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Coleção de Triatomíneos: mais de 24 mil exemplares e 110 anos de reconhecimento

Criado em 1909, o acervo é considerado um dos mais importantes repositórios de vetores da doença de Chagas no mundo, reunindo espécimes de diversos países
Por Lucas Rocha23/05/2019 - Atualizado em 27/06/2023

O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) abriga um dos maiores acervos de vetores da doença de Chagas do mundo. Criada em 1909, a Coleção de Triatomíneos do IOC reúne mais de 24 mil exemplares de insetos do Brasil e de países como México, Chile, Colômbia e Argentina.

O espaço é reconhecido como fiel depositário de amostra de componentes do patrimônio genético nacional pelo Conselho de Gestão do Patrimônio Genético, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente.

Em plena atividade, a Coleção valoriza o intercâmbio com instituições de ensino e pesquisa de todo o mundo ao disponibilizar serviços de consulta, depósito, permuta e doação [leia mais].

Triatomíneos do Brasil e de países como México, Chile, Colômbia e Argentina estão depositados na Coleção de Triatomíneos do IOC. Foto: Josué Damacena

Para ampliar o acesso à informação, o acervo tem investido na informatização dos dados dos espécimes. O catálogo eletrônico permite o acesso a informações como localidade e data de coleta, além da criação de gráficos e mapas de distribuição geográfica.

“A Coleção de Triatomíneos do IOC, obra de cientistas pioneiros como Carlos Chagas, Arthur Neiva e Herman Lent, é um instrumento importante para o desenvolvimento da pesquisa científica. A manutenção e ampliação do acervo é resultado do empenho de novas gerações que deram continuidade ao trabalho”, destaca José Jurberg, chefe do Laboratório Nacional e Internacional de Referência em Taxonomia de Triatomíneos do IOC e curador da Coleção há quase 50 anos.

Além de abrigar o acervo, o Laboratório também atua na criação de barbeiros, que são fornecidos para a realização de pesquisas em diversas instituições.

Importância histórica

Em 1907, em meio à missão de combater uma epidemia de malária que atingia a Região Norte de Minas Gerais, Carlos Chagas, motivado pelo interesse crescente pela entomologia, foi responsável por um feito único na história da Medicina: ele descobriu o parasito, Trypanosoma cruzi, bem como o seu ciclo evolutivo; o vetor, barbeiro, assim como os hábitos do inseto; o reservatório doméstico, gato; e a apresentação clínica de um novo agravo, que ganharia seu nome – doença de Chagas.

A identificação do barbeiro como hospedeiro do T. cruzi, parasito causador da doença, deu início aos estudos dos insetos triatomíneos no então Instituto de Manguinhos. A partir dos espécimes coletados no estado mineiro, Chagas deu os primeiros passos para a criação da Coleção de Triatomíneos do IOC. 

Boa parte do atual acervo se deve à dedicação do renomado parasitologista Herman Lent (1911-2004). Ainda estudante da Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro [atual UFRJ], Lent ingressou no IOC, em 1933, como estagiário do cientista Lauro Travassos. Publicou diversos trabalhos em helmintologia até o momento em que, influenciado por Arthur Neiva, voltou-se para a entomologia, passando a se dedicar ao estudo dos triatomíneos.

Em 1935, implantou a criação de barbeiros no Instituto. Considerado uma das maiores autoridades mundiais em vetores da doença de Chagas, Lent reuniu, ao longo de 35 anos, nove mil exemplares para a Coleção. 

A trajetória do cientista no IOC foi interrompida em 1970, durante o regime militar, por ocasião do episódio conhecido como ‘Massacre de Manguinhos’.

No acontecimento, dez pesquisadores foram cassados, dentre eles Herman Lent. Com o afastamento, o pesquisador José Jurberg assumiu a missão de zelar pela preservação do patrimônio da Coleção de Triatomíneos.

