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Evento debate vigilância e controle de vetores de importância para a saúde pública

Iniciativa reuniu estudantes, pesquisadores e profissionais do Ministério da Saúde e de secretarias estaduais e municipais
Por Vinicius Ferreira04/07/2025 - Atualizado em 10/07/2025
Participantes e conferencistas reunidos em prol da vigilância e controle de vetores. Foto: Rudson Amorim

Entre os dias 30/06 e 1º/07 foi realizada a quarta edição do “Encontro de Vigilância e Controle de Vetores - Integração entre a Pesquisa e Serviços de Saúde”, promovido pelo Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Vigilância e Controle de Vetores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz)

O evento reuniu docentes, discentes, pesquisadores e autoridades públicas da área da saúde para trocas de experiências, criação de rede de atuação em estratégias de vigilância e controle de vetores e desenvolvimento de produtos com potencial de aplicação nos serviços de vigilância.  

A iniciativa contou com palestra sobre o Programa Brasil Saudável, mesas-redondas com apresentações de iniciativas educacionais e pesquisas voltadas para a vigilância e controle de vetores e sobre desafios na gestão de epidemias e de doenças negligenciadas. No encontro também foram realizadas apresentações de trabalhos e de produtos desenvolvidos pelos alunos do curso. Na ocasião, os melhores trabalhos foram premiados (saiba mais abaixo). 

A cerimônia de abertura foi prestigiada pela diretora de Ensino, Informação e Comunicação do IOC, Norma Brandão; pelo diretor de Laboratórios de Referência, Ambulatórios e Coleções Biológicas, Eduardo Volotão; pela pesquisadora da Coordenação Geral de Ensino da Fiocruz, Enirtes Caetano; e pelo docente e membro da comissão organizadora do evento, Gilberto Gazeta. 

Confira a transmissão do primeiro dia:

A coordenadora ajunta do Programa de Vigilância e Controle de Vetores, Suzete Gomes, apresentou um panorama sobre o curso. 

“Criado em 2016, a partir de demanda do Ministério da Saúde, o curso já conclui sete turmas. Participam profissionais de nível superior interessados no estudo de vetores de importância para a saúde pública nacional. Já foram formados dezenas de mestres, espalhados por 18 estados, que realizaram estudos com diferentes vetores, como Aedes, Anopheles, flebotomíneos, moscas, moluscos, carrapatos e triatomíneos”, enalteceu. 

O impacto do Programa ultrapassa as fronteiras da sala de aula e dos laboratórios do IOC. 

“Muito mais que um artigo científico em si, o Programa estimula o desenvolvimento de produtos que tenham aplicabilidade nos municípios onde vive cada aluno. Dessa forma, já criamos manuais entomológicos, nota técnica, vídeos, cartilhas, jogos, aplicativos, protocolos diagnósticos e treinamentos”, contou a coordenadora adjunta. 

Participantes atentos a cada apresentação de estudantes e profissionais de saúde. Foto: Rudson Amorim


Palestras e mesas-redondas de impacto 

A palestra de abertura do evento foi proferida por Silene Dourado, coordenadora-geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial do Departamento de Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde. 

A especialista apresentou detalhes sobre o Programa Brasil Saudável e o papel da vigilância e do controle vetorial para a diminuição de doenças e infecções determinadas socialmente. 

O Programa visa enfrentar problemas sociais e ambientais que afetam a saúde de pessoas em maior vulnerabilidade social. 

O Brasil Saudável visa a eliminação de 11 doenças, muitas transmitidas por vetores, como a doença de Chagas, esquistossomose, malária e oncocercose. 

Na sequência, a mesa-redonda ‘Iniciativas educacionais e pesquisa aplicada ao serviço na área dos vetores de importância médica’ contou com apresentações sobre ações voltadas para agravos como doença de Chagas, leishmaniose e esquistossomose. 

