Portuguese English Spanish
Interface
Adjust the interface to make it easier to use for different conditions.
This renders the document in high contrast mode.
This renders the document as white on black
This can help those with trouble processing rapid screen movements.
This loads a font easier to read for people with dyslexia.

vw_cabecalho_novo

Busca Avançada
Você está aqui: Notícias » Estudo demonstra transmissão venérea do Zika entre mosquitos Aedes aegypti

Estudo demonstra transmissão venérea do Zika entre mosquitos Aedes aegypti

Fenômeno ajuda a explicar a propagação do vírus. Especialistas recomendam intensificação das medidas de controle do mosquito durante temporada de chuvas de verão
Por Vinicius Ferreira21/02/2018 - Atualizado em 23/02/2024

Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e do Instituto Pasteur, de Paris, na França, demonstraram que o vírus Zika pode ser transmitido de forma venérea entre mosquitos da espécie Aedes aegypti.

O achado demonstra uma terceira via de propagação do microrganismo entre os mosquitos, além das alternativas já conhecidas: a ingestão de sangue de uma pessoa infectada e a transmissão vertical (da mãe para os ovos). O estudo foi publicado na revista científica internacional Parasites & Vectors.

O estudo teve financiamento da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Pesquisadores do Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Manaus) também publicaram resultados sobre transmissão venérea na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz.

Para realizar os experimentos, os especialistas coletaram ovos de Aedes aegypti oriundos dos municípios do Rio de Janeiro (RJ) e Goiânia (GO).

No laboratório, após os ovos eclodirem e se desenvolverem até a fase adulta, os machos e fêmeas foram separados em gaiolas.

Por meio da técnica de RT-PCR em tempo real, capaz de detectar e quantificar o material genético do vírus, foi certificado que nenhum deles havia nascido infectado com Zika, afastando a hipótese de que na coleta tivesse sido capturado um ovo já infectado, como resultado de uma possível transmissão vertical.

Atualmente no Instituto Pasteur, em Paris, onde desenvolve parte de seu doutorado, Stephanie Silva Campos, primeira autora do artigo, explica que a eficiência da via de transmissão venérea pode ser elevada. Foto: Filipe Abreu


Em uma primeira rodada, foi testado o potencial de transmissão do vírus de fêmeas para machos. Para isso, fêmeas adultas provenientes da população de ovos coletados na cidade do Rio foram alimentadas com sangue infectado com duas linhagens do vírus: uma isolada a partir de um paciente infectado na região Sudeste, denominada de ZIKV-Rio-U1, e outra de um paciente infectado no Nordeste, chamada de ZIKV-PE243.

As sequências genéticas de ambas as cepas utilizadas no estudo estão publicadas no banco de genomas internacional GenBank, acessíveis a cientistas de todo o mundo.

Machos virgens e fêmeas infectadas foram, então, colocados juntos em gaiolas ao longo de dois períodos de tempo: em um grupo, machos e fêmeas tiveram contato por 30 horas e, no segundo, por cinco dias.

Com a técnica de RT-PCR em tempo real, os pesquisadores detectaram que, em média, a cada 100 machos do grupo que teve apenas 30 horas de contato com as fêmeas, um foi infectado com o patógeno. Já no grupo que teve a oportunidade de acasalar ao longo de cinco dias, o índice de infecção venérea atingiu 33%.

Na segunda rodada do experimento, o objetivo foi testar o potencial de transmissão do vírus de machos para fêmeas. Os especialistas, dessa vez, inocularam o vírus Zika em machos.

Aguardaram passar 10 dias e 14 dias após a infecção. Então, colocaram os machos infectados em contato com fêmeas virgens por períodos de 30 horas.

Para os machos infectados há 14 dias, metade das fêmeas foi infectada de forma venérea.

Segundo Ricardo Lourenço, os resultados reforçam a importância de medidas preventivas para evitar a proliferação de mosquitos e, consequentemente, a manutenção do vírus no ambiente. Foto: Gutemberg Brito

"Na natureza, a eficiência da via de transmissão venérea pode ser ainda maior do que demonstrado no experimento. Os dados evidenciam o importante papel que essa transmissão tem na manutenção do vírus na natureza, principalmente nos períodos entre epidemias, quando o ciclo de transmissão envolvendo humanos sofre queda", explicou Stephanie Silva Campos, primeira autora do artigo, que desenvolveu o estudo durante seu mestrado no Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Biologia Parasitária do IOC, defendido em abril de 2017.

Os resultados foram publicados no periódico internacional em dezembro do mesmo ano.

