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Desafios do controle vetorial, homenagens e premiações marcam o último dia da 16ª Reunião Nacional de Pesquisa em Malária

Medalha Ruth Nussenzweig foi concedida a jovem pesquisadora por sua contribuição no estudo da doença
Por Max Gomes e Vinicius Ferreira28/04/2022 - Atualizado em 30/06/2022

Chegou ao fim nesta quinta-feira (28), a 16ª edição da Reunião Nacional de Pesquisa em Malária, realizada no Rio de Janeiro desde a última segunda-feira (25). O último dia de atividades contou com debates sobre ‘vetores e controle vetorial’ e ‘biologia do parasita e interações parasita-hospedeiro’. A sessão foi marcada por homenagens a renomados cientistas falecidos recentemente que dedicaram suas trajetórias à área de doenças infecciosas e também pela premiação dos melhores trabalhos apresentados por pós-doutores e melhores pôsteres de estudantes.

Iniciando as discussões, a chefe do Departamento de Entomologia da Divisão de Doenças Parasitárias e Malária dos Centros de Controle e Prevenção de Doença dos Estados Unidos (CDC/EUA), Audrey Lenhart, instigou à reflexão sobre o quão suficiente são as inovações no controle de vetores da malária para a eliminação da doença na região das Américas.

A especialista apresentou quatro inovações em desenvolvimento ao redor do mundo com potencial utilização para o controle do vetor, como as iscas tóxicas de açúcar, que podem ser implementadas em diversos locais, sem afetar os humanos. Dados preliminares de pesquisa conduzida em Mali mostraram que foram capazes de reduzir a densidade de vetores. Outros testes estão sendo realizados em Zâmbia e no Quênia.

Entomologistas do Brasil e Estados Unidos discutiram os desafios envolvidos no controle do Anopheles. Foto: Carlos Alves

Qualquer brecha em portas, janelas ou paredes pode servir como ponto de entrada de mosquitos. Pensando nisso, está sendo estudada a colocação de “tubos de beiral” instalados em casas para interceptação dos vetores em busca de alimentação. Testes na Costa do Marfim mostraram eficácia de 38% da tecnologia.

Já o emanador de repelente, método de dispersão espacial de composto químico testado por uma multinacional na Indonésia demonstrou eficácia de 30%. E a terapia antiparasitária, administrada de forma massiva em humanos e animais, que matam o Anopheles no momento da alimentação sanguínea, foi capaz de reduzir a infestação do vetor, conforme resultados de testes realizados em Burquina Faso, com 20% de eficácia. “No entanto, nenhuma dessas inovações está sendo testada na região das Américas”, lastimou a especialista.

A entomologista destacou que as inovações tecnológicas por si só não são suficientes para que o mundo atinja a eliminação da malária. Ela acredita que o tripé para alcançar esse objetivo está baseado em ‘inovações em perspectiva’ (necessidade de reconhecer as limitações das abordagens), ‘inovações em engajamento’ (pensar em termos regionais e em redes compostas por especialistas com apoios governamentais) e ‘inovações em práticas de pesquisa’ (pensar além do óbvio). Também apontou alguns desafios para a eliminação, como a estagnação do controle global ao longo dos anos no mundo, limitação de inseticidas, disseminação da resistência, além do surgimento de novas emergências em saúde que tiraram o foco da malária.

Controle de mosquitos vetores da malária estiveram em foco nas palestras de Audrey Lenhart e José Bento Pereira Lima. Fotos: Peter Ilicciev | Montagem: Jefferson Mendes

Atividades em controle de vetores e resistência a inseticidas desenvolvidas pelo Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) foi o mote da apresentação de José Bento Pereira Lima, chefe do laboratório. Bento explicou que para um controle vetorial eficaz, é necessário verificar a eficácia dos inseticidas, a partir da realização de diversos testes, seja do efeito residual dos compostos utilizados no exterior das residências, no efeito nas telas mosqueteiras impregnadas, na aplicação do fumacê e ou controle em criadouros por larvicidas.

Um dos destaques, a “Armadilha Portátil para Mosquito”, conhecida como MosqTent, é uma tecnologia inovadora que facilita e amplia a captura de mosquitos vetores, protegendo o profissional de campo no momento da coleta. Em formato de tenda, dividida em dois compartimentos principais, a ferramenta captura os mosquitos de maneira simples e sem a utilização de produtos químicos. Completamente protegido, o profissional responsável pela coleta dos insetos se posiciona no interior da tenda e começa a atrair os vetores a partir dos odores exalados naturalmente pelo corpo humano. Ao se aproximarem, os mosquitos ficam retidos no compartimento externo.

