O combate ao rotavÃrus no Brasil conta, desde março de 2006, com um importante aliado: a vacinação gratuita, incluÃda no calendário nacional de imunizações. A vacinação, no entanto, coloca um desafio para os cientistas: o rotavÃrus tipo A o maior responsável por casos de gastrenterite infantil aguda em todo o mundo pode apresentar uma série de pequenas variações genéticas, compondo um conjunto de diferentes genótipos. Por isso, eventualmente, mesmo uma criança vacinada poderá ser infectada e apresentar um quadro menos grave de gastrenterite aguda. Quando a criança se infecta pelo genótipo G1P[8] que é o mesmo genótipo utilizado na produção da vacina Rotarix®, adotada no Brasil , como, então, diferenciar se a amostra clÃnica da criança tem a presença de vÃrus vacinal ou selvagem?
Na busca de uma resposta para esta pergunta, os pesquisadores do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que atua como referência em rotaviroses junto ao Ministério da Saúde, estudou quais seriam mais adequado para uma diferenciação segura. O resultado é um método inovador, eficaz, altamente especÃfico e que pode ser executada em apenas 24 horas, o que é indispensável na investigação de situações de crianças vacinadas que foram novamente infectadas pelo rotavÃrus A.
Gutemberg Brito

Os pesquisadores José Paulo Leite, Marise Miagostovich e Tatiana Rose, do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC, fazem parte da equipe que desenvolveu uma nova aborgagem metodológica para diferenciar amostras selvagens da amostra vacinal de rotavÃrus A em 24 horas
RotavÃrus e vacinação
Os rotavÃrus A estão associados à s gastroenterites agudas e são responsáveis pela morte de aproximadamente 511 mil crianças menores de cinco anos, anualmente, principalmente nos paÃses em desenvolvimento. São transmitidos principalmente pelo contato oro-fecal, por água, alimentos e superfÃcies contaminadas, e pelo contato direto com pessoas infectadas, provocando um quadro de diarreia, vômito e febre branda nos pacientes.
A vacinação é a metodologia de controle mais eficaz contra o rotavÃrus, pois reduz a forma grave da doença. Para que consiga induzir imunidade para a doença, a vacina inclui em sua formulação partÃculas virais que foram atenuadas. No Brasil, a vacina adotada pelo Ministério da Saúde é a monovalente (G1P[8] / Rotarix®).
Joio e trigo
O Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC propõe uma nova abordagem para realizar a diferenciação. Atualmente, temos crianças que foram imunizadas com doses da vacina e que depois foram infectadas com rotavÃrus A. Então, a principal questão proposta pelo estudo é diferenciar, em uma determinada amostra, primeiramente se existe a presença do genótipo G1P[8] do rotavÃrus A e, em segundo lugar, analisar se este genótipo é de origem selvagem ou vacinal, explica José Paulo Leite, chefe do Laboratório e coordenador da pesquisa.
No estudo, os pesquisadores analisaram o genoma viral (chamado dsRNA, um RNA de dupla fita, contendo 11 segmentos) em amostras de três diferentes lotes da vacina Rotarix®. A partir das amostras, foram sequenciados dez dos onze genes do rotavÃrus A que codificam proteÃnas estruturais (VP1, VP2, VP3, VP4, VP6 e VP7) e não estruturais (NSP1, NSP3, NSP4 e NSP5). Estes genes foram amplificadas por técnicas de amplificação genômica (RT-PCR).
Foi realizada uma análise in silico, que comparou as sequências que conseguimos obter e aquelas sequências disponÃveis no GenBank para todos os genótipos de rotavÃrus, descreve o pesquisador. Por meio do estudo, foi observado que o gene que codifica para a proteÃna não estrutural NSP3 mostrou ser o mais adequado, permitindo a diferenciação de maneira mais fácil entre os genótipos G1 de origem vacinal e selvagem.
Atualmente, é preconizado o uso do gene que codifica para a NSP3 para se fazer o diagnóstico de rotavÃrus A pela metodologia de amplificação genômica quantitativa. Observamos que, pelo fato de possuir uma mutação única, este gene se enquadraria em nossa proposta, que consistia em obter um método fácil e relativamente rápido para fazer a distinção entre a amostra vacinal e selvagem dos rotavÃrus A genótipo G1, destacou Tatiana Rose, pesquisadora visitante do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC. A metodologia proposta tem como base a amplificação parcial do gene que codifica para a proteÃna NSP3, seguido de analise com a endonuclease de restrição BspHI’.