"Demonstramos que o vírus Zika é capaz de se propagar por uma nova via de transmissão, além das que já haviam sido relatadas por cientistas do Brasil e de outros países", completou Ricardo Lourenço de Oliveira, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários e orientador do estudo.

"Esse fator sem dúvida ajuda a explicar a veloz propagação do vírus Zika e deverá ser considerado em estudos epidemiológicos que estimem o espalhamento do vírus, bem como sua chance de retorno após períodos interepidêmicos", avalia.

Segundo Ricardo, a transmissão venérea entre mosquitos também ocorre no caso do vírus dengue, conforme relatado por pesquisas anteriores.

"Esse estudo demonstrou que o Zika pode ser transmitido de forma venérea por duas populações de mosquitos geograficamente distintas, tanto da fêmea para o macho, quanto vice-versa", completou Stephanie.

A prevenção não pode parar

As altas temperaturas e as pancadas de chuva típicas do verão favorecem a proliferação do mosquito Aedes aegypti. A participação de todos na eliminação de criadouros do vetor da dengue, Zika e chikungunya é fundamental para um período sem epidemias e surtos dessas doenças.

A recente descoberta reforça ainda mais a recomendação quanto à intensificação das medidas de controle do mosquito.

"Este achado fechou um ciclo. Percebemos que o Zika consegue se manter na natureza por várias formas", comentou a primeira autora.

Como somente as fêmeas de Aedes necessitam de sangue para maturar seus ovos, são elas que estão envolvidas diretamente na transmissão do vírus Zika.

Até então, acreditava-se que apenas iriam infectar alguém após picar um indivíduo infectado.

Agora, sabe-se que são capazes de transmitir o vírus após serem infectadas por um macho, ou que nasceu assim ou que foi contaminado por outra fêmea.

"Isso demonstra uma preocupação extra. Como os mosquitos podem ser deslocados de um local para o outro pelo vento, por carros, navios e até aviões, um surto pode ter início em uma área onde não havia, se quer, um ser humano infectado", salientou Lourenço.

"Como a elevação da temperatura acelera o desenvolvimento desse inseto, se não eliminarmos os focos do mosquito, teremos um aumento da infestação de Aedes. E quanto mais Aedes, mais chance de termos um verão com epidemia", acrescentou, destacando também o papel do poder público.

"O abastecimento de água e a coleta de lixo também são fatores chave. Precisamos de uma conjunção de esforços, do poder público, responsável por essas atividades, e da população, já que o mosquito vive dentro das nossas casas e quintais", destacou. 

Fenômeno ajuda a explicar a propagação do vírus. Especialistas recomendam intensificação das medidas de controle do mosquito durante temporada de chuvas de verão
Por: 
viniciusferreira

Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e do Instituto Pasteur, de Paris, na França, demonstraram que o vírus Zika pode ser transmitido de forma venérea entre mosquitos da espécie Aedes aegypti.

O achado demonstra uma terceira via de propagação do microrganismo entre os mosquitos, além das alternativas já conhecidas: a ingestão de sangue de uma pessoa infectada e a transmissão vertical (da mãe para os ovos). O estudo foi publicado na revista científica internacional Parasites & Vectors.

O estudo teve financiamento da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Pesquisadores do Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Manaus) também publicaram resultados sobre transmissão venérea na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz.

Para realizar os experimentos, os especialistas coletaram ovos de Aedes aegypti oriundos dos municípios do Rio de Janeiro (RJ) e Goiânia (GO).

No laboratório, após os ovos eclodirem e se desenvolverem até a fase adulta, os machos e fêmeas foram separados em gaiolas.

Por meio da técnica de RT-PCR em tempo real, capaz de detectar e quantificar o material genético do vírus, foi certificado que nenhum deles havia nascido infectado com Zika, afastando a hipótese de que na coleta tivesse sido capturado um ovo já infectado, como resultado de uma possível transmissão vertical.

Atualmente no Instituto Pasteur, em Paris, onde desenvolve parte de seu doutorado, Stephanie Silva Campos, primeira autora do artigo, explica que a eficiência da via de transmissão venérea pode ser elevada. Foto: Filipe Abreu

Em uma primeira rodada, foi testado o potencial de transmissão do vírus de fêmeas para machos. Para isso, fêmeas adultas provenientes da população de ovos coletados na cidade do Rio foram alimentadas com sangue infectado com duas linhagens do vírus: uma isolada a partir de um paciente infectado na região Sudeste, denominada de ZIKV-Rio-U1, e outra de um paciente infectado no Nordeste, chamada de ZIKV-PE243.

