Alvo de intensa campanha sanitária empreendida por Oswaldo Cruz, a febre amarela urbana foi erradicada do Rio de Janeiro no inÃcio do século XX. No Brasil, o último registro do ciclo urbano da doença data da década de 1940, no Acre. No entanto, diante do atual cenário de saúde pública do paÃs, a reemergência dessa forma de transmissão tem sido considerada uma possibilidade.
Presente diariamente nos noticiários e um desafio para pesquisadores e gestores, a febre amarela foi o tema da abertura do Ano Acadêmico do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Realizada na última sexta-feira, 17/03, a atividade, que deu inÃcio à edição 2017 do Centro de Estudos do IOC - mais tradicional atividade acadêmica da Instituição -, contou com a presença do chefe do Laboratório de Patologia do IOC, Marcelo Pelajo Machado, do vice-diretor de Desenvolvimento Tecnológico de Bio-Manguinhos, Marcos da Silva Freire, e do coordenador do Centro de Pesquisa em Virologia da Universidade de São Paulo, Luiz Tadeu Moraes Figueiredo. Foram debatidos os aspectos históricos, clÃnicos e os impactos da doença no paÃs.
O diretor do IOC, Wilson Savino, destacou a importância das parcerias entre instituições e da solidariedade entre pesquisadores em momentos de crise. Foto: Gutemberg Brito
Em sua fala de boas-vindas na mesa de abertura, o diretor do IOC, Wilson Savino, ressaltou a importância do investimento em parcerias dos futuros mestres e doutores com pesquisadores e instituições, especialmente em momentos de crise.
"A marca da solidariedade deve ser perene e ainda mais brilhante em situações adversas. Trabalhar e ser solidário são grandes formas de resistência", destacou Savino.
Também presente na solenidade, o vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Manoel Barral Neto, chamou a atenção para questões que afetam o âmbito da pós-graduação. Ele apontou para a necessidade de integração entre os programas de Ensino, para a importância de estratégias de divulgação cientÃfica e para a promoção do debate em torno de aspectos éticos relacionados ao desenvolvimento da pesquisa.
"Precisamos pensar no compartilhamento de saberes, disciplinas e estágios, e expandir isso de forma harmônica e não impositiva, estimulando que esses contatos floresçam e progridam. A tecnologia, por exemplo, favorece a questão do compartilhamento", salientou Barral.
Na ocasião, o representante discente do IOC, Geovane Dias Lopes, lembrou o centenário de morte de Oswaldo Cruz, celebrado em fevereiro de 2017, e o empenho do sanitarista no combate à febre amarela e doenças como a varÃola e a peste bubônica.
"Oswaldo impulsionou o estabelecimento da instituição a partir de uma intensa campanha sanitária vinculada a uma forte atuação polÃtica. Sem a sintonia entre as duas instâncias torna-se difÃcil fazer ciência", destacou.
"No ano do centenário de morte de Oswaldo Cruz, cientista que nos primórdios do século passado se comprometeu a erradicar a febre amarela da então capital do paÃs [Rio de Janeiro], num prazo de três anos, discutir a parte clÃnica, epidemiológica e preventiva da doença é muito pertinente", declarou o pesquisador Marcelo Pelajo Machado antes de dar inÃcio à apresentação dos principais desafios e avanços em relação ao agravo ao longo do tempo.
Em um belo passeio pela história, Pelajo foi da criação do serviço de profilaxia, em 1903, que tinha como objetivo regulamentar e consolidar a campanha de combate à doença, ao Prêmio Nobel concedido a Max Theiler, em 1951, pelo desenvolvimento da vacina utilizada até os dias de hoje.
"Foi a primeira vez que concederam o prêmio ao desenvolvedor de um imunizante", comentou.
Machado é curador da Coleção de Febre Amarela do IOC, que alberga 498 mil casos, amostras de fÃgado coletadas por viscerotomia entre as décadas de 1930 e 1970. O acervo também reúne uma vasta documentação escrita, impressa e iconográfica composta, principalmente, de protocolos de pesquisas, registros de casos da doença, fichas com laudos da histopatologia, além de fotos de indivÃduos e locais de coleta.
