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Desafios no enfrentamento à doença de Chagas

Terceiro encontro do 7° Ciclo Carlos Chagas de Palestras discutiu as perspectivas de melhorias no diagnóstico, tratamento e atenção integral ao paciente
Por Lucas Rocha18/06/2019 - Atualizado em 26/03/2021

Falta de diagnóstico precoce, limitações dos fármacos disponíveis para o tratamento e falhas na atenção integral ao paciente. Estes e outros desafios no enfrentamento à doença de Chagas – que atinge entre seis e sete milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) - foram discutidos no terceiro encontro do 7º Ciclo Carlos Chagas de Palestras, realizado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), no dia 13 de junho, na sede da Fiocruz, no Rio de Janeiro.

Participaram do evento o vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, Rodrigo Correa de Oliveira, e os pesquisadores Maria de Nazaré Soeiro, do Laboratório de Biologia Celular do IOC, Andrea Silvestre de Sousa, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), Marina Siqueira, da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF), e Sergio Sosa-Estani, da Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi, na sigla em inglês).

Em alusão aos 110 anos da descrição da doença de Chagas, o 7º Ciclo Carlos Chagas de Palestras traz atividades mensais entre abril e julho de 2019, de forma integrada ao Centro de Estudos do IOC. O próximo encontro está previsto para o dia 12/07.

“A doença de Chagas é muito antiga e está presente nas Américas há mais de nove mil anos. As primeiras décadas após a descoberta foram intensamente dedicadas à compreensão do que era a fase aguda da doença. O parasito e a inflamação - como proposto por Carlos Chagas - tinham um papel central na lesão cardíaca. Por isso, desde aquela época já havia conhecimento de que tratar o paciente e combater o microrganismo era essencial”, destacou Joseli Lannes, chefe do Laboratório de Biologia das Interações do IOC e mediadora do encontro.

 

Pesquisadores destacaram importância do investimento em estratégias de vigilância, na disponibilização de atendimento integral ao paciente e no desenvolvimento de novos fármacos (Foto: Lucas Rocha/IOC/Fiocruz)

A pouca oferta de fármacos e os efeitos colaterais da terapia figuram entre os maiores desafios no tratamento da doença. Os principais medicamentos usados no combate à infecção pelo Trypanosoma cruzi são os mesmos criados há mais de quatro décadas: nifurtimox, de 1960, e benznidazol, de 1974. O vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, Rodrigo Correa de Oliveira, destacou um estudo que aponta avanços ao alcançar a eliminação do parasito com a utilização de doses mais baixas do benznidazol.

Os experimentos realizados com camundongos mostram que doses mais baixas [40mg/kg/dia] para o tratamento da doença de Chagas crônica experimental atingem taxas de cura semelhantes às alcançadas com a utilização das doses de referência [100mg/kg/dia]. Ainda segundo a pesquisa, o tratamento mostrou maior eficácia na fase crônica em relação à fase aguda da doença.

Diagnóstico e tratamento

Com o objetivo de alcançar melhores resultados no tratamento, cientistas atuam em diversas frentes na análise de quimioterapias experimentais. A pesquisadora Maria de Nazaré Soeiro, chefe do Laboratório de Biologia Celular do IOC, apresentou perspectivas de estudos voltados para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas. “Os medicamentos disponíveis apresentam várias limitações como a ocorrência de cepas resistentes, além de efeitos colaterais. Há uma demanda urgente por novas alternativas terapêuticas. Temos que ampliar o acesso aos medicamentos existentes e tornar o acolhimento dos pacientes mais integral”, afirma.

Da descoberta à chegada ao mercado farmacêutico, o processo de criação de um novo medicamento conta com um longo caminho. Em suma, o percurso inclui etapas de triagem e otimização dos novos compostos, avaliações de absorção, distribuição, metabolismo e excreção pelo organismo, ensaios clínicos e a aprovação de órgãos e agências reguladoras. De acordo com o diretor do Programa de Chagas da Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi), Sergio Sosa-Estani, o desenvolvimento de um novo medicamento pode levar de 10 a 15 anos.

Segundo Estani, faltam investimentos para a pesquisa e o desenvolvimento de novas terapias para a doença de Chagas e para as demais doenças tropicais negligenciadas devido à priorização do lucro pelo mercado global. Desde a criação, em 2003, a Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi) representa um novo modelo para o desenvolvimento de medicamentos. A organização sem fins lucrativos conta com oito escritórios regionais em países como Brasil, África do Sul, Estados Unidos, Índia, Japão, Malásia, Quênia e República Democrática do Congo.

