Há 70 anos, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) inaugurava, na cidade de Bambuí, em Minas Gerais, um importante espaço de pesquisa e discussão sobre a doença de Chagas: o Centro de Estudos e Profilaxia da Moléstia de Chagas (CEPMC) – mais tarde batizado como Posto Avançado de Pesquisas Emmanuel Dias (PAPED/CPqRR/Fiocruz), em homenagem ao pesquisador que o fundou.
Nos dias 11 e 12 de abril de 2013, João Carlos Pinto Dias, filho de Emmanuel e também pesquisador, atualmente na Fiocruz-Minas, junta-se à chefe do Laboratório de Biologia das Interações do IOC, Joseli Lannes, e à pesquisadora Tania Araujo Jorge, atual diretora do Instituto, para inaugurar outro importante espaço de debate sobre o agravo: o Ciclo Carlos Chagas de Palestras (CCC).
Arte: Leandro VazO evento será realizado no campus da Fundação Oswaldo Cruz (Manguinhos – RJ) e oferecerá palestras de nove especialistas; uma exposição fotográfica sobre o controle do vetor Triatoma infestans em Bambuí, organizada em conjunto com a Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz); e a exibição de 30 a 50 pôsteres. Os três melhores serão selecionados para uma apresentação oral.
Para se inscrever, os interessados devem enviar a ficha de inscrição preenchida para ciclocarloschagas@ioc.fiocruz.br até o dia 3 de março. As informações sobre o envio de resumos estão no próprio formulário.
Nesta edição, a participação será restrita à comunidade da Fiocruz e o número de vagas está sujeito à lotação do auditório que recebe o evento (Emmanuel Dias/Pavilhão Arthur Neiva).
Cardiopatias e Vetores
O tema do Ciclo Carlos Chagas será ‘Cardiopatias e Vetores’, uma homenagem a Emmanuel Dias e a dois de seus maiores trabalhos a frente do Centro de Bambuí.
O primeiro é um extenso estudo de caracterização da cardiopatia chagásica crônica, uma das mais graves implicações da doença.
Já o segundo discorre sobre a ação de inseticidas no combate ao Triatoma infestans, principal responsável pela transmissão na região e popularmente conhecido como barbeiro.
De acordo com Joseli, embora o país conte, desde 2006, com a certificação de controle da transmissão da doença de Chagas por este triatomíneo, poder público e comunidade científica devem permanecer vigilantes.
Espécies endêmicas do nosso país, como o Triatoma braziliensis, Panstrongylus megistus e o Panstrongylus lutzi continuam atuando como transmissores.
Dias (à direita) obteve reconhecimento internacional a frente do CEPMC. Foto: Acervo COC“Famílias que antes viviam em casas no interior de carnaubais e plantações agora contam com energia elétrica, o que facilita a entrada de barbeiros nos domicílios, pois são insetos atraídos pela luz”, explica Joseli.
Além disso, a pesquisadora lembra que assim como a globalização, os vetores da doença de Chagas tampouco conhecem fronteiras. Isso significa que o T. infestans, trazido ao Brasil por viajantes da Argentina e da Bolívia há centenas de anos, pode ser reintroduzido no nosso território, carreado por turistas e imigrantes de países vizinhos por acidente, em suas bagagens.
Já a transmissão via oral, que ocorre com o consumo de alimentos contaminados por fezes do barbeiro ou pelo próprio inseto triturado, também é uma realidade.
“Pode ocorrer, principalmente, com açaí e cana-de-açúcar em regiões do Norte e do Nordeste onde o consumo é intenso e os estabelecimentos nem sempre seguem as normas de manejo preconizadas pelo Ministério da Saúde. Por isso, criar um espaço de discussão sobre a doença de Chagas que agregue estudantes e cientistas é importante neste momento, e cabe ao IOC assumir o protagonismo”, ressalta.