As sequências genéticas de ambas as cepas utilizadas no estudo estão publicadas no banco de genomas internacional GenBank, acessíveis a cientistas de todo o mundo.

Machos virgens e fêmeas infectadas foram, então, colocados juntos em gaiolas ao longo de dois períodos de tempo: em um grupo, machos e fêmeas tiveram contato por 30 horas e, no segundo, por cinco dias.

Com a técnica de RT-PCR em tempo real, os pesquisadores detectaram que, em média, a cada 100 machos do grupo que teve apenas 30 horas de contato com as fêmeas, um foi infectado com o patógeno. Já no grupo que teve a oportunidade de acasalar ao longo de cinco dias, o índice de infecção venérea atingiu 33%.

Na segunda rodada do experimento, o objetivo foi testar o potencial de transmissão do vírus de machos para fêmeas. Os especialistas, dessa vez, inocularam o vírus Zika em machos.

Aguardaram passar 10 dias e 14 dias após a infecção. Então, colocaram os machos infectados em contato com fêmeas virgens por períodos de 30 horas.

Para os machos infectados há 14 dias, metade das fêmeas foi infectada de forma venérea.

Segundo Ricardo Lourenço, os resultados reforçam a importância de medidas preventivas para evitar a proliferação de mosquitos e, consequentemente, a manutenção do vírus no ambiente. Foto: Gutemberg Brito

"Na natureza, a eficiência da via de transmissão venérea pode ser ainda maior do que demonstrado no experimento. Os dados evidenciam o importante papel que essa transmissão tem na manutenção do vírus na natureza, principalmente nos períodos entre epidemias, quando o ciclo de transmissão envolvendo humanos sofre queda", explicou Stephanie Silva Campos, primeira autora do artigo, que desenvolveu o estudo durante seu mestrado no Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Biologia Parasitária do IOC, defendido em abril de 2017.

Os resultados foram publicados no periódico internacional em dezembro do mesmo ano.

"Demonstramos que o vírus Zika é capaz de se propagar por uma nova via de transmissão, além das que já haviam sido relatadas por cientistas do Brasil e de outros países", completou Ricardo Lourenço de Oliveira, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários e orientador do estudo.

"Esse fator sem dúvida ajuda a explicar a veloz propagação do vírus Zika e deverá ser considerado em estudos epidemiológicos que estimem o espalhamento do vírus, bem como sua chance de retorno após períodos interepidêmicos", avalia.

Segundo Ricardo, a transmissão venérea entre mosquitos também ocorre no caso do vírus dengue, conforme relatado por pesquisas anteriores.

"Esse estudo demonstrou que o Zika pode ser transmitido de forma venérea por duas populações de mosquitos geograficamente distintas, tanto da fêmea para o macho, quanto vice-versa", completou Stephanie.

A prevenção não pode parar

As altas temperaturas e as pancadas de chuva típicas do verão favorecem a proliferação do mosquito Aedes aegypti. A participação de todos na eliminação de criadouros do vetor da dengue, Zika e chikungunya é fundamental para um período sem epidemias e surtos dessas doenças.

A recente descoberta reforça ainda mais a recomendação quanto à intensificação das medidas de controle do mosquito.

"Este achado fechou um ciclo. Percebemos que o Zika consegue se manter na natureza por várias formas", comentou a primeira autora.

Como somente as fêmeas de Aedes necessitam de sangue para maturar seus ovos, são elas que estão envolvidas diretamente na transmissão do vírus Zika.

Até então, acreditava-se que apenas iriam infectar alguém após picar um indivíduo infectado.

Agora, sabe-se que são capazes de transmitir o vírus após serem infectadas por um macho, ou que nasceu assim ou que foi contaminado por outra fêmea.

"Isso demonstra uma preocupação extra. Como os mosquitos podem ser deslocados de um local para o outro pelo vento, por carros, navios e até aviões, um surto pode ter início em uma área onde não havia, se quer, um ser humano infectado", salientou Lourenço.

"Como a elevação da temperatura acelera o desenvolvimento desse inseto, se não eliminarmos os focos do mosquito, teremos um aumento da infestação de Aedes. E quanto mais Aedes, mais chance de termos um verão com epidemia", acrescentou, destacando também o papel do poder público.

"O abastecimento de água e a coleta de lixo também são fatores chave. Precisamos de uma conjunção de esforços, do poder público, responsável por essas atividades, e da população, já que o mosquito vive dentro das nossas casas e quintais", destacou. 

Edição: 
Raquel Aguiar

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)