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Estudo investiga inseticida natural contra vetor da doença de Chagas

Em testes de laboratório, cientistas verificaram que planta usada popularmente por sua ação anti-inflamatória induz mortes em insetos infectados por uma espécie de Trypanosoma semelhante ao parasito que causa a doença
Por Jornalismo IOC03/06/2009 - Atualizado em 10/03/2023

Estudo realizado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) investiga um inseticida natural contra o barbeiro, vetor responsável pela transmissão clássica da doença de Chagas.

A pesquisa investigou a atividade de substâncias presentes no extrato de Physalis angulata - planta conhecida por sua ação anti-inflamatória -, em barbeiros infectados pelo Trypanosoma rangeli, parasita que também infecta o homem, mas diferentemente do Trypanosoma cruzi, não causa a doença.

Os insetos infectados submetidos às substâncias da planta tiveram sua resposta imune amenizada e, consequentemente, apresentaram alta taxa de mortalidade em função da infecção. Como o T. rangeli tem muitas semelhanças em relação ao T. cruzi, os pesquisadores estão otimistas sobre verificar o mesmo efeito nesta espécie.

O próximo passo do trabalho, desenvolvido em parceria com a pesquisadora Theresinha Tomassini do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz), prevê a realização do estudo em barbeiros infectados com o T. cruzi.

 
A especialista Daniele Pereira monitora alimentação do barbeiro no laboratório. Foto: Gutemberg Brito

“A Physalis angulata é utilizada na culinária e também como planta medicinal, essencialmente contra doenças inflamatórias. Dela são extraídas substâncias chamadas fisalinas. Resolvemos investigar o potencial desses compostos no inseto vetor”, explica Daniele Pereira de Castro, do Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Insetos do IOC, que desenvolveu a pesquisa como tema de seu trabalho de doutorado.

“Da planta são extraídas 11 tipos de fisalinas e nós testamos quatro delas. Primeiro investigamos se elas tinham algum efeito sobre a fisiologia do inseto, ou seja, se interferiam em seu ciclo ou se inibiam sua alimentação, e observamos que não. Mas quando o inseto tratado com a fisalina foi infectado com o T. rangeli, percebemos uma alta mortalidade”, completa.

Segundo o estudo, a alta mortalidade dos barbeiros ocorreu porque as substâncias aumentaram a atividade de uma enzima envolvida na regulação de uma das vias de ativação da resposta imune do inseto.

“No inseto, são conhecidas três vias de sinalização, que acionam o alerta de defesa de seu organismo para que desenvolva a resposta imune. Em pelo menos uma dessas vias, as substâncias investigadas interferiram, amenizando essa resposta”, descreve.

“A partir desses resultados, outros estudos poderão ser realizados e contribuir para o desenvolvimento de um inseticida natural contra o barbeiro”, aponta Daniele.

Preparação das mamadeiras onde serão alimentados os barbeiros analisados na pesquisa. Foto: Gutemberg Brito

A especialista ressalta que a opção pela investigação em insetos infectados com o T. rangeli não foi por acaso.

“Enquanto o T. cruzi se aloja no intestino do barbeiro, o T. rangeli é mais agressivo, entra na circulação sanguínea do inseto. Se os compostos mostraram resultados promissores na infecção por esse parasito, a expectativa é que os mesmos resultados se repitam na infecção do inseto pelo T. cruzi”, conclui.

O pesquisador Eloi Garcia, do Laboratório de Bioquímica de Insetos do IOC, e a orientanda Daniele Pereira. Foto: Gutemberg Brito

 

Interação entre o T. cruzi e a fisiologia do vetor como principal linha de pesquisa

O Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Insetos do IOC realiza estudos sobre a interação entre o T. cruzi e moléculas existentes no tubo digestivo bem como a microbiota do barbeiro, local onde o parasito se aloja e multiplica no inseto vetor.

“A investigação da interação do T. cruzi com o inseto vetor é a principal linha de pesquisa do laboratório. Estudamos várias frentes que incluem moléculas que interagem com o parasito, fatores que diminuem ou aceleram seu crescimento dentro do organismo do barbeiro. E dentro desta linha está o estudo da imunologia do vetor”, reforça o pesquisador Elói Garcia, que orientou o estudo juntamente com a pesquisadora Patrícia Azambuja, chefe do Laboratório.

“O sucesso da transmissão da doença depende do equilíbrio entre o sistema digestivo e imunológico com o desenvolvimento e diferenciação do parasita. O T. rangeli precisa vencer a resposta imune do inseto e o organismo do inseto precisa impedir que haja uma grande infecção pelo parasita”, acrescenta o pesquisador.

Em 2007, o grupo de pesquisadores foi responsável pelo estudo, desenvolvido em parceria com o Instituto Pasteur, da França, que apontou que a bactéria Serratia marcescens, presente na flora bacteriana natural do tubo digestivo de algumas espécies de barbeiros, é capaz de lisar o Trypanosoma cruzi – isto é, de romper sua membrana, alterar sua estrutura e destruí-lo, anulando o poder de infecção do parasito.

O resultado serviu de ponto de partida para a definição de mecanismos capazes de interromper a infecção do inseto vetor e, consequentemente, reduzir o ciclo de transmissão.