:: Saiba mais sobre Emmanuel Dias ::
Emmanuel Dias, pesquisador carioca nascido em 1908, foi filho de Ezequiel Dias, eminente cientista que trabalhou em parceria com Carlos Chagas e Oswaldo Cruz desde a fundação do Instituto, em 1900.
Emmanuel perdeu o pai aos 14 anos, o que reforçou seu desejo de prosseguir com os estudos na área. Ingressou na faculdade de Medicina aos 19 anos e, em seu segundo ano, integrou a equipe de Chagas no IOC para, rapidamente, se tornar um dos seus principais discípulos.
Em 1933, defendeu a tese intitulada “Estudos sobre o Schizotrypanum cruzi”, adquirindo o grau de doutor pela Faculdade de Medicina, a mesma que formou seu pai, Chagas e Cruz.
A tese foi publicada, em 1934, no periódico Memórias do Instituto Oswaldo Cruz e é, ainda nos dias atuais, uma das referências científicas mais citadas no campo da doença de Chagas. Acesse o estudo.
Em 1943, foi convidado pelo diretor do IOC, Henrique de Beaurepaire Aragão, a liderar o CEPMC. A unidade, vinculada à Divisão de Estudos de Endemias do IOC, foi implantada em virtude da descoberta de um foco da doença na cidade mineira de Bambuí.
Em 1947, Emmanuel descreveu a ação eficaz do composto “gammexane” no combate aos transmissores da doença. O estudo iria nortear a atuação de entidades públicas de saúde no controle do principal vetor do país, o T. infestans.
Durante o período em que esteve à frente do Centro, Emmanuel Dias foi reconhecido por adotar ações efetivas para o controle da doença e realizar importantes investigações científicas no campo da cardiopatia chagásica crônica.
Faleceu em 1962 e, por todo o esforço no combate à doença de Chagas, passou a ser considerado pela comunidade científica como um dos pesquisadores que teve o maior impacto nesta tripanossomíase.
*Reportagem: Isadora Marinho
Há 70 anos, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) inaugurava, na cidade de Bambuí, em Minas Gerais, um importante espaço de pesquisa e discussão sobre a doença de Chagas: o Centro de Estudos e Profilaxia da Moléstia de Chagas (CEPMC) – mais tarde batizado como Posto Avançado de Pesquisas Emmanuel Dias (PAPED/CPqRR/Fiocruz), em homenagem ao pesquisador que o fundou.
Nos dias 11 e 12 de abril de 2013, João Carlos Pinto Dias, filho de Emmanuel e também pesquisador, atualmente na Fiocruz-Minas, junta-se à chefe do Laboratório de Biologia das Interações do IOC, Joseli Lannes, e à pesquisadora Tania Araujo Jorge, atual diretora do Instituto, para inaugurar outro importante espaço de debate sobre o agravo: o Ciclo Carlos Chagas de Palestras (CCC).
Arte: Leandro VazO evento será realizado no campus da Fundação Oswaldo Cruz (Manguinhos – RJ) e oferecerá palestras de nove especialistas; uma exposição fotográfica sobre o controle do vetor Triatoma infestans em Bambuí, organizada em conjunto com a Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz); e a exibição de 30 a 50 pôsteres. Os três melhores serão selecionados para uma apresentação oral.
Para se inscrever, os interessados devem enviar a ficha de inscrição preenchida para ciclocarloschagas@ioc.fiocruz.br até o dia 3 de março. As informações sobre o envio de resumos estão no próprio formulário.
Nesta edição, a participação será restrita à comunidade da Fiocruz e o número de vagas está sujeito à lotação do auditório que recebe o evento (Emmanuel Dias/Pavilhão Arthur Neiva).
Cardiopatias e Vetores
O tema do Ciclo Carlos Chagas será ‘Cardiopatias e Vetores’, uma homenagem a Emmanuel Dias e a dois de seus maiores trabalhos a frente do Centro de Bambuí.
