Com palestras de três embaixadores, o Núcleo de Estudos Avançados do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) discutiu nesta quarta-feira, 04 de junho, o tema ‘Geopolítica e governo Trump: impactos na universidade, ciência, saúde e meio ambiente’.
A sessão abordou questões como o alcance das políticas do governo do presidente norte-americano, Donald Trump, riscos e oportunidades para o Brasil nas relações internacionais multilaterais e bilaterais e negociações internacionais em saúde, ciência e clima. O evento contou com participação de quatro pesquisadores de diferentes áreas científicas como debatedores.
Confira a íntegra da sessão:
Na abertura do evento, o coordenador do Núcleo de Estudos e pesquisador emérito da Fiocruz, Renato Cordeiro, enumerou ações do governo Trump com impacto global: das taxações de importações a medidas que atingem diretamente as áreas de ciência, saúde e meio ambiente.
“Duas decisões causaram forte impacto global, a retirada dos Estados Unidos da OMS [Organização Mundial da Saúde] e o acordo de Paris sobre clima. A saída do seu maior financiador afeta a sobrevivência estratégica da OMS e coloca em risco a preparação mundial para futuras emergências epidemiológicas. Por isso, é fundamental fortalecer cada vez mais o nosso Sistema Único de Saúde”, destacou Renato.
A subchefe do Escritório de Representação do Itamaraty em São Paulo, ex-embaixadora do Brasil em Gana e ex-cônsul-geral adjunta em Roma, Irene Vida Gala, apresentou informações e percepções da equipe do Itamaraty em Washington.
A embaixadora defendeu a necessidade de buscar as oportunidades disponíveis para o Brasil na relação com os Estados Unidos. Como exemplo, ela citou a reunião da Comissão Mista Brasil-EUA sobre Ciência e Tecnologia, que será realizada no segundo semestre para discutir parcerias.
Sobre os riscos, Irene salientou os “ecos ideológicos” de medidas que podem inspirar movimentos no Brasil, como as restrições a políticas afirmativas e de inclusão.
“Temos tradição de ligação com os Estados Unidos, mas somos convidados a buscar novos parceiros. Sem abrir mão do multilateralismo, buscando manter a resiliência desse sistema, temos que, ao mesmo tempo, migrar para esforços na área bilateral”, avaliou Irene.
O ex-Ministro da Fazenda e do Meio Ambiente e ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos e na Itália, Rubens Ricupero, ponderou sobre o alcance das medidas do governo Trump.
Ricupero observou que a influência norte-americana é menor atualmente, quando o país responde por 24% do PIB global, do que no pós-guerra, quando os EUA detinham 50% da riqueza do planeta. Também destacou a diversidade política interna do país, que possui estados com economias equivalentes a países inteiros.
O ex-ministro avaliou que o impacto do 'caráter nefasto’ das medidas de Trump será mais intenso nos Estados Unidos do que no resto do planeta. No entanto, chamou atenção para o avanço global da extrema direita, caracterizada por ele como “um movimento antirrazão e anticiência".
Nesse contexto, Ricupero defendeu a postura atual do Brasil. “Acho que Brasil fez bem em não estabelecer contato de nível presidencial com os Estados Unidos, porque se houvesse esse encontro seria uma emboscada. Os americanos já têm um lado escolhido no Brasil e temos que seguir na nossa autonomia. Mesmo na Guerra Fria, o Brasil não escolheu lado. Não vejo que o país se encontre numa situação pior agora do que naquele momento”, declarou.
O ex-embaixador do Brasil na Itália e ex-cônsul-geral em Buenos Aires, Adhemar Bahadian, que também representou o país junto à Organização das Nações Unidas (ONU), chamou atenção para a importância e os desafios das negociações internacionais no campo da saúde.
Bahadian recordou negociações sobre propriedade intelectual, quando os EUA atuaram para defender as proteções patentárias no setor farmacêutico.
“O tema do acesso a medicamentos é nevrálgico nas relações econômicas internacionais. Temos populações com carência de acesso a medicamentos e tribunais que autorizam pagamentos de medicamentos caríssimos, onerando a sociedade. Se houvesse reforma da lei nacional e internacional para o acesso mais equânime neste setor, o impacto disso seria muito menor”, afirmou.
O diplomata também elogiou a postura atual do Brasil e alertou para riscos em negociações bilaterais.
“Acordos comerciais bilaterais exigem muito cuidado, porque se forem firmados com as mesmas regras de hoje, continuaremos com os mesmos problemas", apontou Bahadian, que foi copresidente brasileiro das negociações sobre a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), encerradas em 2005.
Entre os temas trazidos pelos debatedores foram abordados: ações de protecionismo e abalo do multilateralismo na saúde, influência de disputas ideológicas e geopolíticas na ciência, papel das universidades enquanto espaço de debate de ideias e efeitos de cortes de verbas de ajuda humanitária dos Estados Unidos.
O debate teve a participação de:
Claudia Chamas, pesquisadora do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz);
Francilene Garcia, vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e professora de ciências da computação da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG);
João Carlos Salles, professor do curso de Filosofia da Universidade Federal da Bahia (UFBA); e
Luis Eugenio de Souza, professor do curso de Medicina e diretor do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA.