Em um resgate histórico da febre amarela, o pesquisador do IOC Marcelo Pelajo Machado recordou o comprometimento de Oswaldo Cruz com a erradicação da doença no Rio de Janeiro, no inÃcio do século XX. Foto: Gutemberg Brito
Vice-diretor de Desenvolvimento Tecnológico de Bio-Manguinhos, unidade da Fiocruz que produz a vacina para febre amarela, Marcos Freire comentou que o processo de fabricação do imunizante não sofreu grandes modificações desde a sua criação na década de 1930.
"O cerne do processo de produção da vacina para a febre amarela é o mesmo: o uso de ovos embrionados. As melhorias implementadas nas últimas décadas incluem aperfeiçoamentos como a termoestabilidade, que facilita a vacinação em áreas rurais, e o maior controle de qualidade do produto", explicou.
Ele destacou ainda que a ampliação no conhecimento da capacidade de indução da resposta imune e das reações adversas tornou o imunizante mais seguro.
"Bio-Manguinhos opera atualmente na produção mensal de cerca de 8 milhões de doses da vacina", pontuou.
Estudos sobre a capacidade de indução da resposta imune e das reações adversas da vacina tornaram o imunizante mais seguro, de acordo com o pesquisador Marcos Freire, de Bio-Manguinhos. Foto: Gutemberg BritoFreire também chamou atenção para as novas abordagens de produção do imunizante, dando destaque para o trabalho que vem sendo desenvolvido por pesquisadores do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM/Fiocruz-PE). O estudo se baseia na produção de uma molécula de DNA capaz de originar proteÃnas do vÃrus da febre amarela.
"A molécula de DNA é completamente inerte. Uma vez colocada dentro de um indivÃduo, proteÃnas do vÃrus são produzidas e, em seguida, anticorpos são gerados. Isso faz com que a imunização ocorra sem a presença do patógeno. O princÃpio deste imunizante é bem parecido com o que está sendo desenvolvido contra o Zika", comentou.
Para o pesquisador da USP, Luiz Tadeu Figueiredo, a vacinação é fundamental para evitar que a febre amarela atinja a população dos centros urbanos. Foto: Gutemberg Brito
Sobre a possibilidade de urbanização da doença, o cientista da Universidade de São Paulo (USP), Luiz Tadeu Figueiredo, que coordena o Centro de Pesquisa em Virologia na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, explicou que a única possibilidade de a enfermidade chegar aos centros urbanos é se não houver um programa de vacinação adequado.
"Fui um dos primeiros a insistir na vacinação da população do Rio de Janeiro logo no surgimento dos casos em Minas Gerais. A melhor forma de conter o avanço do agravo é por meio da imunização", ressaltou.
Os aspectos clÃnicos da doença - como os sintomas que podem incluir febre, calafrios, dores no corpo e fraqueza - também foram destacados pelo pesquisador.
Alvo de intensa campanha sanitária empreendida por Oswaldo Cruz, a febre amarela urbana foi erradicada do Rio de Janeiro no inÃcio do século XX. No Brasil, o último registro do ciclo urbano da doença data da década de 1940, no Acre. No entanto, diante do atual cenário de saúde pública do paÃs, a reemergência dessa forma de transmissão tem sido considerada uma possibilidade.
Presente diariamente nos noticiários e um desafio para pesquisadores e gestores, a febre amarela foi o tema da abertura do Ano Acadêmico do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Realizada na última sexta-feira, 17/03, a atividade, que deu inÃcio à edição 2017 do Centro de Estudos do IOC - mais tradicional atividade acadêmica da Instituição -, contou com a presença do chefe do Laboratório de Patologia do IOC, Marcelo Pelajo Machado, do vice-diretor de Desenvolvimento Tecnológico de Bio-Manguinhos, Marcos da Silva Freire, e do coordenador do Centro de Pesquisa em Virologia da Universidade de São Paulo, Luiz Tadeu Moraes Figueiredo. Foram debatidos os aspectos históricos, clÃnicos e os impactos da doença no paÃs.
