Desde a divulgação do projeto genoma humano os cientistas estão confrontando resultados de difÃceis interpretações. Os dados divulgados recentemente sobre o DNA humano estão mais confundindo, desorientando e complicando o que se conhecia da genética. Aparentemente os estudos revelam que as regiões conhecidas como não codificantes (DNA lixo) são mais importantes para a saúde e evolução humana do que os próprios genes. Por outro lado, a molécula conhecida como RNA, que na minha época de estudante era importante por carrear a mensagem do gene para a sÃntese de proteÃna, pode ter uma função de comando e controle da função celular.
Em resumo, os resultados indicam que os processos celulares, assumidos por muito tempo serem dependentes dos genes, parecem ser resultados de interações mais complexas que se processam nas regiões não codificantes do DNA. Com estas novas revelações os cientistas têm que repensar o que são genes, o que os genes fazem e como o genoma funcional evoluiu.
Relembrando: por mais de 50 anos, o conceito básico na biologia revelava que as células possuÃam em seu núcleo a dupla fita do DNA, a qual inclui os genes, e que cada gene, por sua vez, continha as instruções genéticas para ordenar a sÃntese de uma proteÃna especÃfica. Hoje, no entanto, esta compreensão está mais complicada, parece que a sÃntese de uma proteÃna depende mais de uma coordenação fantástica entre os genes e as regiões não codificantes do DNA.
Desde que o genoma humano foi completamente seqüenciado ficou demonstrado que somente 1,5% do DNA consistia em genes regiões codificantes de proteÃnas. Além disto, 3,5% do DNA estavam relacionados com os genes vinculados a regiões regulatórias. E para que serviriam os 95% restantes do DNA? Ou seja, as regiões não codificantes do DNA?
Conhecemos ainda muito pouco destas regiões. Pode ser que algumas destas sejam realmente consideradas de lixo, mas outras destas regiões teriam algum significado biológico. Alguns trabalhos têm demonstrado que o risco de diabetes do tipo 2, algumas doenças cardÃacas e cânceres estão mais relacionados com as regiões não codificantes do DNA do que com seus genes. Estes dados representam uma mudança conceitual na genética e retiram os genes do centro do universo biológico. Ou seja, parece que essas regulações estão em algum lugar não codificante do genoma, mas não nos genes.
Nos dias de hoje, os RNAs estão sendo considerados as principais moléculas na regulação dos processos celulares, lugar antes reservado aos genes. Os dados demonstraram que o propósito básico do DNA lixo pode ser criar várias formas de RNA que atuam como reguladores dos genes (regiões codificantes de proteÃnas). Já foram descritos mais de 37 mil RNAs diferentes comparados com somente 22 mil genes revelados. O conceito da importância desses tipos de RNAs ainda não é aceito por muitos cientistas, mas já é bem aceito que o papel dos RNAs na bioquÃmica celular vai muito além do que se acreditava anteriormente.
* Eloi S. Garcia é pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, ex-presidente da Fiocruz e membro da Academia Brasileira de Ciências.
Desde a divulgação do projeto genoma humano os cientistas estão confrontando resultados de difÃceis interpretações. Os dados divulgados recentemente sobre o DNA humano estão mais confundindo, desorientando e complicando o que se conhecia da genética. Aparentemente os estudos revelam que as regiões conhecidas como não codificantes (DNA lixo) são mais importantes para a saúde e evolução humana do que os próprios genes. Por outro lado, a molécula conhecida como RNA, que na minha época de estudante era importante por carrear a mensagem do gene para a sÃntese de proteÃna, pode ter uma função de comando e controle da função celular.
Em resumo, os resultados indicam que os processos celulares, assumidos por muito tempo serem dependentes dos genes, parecem ser resultados de interações mais complexas que se processam nas regiões não codificantes do DNA. Com estas novas revelações os cientistas têm que repensar o que são genes, o que os genes fazem e como o genoma funcional evoluiu.
Relembrando: por mais de 50 anos, o conceito básico na biologia revelava que as células possuÃam em seu núcleo a dupla fita do DNA, a qual inclui os genes, e que cada gene, por sua vez, continha as instruções genéticas para ordenar a sÃntese de uma proteÃna especÃfica. Hoje, no entanto, esta compreensão está mais complicada, parece que a sÃntese de uma proteÃna depende mais de uma coordenação fantástica entre os genes e as regiões não codificantes do DNA.
Desde que o genoma humano foi completamente seqüenciado ficou demonstrado que somente 1,5% do DNA consistia em genes regiões codificantes de proteÃnas. Além disto, 3,5% do DNA estavam relacionados com os genes vinculados a regiões regulatórias. E para que serviriam os 95% restantes do DNA? Ou seja, as regiões não codificantes do DNA?
Conhecemos ainda muito pouco destas regiões. Pode ser que algumas destas sejam realmente consideradas de lixo, mas outras destas regiões teriam algum significado biológico. Alguns trabalhos têm demonstrado que o risco de diabetes do tipo 2, algumas doenças cardÃacas e cânceres estão mais relacionados com as regiões não codificantes do DNA do que com seus genes. Estes dados representam uma mudança conceitual na genética e retiram os genes do centro do universo biológico. Ou seja, parece que essas regulações estão em algum lugar não codificante do genoma, mas não nos genes.
Nos dias de hoje, os RNAs estão sendo considerados as principais moléculas na regulação dos processos celulares, lugar antes reservado aos genes. Os dados demonstraram que o propósito básico do DNA lixo pode ser criar várias formas de RNA que atuam como reguladores dos genes (regiões codificantes de proteÃnas). Já foram descritos mais de 37 mil RNAs diferentes comparados com somente 22 mil genes revelados. O conceito da importância desses tipos de RNAs ainda não é aceito por muitos cientistas, mas já é bem aceito que o papel dos RNAs na bioquÃmica celular vai muito além do que se acreditava anteriormente.
* Eloi S. Garcia é pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, ex-presidente da Fiocruz e membro da Academia Brasileira de Ciências.
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)