A médica cardiologista Andréa Silvestre de Sousa, que atua junto ao Laboratório de Pesquisa Clínica em Doença de Chagas do INI, destacou a importância do reforço nas estratégias de vigilância e na promoção do atendimento integral ao paciente. “No Brasil, 73% dos casos agudos são associados à transmissão oral, mas não devemos esquecer da possibilidade de transmissão vetorial clássica. Várias espécies autóctones continuam com elevado potencial de colonização e invasão de domicílios. Espécies como Triatoma brasiliensis e do gênero panstrongylus têm fácil adaptação ao ambiente silvestre, ao peridomicílio e intradomicílio e apresentam alta capacidade de infecção. Não podemos esmorecer em relação à vigilância”, ressaltou.

A pesquisadora também chamou atenção para mudanças na epidemiologia do agravo, que já foi considerado essencialmente rural e atualmente está presente em grandes centros urbanos. Ela destacou, ainda o gargalo no diagnóstico precoce que favorece o agravamento dos casos e óbitos. “Um dos grandes desafios hoje é tornar a notificação dos casos crônicos urgente. Só identificando o número correto de pacientes é que as políticas públicas podem ser feitas de forma adequada para essa população”, pontuou.

A iniciativa Médicos Sem Fronteiras (MSF) desenvolve projetos de atenção a pacientes com a doença de Chagas desde 1999. Segundo a analista de assuntos humanitários do MSF, Marina Siqueira, a organização tem atuado em diversos países da América Latina, como Honduras, Nicarágua, Guatemala, Brasil, Paraguai, México e Bolívia. “Em 20 anos de atividades médicas em doença de Chagas, demos oportunidade de diagnóstico para mais de 117 mil pessoas. Desse total, de 11 mil casos confirmados, mais de nove mil pessoas foram tratadas”, ressaltou.

Na oportunidade, a especialista destacou o investimento por parte da instituição em estratégias para influenciar políticas públicas e a alocação de recursos em prol do agravo. “Temos como objetivo principal pressionar a agenda do Ministério da Saúde pela priorização da doença de Chagas. É preciso investir não só na vigilância, como também na atenção básica, por onde as pessoas acessam o Sistema Único de Saúde. Toda essa mobilização é voltada para que a qualidade de vida dos pacientes seja alterada de fato”, afirmou.
 

Terceiro encontro do 7° Ciclo Carlos Chagas de Palestras discutiu as perspectivas de melhorias no diagnóstico, tratamento e atenção integral ao paciente
Por: 
lucas

Falta de diagnóstico precoce, limitações dos fármacos disponíveis para o tratamento e falhas na atenção integral ao paciente. Estes e outros desafios no enfrentamento à doença de Chagas – que atinge entre seis e sete milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) - foram discutidos no terceiro encontro do 7º Ciclo Carlos Chagas de Palestras, realizado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), no dia 13 de junho, na sede da Fiocruz, no Rio de Janeiro.

Participaram do evento o vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, Rodrigo Correa de Oliveira, e os pesquisadores Maria de Nazaré Soeiro, do Laboratório de Biologia Celular do IOC, Andrea Silvestre de Sousa, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), Marina Siqueira, da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF), e Sergio Sosa-Estani, da Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi, na sigla em inglês).

Em alusão aos 110 anos da descrição da doença de Chagas, o 7º Ciclo Carlos Chagas de Palestras traz atividades mensais entre abril e julho de 2019, de forma integrada ao Centro de Estudos do IOC. O próximo encontro está previsto para o dia 12/07.

“A doença de Chagas é muito antiga e está presente nas Américas há mais de nove mil anos. As primeiras décadas após a descoberta foram intensamente dedicadas à compreensão do que era a fase aguda da doença. O parasito e a inflamação - como proposto por Carlos Chagas - tinham um papel central na lesão cardíaca. Por isso, desde aquela época já havia conhecimento de que tratar o paciente e combater o microrganismo era essencial”, destacou Joseli Lannes, chefe do Laboratório de Biologia das Interações do IOC e mediadora do encontro.

 

Pesquisadores destacaram importância do investimento em estratégias de vigilância, na disponibilização de atendimento integral ao paciente e no desenvolvimento de novos fármacos (Foto: Lucas Rocha/IOC/Fiocruz)

A pouca oferta de fármacos e os efeitos colaterais da terapia figuram entre os maiores desafios no tratamento da doença. Os principais medicamentos usados no combate à infecção pelo Trypanosoma cruzi são os mesmos criados há mais de quatro décadas: nifurtimox, de 1960, e benznidazol, de 1974. O vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, Rodrigo Correa de Oliveira, destacou um estudo que aponta avanços ao alcançar a eliminação do parasito com a utilização de doses mais baixas do benznidazol.