Atividades de divulgação científica contribuem para conscientização sobre controle de vetores pela população. Foto: Rudson Amorim

Na palestra sobre ‘Práticas de educação em saúde na vigilância e controle das leishmanioses’, a bióloga Margarete Afonso, do Laboratório Interdisciplinar de Vigilância Entomológica em Diptera e Hemiptera, apresentou algumas atividades de divulgação científica.  

Dentre os destaques, abordou a oficina a ‘Leish .. o que?’, onde insetos em lâminas e jogos interativos ensinam o público sobre o controle integrado das doenças causadas pelos protozoários do gênero Leishmania. Além disso, os participantes têm a oportunidade de aprender como instalar telas em suas casas como uma medida acessível de proteção contra mosquitos. A equipe também realiza oficinas e treinamentos com profissionais de saúde. 

Caramujos, caracóis e lesmas, causadores de fasciolose, esquistossomose, e angiostronsilíase, são o foco do Laboratório de Malacologia do IOC. Na apresentação ‘Experiência do laboratório e coleção biológica de moluscos do IOC em iniciativas educacionais’, a pesquisadora Suzete Rodrigues abordou o projeto ‘Coleções nas Escolas’, que proporciona uma imersão de alunos e professores no universo da Coleção de Moluscos. A participação em eventos nacionais, como a SBPC e o MedTrop, fazem parte da rotina do laboratório. 

O segundo bloco da mesa-redonda foi dedicado a debater pesquisas com vetores aplicadas em serviços de saúde.  

Com o tema ‘Ecoepidemiologia de triatomíneos em Tauá: processos de reinfestações e manutenção de ciclos de Trypanosoma cruzi’, a gerente técnica responsável pela Vigilância e Controle da doença de Chagas na Secretaria da Saúde do Estado do Ceará, Cláudia Mendonça Bezerra, explicou o estudo que conduziu que procurou entender os processos responsáveis pela persistência da infestação de barbeiros e a consequente transmissão da doença de Chagas. 

Para a caracterização da infestação, foram analisados ambientes silvestres e intra e peridomiciliares, como galinheiros, chiqueiros e espaços de armazenamento de pedra, telhas e tijolos. 

Pesquisas com animais e vetores que contribuem para definição de estratégias de vigilância foram temas de discussões entre os participantes. Foto: Rudson Amorim

Análises do perfil molecular dos barbeiros evidenciaram que a presença frequente de insetos no território estava ligada à resistência dos vetores pós borrifação de inseticidas e a constante chegada de novos insetos provenientes de outras localidades. 

Os dados também mostraram que os barbeiros se alimentam de uma grande variedade de animais, como cavalos, marsupiais, cachorros, gatos, galinhas, porcos, cabras e outros. Ou seja: a abundância de fonte alimentar propicia o aumento da sobrevida dos vetores. 

Na palestra ‘Vetores e animais sentinelas ou reservatórios’, os pesquisadores do Laboratório de Biologia de Tripanossomatídeos do IOC, Samanta Xavier e André Roque, explicaram diversos detalhes sobre a doença de Chagas e como cachorros têm sido estudados como animais sentinelas na identificação de áreas de risco de infecção por Trypanosoma cruzi

Atualmente, um teste rápido, proposto pelo laboratório, está sendo utilizado em uma pesquisa para detecção de animais infectados, o que sinaliza para um ciclo de transmissão do T. cruzi nas áreas utilizadas pelos seres humanos.  

Na sequência, o professor do Departamento de Epidemiologia da Universidade de São Paulo, Fredy Galvis Ovallos, abordou o tema ‘Capacidade e competência vetorial: relação dos conceitos com as atividades de vigilância entomológica’.  

Na vigilância, um dos pontos mais importantes é entender a dinâmica de transmissão do agente patológico. Quanto mais fácil e rápida a transmissão, maior é a chance de o microrganismo gerar surtos, epidemias e até pandemia. 

Em relação ao campo da entomologia, o pesquisador chamou atenção para a capacidade vetorial para transmissão de patógenos, como a densidade do vetor, hábito de picada, competência vetorial, tempo de incubação do vírus e a sobrevida do vetor. 