A realização de testes de eficácia da ação residual de inseticidas é outra atividade realizada continuamente pelo laboratório, que recentemente foi reconhecido pela Coordenação Geral de Acreditação do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (CGCRE/Inmetro) por estar em conformidade aos Princípios das Boas Práticas de Laboratório (BPL) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Em “casas-teste”, que simulam ambientes residenciais com os tipos de superfícies encontrados com mais frequência na Região Amazônica, os pesquisadores analisam a eficácia da aplicação de inseticidas em diferentes revestimentos e buscam definir a periodicidade ideal das aplicações.

A partir da apresentação de caso bem-sucedido da utilização manual de biolarvicidas em cidade do Acre, Bento adiantou que testes com drones que despejam biolarcididades estão sendo realizados em Manaus. O especialista espera que o equipamento possa agilizar esse trabalho de dispersão.

Já a pesquisadora Maria Anice Sallum, da Universidade de São Paulo (USP), abordou o impacto direto do desmatamento no aumento de casos de malária. A bióloga elucidou que a transmissão da doença é um processo ecológico dinâmico e complexo, que depende da inter-relação entre a biologia do mosquito e parasitas e comportamento do hospedeiro humano. De acordo com a especialista, a inter-relação é composta por quatro fatores: bióticos (parasitas, vetores, hospedeiro); abióticos (temperatura, precipitação, hidrologia); ecologia humana (estruturas demográfica, socioeconômica e de saúde, e comportamento de migração); e espécies de vetores (competência, longevidade, alimentação sanguínea, densidade e abundância).

Maria Anice Sallum, à esquerda, abordou o impacto do desmatamento na transmissão de malária. Maísa Araújo, à direita, discorreu sobre a interação entre espécies de plasmódio e mosquitos vetores da malária. Fotos: Peter Ilicciev | Montagem: Jefferson Mendes

Sallum salientou ainda que as mudanças antrópicas, como a expansão da agricultura, levam à mudança do ambiente natural, provocando a redução da cobertura vegetal, que podem levar a alterações climáticas e à perda de habitats. Essas mudanças na biodiversidade podem facilitar o processo de invasão biológica, seja de patógenos, parasitas ou hospedeiros e vetores. 

A especialista aproveitou para comentar que estudos realizados na floresta amazônica evidenciaram que cada quilômetro de floresta desmatada produz 27 novos casos de malária. E estudo que coletou mais de 21 mil Anopheles em 12 estados mostrou que o pico de surgimento de mosquitos infectados se dá após o desmatamento do terreno.

Abordando a infecção experimental por Plasmodium vivax em vetores da Amazônia brasileira, a entomologista Maisa Araújo, da Fiocruz Rondônia, mostrou o trabalho realizado pela Plataforma de Produção e Infecção de Vetores da Malária (PIVEM), que tem como objetivo investigar a interação entre as espécies de plasmódio e mosquitos vetores da malária, para responder questões biológicas pouco esclarecidas e que possam auxiliar no controle vetorial em áreas endêmicas. A estrutura tem atuado na produção em massa de três espécies de mosquitos: Anopheles darlingi, Anopheles deaneorum e Anopheles aquasalis, bem como na infecção dessas espécies de com o protozoário Plasmodium.

Recentemente, conseguiram estabelecer em laboratório a primeira colônia do país de Anopheles darlingi, principal vetor de malária em território nacional. A PIVEM, dentre algumas ações, apoia projetos de pesquisadores e estudantes de graduação e pós-graduação e promove capacitação. Possui estrutura com sala de microscopia, sala de experimentação, larvário, insetário e infectório.

Homenagens póstumas

O XVI RNPM prestou tributo póstumo a dois célebres especialistas em doenças infecciosas falecidos recentemente. Em janeiro, a ciência perdeu José Maria de Souza, pesquisador colaborador do Instituto Evandro Chagas, no Pará. Teve papel importante em estudos malária, deixando relevantes contribuições para o diagnóstico, manejo clínico, tratamento e controle dessa doença. Em maio, a pesquisa nacional lamentava a partida de Wanderli Pedro Tadei, pesquisador e coordenador do Laboratório de Malária e Dengue do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Com vasta experiência em entomologia médica, com ênfase aos estudos de vetores, atuou principalmente em malária e dengue.