“Em um período conturbado, as estruturas físicas de acervos biológicos, incluindo as coleções de triatomíneos e entomológica, foram desmontadas e realocadas sem o cuidado adequado. O fato ocasionou perdas irreparáveis aos diversos acervos e coleções biológicas da Fiocruz”, conta Jurberg. Outros relatos sobre o episódio podem ser encontrados no livro ‘O Massacre de Manguinhos’, de Herman Lent.

O pesquisador considera a efervescência nos estudos da taxonomia de triatomíneos um fator importante para a ampliação do acervo. Segundo ele, foi a partir do reconhecimento da instituição que estudiosos brasileiros e estrangeiros passaram a realizar depósitos permanentes. Quando chegam ao acervo, os insetos são classificados, catalogados e numerados, e permanecem à disposição para consulta.

Outro importante passo para a formação do acervo foi a incorporação, em 1998, da coleção do pesquisador argentino Rodolfo Carcavallo ao patrimônio da Fiocruz, que acrescentou mais de 15 mil exemplares de barbeiros à Coleção. Além dos exemplares secos, a Coleção de Triatomíneos do IOC é composta por espécimes preservados em álcool.

 

Curador da Coleção há quase 50 anos, o pesquisador José Jurberg destaca a importância do acervo para a pesquisa e o ensino (Foto: Josué Damacena)


Manutenção da ciência viva

O Laboratório Nacional e Internacional de Referência em Taxonomia de Triatomíneos do IOC mantém o maior insetário de triatomíneos do mundo em termos de biodiversidade.

O espaço conta com 150 colônias, que reúnem 45 espécies diferentes de barbeiros vivos. Criados em recipientes de vidro revestidos com cartolina escura, que simulam o habitat natural da espécie, os insetos são disponibilizados para instituições científicas e de ensino.

“A Coleção fornece anualmente um quantitativo considerável de insetos vivos e mortos, contribuindo de forma ímpar para o desenvolvimento de estudos, por pesquisadores e alunos de pós-graduação, além de estimular atividades didáticas nas escolas. O Laboratório também desenvolve pesquisa científica sobre os triatomíneos, subsidiando a linha de pesquisa mais antiga cadastrada no CNPq, criada por Herman Lent. Todas essas ações representam um ganho imenso para a ciência e para a instituição”, ressalta a vice-diretora de Laboratórios de Referência e Coleções Biológicas do IOC, Elizabeth Ferreira Rangel.

“A manutenção do acervo de triatomíneos é de grande importância para o desenvolvimento da pesquisa e de estratégias de vigilância. Os estudos desenvolvidos pelo Laboratório do IOC fornecem o embasamento para a geração de diretrizes para o Ministério da Saúde em sintonia com secretarias estaduais e municipais de saúde”, completa Jurberg.

Educação em saúde

Para ampliar o conhecimento sobre os vetores da doença de Chagas no país, pesquisadores organizaram o ‘Atlas Iconográfico dos Triatomíneos do Brasil’. O material conta com ilustrações e informações sobre a morfologia dos insetos, tamanho, habitat, ciclo de vida, além de mapas sobre a diversidade e distribuição geográfica das espécies de barbeiros. O material está disponível gratuitamente online.

Já os cartões ilustrados ‘Vetores da doença de Chagas no Brasil’, apresentam uma escala com o tamanho real e o nome científico de cada espécie retratada, assim como informações sobre o habitat natural da espécie e seu ciclo de vida.

As cartas, produzidas em formato portátil e impermeável e reunidas em blocos classificados de acordo com cada uma das cinco regiões geográficas do país, contribuem para ajudar na identificação dos vetores da doença.

O material pode ser utilizado por técnicos que fazem vistorias e coletam os barbeiros e, também, em ações de educação em saúde.

E a cartilha em quadrinhos ‘Barbeiros’, voltada ao público infantil, informa de maneira lúdica as principais características dos transmissores da doença de Chagas. O material é gratuito e pode ser solicitado pelo e-mail jjurberg@ioc.fiocruz.br.