Anotações, apontamentos, perguntas: interação entre público e conferencistas foi ponto alto do evento. Foto: Rudson Amorim

De acordo com o professor, as dinâmicas de transmissão vetorial têm particularidades que devem ser consideradas no planejamento de atividades de vigilância e controle e reforçou a necessidade de avançar na identificação de indicadores entomológicos que permitam fazer melhores predições da ocorrência de epidemias. 

Fechando as apresentações do dia, a pesquisadora Mara Cristina Pinto, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), ministrou palestra sobre ‘Ecologia química relacionada aos flebotomíneos’. 

Vigilância para evitar epidemias 

O segundo dia (1º/07) de atividades, foi marcado por premiações, discussões sobre vigilância de novas epidemias e apresentações de trabalhos e de produtos desenvolvidos por estudantes do Programa. 

Abordando os ‘Desafios da gestão na vigilância e controle de vetores’, o secretário-adjunto da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Fabiano Pimenta, discorreu sobre o fluxo de vigilância de doenças, importância do desenvolvimento de testes rápidos e técnicas laboratoriais avançadas de diagnóstico.  

O especialista também comentou sobre a necessidade de rapidez na coleta e processamento das amostras, formação de recursos humanos qualificados, apoio técnico e monitoramento construtivo e participativo e disposição de recurso financeiro. 

Ele relembrou que os programas de controle das chamadas ‘grandes endemias’ foram historicamente marcados por uma estrutura vertical e desenvolvidos na forma de ‘campanhas sanitárias’, caracterizadas por transitoriedade, alta especificidade, rigidez normativa e mobilização de um grande volume de recursos em um curto espaço de tempo. 

Diferentes temas e visões abrilhantaram as palestras e apresentações no evento. Foto: Rudson Amorim

Tendo como base as arboviroses e a esquistossomose, a pesquisadora Elainne Christine de Souza Gomes, da Fiocruz Pernambuco, ministrou palestra sobre ‘O contexto da mudança climática nas doenças emergentes e reemergentes’.  

Conforme explicou a especialista, as mudanças climáticas são alterações significativas e duradouras nos padrões climáticos de um local ou região, incluindo temperatura, precipitação, ventos e outros fenômenos. 

Como exemplo, abordou a crescente intensidade do fenômeno El Niño, que tem provocado aumento da temperatura e das chuvas. Essa combinação, por sua vez, provoca o aumento da proliferação e dispersão de vetores, como aqueles que transmitem malária, dengue, Zika, chikungunya e febre amarela. 

Somente em 2024, o Brasil registrou mais de 6 milhões de casos prováveis de dengue e quase 6 mil mortes provocadas pela doença. 

Em relação à esquistossomose, a pesquisadora comentou que o aumento da temperatura e das chuvas e o crescimento desordenado das cidades favorecem o aumento de criadouros, a dispersão de caramujos e, consequentemente, as inundações e a exposição à infecção. 

O recente surto de oropouche que atinge diversos estados e os casos de febre Mayaro foram o tema da palestra ‘Novas epidemias transmitidas por vetores - Oropouche e Febre do Mayaro’, proferida pela consultora técnica da Coordenação-Geral de Vigilância de Arboviroses do Ministério da Saúde Poliana Lemos. 

Detectado no Brasil pela primeira vez na década de 1960, o Oropouche era historicamente associado à região amazônica. No entanto, em 2024, mais de 12 mil casos foram registrados, com transmissão em 22 estados.  

Em 2025, houve um aumento significativo nos casos, com mais de 2.790 notificações em poucas semanas, principalmente no Espírito Santo. 

Comissão organizadora do 4º Encontro de Vigilância e Controle de Vetores - Integração entre a Pesquisa e Serviços de Saúde. Foto: Rudson Amorim

Para tentar frear a proliferação do vetor, diversas iniciativas estão sendo coordenadas pelo Ministério, a exemplo de testes de inseticidas para controle do vetor.  

Detectado em 1995, em Belém, o Mayaro é considerado endêmico na região amazônica e no centro-oeste. Em casos graves, o vírus pode provocar poliartrite crônica, complicações neurológicas, hemorragia e pode levar o paciente à óbito. 