Vantagens
Anteriormente, um grupo holandês havia demonstrado a diferença entre amostra selvagem e vacinal do rotavÃrus A, com base na análise do gene VP7. Na proposta, foi utilizado um processo chamado de ‘hibridização lÃquida’. Além de ter um custo mais elevado, essa metodologia é mais longa, levando em média 48 horas para ser concluÃda.
Da mesma maneira que o método de hibridização lÃquida, o nosso método discrimina o tipo selvagem e vacinal com base em uma diferença em um único nucleotÃdeo. Porém, a técnica que desenvolvemos apresenta como principais vantagens o menor risco de reação cruzada e o menor custo em comparação a outros métodos publicados, compara o especialista José Paulo Leite.
Gutemberg Brito

A nova abordagem discrimina o tipo selvagem e vacinal com base em uma diferença em um único nucleotÃdeo, a técnica apresenta como principais vantagens o menor risco de reação cruzada e o menor custo em comparação a outros métodos publicados
Já para Tatiana Rose, outra vantagem do método é a redução do tempo de análise e a mão de obra necessária. A técnica que utilizamos é mais rápida e sensÃvel para distinguir entre o gene NSP3 da vacina Rotarix® do gene NSP3 da amostra selvagem do rotavÃrus A. Com o nosso método, em 24 horas é possÃvel saber se a amostra é vacinal ou selvagem, ressalta a pesquisadora.
Este trabalho possui uma importância muito grande em saúde pública, particularmente, no Brasil, na América Latina e nos paÃses que adotaram a vacina Rotarix®. O monitoramento dos genótipos circulantes é fundamental e a diferenciação entre amostras de genótipos G1 de origem vacinal e selvagem é crucial. Temos assim a possibilidade de avaliar o impacto do esquema vacinal na prevalência dos genótipos mais comuns, no surgimento de genótipos que ‘escapam’ à imunização, e nos permite ainda estudar a evolução dos rotavÃrus A, justifica José Paulo.
O estudo foi publicado na revista cientÃfica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. Esta pesquisa poderia ser publicado em revistas cientÃficas de virologia editadas no exterior, porém optamos por publicar em revista cientÃfica indexada brasileira. Por quê? Porque este trabalho teve apoio financeiro do Ministério da Saúde (IOC/Fiocruz), do CNPq, da Capes e da Faperj, foi integralmente realizado no Brasil e, assim, estamos valorizando o que é brasileiro, finaliza o pesquisador.
Cristiane Albuquerque
05/05/2011
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O combate ao rotavÃrus no Brasil conta, desde março de 2006, com um importante aliado: a vacinação gratuita, incluÃda no calendário nacional de imunizações. A vacinação, no entanto, coloca um desafio para os cientistas: o rotavÃrus tipo A o maior responsável por casos de gastrenterite infantil aguda em todo o mundo pode apresentar uma série de pequenas variações genéticas, compondo um conjunto de diferentes genótipos. Por isso, eventualmente, mesmo uma criança vacinada poderá ser infectada e apresentar um quadro menos grave de gastrenterite aguda. Quando a criança se infecta pelo genótipo G1P[8] que é o mesmo genótipo utilizado na produção da vacina Rotarix®, adotada no Brasil , como, então, diferenciar se a amostra clÃnica da criança tem a presença de vÃrus vacinal ou selvagem?
Na busca de uma resposta para esta pergunta, os pesquisadores do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que atua como referência em rotaviroses junto ao Ministério da Saúde, estudou quais seriam mais adequado para uma diferenciação segura. O resultado é um método inovador, eficaz, altamente especÃfico e que pode ser executada em apenas 24 horas, o que é indispensável na investigação de situações de crianças vacinadas que foram novamente infectadas pelo rotavÃrus A.
Gutemberg Brito

Os pesquisadores José Paulo Leite, Marise Miagostovich e Tatiana Rose, do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC, fazem parte da equipe que desenvolveu uma nova aborgagem metodológica para diferenciar amostras selvagens da amostra vacinal de rotavÃrus A em 24 horas
RotavÃrus e vacinação
Os rotavÃrus A estão associados à s gastroenterites agudas e são responsáveis pela morte de aproximadamente 511 mil crianças menores de cinco anos, anualmente, principalmente nos paÃses em desenvolvimento. São transmitidos principalmente pelo contato oro-fecal, por água, alimentos e superfÃcies contaminadas, e pelo contato direto com pessoas infectadas, provocando um quadro de diarreia, vômito e febre branda nos pacientes.
A vacinação é a metodologia de controle mais eficaz contra o rotavÃrus, pois reduz a forma grave da doença. Para que consiga induzir imunidade para a doença, a vacina inclui em sua formulação partÃculas virais que foram atenuadas. No Brasil, a vacina adotada pelo Ministério da Saúde é a monovalente (G1P[8] / Rotarix®).
