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Acolhimento e representatividade na pesquisa e no ensino em destaque no segundo dia da Semana da Pós-graduação

Evento recebeu autoridades transexuais que debateram a construção de políticas pública de saúde para toda a população
Por Vinicius Ferreira26/09/2023 - Atualizado em 03/10/2023

:: Confira a cobertura especial

Estudantes e pesquisadores reunidos ao final do segundo dia de atividades após palestras que abordaram temas de relevância para a vida acadêmica e social. Foto: Gutemberg Brito

Acolhimento e representatividade. Esses foram os princípios que nortearam o segundo dia de atividades da Semana da Pós-graduação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), realizado nesta terça-feira (26).

Logo na primeira mesa-redonda, os discentes tiveram acesso a diversas informações de valor ímpar para o trilhar acadêmico, como canais de escuta e acolhimento, materiais de apoio estudantil, instância de promoção de bem-estar e integração entre os estudantes, além de serviços e acervos científicos que contribuem para o aperfeiçoamento das pesquisas desenvolvidas durante os cursos de mestrado e doutorado.

Com o tema ‘Conexões que transformam: rede de apoio para estudantes de pós-graduação do IOC’, a mesa contou com a presença da coordenadora do Centro de Apoio ao Discente (CAD) da Fiocruz, Etinete do Nascimento Gonçalves. 

Vinculada à Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação, a instância é responsável por propor e realizar ações que favoreçam o bem-estar e a integração entre estudantes, além de oferecer apoio em situações individuais e coletivas que possam interferir no desempenho acadêmico e profissional dos alunos.

A criação do CAD é o reconhecimento institucional da existência do impacto de questões não acadêmicas, de caráter social ou emocional, no desempenho estudantil, bem como o sofrimento mental decorrente do intenso estresse na formação.

Etinete e Andrea Pons: reflexões em torno do apoio ao discente e acesso a equipamento de última geração para pesquisa. Foto: Gutemberg Brito

Informativos sobre as Plataformas Tecnológicas Multiusuário do IOC também foram abordados. Conforme explicou a pesquisadora do Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos do Instituto, Andrea Henriques Pons, esses espaços contribuem para a realização de pesquisas de qualidade. Com equipamentos de alto desempenho e equipes especializadas nas tecnologias disponíveis, as Plataformas apoiam aos usuários em todas as etapas da aquisição de dados. 

As Plataformas contemplam diversas tecnologias, incluindo água grau reagente, análise de fragmentos, bioensaios, bioinformática, cabines de nível de biossegurança 3 (NB3), citometria de fluxo, eletroforese, espectrometria de massas, microscopia eletrônica, PCR em tempo real, ressonância plasmônica de superfície, sequenciamento de alto desempenho, sequenciamento de DNA e triagem de fármacos.

Outros espaços institucionais que contribuem para a realização de pesquisas de muitos estudantes são as Coleções Biológicas. Apresentado pela vice-diretora de Laboratórios de Referência, Ambulatórios e Coleções Biológicas do IOC, Elizabeth Ferreira Rangel. 

Atualmente, o Instituto conta com 19 Coleções institucionalizadas. As mais antigas datam do início do século XX. Elas são destaque entre as ações de preservação de patrimônio da Fiocruz e conservam milhões de amostras de insetos, fungos, bactérias, protozoários, helmintos, moluscos e outros.

Já a vice-diretora de Desenvolvimento Institucional e Gestão do IOC, Wania Regina Santiago, apresentou aos discentes algumas das ações da Comissão Interna de Valorização das Relações Interpessoais do IOC.

Elizabeth Rangel (esq.) e Wania Santiago: palestras abordaram de Coleções Biológicas a iniciativas de escuta e acolhimento. Foto: Gutemberg Brito

Com objetivo principal de incentivar relações de trabalho e ensino justas e saudáveis, a Comissão se propõem a trabalhar as relações interpessoais criando estratégias de sensibilização no Instituto sobre questões que dificultam as mesmas, como forma de prevenção das diferentes manifestações de violência nas relações.

Dentre as iniciativas destacadas, estão a NETQUETA, que é um guia para auxiliar profissionais e estudantes com dicas e orientações sobre como se comportar adequadamente na interação virtual, minimizando ruídos na comunicação; o ACOLHE IOC, ferramenta que recebe demandas sobre situações que estejam ocorrendo nos ambientes de trabalho e/ou ensino; além da Cartilha sobre Assédio Moral e Sexual e a realização de rodas de conversas para compartilhamento das relações interpessoais.