Medalha Ruth Nussenzweig

Apresentado pelos pesquisadores do Laboratório de Pesquisa em Malária do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Flávia Lima Ribeiro Gomes e Paulo Renato Rivas Totino, o “Prêmio Jovem Pesquisador Brasileiro de Destaque em Malária: Medalha Ruth Nussenzweig” reconheceu Anna Caroline Campos Aguiar, professora afiliada da Unifesp, pela sua contribuição significativa para o estudo da malária.

Foto à esquerda: Anna Caroline posa com a medalha Ruth Nussenzweig. Foto à direita: Leonardo Carvalho e Flávia Lima Ribeiro-Gomes entregam a honraria à estudante. Fotos: Peter Ilicciev | Montagem: Jefferson Mendes

Nesta edição, foram selecionadas três jovens pesquisadoras para apresentação oral. Além de Anna Caroline, participaram Denise Anete Madureira de Alvarenga (Fiocruz-Minas) e Tatiana Almeida Pádua (Farmanguinhos). Cada finalista apresentou, brevemente, seu histórico acadêmico apontando trabalhos e contribuições para a pesquisa em malária.

Participaram da banca avaliadora André Siqueira, do Instituto Nacional de Infectologia (INI/Fiocruz) e Célia Garcia e Marcelo Urbano, da Universidade de São Paulo (USP). Incluindo a vencedora deste ano, a Medalha Ruth Nussenzweig foi entregue a cinco jovens pesquisadores. A primeira edição ocorreu durante a 12ª edição da RNPM, em Ouro Preto, Minas Gerais.

Estudantes premiados

Ao longo da XVI RNPM, estudantes de diferentes instituições brasileiras tiveram a oportunidade de apresentar oralmente seus trabalhados nos intervalos das sessões científicas. As apresentações foram avaliadas por comissão científica composta por cinco pesquisadores.

O prêmio de melhor apresentação foi entregue à estudante Sarah Alves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com o trabalho “Protein endocytosis precedes BBB rupture during brain malaria: possible involvement of the B2R/caveolae pathway”.

O aluno Renato Lima, da Universidade Federal do Pará (UFPA), recebeu menção honrosa com o trabalho "Alterações neuroquímicas associadas a disfunções neurológicas em modelo murino de malária cerebral".

Sarah e Renato durante a premiação das melhores apresentações orais. Foto: Carlos Alves

Além das apresentações orais, estudantes também puderam apresentar suas pesquisas em formato pôster. Os trabalhos foram avaliados por uma comissão composta por 14 avaliadores, que analisaram a desenvoltura e domínio do tema pelos, além da coerência entre os resultados e os objetivos propostos.

O prêmio de melhor pôster foi para Gregório Guilherme Almeida (Fiocruz Minas). Outros três trabalhos receberam menção honrosa: Douglas E. Teixeira (UFRJ), Jacqueline de Aguiar Barros (Secretaria de Roraima) e Rodrigo Freitas (IOC/Fiocruz).

Uma comunidade em crescimento

Encerrando a XVI Reunião Nacional de Pesquisa em Malária, Leonardo Carvalho, presidente da iniciativa e pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Malária do IOC, lembrou os adiamentos em razão da emergência internacional provocada pela Covid-19 e o valor simbólico desse retorno presencial. “Esse encontro era para ter ocorrido em 2020 e passou para 2022. Apesar de todos os percalços no caminho, conseguimos chegar ao que foi extraordinário. De modo geral, foi prazeroso organizar essa Reunião pensando no reencontro após ficarmos isolados esse tempo todo”, declarou.

Presidente da XVI RNPM em discurso no encerramento do evento. Foto: Peter Ilicciev

Leonardo agradeceu a participação de todos, incluindo comissões organizadoras e científicas, patrocinadores e apoiadores, convidados e palestrantes, participantes inscritos, expositores e equipes técnicas. “Qualquer evento só é concretizado com a presença das pessoas. Agradeço a todos que participaram dessa Reunião de uma maneira ou de outra”, afirmou.

O pesquisador finalizou seu discurso destacando os novos contatos que surgiram ao longo do evento. “É difícil chegar nesse momento final. Tivemos um momento de agregação depois de anos separados fisicamente. Vimos uma grande quantidade de novos rostos, pessoas que estão entrando agora para essa comunidade [de enfrentamento à malária]. É muito gratificante perceber que a comunidade continua forte, unida e está crescendo”, concluiu.

A próxima edição da RNPM já está sendo organizada e terá a cidade de Belém, no Pará, como local de realização. A organização ficará por conta de pesquisadoras do Instituto Evandro Chagas.