Diferentemente do Oropouche, o Mayaro ainda não extrapolou as regiões onde historicamente está associado. 

‘Gestão, Estruturação e Perspectivas para os Laboratórios de Entomologia no Serviço’ foi o mote da apresentação de Karina Ribeiro Cavalcante, da Coordenação-Geral de Laboratórios de Saúde Pública (CGLAB) do Ministério da Saúde. 

A especialista discorreu sobre o trabalho realizado pela pasta, que coordena um sistema nacional de laboratórios, que inclui laboratórios de referência, laboratórios de alta contenção biológica e laboratórios centrais de saúde pública. 

No campo da entomologia, o IOC possui quatro laboratórios de referência a nível nacional, que atuam com triatomíneos, carrapatos e moluscos e no monitoramento da resistência de Aedes aegypti a inseticidas. 

Dentre as principais atividades desenvolvidas pelos laboratórios ancorados na CGLAB na área entomológica, estão a taxonomia de triatomíneos, culicídeos, artrópodes, flebotomíneos e culicóides, assim como malacologia. 

Dentre algumas dificuldades técnicas e operacionais, a especialista citou a falta de recursos humanos, financeiro, equipamentos e infraestrutura; a ausência de um sistema integrado de vetores; e o baixo estímulo à produção de conhecimento e formação de recursos humanos. 

Apresentação de trabalhos 

A parte da tarde do segundo dia foi dedicada à apresentação de pesquisas selecionadas para apresentação oral e trabalhos de destaque desenvolvidos por alunos do Programa de Pós-graduação em Vigilância e Controle de Vetores. 

Regina (de óculos) e Silmeiry (à dir.): vencedoras do prêmio de melhor apresentação oral. Foto: Rudson Amorim

Confira os temas das apresentações orais e os vencedores do prêmio de melhores trabalhos: 

  • VENCEDOR - Caracterização e produtividade dos Postos de Informações de Triatomíneos (PITs) nos municípios da Superintendência Regional de Saúde de Sete Lagoas, Minas Gerais, no período de 2019 a 2023, por Silmeiry Angélica Teixeira 
  • VENCEDOR - Levantamento dos cursos da modalidade de ensino à distância sobre vigilância e controle de vetores das arboviroses, 2015 – 2024, por Regina Celia Tolentino de Moura 
  • Estabelecimento de colônia de Aedes aegypti e calibração de área semi-campo em Belo Horizonte/MG, por Guilherme Leandro Castro Corrêa 
  • Efeitos do extrato de Xanthosoma sagitifolium em larvas de Aedes aegypti sob condições de laboratório, por Marcio Vinicius Marins Teixeira 
  • Mosquitos vegetarianos: desenvolvimento de uma dieta artificial suplementada com proteína aplicada à criação de Aedes aegypti, por Thales Schuindt de Araújo 
  • Avaliação da usabilidade do VigiChagas para a vigilância e controle de triatomíneos no SUS, por Magno da Silva Gonçalves 
  • Perfil epidemiológico da esquistossomose da microrregião de saúde de Pirapora, Minas Gerais (2014-2023), por Flávia Rocha Teixeira Mota 

Estudantes selecionadas para apresentar resultados de pesquisa de impacto. Foto: Rudson Amorim

Confira os temas das pesquisas de destaque desenvolvidas por alunos do Programa entre maio de 2024 e maio de 2025: 

  • Cartografando a invisibilidade: análise espacial de áreas de potencial risco para doença de Chagas no estado do Paraná, por Raquel Monteiro Moraes 
  • Análise epidemiológica descritiva observacional da esquistossomose na região metropolitana de Aracaju, Sergipe, entre 2015 e 2022, por Débora de Sousa Bandeira 
  • Caracterização do risco de transmissão de Leishmania (Leishmania) infantum em dois municípios do Paraná limítrofes a São Paulo, por Marília Melo Santos de Castilhos 
  • Conditio sine qua non envolvendo casos de arboviroses e acidentes escorpiônicos no município do Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco, para o quinquênio 2019-2023, por Érika Murayama 
Iniciativa reuniu estudantes, pesquisadores e profissionais do Ministério da Saúde e de secretarias estaduais e municipais
Por: 
viniciusferreira
Participantes e conferencistas reunidos em prol da vigilância e controle de vetores. Foto: Rudson Amorim

