e Marcelo Addas-Carvalho (Unicamp).

Nos intervalos das sessões científicas, doutores e pós-doutores de diversas instituições nacionais também realizaram apresentações de estudos de ponta, como “alterações neuroquímicas associadas a disfunções neurológicas em modelo murino de malária cerebral” e “Dinâmica e imunomodulação de déficits cognitivos e alterações comportamentais da malária não grave experimental”.

Edição: 
Vinicius Ferreira

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)