Joio e trigo
O Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC propõe uma nova abordagem para realizar a diferenciação. Atualmente, temos crianças que foram imunizadas com doses da vacina e que depois foram infectadas com rotavÃrus A. Então, a principal questão proposta pelo estudo é diferenciar, em uma determinada amostra, primeiramente se existe a presença do genótipo G1P[8] do rotavÃrus A e, em segundo lugar, analisar se este genótipo é de origem selvagem ou vacinal, explica José Paulo Leite, chefe do Laboratório e coordenador da pesquisa.
No estudo, os pesquisadores analisaram o genoma viral (chamado dsRNA, um RNA de dupla fita, contendo 11 segmentos) em amostras de três diferentes lotes da vacina Rotarix®. A partir das amostras, foram sequenciados dez dos onze genes do rotavÃrus A que codificam proteÃnas estruturais (VP1, VP2, VP3, VP4, VP6 e VP7) e não estruturais (NSP1, NSP3, NSP4 e NSP5). Estes genes foram amplificadas por técnicas de amplificação genômica (RT-PCR).
Foi realizada uma análise in silico, que comparou as sequências que conseguimos obter e aquelas sequências disponÃveis no GenBank para todos os genótipos de rotavÃrus, descreve o pesquisador. Por meio do estudo, foi observado que o gene que codifica para a proteÃna não estrutural NSP3 mostrou ser o mais adequado, permitindo a diferenciação de maneira mais fácil entre os genótipos G1 de origem vacinal e selvagem.
Atualmente, é preconizado o uso do gene que codifica para a NSP3 para se fazer o diagnóstico de rotavÃrus A pela metodologia de amplificação genômica quantitativa. Observamos que, pelo fato de possuir uma mutação única, este gene se enquadraria em nossa proposta, que consistia em obter um método fácil e relativamente rápido para fazer a distinção entre a amostra vacinal e selvagem dos rotavÃrus A genótipo G1, destacou Tatiana Rose, pesquisadora visitante do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC. A metodologia proposta tem como base a amplificação parcial do gene que codifica para a proteÃna NSP3, seguido de analise com a endonuclease de restrição BspHI’.
Vantagens
Anteriormente, um grupo holandês havia demonstrado a diferença entre amostra selvagem e vacinal do rotavÃrus A, com base na análise do gene VP7. Na proposta, foi utilizado um processo chamado de ‘hibridização lÃquida’. Além de ter um custo mais elevado, essa metodologia é mais longa, levando em média 48 horas para ser concluÃda.
Da mesma maneira que o método de hibridização lÃquida, o nosso método discrimina o tipo selvagem e vacinal com base em uma diferença em um único nucleotÃdeo. Porém, a técnica que desenvolvemos apresenta como principais vantagens o menor risco de reação cruzada e o menor custo em comparação a outros métodos publicados, compara o especialista José Paulo Leite.
Gutemberg Brito

A nova abordagem discrimina o tipo selvagem e vacinal com base em uma diferença em um único nucleotÃdeo, a técnica apresenta como principais vantagens o menor risco de reação cruzada e o menor custo em comparação a outros métodos publicados
Já para Tatiana Rose, outra vantagem do método é a redução do tempo de análise e a mão de obra necessária. A técnica que utilizamos é mais rápida e sensÃvel para distinguir entre o gene NSP3 da vacina Rotarix® do gene NSP3 da amostra selvagem do rotavÃrus A. Com o nosso método, em 24 horas é possÃvel saber se a amostra é vacinal ou selvagem, ressalta a pesquisadora.
Este trabalho possui uma importância muito grande em saúde pública, particularmente, no Brasil, na América Latina e nos paÃses que adotaram a vacina Rotarix®. O monitoramento dos genótipos circulantes é fundamental e a diferenciação entre amostras de genótipos G1 de origem vacinal e selvagem é crucial. Temos assim a possibilidade de avaliar o impacto do esquema vacinal na prevalência dos genótipos mais comuns, no surgimento de genótipos que ‘escapam’ à imunização, e nos permite ainda estudar a evolução dos rotavÃrus A, justifica José Paulo.
O estudo foi publicado na revista cientÃfica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. Esta pesquisa poderia ser publicado em revistas cientÃficas de virologia editadas no exterior, porém optamos por publicar em revista cientÃfica indexada brasileira. Por quê? Porque este trabalho teve apoio financeiro do Ministério da Saúde (IOC/Fiocruz), do CNPq, da Capes e da Faperj, foi integralmente realizado no Brasil e, assim, estamos valorizando o que é brasileiro, finaliza o pesquisador.
Cristiane Albuquerque
05/05/2011
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Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)