Entre os dias 30/06 e 1º/07 foi realizada a quarta edição do “Encontro de Vigilância e Controle de Vetores - Integração entre a Pesquisa e Serviços de Saúde”, promovido pelo Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Vigilância e Controle de Vetores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz)

O evento reuniu docentes, discentes, pesquisadores e autoridades públicas da área da saúde para trocas de experiências, criação de rede de atuação em estratégias de vigilância e controle de vetores e desenvolvimento de produtos com potencial de aplicação nos serviços de vigilância.  

A iniciativa contou com palestra sobre o Programa Brasil Saudável, mesas-redondas com apresentações de iniciativas educacionais e pesquisas voltadas para a vigilância e controle de vetores e sobre desafios na gestão de epidemias e de doenças negligenciadas. No encontro também foram realizadas apresentações de trabalhos e de produtos desenvolvidos pelos alunos do curso. Na ocasião, os melhores trabalhos foram premiados (saiba mais abaixo). 

A cerimônia de abertura foi prestigiada pela diretora de Ensino, Informação e Comunicação do IOC, Norma Brandão; pelo diretor de Laboratórios de Referência, Ambulatórios e Coleções Biológicas, Eduardo Volotão; pela pesquisadora da Coordenação Geral de Ensino da Fiocruz, Enirtes Caetano; e pelo docente e membro da comissão organizadora do evento, Gilberto Gazeta. 

Confira a transmissão do primeiro dia:

A coordenadora ajunta do Programa de Vigilância e Controle de Vetores, Suzete Gomes, apresentou um panorama sobre o curso. 

“Criado em 2016, a partir de demanda do Ministério da Saúde, o curso já conclui sete turmas. Participam profissionais de nível superior interessados no estudo de vetores de importância para a saúde pública nacional. Já foram formados dezenas de mestres, espalhados por 18 estados, que realizaram estudos com diferentes vetores, como Aedes, Anopheles, flebotomíneos, moscas, moluscos, carrapatos e triatomíneos”, enalteceu. 

O impacto do Programa ultrapassa as fronteiras da sala de aula e dos laboratórios do IOC. 

“Muito mais que um artigo científico em si, o Programa estimula o desenvolvimento de produtos que tenham aplicabilidade nos municípios onde vive cada aluno. Dessa forma, já criamos manuais entomológicos, nota técnica, vídeos, cartilhas, jogos, aplicativos, protocolos diagnósticos e treinamentos”, contou a coordenadora adjunta. 

Participantes atentos a cada apresentação de estudantes e profissionais de saúde. Foto: Rudson Amorim

Palestras e mesas-redondas de impacto 

A palestra de abertura do evento foi proferida por Silene Dourado, coordenadora-geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial do Departamento de Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde. 

A especialista apresentou detalhes sobre o Programa Brasil Saudável e o papel da vigilância e do controle vetorial para a diminuição de doenças e infecções determinadas socialmente. 

O Programa visa enfrentar problemas sociais e ambientais que afetam a saúde de pessoas em maior vulnerabilidade social. 

O Brasil Saudável visa a eliminação de 11 doenças, muitas transmitidas por vetores, como a doença de Chagas, esquistossomose, malária e oncocercose. 

Na sequência, a mesa-redonda ‘Iniciativas educacionais e pesquisa aplicada ao serviço na área dos vetores de importância médica’ contou com apresentações sobre ações voltadas para agravos como doença de Chagas, leishmaniose e esquistossomose. 

Atividades de divulgação científica contribuem para conscientização sobre controle de vetores pela população. Foto: Rudson Amorim

Na palestra sobre ‘Práticas de educação em saúde na vigilância e controle das leishmanioses’, a bióloga Margarete Afonso, do Laboratório Interdisciplinar de Vigilância Entomológica em Diptera e Hemiptera, apresentou algumas atividades de divulgação científica.  