Medalha Ruth Nussenzweig foi concedida a jovem pesquisadora por sua contribuição no estudo da doença
Por: 
max.gomes
viniciusferreira

Chegou ao fim nesta quinta-feira (28), a 16ª edição da Reunião Nacional de Pesquisa em Malária, realizada no Rio de Janeiro desde a última segunda-feira (25). O último dia de atividades contou com debates sobre ‘vetores e controle vetorial’ e ‘biologia do parasita e interações parasita-hospedeiro’. A sessão foi marcada por homenagens a renomados cientistas falecidos recentemente que dedicaram suas trajetórias à área de doenças infecciosas e também pela premiação dos melhores trabalhos apresentados por pós-doutores e melhores pôsteres de estudantes.

Iniciando as discussões, a chefe do Departamento de Entomologia da Divisão de Doenças Parasitárias e Malária dos Centros de Controle e Prevenção de Doença dos Estados Unidos (CDC/EUA), Audrey Lenhart, instigou à reflexão sobre o quão suficiente são as inovações no controle de vetores da malária para a eliminação da doença na região das Américas.

A especialista apresentou quatro inovações em desenvolvimento ao redor do mundo com potencial utilização para o controle do vetor, como as iscas tóxicas de açúcar, que podem ser implementadas em diversos locais, sem afetar os humanos. Dados preliminares de pesquisa conduzida em Mali mostraram que foram capazes de reduzir a densidade de vetores. Outros testes estão sendo realizados em Zâmbia e no Quênia.

Entomologistas do Brasil e Estados Unidos discutiram os desafios envolvidos no controle do Anopheles. Foto: Carlos Alves

Qualquer brecha em portas, janelas ou paredes pode servir como ponto de entrada de mosquitos. Pensando nisso, está sendo estudada a colocação de “tubos de beiral” instalados em casas para interceptação dos vetores em busca de alimentação. Testes na Costa do Marfim mostraram eficácia de 38% da tecnologia.

Já o emanador de repelente, método de dispersão espacial de composto químico testado por uma multinacional na Indonésia demonstrou eficácia de 30%. E a terapia antiparasitária, administrada de forma massiva em humanos e animais, que matam o Anopheles no momento da alimentação sanguínea, foi capaz de reduzir a infestação do vetor, conforme resultados de testes realizados em Burquina Faso, com 20% de eficácia. “No entanto, nenhuma dessas inovações está sendo testada na região das Américas”, lastimou a especialista.

A entomologista destacou que as inovações tecnológicas por si só não são suficientes para que o mundo atinja a eliminação da malária. Ela acredita que o tripé para alcançar esse objetivo está baseado em ‘inovações em perspectiva’ (necessidade de reconhecer as limitações das abordagens), ‘inovações em engajamento’ (pensar em termos regionais e em redes compostas por especialistas com apoios governamentais) e ‘inovações em práticas de pesquisa’ (pensar além do óbvio). Também apontou alguns desafios para a eliminação, como a estagnação do controle global ao longo dos anos no mundo, limitação de inseticidas, disseminação da resistência, além do surgimento de novas emergências em saúde que tiraram o foco da malária.

Controle de mosquitos vetores da malária estiveram em foco nas palestras de Audrey Lenhart e José Bento Pereira Lima. Fotos: Peter Ilicciev | Montagem: Jefferson Mendes

Atividades em controle de vetores e resistência a inseticidas desenvolvidas pelo Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) foi o mote da apresentação de José Bento Pereira Lima, chefe do laboratório. Bento explicou que para um controle vetorial eficaz, é necessário verificar a eficácia dos inseticidas, a partir da realização de diversos testes, seja do efeito residual dos compostos utilizados no exterior das residências, no efeito nas telas mosqueteiras impregnadas, na aplicação do fumacê e ou controle em criadouros por larvicidas.

Um dos destaques, a “Armadilha Portátil para Mosquito”, conhecida como MosqTent, é uma tecnologia inovadora que facilita e amplia a captura de mosquitos vetores, protegendo o profissional de campo no momento da coleta. Em formato de tenda, dividida em dois compartimentos principais, a ferramenta captura os mosquitos de maneira simples e sem a utilização de produtos químicos. Completamente protegido, o profissional responsável pela coleta dos insetos se posiciona no interior da tenda e começa a atrair os vetores a partir dos odores exalados naturalmente pelo corpo humano. Ao se aproximarem, os mosquitos ficam retidos no compartimento externo.

