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Conhecimento sobre malária, leishmaniose e doença de Chagas

Maria Deane contribuiu para geração de conhecimentos fundamentais para o enfrentamente de doenças até hoje negligenciadas
Por Jornalismo IOC17/07/2008 - Atualizado em 03/08/2022

Sempre a serviço da saúde pública, Maria Deane dedicou-se ao enfretamento de importantes endemias e registrou contribuições ímpares para o desenvolvimento do conhecimento científico na área da protozoologia.

Ao lado de Leonidas, integrou diferente serviços de saúde pública e percorreu o interior do país para investigar a ocorrência de doenças como leishmaniose visceral, malária e doença de Chagas.

A primeira missão científica do casal – dedicada à investigação da leishmaniose visceral e desenvolvida no então Instituto de Patologia Experimental do Norte, atual Instituto Evandro Chagas, no Pará – destaca o pioneirismo científico dos pesquisadores, que percorreram o interior daquele Estado para estudar e esclarecer a misteriosa doença recém-identificada por Henrique Penna.

Liderada por Evandro Chagas, a equipe formada pelo casal Deane e outros jovens pesquisadores investigou a ocorrência da leishmaniose visceral a partir de uma abordagem integrada, que incluía estudos sobre todo o ciclo da doença, considerando a perspectiva do parasito, do vetor, de reservatórios silvestres e do homem – estratégia pioneira que orienta até hoje as pesquisas desenvolvidas no IOC.

 
Ao lado do marido e colaborador científico, Leonidas Deane, Maria percorreu o país para investigar a ocorrência de importantes problemas de saúde pública. Foto: Arquivo pessoal

A partir das amostras coletadas em campo e de análises laboratoriais realizadas na Universidade de São Paulo, os pesquisadores registraram importantes descobertas sobre a leishmaniose visceral, como o estabelecimento da relação entre o meio ambiente e a ocorrência da doença, a determinação do inseto Lutzomiya longipalpis como vetor do parasito Leishmania chagasi, a identificação da raposa como importante reservatório silvestre e do cão como fonte de infecção.

Na década de 1940, mais uma vez por indicação de Evandro Chagas, o casal foi convidado a integrar o Serviço de Malária do Nordeste – iniciativa promovida em parceria pelos governos brasileiro e norte-americano para erradicação do mosquito africano Anopheles gambiae, vetor da malária que invadiu Brasil provocando grave epidemia.

Nesta época, enquanto Leonidas dedicava-se ao trabalho de campo para mapear a distribuição do mosquito, Maria concentrava-se no laboratório e realizou, de forma relativamente secreta, seu primeiro experimento.

Responsável pela criação do A. gambiae em laboratório, a protozoologista comparou o vetor a outro inseto anofelino – Anopheles walkeri – que no inverno produz ovos distintos e mais resistentes aos gerados no restante do ano.

A partir desta observação, Maria criou amostras de A. gambiae em geladeira e examinou os ovos obtidos desses exemplares: apesar de ser um inseto exclusivamente tropical, o A. gambiae mostrou-se capaz de produzir, em condições artificiais, ovos com alterações morfológicas semelhante às registradas pelos ovos de inverno do A. walkeri. Animada com os resultados, Maria pretendia investigar mais profundamente a relação entre temperatura e características morfológicas de ovos anofelinos, mas foi surpreendida pela notícia de que deveria exterminar todas as suas amostras de A. gambiae – o mosquito havia sido enfim extinto do país.

 
Maria, ao lado da filha Luiza, acompanhada pelos pesquisadores durante o exílio. Foto: Arquivo pessoal

Após a erradicação do vetor africano, Maria e Leonidas permaneceram envolvidos com a investigação da malária e passaram a integrar o Serviço Especial para Saúde Pública (Sesp), criado no final da década de 1940 para dar assistência aos seringueiros da região amazônica.

Juntos, dedicaram-se ao estudo de outros mosquitos transmissores da malária, descreveram novas espécies e investigaram o ciclo de vida de anofelinos, gerando conhecimentos sobre a epidemiologia e a transmissão da doença em toda a Amazônia e no Nordeste do país.

Em parceria com o pesquisador norte-americano Otis Causey, publicaram, entre 1946 e 1948, monografias pioneiras sobre a malária no Brasil no American Journal of Hygiene e na Revista do Serviço Especial de Saúde Pública.

Nos anos seguintes, o regime militar impôs sérias dificuldades à vida do casal. A filha Luiza, militante política, foi perseguida pela repressão e acompanhada pelos pais durante o exílio.

Sua prisão, em 1974, em Buenos Aires, resultou na interrupção dos estudos realizados por Maria e Leonidas no Brasil e na imediata transferência dos pesquisadores para a Argentina.

Em 1975, o exílio da filha em Portugal levou o casal Deane ao Instituto de Medicina Tropical de Lisboa e, em seguida, à Faculdade de Medicina da Universidade de Carabobo, na Venezuela – país que ofereceu aos pesquisadores o reconhecimento de Luiza como cidadã política.

Maria Deane (sentada, ao centro) com a equipe do antigo Departamento de Protozoologia do IOC, chefiado pela pesquisadora na década de 1980. Foto: Arquivo pessoal

Na década de 1980, o casal Deane retornou ao Brasil a convite do tropicalista José Rodrigues Coura, à época diretor do IOC e hoje chefe do Laboratório de Doenças Parasitárias do Instituto.

Maria tornou-se chefe do então Departamento de Protozoologia e Leonidas assumiu a chefia do antigo Departamento de Entomologia. O legado do casal Deane ainda é visível, presente na formação de gerações de pesquisadores que foram seus alunos e hoje atuam como consagrados especialistas.