Representatividade no Ensino

Dando sequência às discussões, a Semana da Pós-graduação promoveu, pela primeira vez no Instituto, a realização de uma mesa-redonda sobre diversidade e unicamente com integrantes da comunidade LGBTQIAPN+. 

No auditório Emmanuel Dias, palco de importantes discussões e deliberações que movimentam e conduzem os passos de toda a Unidade, a mesa ‘A força da diversidade: importância da representatividade LGBTQIAPN+ na pesquisa’ recebeu a professora e primeira mulher trans eleita na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), Danieli Christovão Balbi, e a assessora de Políticas de Inclusão, Diversidade e Equidade em Saúde do Ministério da Saúde, Alicia Kruger. A moderação ficou a cargo de Hugo Amorim, representante discente do IOC.

Pela primeira vez na história do IOC, duas mulheres transexuais atuaram como palestrantes. Foto: Gutemberg Brito

Balbi iniciou sua fala destacando o papel da Fiocruz na abertura de oportunidades para públicos diversos, de grupos sociais historicamente marginalizados, atuarem tanto na pesquisa quanto no ensino. Salientou que, enquanto usuária do Sistema Único de Saúde (SUS) e cidadã marginalizada, entende que há a necessidade de fortalecimento das instituições que promovem saúde e que toda a grande área da administração pública precisa reconhecer o histórico de perseguição e exclusão da classe trabalhadora e outros públicos, pois dessa forma será possível desenvolver e implementar programas que visem a equidade de direito à saúde de toda a população.

"Por muitos anos a saúde da população LGBTQIAPN+ foi negligenciada. Na época da fundação da Fiocruz, por exemplo, no início do século XX, os negros, as mulheres e os pobres não eram tidos como prioridade. Pior, eram vistos como a causa das mazelas da sociedade. As políticas públicas de saúde eram determinadas por uma hegemonia masculina e branca", recordou.

"O tempo foi passando e começamos a ver alguns pesquisadores, a maioria homem, com algum tipo de preocupação social, fazendo correlações entre saúde plena e sociedade para garantir qualidade de vida e longevidade para a população", pontualizou a deputada.

A professora reconheceu que da Fiocruz saíram especialistas que contribuíram para a criação de um dos maiores e melhores sistemas de saúde do mundo, o SUS, e que considera isso como a maior conquista da população brasileira, especialmente para a classe trabalhadora.

Palestras de Alicia e Dani enfatizaram a importância de os futuros mestres e doutores atuarem em prol da saúde das populações historicamente marginalizadas. Foto: Gutemberg Brito

"Antes do SUS o direito à assistência médica não era um direito estendido para o conjunto da classe trabalhadora. O acesso era isolado e destinado a poucos. Hoje, do básico ao complexo, todos os cidadãos têm a oportunidade de receberem atendimento", comemorou.

Balbi finalizou rememorando o recente período de obscurantismo no país como um todo, inclusive na ciência, com frequentes tentativas de desmantelamento do trabalho de cada pesquisador e pesquisadora na produção de conhecimento para uma melhor saúde de mulheres cis e trans, estudos que visavam saneamento básico, agua potável, alimentação regular, desenvolvimento de vacinas e outros.

"Atualmente, vivemos um momento muito importante de reconquista de direitos e de liberdade, mas não podemos esquecer que ainda há resistências. Assim como lutamos na política para aumentar a presença de parlamentares mulheres, negros e pessoas LGBTQIAPN+, precisamos lutar para que esse mesmo público tenha presença e protagonismo na ciência", finalizou Danieli Balbi.

Dando continuidade às discussões, Alicia Kruger começou sua fala debruçando-se sobre as diferenças entre igualdade e equidade, duas palavras muito bradadas atualmente. Ela explicou que enquanto a igualdade promove as mesmas oportunidades para todas as pessoas independentemente de suas necessidades, a equidade visa o ajuste do desequilíbrio entre elas, considerando suas particularidades e promovendo a equiparação entre os meios de alcançar um mesmo resultado.