Em testes de laboratório, cientistas verificaram que planta usada popularmente por sua ação anti-inflamatória induz mortes em insetos infectados por uma espécie de Trypanosoma semelhante ao parasito que causa a doença
Por: 
jornalismo

Estudo realizado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) investiga um inseticida natural contra o barbeiro, vetor responsável pela transmissão clássica da doença de Chagas.

A pesquisa investigou a atividade de substâncias presentes no extrato de Physalis angulata - planta conhecida por sua ação anti-inflamatória -, em barbeiros infectados pelo Trypanosoma rangeli, parasita que também infecta o homem, mas diferentemente do Trypanosoma cruzi, não causa a doença.

Os insetos infectados submetidos às substâncias da planta tiveram sua resposta imune amenizada e, consequentemente, apresentaram alta taxa de mortalidade em função da infecção. Como o T. rangeli tem muitas semelhanças em relação ao T. cruzi, os pesquisadores estão otimistas sobre verificar o mesmo efeito nesta espécie.

O próximo passo do trabalho, desenvolvido em parceria com a pesquisadora Theresinha Tomassini do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz), prevê a realização do estudo em barbeiros infectados com o T. cruzi.

 
A especialista Daniele Pereira monitora alimentação do barbeiro no laboratório. Foto: Gutemberg Brito

“A Physalis angulata é utilizada na culinária e também como planta medicinal, essencialmente contra doenças inflamatórias. Dela são extraídas substâncias chamadas fisalinas. Resolvemos investigar o potencial desses compostos no inseto vetor”, explica Daniele Pereira de Castro, do Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Insetos do IOC, que desenvolveu a pesquisa como tema de seu trabalho de doutorado.

“Da planta são extraídas 11 tipos de fisalinas e nós testamos quatro delas. Primeiro investigamos se elas tinham algum efeito sobre a fisiologia do inseto, ou seja, se interferiam em seu ciclo ou se inibiam sua alimentação, e observamos que não. Mas quando o inseto tratado com a fisalina foi infectado com o T. rangeli, percebemos uma alta mortalidade”, completa.

Segundo o estudo, a alta mortalidade dos barbeiros ocorreu porque as substâncias aumentaram a atividade de uma enzima envolvida na regulação de uma das vias de ativação da resposta imune do inseto.

“No inseto, são conhecidas três vias de sinalização, que acionam o alerta de defesa de seu organismo para que desenvolva a resposta imune. Em pelo menos uma dessas vias, as substâncias investigadas interferiram, amenizando essa resposta”, descreve.

“A partir desses resultados, outros estudos poderão ser realizados e contribuir para o desenvolvimento de um inseticida natural contra o barbeiro”, aponta Daniele.

Preparação das mamadeiras onde serão alimentados os barbeiros analisados na pesquisa. Foto: Gutemberg Brito

A especialista ressalta que a opção pela investigação em insetos infectados com o T. rangeli não foi por acaso.

“Enquanto o T. cruzi se aloja no intestino do barbeiro, o T. rangeli é mais agressivo, entra na circulação sanguínea do inseto. Se os compostos mostraram resultados promissores na infecção por esse parasito, a expectativa é que os mesmos resultados se repitam na infecção do inseto pelo T. cruzi”, conclui.

O pesquisador Eloi Garcia, do Laboratório de Bioquímica de Insetos do IOC, e a orientanda Daniele Pereira. Foto: Gutemberg Brito

 

Interação entre o T. cruzi e a fisiologia do vetor como principal linha de pesquisa

O Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Insetos do IOC realiza estudos sobre a interação entre o T. cruzi e moléculas existentes no tubo digestivo bem como a microbiota do barbeiro, local onde o parasito se aloja e multiplica no inseto vetor.

“A investigação da interação do T. cruzi com o inseto vetor é a principal linha de pesquisa do laboratório. Estudamos várias frentes que incluem moléculas que interagem com o parasito, fatores que diminuem ou aceleram seu crescimento dentro do organismo do barbeiro. E dentro desta linha está o estudo da imunologia do vetor”, reforça o pesquisador Elói Garcia, que orientou o estudo juntamente com a pesquisadora Patrícia Azambuja, chefe do Laboratório.

“O sucesso da transmissão da doença depende do equilíbrio entre o sistema digestivo e imunológico com o desenvolvimento e diferenciação do parasita. O T. rangeli precisa vencer a resposta imune do inseto e o organismo do inseto precisa impedir que haja uma grande infecção pelo parasita”, acrescenta o pesquisador.

Em 2007, o grupo de pesquisadores foi responsável pelo estudo, desenvolvido em parceria com o Instituto Pasteur, da França, que apontou que a bactéria Serratia marcescens, presente na flora bacteriana natural do tubo digestivo de algumas espécies de barbeiros, é capaz de lisar o Trypanosoma cruzi – isto é, de romper sua membrana, alterar sua estrutura e destruí-lo, anulando o poder de infecção do parasito.

O resultado serviu de ponto de partida para a definição de mecanismos capazes de interromper a infecção do inseto vetor e, consequentemente, reduzir o ciclo de transmissão.

Reportagem: Renata Fontoura

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)