Criado em 1909, o acervo é considerado um dos mais importantes repositórios de vetores da doença de Chagas no mundo, reunindo espécimes de diversos países
Por: 
lucas

O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) abriga um dos maiores acervos de vetores da doença de Chagas do mundo. Criada em 1909, a Coleção de Triatomíneos do IOC reúne mais de 24 mil exemplares de insetos do Brasil e de países como México, Chile, Colômbia e Argentina.

O espaço é reconhecido como fiel depositário de amostra de componentes do patrimônio genético nacional pelo Conselho de Gestão do Patrimônio Genético, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente.

Em plena atividade, a Coleção valoriza o intercâmbio com instituições de ensino e pesquisa de todo o mundo ao disponibilizar serviços de consulta, depósito, permuta e doação [leia mais].

Triatomíneos do Brasil e de países como México, Chile, Colômbia e Argentina estão depositados na Coleção de Triatomíneos do IOC. Foto: Josué Damacena

Para ampliar o acesso à informação, o acervo tem investido na informatização dos dados dos espécimes. O catálogo eletrônico permite o acesso a informações como localidade e data de coleta, além da criação de gráficos e mapas de distribuição geográfica.

“A Coleção de Triatomíneos do IOC, obra de cientistas pioneiros como Carlos Chagas, Arthur Neiva e Herman Lent, é um instrumento importante para o desenvolvimento da pesquisa científica. A manutenção e ampliação do acervo é resultado do empenho de novas gerações que deram continuidade ao trabalho”, destaca José Jurberg, chefe do Laboratório Nacional e Internacional de Referência em Taxonomia de Triatomíneos do IOC e curador da Coleção há quase 50 anos.

Além de abrigar o acervo, o Laboratório também atua na criação de barbeiros, que são fornecidos para a realização de pesquisas em diversas instituições.

Importância histórica

Em 1907, em meio à missão de combater uma epidemia de malária que atingia a Região Norte de Minas Gerais, Carlos Chagas, motivado pelo interesse crescente pela entomologia, foi responsável por um feito único na história da Medicina: ele descobriu o parasito, Trypanosoma cruzi, bem como o seu ciclo evolutivo; o vetor, barbeiro, assim como os hábitos do inseto; o reservatório doméstico, gato; e a apresentação clínica de um novo agravo, que ganharia seu nome – doença de Chagas.

A identificação do barbeiro como hospedeiro do T. cruzi, parasito causador da doença, deu início aos estudos dos insetos triatomíneos no então Instituto de Manguinhos. A partir dos espécimes coletados no estado mineiro, Chagas deu os primeiros passos para a criação da Coleção de Triatomíneos do IOC. 

Boa parte do atual acervo se deve à dedicação do renomado parasitologista Herman Lent (1911-2004). Ainda estudante da Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro [atual UFRJ], Lent ingressou no IOC, em 1933, como estagiário do cientista Lauro Travassos. Publicou diversos trabalhos em helmintologia até o momento em que, influenciado por Arthur Neiva, voltou-se para a entomologia, passando a se dedicar ao estudo dos triatomíneos.

Em 1935, implantou a criação de barbeiros no Instituto. Considerado uma das maiores autoridades mundiais em vetores da doença de Chagas, Lent reuniu, ao longo de 35 anos, nove mil exemplares para a Coleção. 

A trajetória do cientista no IOC foi interrompida em 1970, durante o regime militar, por ocasião do episódio conhecido como ‘Massacre de Manguinhos’.

No acontecimento, dez pesquisadores foram cassados, dentre eles Herman Lent. Com o afastamento, o pesquisador José Jurberg assumiu a missão de zelar pela preservação do patrimônio da Coleção de Triatomíneos.