"Não adianta acharmos que dar as mesmas condições para todos é a solução para os problemas, pois nem todos têm ou tiveram as mesmas condições sociais. As políticas públicas pensadas para as pessoas LGBTQIAPN+ precisam considerar as especificidades desse público, historicamente colocado à margem de direitos básicos", desabafou.

A assessora mostrou que uma pesquisa publicada na revista 'Nature' estimou que no Brasil há cerca de 4 milhões de pessoas que se identifiquem como trans e não-binárias.

"Se temos tantas pessoas trans no país, era de se esperar que esse público tivesse mais visibilidade e acesso aos serviços e tecnologias em saúde", ponderou. "No entanto, não é essa a realidade", ressaltou. 

Outro dado que chamou a atenção foi um levantamento do Ministério da Saúde que evidenciou que dentre as pessoas infectadas pelo vírus HIV (que atinge 0,4% da população), cerca de 5,3% são mulheres profissionais do sexo, 6,9% são usuários de drogas, 18,4% são homens gays cis e 36,7% são mulheres trans. Segundo a assessora, tendo em vista essa realidade, é preciso analisar a sindemia e os determinantes sociais que levam a esses números.

Alicia Kruger (esq.), Hugo Amorim e Dani Balbi. Foto: Gutemberg Brito

"Fatores de risco individuais não são suficientes para explicar esse cenário. Há relações injustas de poder relacionadas à violência, pobreza, machismo, sexismo, estigma, discriminação, LGBTfobia, entre outros. São flagrantes ameaças aos diretos fundamentais de pessoas LGBTQIAPN+", disse.

"E mesmo que a maioria das infecções seja em mulheres trans, o público que tem maior a acesso ao PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) são homens gays cis, brancos e com alta escolaridade. Dessa forma, estamos desenvolvendo uma política de promoção ao acesso à prevenção combinada ao HIV em serviços de saúde para pessoas trans e nao binárias. Um projeto em parceria com a Fiocruz e Organização Pan-Americana da Saúde. Serão distribuídos PrEPs em centros de saúde de atenção especial à referida população", adiantou a novidade.

De forma inédita, a assessora contou que foi produzido ainda um boletim epidemiológico que engloba informações de saúde de todas as pessoas que se identificam com o gênero feminino do país, nao somente as mulheres cis, e que dessa forma será possível compreender com mais clareza as necessidades desse público como um todo.

Evento recebeu autoridades transexuais que debateram a construção de políticas pública de saúde para toda a população
Por: 
viniciusferreira

:: Confira a cobertura especial

Estudantes e pesquisadores reunidos ao final do segundo dia de atividades após palestras que abordaram temas de relevância para a vida acadêmica e social. Foto: Gutemberg Brito

Acolhimento e representatividade. Esses foram os princípios que nortearam o segundo dia de atividades da Semana da Pós-graduação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), realizado nesta terça-feira (26).

Logo na primeira mesa-redonda, os discentes tiveram acesso a diversas informações de valor ímpar para o trilhar acadêmico, como canais de escuta e acolhimento, materiais de apoio estudantil, instância de promoção de bem-estar e integração entre os estudantes, além de serviços e acervos científicos que contribuem para o aperfeiçoamento das pesquisas desenvolvidas durante os cursos de mestrado e doutorado.

Com o tema ‘Conexões que transformam: rede de apoio para estudantes de pós-graduação do IOC’, a mesa contou com a presença da coordenadora do Centro de Apoio ao Discente (CAD) da Fiocruz, Etinete do Nascimento Gonçalves. 

Vinculada à Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação, a instância é responsável por propor e realizar ações que favoreçam o bem-estar e a integração entre estudantes, além de oferecer apoio em situações individuais e coletivas que possam interferir no desempenho acadêmico e profissional dos alunos.

A criação do CAD é o reconhecimento institucional da existência do impacto de questões não acadêmicas, de caráter social ou emocional, no desempenho estudantil, bem como o sofrimento mental decorrente do intenso estresse na formação.

Etinete e Andrea Pons: reflexões em torno do apoio ao discente e acesso a equipamento de última geração para pesquisa. Foto: Gutemberg Brito

Informativos sobre as Plataformas Tecnológicas Multiusuário do IOC também foram abordados. Conforme explicou a pesquisadora do Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos do Instituto, Andrea Henriques Pons, esses espaços contribuem para a realização de pesquisas de qualidade. Com equipamentos de alto desempenho e equipes especializadas nas tecnologias disponíveis, as Plataformas apoiam aos usuários em todas as etapas da aquisição de dados. 