Dentre os destaques, abordou a oficina a ‘Leish .. o que?’, onde insetos em lâminas e jogos interativos ensinam o público sobre o controle integrado das doenças causadas pelos protozoários do gênero Leishmania. Além disso, os participantes têm a oportunidade de aprender como instalar telas em suas casas como uma medida acessível de proteção contra mosquitos. A equipe também realiza oficinas e treinamentos com profissionais de saúde. 

Caramujos, caracóis e lesmas, causadores de fasciolose, esquistossomose, e angiostronsilíase, são o foco do Laboratório de Malacologia do IOC. Na apresentação ‘Experiência do laboratório e coleção biológica de moluscos do IOC em iniciativas educacionais’, a pesquisadora Suzete Rodrigues abordou o projeto ‘Coleções nas Escolas’, que proporciona uma imersão de alunos e professores no universo da Coleção de Moluscos. A participação em eventos nacionais, como a SBPC e o MedTrop, fazem parte da rotina do laboratório. 

O segundo bloco da mesa-redonda foi dedicado a debater pesquisas com vetores aplicadas em serviços de saúde.  

Com o tema ‘Ecoepidemiologia de triatomíneos em Tauá: processos de reinfestações e manutenção de ciclos de Trypanosoma cruzi’, a gerente técnica responsável pela Vigilância e Controle da doença de Chagas na Secretaria da Saúde do Estado do Ceará, Cláudia Mendonça Bezerra, explicou o estudo que conduziu que procurou entender os processos responsáveis pela persistência da infestação de barbeiros e a consequente transmissão da doença de Chagas. 

Para a caracterização da infestação, foram analisados ambientes silvestres e intra e peridomiciliares, como galinheiros, chiqueiros e espaços de armazenamento de pedra, telhas e tijolos. 

Pesquisas com animais e vetores que contribuem para definição de estratégias de vigilância foram temas de discussões entre os participantes. Foto: Rudson Amorim

Análises do perfil molecular dos barbeiros evidenciaram que a presença frequente de insetos no território estava ligada à resistência dos vetores pós borrifação de inseticidas e a constante chegada de novos insetos provenientes de outras localidades. 

Os dados também mostraram que os barbeiros se alimentam de uma grande variedade de animais, como cavalos, marsupiais, cachorros, gatos, galinhas, porcos, cabras e outros. Ou seja: a abundância de fonte alimentar propicia o aumento da sobrevida dos vetores. 

Na palestra ‘Vetores e animais sentinelas ou reservatórios’, os pesquisadores do Laboratório de Biologia de Tripanossomatídeos do IOC, Samanta Xavier e André Roque, explicaram diversos detalhes sobre a doença de Chagas e como cachorros têm sido estudados como animais sentinelas na identificação de áreas de risco de infecção por Trypanosoma cruzi

Atualmente, um teste rápido, proposto pelo laboratório, está sendo utilizado em uma pesquisa para detecção de animais infectados, o que sinaliza para um ciclo de transmissão do T. cruzi nas áreas utilizadas pelos seres humanos.  

Na sequência, o professor do Departamento de Epidemiologia da Universidade de São Paulo, Fredy Galvis Ovallos, abordou o tema ‘Capacidade e competência vetorial: relação dos conceitos com as atividades de vigilância entomológica’.  

Na vigilância, um dos pontos mais importantes é entender a dinâmica de transmissão do agente patológico. Quanto mais fácil e rápida a transmissão, maior é a chance de o microrganismo gerar surtos, epidemias e até pandemia. 

Em relação ao campo da entomologia, o pesquisador chamou atenção para a capacidade vetorial para transmissão de patógenos, como a densidade do vetor, hábito de picada, competência vetorial, tempo de incubação do vírus e a sobrevida do vetor. 