“Em um período conturbado, as estruturas físicas de acervos biológicos, incluindo as coleções de triatomíneos e entomológica, foram desmontadas e realocadas sem o cuidado adequado. O fato ocasionou perdas irreparáveis aos diversos acervos e coleções biológicas da Fiocruz”, conta Jurberg. Outros relatos sobre o episódio podem ser encontrados no livro ‘O Massacre de Manguinhos’, de Herman Lent.

O pesquisador considera a efervescência nos estudos da taxonomia de triatomíneos um fator importante para a ampliação do acervo. Segundo ele, foi a partir do reconhecimento da instituição que estudiosos brasileiros e estrangeiros passaram a realizar depósitos permanentes. Quando chegam ao acervo, os insetos são classificados, catalogados e numerados, e permanecem à disposição para consulta.

Outro importante passo para a formação do acervo foi a incorporação, em 1998, da coleção do pesquisador argentino Rodolfo Carcavallo ao patrimônio da Fiocruz, que acrescentou mais de 15 mil exemplares de barbeiros à Coleção. Além dos exemplares secos, a Coleção de Triatomíneos do IOC é composta por espécimes preservados em álcool.

 

Curador da Coleção há quase 50 anos, o pesquisador José Jurberg destaca a importância do acervo para a pesquisa e o ensino (Foto: Josué Damacena)

Manutenção da ciência viva

O Laboratório Nacional e Internacional de Referência em Taxonomia de Triatomíneos do IOC mantém o maior insetário de triatomíneos do mundo em termos de biodiversidade.

O espaço conta com 150 colônias, que reúnem 45 espécies diferentes de barbeiros vivos. Criados em recipientes de vidro revestidos com cartolina escura, que simulam o habitat natural da espécie, os insetos são disponibilizados para instituições científicas e de ensino.

“A Coleção fornece anualmente um quantitativo considerável de insetos vivos e mortos, contribuindo de forma ímpar para o desenvolvimento de estudos, por pesquisadores e alunos de pós-graduação, além de estimular atividades didáticas nas escolas. O Laboratório também desenvolve pesquisa científica sobre os triatomíneos, subsidiando a linha de pesquisa mais antiga cadastrada no CNPq, criada por Herman Lent. Todas essas ações representam um ganho imenso para a ciência e para a instituição”, ressalta a vice-diretora de Laboratórios de Referência e Coleções Biológicas do IOC, Elizabeth Ferreira Rangel.

“A manutenção do acervo de triatomíneos é de grande importância para o desenvolvimento da pesquisa e de estratégias de vigilância. Os estudos desenvolvidos pelo Laboratório do IOC fornecem o embasamento para a geração de diretrizes para o Ministério da Saúde em sintonia com secretarias estaduais e municipais de saúde”, completa Jurberg.

Educação em saúde

Para ampliar o conhecimento sobre os vetores da doença de Chagas no país, pesquisadores organizaram o ‘Atlas Iconográfico dos Triatomíneos do Brasil’. O material conta com ilustrações e informações sobre a morfologia dos insetos, tamanho, habitat, ciclo de vida, além de mapas sobre a diversidade e distribuição geográfica das espécies de barbeiros. O material está disponível gratuitamente online.

Já os cartões ilustrados ‘Vetores da doença de Chagas no Brasil’, apresentam uma escala com o tamanho real e o nome científico de cada espécie retratada, assim como informações sobre o habitat natural da espécie e seu ciclo de vida.

As cartas, produzidas em formato portátil e impermeável e reunidas em blocos classificados de acordo com cada uma das cinco regiões geográficas do país, contribuem para ajudar na identificação dos vetores da doença.

O material pode ser utilizado por técnicos que fazem vistorias e coletam os barbeiros e, também, em ações de educação em saúde.

E a cartilha em quadrinhos ‘Barbeiros’, voltada ao público infantil, informa de maneira lúdica as principais características dos transmissores da doença de Chagas. O material é gratuito e pode ser solicitado pelo e-mail jjurberg@ioc.fiocruz.br.

Edição: 
Vinicius Ferreira

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)