As Plataformas contemplam diversas tecnologias, incluindo água grau reagente, análise de fragmentos, bioensaios, bioinformática, cabines de nível de biossegurança 3 (NB3), citometria de fluxo, eletroforese, espectrometria de massas, microscopia eletrônica, PCR em tempo real, ressonância plasmônica de superfície, sequenciamento de alto desempenho, sequenciamento de DNA e triagem de fármacos.

Outros espaços institucionais que contribuem para a realização de pesquisas de muitos estudantes são as Coleções Biológicas. Apresentado pela vice-diretora de Laboratórios de Referência, Ambulatórios e Coleções Biológicas do IOC, Elizabeth Ferreira Rangel. 

Atualmente, o Instituto conta com 19 Coleções institucionalizadas. As mais antigas datam do início do século XX. Elas são destaque entre as ações de preservação de patrimônio da Fiocruz e conservam milhões de amostras de insetos, fungos, bactérias, protozoários, helmintos, moluscos e outros.

Já a vice-diretora de Desenvolvimento Institucional e Gestão do IOC, Wania Regina Santiago, apresentou aos discentes algumas das ações da Comissão Interna de Valorização das Relações Interpessoais do IOC.

Elizabeth Rangel (esq.) e Wania Santiago: palestras abordaram de Coleções Biológicas a iniciativas de escuta e acolhimento. Foto: Gutemberg Brito

Com objetivo principal de incentivar relações de trabalho e ensino justas e saudáveis, a Comissão se propõem a trabalhar as relações interpessoais criando estratégias de sensibilização no Instituto sobre questões que dificultam as mesmas, como forma de prevenção das diferentes manifestações de violência nas relações.

Dentre as iniciativas destacadas, estão a NETQUETA, que é um guia para auxiliar profissionais e estudantes com dicas e orientações sobre como se comportar adequadamente na interação virtual, minimizando ruídos na comunicação; o ACOLHE IOC, ferramenta que recebe demandas sobre situações que estejam ocorrendo nos ambientes de trabalho e/ou ensino; além da Cartilha sobre Assédio Moral e Sexual e a realização de rodas de conversas para compartilhamento das relações interpessoais.

Representatividade no Ensino

Dando sequência às discussões, a Semana da Pós-graduação promoveu, pela primeira vez no Instituto, a realização de uma mesa-redonda sobre diversidade e unicamente com integrantes da comunidade LGBTQIAPN+. 

No auditório Emmanuel Dias, palco de importantes discussões e deliberações que movimentam e conduzem os passos de toda a Unidade, a mesa ‘A força da diversidade: importância da representatividade LGBTQIAPN+ na pesquisa’ recebeu a professora e primeira mulher trans eleita na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), Danieli Christovão Balbi, e a assessora de Políticas de Inclusão, Diversidade e Equidade em Saúde do Ministério da Saúde, Alicia Kruger. A moderação ficou a cargo de Hugo Amorim, representante discente do IOC.

Pela primeira vez na história do IOC, duas mulheres transexuais atuaram como palestrantes. Foto: Gutemberg Brito

Balbi iniciou sua fala destacando o papel da Fiocruz na abertura de oportunidades para públicos diversos, de grupos sociais historicamente marginalizados, atuarem tanto na pesquisa quanto no ensino. Salientou que, enquanto usuária do Sistema Único de Saúde (SUS) e cidadã marginalizada, entende que há a necessidade de fortalecimento das instituições que promovem saúde e que toda a grande área da administração pública precisa reconhecer o histórico de perseguição e exclusão da classe trabalhadora e outros públicos, pois dessa forma será possível desenvolver e implementar programas que visem a equidade de direito à saúde de toda a população.

"Por muitos anos a saúde da população LGBTQIAPN+ foi negligenciada. Na época da fundação da Fiocruz, por exemplo, no início do século XX, os negros, as mulheres e os pobres não eram tidos como prioridade. Pior, eram vistos como a causa das mazelas da sociedade. As políticas públicas de saúde eram determinadas por uma hegemonia masculina e branca", recordou.

"O tempo foi passando e começamos a ver alguns pesquisadores, a maioria homem, com algum tipo de preocupação social, fazendo correlações entre saúde plena e sociedade para garantir qualidade de vida e longevidade para a população", pontualizou a deputada.