Anotações, apontamentos, perguntas: interação entre público e conferencistas foi ponto alto do evento. Foto: Rudson Amorim

De acordo com o professor, as dinâmicas de transmissão vetorial têm particularidades que devem ser consideradas no planejamento de atividades de vigilância e controle e reforçou a necessidade de avançar na identificação de indicadores entomológicos que permitam fazer melhores predições da ocorrência de epidemias. 

Fechando as apresentações do dia, a pesquisadora Mara Cristina Pinto, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), ministrou palestra sobre ‘Ecologia química relacionada aos flebotomíneos’. 

Vigilância para evitar epidemias 

O segundo dia (1º/07) de atividades, foi marcado por premiações, discussões sobre vigilância de novas epidemias e apresentações de trabalhos e de produtos desenvolvidos por estudantes do Programa. 

Abordando os ‘Desafios da gestão na vigilância e controle de vetores’, o secretário-adjunto da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Fabiano Pimenta, discorreu sobre o fluxo de vigilância de doenças, importância do desenvolvimento de testes rápidos e técnicas laboratoriais avançadas de diagnóstico.  

O especialista também comentou sobre a necessidade de rapidez na coleta e processamento das amostras, formação de recursos humanos qualificados, apoio técnico e monitoramento construtivo e participativo e disposição de recurso financeiro. 

Ele relembrou que os programas de controle das chamadas ‘grandes endemias’ foram historicamente marcados por uma estrutura vertical e desenvolvidos na forma de ‘campanhas sanitárias’, caracterizadas por transitoriedade, alta especificidade, rigidez normativa e mobilização de um grande volume de recursos em um curto espaço de tempo. 

Diferentes temas e visões abrilhantaram as palestras e apresentações no evento. Foto: Rudson Amorim

Tendo como base as arboviroses e a esquistossomose, a pesquisadora Elainne Christine de Souza Gomes, da Fiocruz Pernambuco, ministrou palestra sobre ‘O contexto da mudança climática nas doenças emergentes e reemergentes’.  

Conforme explicou a especialista, as mudanças climáticas são alterações significativas e duradouras nos padrões climáticos de um local ou região, incluindo temperatura, precipitação, ventos e outros fenômenos. 

Como exemplo, abordou a crescente intensidade do fenômeno El Niño, que tem provocado aumento da temperatura e das chuvas. Essa combinação, por sua vez, provoca o aumento da proliferação e dispersão de vetores, como aqueles que transmitem malária, dengue, Zika, chikungunya e febre amarela. 

Somente em 2024, o Brasil registrou mais de 6 milhões de casos prováveis de dengue e quase 6 mil mortes provocadas pela doença. 

Em relação à esquistossomose, a pesquisadora comentou que o aumento da temperatura e das chuvas e o crescimento desordenado das cidades favorecem o aumento de criadouros, a dispersão de caramujos e, consequentemente, as inundações e a exposição à infecção. 

O recente surto de oropouche que atinge diversos estados e os casos de febre Mayaro foram o tema da palestra ‘Novas epidemias transmitidas por vetores - Oropouche e Febre do Mayaro’, proferida pela consultora técnica da Coordenação-Geral de Vigilância de Arboviroses do Ministério da Saúde Poliana Lemos. 

Detectado no Brasil pela primeira vez na década de 1960, o Oropouche era historicamente associado à região amazônica. No entanto, em 2024, mais de 12 mil casos foram registrados, com transmissão em 22 estados.  

Em 2025, houve um aumento significativo nos casos, com mais de 2.790 notificações em poucas semanas, principalmente no Espírito Santo. 

Comissão organizadora do 4º Encontro de Vigilância e Controle de Vetores - Integração entre a Pesquisa e Serviços de Saúde. Foto: Rudson Amorim

Para tentar frear a proliferação do vetor, diversas iniciativas estão sendo coordenadas pelo Ministério, a exemplo de testes de inseticidas para controle do vetor.  

Detectado em 1995, em Belém, o Mayaro é considerado endêmico na região amazônica e no centro-oeste. Em casos graves, o vírus pode provocar poliartrite crônica, complicações neurológicas, hemorragia e pode levar o paciente à óbito. 