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Maria Deane contribuiu para geração de conhecimentos fundamentais para o enfrentamente de doenças até hoje negligenciadas
Por: 
jornalismo

Sempre a serviço da saúde pública, Maria Deane dedicou-se ao enfretamento de importantes endemias e registrou contribuições ímpares para o desenvolvimento do conhecimento científico na área da protozoologia.

Ao lado de Leonidas, integrou diferente serviços de saúde pública e percorreu o interior do país para investigar a ocorrência de doenças como leishmaniose visceral, malária e doença de Chagas.

A primeira missão científica do casal – dedicada à investigação da leishmaniose visceral e desenvolvida no então Instituto de Patologia Experimental do Norte, atual Instituto Evandro Chagas, no Pará – destaca o pioneirismo científico dos pesquisadores, que percorreram o interior daquele Estado para estudar e esclarecer a misteriosa doença recém-identificada por Henrique Penna.

Liderada por Evandro Chagas, a equipe formada pelo casal Deane e outros jovens pesquisadores investigou a ocorrência da leishmaniose visceral a partir de uma abordagem integrada, que incluía estudos sobre todo o ciclo da doença, considerando a perspectiva do parasito, do vetor, de reservatórios silvestres e do homem – estratégia pioneira que orienta até hoje as pesquisas desenvolvidas no IOC.

 
Ao lado do marido e colaborador científico, Leonidas Deane, Maria percorreu o país para investigar a ocorrência de importantes problemas de saúde pública. Foto: Arquivo pessoal

A partir das amostras coletadas em campo e de análises laboratoriais realizadas na Universidade de São Paulo, os pesquisadores registraram importantes descobertas sobre a leishmaniose visceral, como o estabelecimento da relação entre o meio ambiente e a ocorrência da doença, a determinação do inseto Lutzomiya longipalpis como vetor do parasito Leishmania chagasi, a identificação da raposa como importante reservatório silvestre e do cão como fonte de infecção.

Na década de 1940, mais uma vez por indicação de Evandro Chagas, o casal foi convidado a integrar o Serviço de Malária do Nordeste – iniciativa promovida em parceria pelos governos brasileiro e norte-americano para erradicação do mosquito africano Anopheles gambiae, vetor da malária que invadiu Brasil provocando grave epidemia.

Nesta época, enquanto Leonidas dedicava-se ao trabalho de campo para mapear a distribuição do mosquito, Maria concentrava-se no laboratório e realizou, de forma relativamente secreta, seu primeiro experimento.

Responsável pela criação do A. gambiae em laboratório, a protozoologista comparou o vetor a outro inseto anofelino – Anopheles walkeri – que no inverno produz ovos distintos e mais resistentes aos gerados no restante do ano.

A partir desta observação, Maria criou amostras de A. gambiae em geladeira e examinou os ovos obtidos desses exemplares: apesar de ser um inseto exclusivamente tropical, o A. gambiae mostrou-se capaz de produzir, em condições artificiais, ovos com alterações morfológicas semelhante às registradas pelos ovos de inverno do A. walkeri. Animada com os resultados, Maria pretendia investigar mais profundamente a relação entre temperatura e características morfológicas de ovos anofelinos, mas foi surpreendida pela notícia de que deveria exterminar todas as suas amostras de A. gambiae – o mosquito havia sido enfim extinto do país.

 
Maria, ao lado da filha Luiza, acompanhada pelos pesquisadores durante o exílio. Foto: Arquivo pessoal

Após a erradicação do vetor africano, Maria e Leonidas permaneceram envolvidos com a investigação da malária e passaram a integrar o Serviço Especial para Saúde Pública (Sesp), criado no final da década de 1940 para dar assistência aos seringueiros da região amazônica.

Juntos, dedicaram-se ao estudo de outros mosquitos transmissores da malária, descreveram novas espécies e investigaram o ciclo de vida de anofelinos, gerando conhecimentos sobre a epidemiologia e a transmissão da doença em toda a Amazônia e no Nordeste do país.

Em parceria com o pesquisador norte-americano Otis Causey, publicaram, entre 1946 e 1948, monografias pioneiras sobre a malária no Brasil no American Journal of Hygiene e na Revista do Serviço Especial de Saúde Pública.

Nos anos seguintes, o regime militar impôs sérias dificuldades à vida do casal. A filha Luiza, militante política, foi perseguida pela repressão e acompanhada pelos pais durante o exílio.

Sua prisão, em 1974, em Buenos Aires, resultou na interrupção dos estudos realizados por Maria e Leonidas no Brasil e na imediata transferência dos pesquisadores para a Argentina.

Em 1975, o exílio da filha em Portugal levou o casal Deane ao Instituto de Medicina Tropical de Lisboa e, em seguida, à Faculdade de Medicina da Universidade de Carabobo, na Venezuela – país que ofereceu aos pesquisadores o reconhecimento de Luiza como cidadã política.

Maria Deane (sentada, ao centro) com a equipe do antigo Departamento de Protozoologia do IOC, chefiado pela pesquisadora na década de 1980. Foto: Arquivo pessoal

Na década de 1980, o casal Deane retornou ao Brasil a convite do tropicalista José Rodrigues Coura, à época diretor do IOC e hoje chefe do Laboratório de Doenças Parasitárias do Instituto.

Maria tornou-se chefe do então Departamento de Protozoologia e Leonidas assumiu a chefia do antigo Departamento de Entomologia. O legado do casal Deane ainda é visível, presente na formação de gerações de pesquisadores que foram seus alunos e hoje atuam como consagrados especialistas.

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Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)