A realização de testes de eficácia da ação residual de inseticidas é outra atividade realizada continuamente pelo laboratório, que recentemente foi reconhecido pela Coordenação Geral de Acreditação do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (CGCRE/Inmetro) por estar em conformidade aos Princípios das Boas Práticas de Laboratório (BPL) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Em “casas-teste”, que simulam ambientes residenciais com os tipos de superfícies encontrados com mais frequência na Região Amazônica, os pesquisadores analisam a eficácia da aplicação de inseticidas em diferentes revestimentos e buscam definir a periodicidade ideal das aplicações.

A partir da apresentação de caso bem-sucedido da utilização manual de biolarvicidas em cidade do Acre, Bento adiantou que testes com drones que despejam biolarcididades estão sendo realizados em Manaus. O especialista espera que o equipamento possa agilizar esse trabalho de dispersão.

Já a pesquisadora Maria Anice Sallum, da Universidade de São Paulo (USP), abordou o impacto direto do desmatamento no aumento de casos de malária. A bióloga elucidou que a transmissão da doença é um processo ecológico dinâmico e complexo, que depende da inter-relação entre a biologia do mosquito e parasitas e comportamento do hospedeiro humano. De acordo com a especialista, a inter-relação é composta por quatro fatores: bióticos (parasitas, vetores, hospedeiro); abióticos (temperatura, precipitação, hidrologia); ecologia humana (estruturas demográfica, socioeconômica e de saúde, e comportamento de migração); e espécies de vetores (competência, longevidade, alimentação sanguínea, densidade e abundância).

Maria Anice Sallum, à esquerda, abordou o impacto do desmatamento na transmissão de malária. Maísa Araújo, à direita, discorreu sobre a interação entre espécies de plasmódio e mosquitos vetores da malária. Fotos: Peter Ilicciev | Montagem: Jefferson Mendes

Sallum salientou ainda que as mudanças antrópicas, como a expansão da agricultura, levam à mudança do ambiente natural, provocando a redução da cobertura vegetal, que podem levar a alterações climáticas e à perda de habitats. Essas mudanças na biodiversidade podem facilitar o processo de invasão biológica, seja de patógenos, parasitas ou hospedeiros e vetores. 

A especialista aproveitou para comentar que estudos realizados na floresta amazônica evidenciaram que cada quilômetro de floresta desmatada produz 27 novos casos de malária. E estudo que coletou mais de 21 mil Anopheles em 12 estados mostrou que o pico de surgimento de mosquitos infectados se dá após o desmatamento do terreno.

Abordando a infecção experimental por Plasmodium vivax em vetores da Amazônia brasileira, a entomologista Maisa Araújo, da Fiocruz Rondônia, mostrou o trabalho realizado pela Plataforma de Produção e Infecção de Vetores da Malária (PIVEM), que tem como objetivo investigar a interação entre as espécies de plasmódio e mosquitos vetores da malária, para responder questões biológicas pouco esclarecidas e que possam auxiliar no controle vetorial em áreas endêmicas. A estrutura tem atuado na produção em massa de três espécies de mosquitos: Anopheles darlingi, Anopheles deaneorum e Anopheles aquasalis, bem como na infecção dessas espécies de com o protozoário Plasmodium.

Recentemente, conseguiram estabelecer em laboratório a primeira colônia do país de Anopheles darlingi, principal vetor de malária em território nacional. A PIVEM, dentre algumas ações, apoia projetos de pesquisadores e estudantes de graduação e pós-graduação e promove capacitação. Possui estrutura com sala de microscopia, sala de experimentação, larvário, insetário e infectório.

Homenagens póstumas

O XVI RNPM prestou tributo póstumo a dois célebres especialistas em doenças infecciosas falecidos recentemente. Em janeiro, a ciência perdeu José Maria de Souza, pesquisador colaborador do Instituto Evandro Chagas, no Pará. Teve papel importante em estudos malária, deixando relevantes contribuições para o diagnóstico, manejo clínico, tratamento e controle dessa doença. Em maio, a pesquisa nacional lamentava a partida de Wanderli Pedro Tadei, pesquisador e coordenador do Laboratório de Malária e Dengue do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Com vasta experiência em entomologia médica, com ênfase aos estudos de vetores, atuou principalmente em malária e dengue.