Diferentemente do Oropouche, o Mayaro ainda não extrapolou as regiões onde historicamente está associado. 

‘Gestão, Estruturação e Perspectivas para os Laboratórios de Entomologia no Serviço’ foi o mote da apresentação de Karina Ribeiro Cavalcante, da Coordenação-Geral de Laboratórios de Saúde Pública (CGLAB) do Ministério da Saúde. 

A especialista discorreu sobre o trabalho realizado pela pasta, que coordena um sistema nacional de laboratórios, que inclui laboratórios de referência, laboratórios de alta contenção biológica e laboratórios centrais de saúde pública. 

No campo da entomologia, o IOC possui quatro laboratórios de referência a nível nacional, que atuam com triatomíneos, carrapatos e moluscos e no monitoramento da resistência de Aedes aegypti a inseticidas. 

Dentre as principais atividades desenvolvidas pelos laboratórios ancorados na CGLAB na área entomológica, estão a taxonomia de triatomíneos, culicídeos, artrópodes, flebotomíneos e culicóides, assim como malacologia. 

Dentre algumas dificuldades técnicas e operacionais, a especialista citou a falta de recursos humanos, financeiro, equipamentos e infraestrutura; a ausência de um sistema integrado de vetores; e o baixo estímulo à produção de conhecimento e formação de recursos humanos. 

Apresentação de trabalhos 

A parte da tarde do segundo dia foi dedicada à apresentação de pesquisas selecionadas para apresentação oral e trabalhos de destaque desenvolvidos por alunos do Programa de Pós-graduação em Vigilância e Controle de Vetores. 

Regina (de óculos) e Silmeiry (à dir.): vencedoras do prêmio de melhor apresentação oral. Foto: Rudson Amorim

Confira os temas das apresentações orais e os vencedores do prêmio de melhores trabalhos: 

  • VENCEDOR - Caracterização e produtividade dos Postos de Informações de Triatomíneos (PITs) nos municípios da Superintendência Regional de Saúde de Sete Lagoas, Minas Gerais, no período de 2019 a 2023, por Silmeiry Angélica Teixeira 
  • VENCEDOR - Levantamento dos cursos da modalidade de ensino à distância sobre vigilância e controle de vetores das arboviroses, 2015 – 2024, por Regina Celia Tolentino de Moura 
  • Estabelecimento de colônia de Aedes aegypti e calibração de área semi-campo em Belo Horizonte/MG, por Guilherme Leandro Castro Corrêa 
  • Efeitos do extrato de Xanthosoma sagitifolium em larvas de Aedes aegypti sob condições de laboratório, por Marcio Vinicius Marins Teixeira 
  • Mosquitos vegetarianos: desenvolvimento de uma dieta artificial suplementada com proteína aplicada à criação de Aedes aegypti, por Thales Schuindt de Araújo 
  • Avaliação da usabilidade do VigiChagas para a vigilância e controle de triatomíneos no SUS, por Magno da Silva Gonçalves 
  • Perfil epidemiológico da esquistossomose da microrregião de saúde de Pirapora, Minas Gerais (2014-2023), por Flávia Rocha Teixeira Mota 
Estudantes selecionadas para apresentar resultados de pesquisa de impacto. Foto: Rudson Amorim

Confira os temas das pesquisas de destaque desenvolvidas por alunos do Programa entre maio de 2024 e maio de 2025: 

  • Cartografando a invisibilidade: análise espacial de áreas de potencial risco para doença de Chagas no estado do Paraná, por Raquel Monteiro Moraes 
  • Análise epidemiológica descritiva observacional da esquistossomose na região metropolitana de Aracaju, Sergipe, entre 2015 e 2022, por Débora de Sousa Bandeira 
  • Caracterização do risco de transmissão de Leishmania (Leishmania) infantum em dois municípios do Paraná limítrofes a São Paulo, por Marília Melo Santos de Castilhos 
  • Conditio sine qua non envolvendo casos de arboviroses e acidentes escorpiônicos no município do Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco, para o quinquênio 2019-2023, por Érika Murayama 

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)