O primeiro é um extenso estudo de caracterização da cardiopatia chagásica crônica, uma das mais graves implicações da doença.
Já o segundo discorre sobre a ação de inseticidas no combate ao Triatoma infestans, principal responsável pela transmissão na região e popularmente conhecido como barbeiro.
De acordo com Joseli, embora o país conte, desde 2006, com a certificação de controle da transmissão da doença de Chagas por este triatomíneo, poder público e comunidade científica devem permanecer vigilantes.
Espécies endêmicas do nosso país, como o Triatoma braziliensis, Panstrongylus megistus e o Panstrongylus lutzi continuam atuando como transmissores.
Dias (à direita) obteve reconhecimento internacional a frente do CEPMC. Foto: Acervo COC“Famílias que antes viviam em casas no interior de carnaubais e plantações agora contam com energia elétrica, o que facilita a entrada de barbeiros nos domicílios, pois são insetos atraídos pela luz”, explica Joseli.
Além disso, a pesquisadora lembra que assim como a globalização, os vetores da doença de Chagas tampouco conhecem fronteiras. Isso significa que o T. infestans, trazido ao Brasil por viajantes da Argentina e da Bolívia há centenas de anos, pode ser reintroduzido no nosso território, carreado por turistas e imigrantes de países vizinhos por acidente, em suas bagagens.
Já a transmissão via oral, que ocorre com o consumo de alimentos contaminados por fezes do barbeiro ou pelo próprio inseto triturado, também é uma realidade.
“Pode ocorrer, principalmente, com açaí e cana-de-açúcar em regiões do Norte e do Nordeste onde o consumo é intenso e os estabelecimentos nem sempre seguem as normas de manejo preconizadas pelo Ministério da Saúde. Por isso, criar um espaço de discussão sobre a doença de Chagas que agregue estudantes e cientistas é importante neste momento, e cabe ao IOC assumir o protagonismo”, ressalta.
:: Saiba mais sobre Emmanuel Dias ::
Emmanuel Dias, pesquisador carioca nascido em 1908, foi filho de Ezequiel Dias, eminente cientista que trabalhou em parceria com Carlos Chagas e Oswaldo Cruz desde a fundação do Instituto, em 1900.
Emmanuel perdeu o pai aos 14 anos, o que reforçou seu desejo de prosseguir com os estudos na área. Ingressou na faculdade de Medicina aos 19 anos e, em seu segundo ano, integrou a equipe de Chagas no IOC para, rapidamente, se tornar um dos seus principais discípulos.
Em 1933, defendeu a tese intitulada “Estudos sobre o Schizotrypanum cruzi”, adquirindo o grau de doutor pela Faculdade de Medicina, a mesma que formou seu pai, Chagas e Cruz.
A tese foi publicada, em 1934, no periódico Memórias do Instituto Oswaldo Cruz e é, ainda nos dias atuais, uma das referências científicas mais citadas no campo da doença de Chagas. Acesse o estudo.
Em 1943, foi convidado pelo diretor do IOC, Henrique de Beaurepaire Aragão, a liderar o CEPMC. A unidade, vinculada à Divisão de Estudos de Endemias do IOC, foi implantada em virtude da descoberta de um foco da doença na cidade mineira de Bambuí.
Em 1947, Emmanuel descreveu a ação eficaz do composto “gammexane” no combate aos transmissores da doença. O estudo iria nortear a atuação de entidades públicas de saúde no controle do principal vetor do país, o T. infestans.
Durante o período em que esteve à frente do Centro, Emmanuel Dias foi reconhecido por adotar ações efetivas para o controle da doença e realizar importantes investigações científicas no campo da cardiopatia chagásica crônica.
Faleceu em 1962 e, por todo o esforço no combate à doença de Chagas, passou a ser considerado pela comunidade científica como um dos pesquisadores que teve o maior impacto nesta tripanossomíase.
*Reportagem: Isadora Marinho
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)