Os experimentos realizados com camundongos mostram que doses mais baixas [40mg/kg/dia] para o tratamento da doença de Chagas crônica experimental atingem taxas de cura semelhantes às alcançadas com a utilização das doses de referência [100mg/kg/dia]. Ainda segundo a pesquisa, o tratamento mostrou maior eficácia na fase crônica em relação à fase aguda da doença.

Diagnóstico e tratamento

Com o objetivo de alcançar melhores resultados no tratamento, cientistas atuam em diversas frentes na análise de quimioterapias experimentais. A pesquisadora Maria de Nazaré Soeiro, chefe do Laboratório de Biologia Celular do IOC, apresentou perspectivas de estudos voltados para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas. “Os medicamentos disponíveis apresentam várias limitações como a ocorrência de cepas resistentes, além de efeitos colaterais. Há uma demanda urgente por novas alternativas terapêuticas. Temos que ampliar o acesso aos medicamentos existentes e tornar o acolhimento dos pacientes mais integral”, afirma.

Da descoberta à chegada ao mercado farmacêutico, o processo de criação de um novo medicamento conta com um longo caminho. Em suma, o percurso inclui etapas de triagem e otimização dos novos compostos, avaliações de absorção, distribuição, metabolismo e excreção pelo organismo, ensaios clínicos e a aprovação de órgãos e agências reguladoras. De acordo com o diretor do Programa de Chagas da Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi), Sergio Sosa-Estani, o desenvolvimento de um novo medicamento pode levar de 10 a 15 anos.

Segundo Estani, faltam investimentos para a pesquisa e o desenvolvimento de novas terapias para a doença de Chagas e para as demais doenças tropicais negligenciadas devido à priorização do lucro pelo mercado global. Desde a criação, em 2003, a Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi) representa um novo modelo para o desenvolvimento de medicamentos. A organização sem fins lucrativos conta com oito escritórios regionais em países como Brasil, África do Sul, Estados Unidos, Índia, Japão, Malásia, Quênia e República Democrática do Congo.

A médica cardiologista Andréa Silvestre de Sousa, que atua junto ao Laboratório de Pesquisa Clínica em Doença de Chagas do INI, destacou a importância do reforço nas estratégias de vigilância e na promoção do atendimento integral ao paciente. “No Brasil, 73% dos casos agudos são associados à transmissão oral, mas não devemos esquecer da possibilidade de transmissão vetorial clássica. Várias espécies autóctones continuam com elevado potencial de colonização e invasão de domicílios. Espécies como Triatoma brasiliensis e do gênero panstrongylus têm fácil adaptação ao ambiente silvestre, ao peridomicílio e intradomicílio e apresentam alta capacidade de infecção. Não podemos esmorecer em relação à vigilância”, ressaltou.

A pesquisadora também chamou atenção para mudanças na epidemiologia do agravo, que já foi considerado essencialmente rural e atualmente está presente em grandes centros urbanos. Ela destacou, ainda o gargalo no diagnóstico precoce que favorece o agravamento dos casos e óbitos. “Um dos grandes desafios hoje é tornar a notificação dos casos crônicos urgente. Só identificando o número correto de pacientes é que as políticas públicas podem ser feitas de forma adequada para essa população”, pontuou.

A iniciativa Médicos Sem Fronteiras (MSF) desenvolve projetos de atenção a pacientes com a doença de Chagas desde 1999. Segundo a analista de assuntos humanitários do MSF, Marina Siqueira, a organização tem atuado em diversos países da América Latina, como Honduras, Nicarágua, Guatemala, Brasil, Paraguai, México e Bolívia. “Em 20 anos de atividades médicas em doença de Chagas, demos oportunidade de diagnóstico para mais de 117 mil pessoas. Desse total, de 11 mil casos confirmados, mais de nove mil pessoas foram tratadas”, ressaltou.

Na oportunidade, a especialista destacou o investimento por parte da instituição em estratégias para influenciar políticas públicas e a alocação de recursos em prol do agravo. “Temos como objetivo principal pressionar a agenda do Ministério da Saúde pela priorização da doença de Chagas. É preciso investir não só na vigilância, como também na atenção básica, por onde as pessoas acessam o Sistema Único de Saúde. Toda essa mobilização é voltada para que a qualidade de vida dos pacientes seja alterada de fato”, afirmou.
 

Edição: 
Vinicius Ferreira

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)