Medalha Ruth Nussenzweig

Apresentado pelos pesquisadores do Laboratório de Pesquisa em Malária do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Flávia Lima Ribeiro Gomes e Paulo Renato Rivas Totino, o “Prêmio Jovem Pesquisador Brasileiro de Destaque em Malária: Medalha Ruth Nussenzweig” reconheceu Anna Caroline Campos Aguiar, professora afiliada da Unifesp, pela sua contribuição significativa para o estudo da malária.

Foto à esquerda: Anna Caroline posa com a medalha Ruth Nussenzweig. Foto à direita: Leonardo Carvalho e Flávia Lima Ribeiro-Gomes entregam a honraria à estudante. Fotos: Peter Ilicciev | Montagem: Jefferson Mendes

Nesta edição, foram selecionadas três jovens pesquisadoras para apresentação oral. Além de Anna Caroline, participaram Denise Anete Madureira de Alvarenga (Fiocruz-Minas) e Tatiana Almeida Pádua (Farmanguinhos). Cada finalista apresentou, brevemente, seu histórico acadêmico apontando trabalhos e contribuições para a pesquisa em malária.

Participaram da banca avaliadora André Siqueira, do Instituto Nacional de Infectologia (INI/Fiocruz) e Célia Garcia e Marcelo Urbano, da Universidade de São Paulo (USP). Incluindo a vencedora deste ano, a Medalha Ruth Nussenzweig foi entregue a cinco jovens pesquisadores. A primeira edição ocorreu durante a 12ª edição da RNPM, em Ouro Preto, Minas Gerais.

Estudantes premiados

Ao longo da XVI RNPM, estudantes de diferentes instituições brasileiras tiveram a oportunidade de apresentar oralmente seus trabalhados nos intervalos das sessões científicas. As apresentações foram avaliadas por comissão científica composta por cinco pesquisadores.

O prêmio de melhor apresentação foi entregue à estudante Sarah Alves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com o trabalho “Protein endocytosis precedes BBB rupture during brain malaria: possible involvement of the B2R/caveolae pathway”.

O aluno Renato Lima, da Universidade Federal do Pará (UFPA), recebeu menção honrosa com o trabalho "Alterações neuroquímicas associadas a disfunções neurológicas em modelo murino de malária cerebral".

Sarah e Renato durante a premiação das melhores apresentações orais. Foto: Carlos Alves

Além das apresentações orais, estudantes também puderam apresentar suas pesquisas em formato pôster. Os trabalhos foram avaliados por uma comissão composta por 14 avaliadores, que analisaram a desenvoltura e domínio do tema pelos, além da coerência entre os resultados e os objetivos propostos.

O prêmio de melhor pôster foi para Gregório Guilherme Almeida (Fiocruz Minas). Outros três trabalhos receberam menção honrosa: Douglas E. Teixeira (UFRJ), Jacqueline de Aguiar Barros (Secretaria de Roraima) e Rodrigo Freitas (IOC/Fiocruz).

Uma comunidade em crescimento

Encerrando a XVI Reunião Nacional de Pesquisa em Malária, Leonardo Carvalho, presidente da iniciativa e pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Malária do IOC, lembrou os adiamentos em razão da emergência internacional provocada pela Covid-19 e o valor simbólico desse retorno presencial. “Esse encontro era para ter ocorrido em 2020 e passou para 2022. Apesar de todos os percalços no caminho, conseguimos chegar ao que foi extraordinário. De modo geral, foi prazeroso organizar essa Reunião pensando no reencontro após ficarmos isolados esse tempo todo”, declarou.

Presidente da XVI RNPM em discurso no encerramento do evento. Foto: Peter Ilicciev

Leonardo agradeceu a participação de todos, incluindo comissões organizadoras e científicas, patrocinadores e apoiadores, convidados e palestrantes, participantes inscritos, expositores e equipes técnicas. “Qualquer evento só é concretizado com a presença das pessoas. Agradeço a todos que participaram dessa Reunião de uma maneira ou de outra”, afirmou.

O pesquisador finalizou seu discurso destacando os novos contatos que surgiram ao longo do evento. “É difícil chegar nesse momento final. Tivemos um momento de agregação depois de anos separados fisicamente. Vimos uma grande quantidade de novos rostos, pessoas que estão entrando agora para essa comunidade [de enfrentamento à malária]. É muito gratificante perceber que a comunidade continua forte, unida e está crescendo”, concluiu.

A próxima edição da RNPM já está sendo organizada e terá a cidade de Belém, no Pará, como local de realização. A organização ficará por conta de pesquisadoras do Instituto Evandro Chagas.

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)