Com palestras de três embaixadores, o Núcleo de Estudos Avançados do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) discutiu nesta quarta-feira, 04 de junho, o tema ‘Geopolítica e governo Trump: impactos na universidade, ciência, saúde e meio ambiente’.
A sessão abordou questões como o alcance das políticas do governo do presidente norte-americano, Donald Trump, riscos e oportunidades para o Brasil nas relações internacionais multilaterais e bilaterais e negociações internacionais em saúde, ciência e clima. O evento contou com participação de quatro pesquisadores de diferentes áreas científicas como debatedores.
Confira a íntegra da sessão:
Na abertura do evento, o coordenador do Núcleo de Estudos e pesquisador emérito da Fiocruz, Renato Cordeiro, enumerou ações do governo Trump com impacto global: das taxações de importações a medidas que atingem diretamente as áreas de ciência, saúde e meio ambiente.
“Duas decisões causaram forte impacto global, a retirada dos Estados Unidos da OMS [Organização Mundial da Saúde] e o acordo de Paris sobre clima. A saída do seu maior financiador afeta a sobrevivência estratégica da OMS e coloca em risco a preparação mundial para futuras emergências epidemiológicas. Por isso, é fundamental fortalecer cada vez mais o nosso Sistema Único de Saúde”, destacou Renato.
A subchefe do Escritório de Representação do Itamaraty em São Paulo, ex-embaixadora do Brasil em Gana e ex-cônsul-geral adjunta em Roma, Irene Vida Gala, apresentou informações e percepções da equipe do Itamaraty em Washington.
A embaixadora defendeu a necessidade de buscar as oportunidades disponíveis para o Brasil na relação com os Estados Unidos. Como exemplo, ela citou a reunião da Comissão Mista Brasil-EUA sobre Ciência e Tecnologia, que será realizada no segundo semestre para discutir parcerias.
Sobre os riscos, Irene salientou os “ecos ideológicos” de medidas que podem inspirar movimentos no Brasil, como as restrições a políticas afirmativas e de inclusão.
“Temos tradição de ligação com os Estados Unidos, mas somos convidados a buscar novos parceiros. Sem abrir mão do multilateralismo, buscando manter a resiliência desse sistema, temos que, ao mesmo tempo, migrar para esforços na área bilateral”, avaliou Irene.
O ex-Ministro da Fazenda e do Meio Ambiente e ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos e na Itália, Rubens Ricupero, ponderou sobre o alcance das medidas do governo Trump.
Ricupero observou que a influência norte-americana é menor atualmente, quando o país responde por 24% do PIB global, do que no pós-guerra, quando os EUA detinham 50% da riqueza do planeta. Também destacou a diversidade política interna do país, que possui estados com economias equivalentes a países inteiros.
O ex-ministro avaliou que o impacto do 'caráter nefasto’ das medidas de Trump será mais intenso nos Estados Unidos do que no resto do planeta. No entanto, chamou atenção para o avanço global da extrema direita, caracterizada por ele como “um movimento antirrazão e anticiência".
Nesse contexto, Ricupero defendeu a postura atual do Brasil. “Acho que Brasil fez bem em não estabelecer contato de nível presidencial com os Estados Unidos, porque se houvesse esse encontro seria uma emboscada. Os americanos já têm um lado escolhido no Brasil e temos que seguir na nossa autonomia. Mesmo na Guerra Fria, o Brasil não escolheu lado. Não vejo que o país se encontre numa situação pior agora do que naquele momento”, declarou.
O ex-embaixador do Brasil na Itália e ex-cônsul-geral em Buenos Aires, Adhemar Bahadian, que também representou o país junto à Organização das Nações Unidas (ONU), chamou atenção para a importância e os desafios das negociações internacionais no campo da saúde.
Bahadian recordou negociações sobre propriedade intelectual, quando os EUA atuaram para defender as proteções patentárias no setor farmacêutico.
“O tema do acesso a medicamentos é nevrálgico nas relações econômicas internacionais. Temos populações com carência de acesso a medicamentos e tribunais que autorizam pagamentos de medicamentos caríssimos, onerando a sociedade. Se houvesse reforma da lei nacional e internacional para o acesso mais equânime neste setor, o impacto disso seria muito menor”, afirmou.
O diplomata também elogiou a postura atual do Brasil e alertou para riscos em negociações bilaterais.
“Acordos comerciais bilaterais exigem muito cuidado, porque se forem firmados com as mesmas regras de hoje, continuaremos com os mesmos problemas", apontou Bahadian, que foi copresidente brasileiro das negociações sobre a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), encerradas em 2005.
Entre os temas trazidos pelos debatedores foram abordados: ações de protecionismo e abalo do multilateralismo na saúde, influência de disputas ideológicas e geopolíticas na ciência, papel das universidades enquanto espaço de debate de ideias e efeitos de cortes de verbas de ajuda humanitária dos Estados Unidos.
O debate teve a participação de:
Claudia Chamas, pesquisadora do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz);
Francilene Garcia, vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e professora de ciências da computação da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG);
João Carlos Salles, professor do curso de Filosofia da Universidade Federal da Bahia (UFBA); e
Luis Eugenio de Souza, professor do curso de Medicina e diretor do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA.
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)