Em um estudo recém-publicado na revista científica ‘Nature’, uma das mais importantes do mundo, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Telethon de Genética e Medicina (Tigem), da Itália, desvendam o papel de uma molécula chave para a replicação do vírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19. De forma inédita, os cientistas caracterizam a atuação da proteína não estrutural 6 (conhecida pela sigla em inglês, NSP6) na formação dos sítios de replicação viral no interior da célula hospedeira. A pesquisa mostra ainda que diversas variantes do coronavírus apresentam aumento da atividade dessa molécula devido a uma variação genética, o que pode ajudar o vírus a se replicar de forma mais eficiente dentro da célula.
“A maior parte dos estudos sobre variantes do coronavírus se concentra nas mutações que alteram a superfície da partícula viral, que podem ajudar o vírus a escapar da ação dos anticorpos e facilitar a entrada na célula, onde poderá se replicar e, assim, estabelecer a infecção. No nosso trabalho, olhamos para outro aspecto: a capacidade replicativa do vírus. Identificamos que uma alteração na proteína NSP6, que ocorre em diferentes variantes genéticas de preocupação, representa um ganho de função para o patógeno”, afirma a chefe do Laboratório de Imunofarmacologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e uma das autoras do artigo, Patrícia Bozza.
Pelo menos seis variantes de preocupação do coronavírus apresentam um conjunto de deleções no genoma – isto é, ausência de trechos do código genético – que resulta na produção de uma proteína NSP6 de tamanho reduzido. Entre estas, estão duas linhagens que tiveram grande disseminação: a alfa, que emergiu no Reino Unido no final de 2020 e se espalhou rapidamente no país, e a gama, que emergiu no Brasil no mesmo período e se tornou responsável pelo maior número de mortes da pandemia no território brasileiro.
Além disso, na linhagem BA.2 da variante ômicron, o gene que codifica a proteína NSP6 também apresenta variações, sugerindo que há pressão seletiva sobre a função desta proteína. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), essa linhagem é predominante em mais de 60 países atualmente.