A professora reconheceu que da Fiocruz saíram especialistas que contribuíram para a criação de um dos maiores e melhores sistemas de saúde do mundo, o SUS, e que considera isso como a maior conquista da população brasileira, especialmente para a classe trabalhadora.

Palestras de Alicia e Dani enfatizaram a importância de os futuros mestres e doutores atuarem em prol da saúde das populações historicamente marginalizadas. Foto: Gutemberg Brito

"Antes do SUS o direito à assistência médica não era um direito estendido para o conjunto da classe trabalhadora. O acesso era isolado e destinado a poucos. Hoje, do básico ao complexo, todos os cidadãos têm a oportunidade de receberem atendimento", comemorou.

Balbi finalizou rememorando o recente período de obscurantismo no país como um todo, inclusive na ciência, com frequentes tentativas de desmantelamento do trabalho de cada pesquisador e pesquisadora na produção de conhecimento para uma melhor saúde de mulheres cis e trans, estudos que visavam saneamento básico, agua potável, alimentação regular, desenvolvimento de vacinas e outros.

"Atualmente, vivemos um momento muito importante de reconquista de direitos e de liberdade, mas não podemos esquecer que ainda há resistências. Assim como lutamos na política para aumentar a presença de parlamentares mulheres, negros e pessoas LGBTQIAPN+, precisamos lutar para que esse mesmo público tenha presença e protagonismo na ciência", finalizou Danieli Balbi.

Dando continuidade às discussões, Alicia Kruger começou sua fala debruçando-se sobre as diferenças entre igualdade e equidade, duas palavras muito bradadas atualmente. Ela explicou que enquanto a igualdade promove as mesmas oportunidades para todas as pessoas independentemente de suas necessidades, a equidade visa o ajuste do desequilíbrio entre elas, considerando suas particularidades e promovendo a equiparação entre os meios de alcançar um mesmo resultado.

"Não adianta acharmos que dar as mesmas condições para todos é a solução para os problemas, pois nem todos têm ou tiveram as mesmas condições sociais. As políticas públicas pensadas para as pessoas LGBTQIAPN+ precisam considerar as especificidades desse público, historicamente colocado à margem de direitos básicos", desabafou.

A assessora mostrou que uma pesquisa publicada na revista 'Nature' estimou que no Brasil há cerca de 4 milhões de pessoas que se identifiquem como trans e não-binárias.

"Se temos tantas pessoas trans no país, era de se esperar que esse público tivesse mais visibilidade e acesso aos serviços e tecnologias em saúde", ponderou. "No entanto, não é essa a realidade", ressaltou. 

Outro dado que chamou a atenção foi um levantamento do Ministério da Saúde que evidenciou que dentre as pessoas infectadas pelo vírus HIV (que atinge 0,4% da população), cerca de 5,3% são mulheres profissionais do sexo, 6,9% são usuários de drogas, 18,4% são homens gays cis e 36,7% são mulheres trans. Segundo a assessora, tendo em vista essa realidade, é preciso analisar a sindemia e os determinantes sociais que levam a esses números.

Alicia Kruger (esq.), Hugo Amorim e Dani Balbi. Foto: Gutemberg Brito

"Fatores de risco individuais não são suficientes para explicar esse cenário. Há relações injustas de poder relacionadas à violência, pobreza, machismo, sexismo, estigma, discriminação, LGBTfobia, entre outros. São flagrantes ameaças aos diretos fundamentais de pessoas LGBTQIAPN+", disse.

"E mesmo que a maioria das infecções seja em mulheres trans, o público que tem maior a acesso ao PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) são homens gays cis, brancos e com alta escolaridade. Dessa forma, estamos desenvolvendo uma política de promoção ao acesso à prevenção combinada ao HIV em serviços de saúde para pessoas trans e nao binárias. Um projeto em parceria com a Fiocruz e Organização Pan-Americana da Saúde. Serão distribuídos PrEPs em centros de saúde de atenção especial à referida população", adiantou a novidade.

De forma inédita, a assessora contou que foi produzido ainda um boletim epidemiológico que engloba informações de saúde de todas as pessoas que se identificam com o gênero feminino do país, nao somente as mulheres cis, e que dessa forma será possível compreender com mais clareza as necessidades desse público como um todo.

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)