O diretor do IOC, Wilson Savino, destacou a importância das parcerias entre instituições e da solidariedade entre pesquisadores em momentos de crise. Foto: Gutemberg BritoEm sua fala de boas-vindas na mesa de abertura, o diretor do IOC, Wilson Savino, ressaltou a importância do investimento em parcerias dos futuros mestres e doutores com pesquisadores e instituições, especialmente em momentos de crise.
"A marca da solidariedade deve ser perene e ainda mais brilhante em situações adversas. Trabalhar e ser solidário são grandes formas de resistência", destacou Savino.
Também presente na solenidade, o vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Manoel Barral Neto, chamou a atenção para questões que afetam o âmbito da pós-graduação. Ele apontou para a necessidade de integração entre os programas de Ensino, para a importância de estratégias de divulgação cientÃfica e para a promoção do debate em torno de aspectos éticos relacionados ao desenvolvimento da pesquisa.
"Precisamos pensar no compartilhamento de saberes, disciplinas e estágios, e expandir isso de forma harmônica e não impositiva, estimulando que esses contatos floresçam e progridam. A tecnologia, por exemplo, favorece a questão do compartilhamento", salientou Barral.
Na ocasião, o representante discente do IOC, Geovane Dias Lopes, lembrou o centenário de morte de Oswaldo Cruz, celebrado em fevereiro de 2017, e o empenho do sanitarista no combate à febre amarela e doenças como a varÃola e a peste bubônica.
"Oswaldo impulsionou o estabelecimento da instituição a partir de uma intensa campanha sanitária vinculada a uma forte atuação polÃtica. Sem a sintonia entre as duas instâncias torna-se difÃcil fazer ciência", destacou.
"No ano do centenário de morte de Oswaldo Cruz, cientista que nos primórdios do século passado se comprometeu a erradicar a febre amarela da então capital do paÃs [Rio de Janeiro], num prazo de três anos, discutir a parte clÃnica, epidemiológica e preventiva da doença é muito pertinente", declarou o pesquisador Marcelo Pelajo Machado antes de dar inÃcio à apresentação dos principais desafios e avanços em relação ao agravo ao longo do tempo.
Em um belo passeio pela história, Pelajo foi da criação do serviço de profilaxia, em 1903, que tinha como objetivo regulamentar e consolidar a campanha de combate à doença, ao Prêmio Nobel concedido a Max Theiler, em 1951, pelo desenvolvimento da vacina utilizada até os dias de hoje.
"Foi a primeira vez que concederam o prêmio ao desenvolvedor de um imunizante", comentou.
Machado é curador da Coleção de Febre Amarela do IOC, que alberga 498 mil casos, amostras de fÃgado coletadas por viscerotomia entre as décadas de 1930 e 1970. O acervo também reúne uma vasta documentação escrita, impressa e iconográfica composta, principalmente, de protocolos de pesquisas, registros de casos da doença, fichas com laudos da histopatologia, além de fotos de indivÃduos e locais de coleta.
Em um resgate histórico da febre amarela, o pesquisador do IOC Marcelo Pelajo Machado recordou o comprometimento de Oswaldo Cruz com a erradicação da doença no Rio de Janeiro, no inÃcio do século XX. Foto: Gutemberg BritoVice-diretor de Desenvolvimento Tecnológico de Bio-Manguinhos, unidade da Fiocruz que produz a vacina para febre amarela, Marcos Freire comentou que o processo de fabricação do imunizante não sofreu grandes modificações desde a sua criação na década de 1930.
"O cerne do processo de produção da vacina para a febre amarela é o mesmo: o uso de ovos embrionados. As melhorias implementadas nas últimas décadas incluem aperfeiçoamentos como a termoestabilidade, que facilita a vacinação em áreas rurais, e o maior controle de qualidade do produto", explicou.
Ele destacou ainda que a ampliação no conhecimento da capacidade de indução da resposta imune e das reações adversas tornou o imunizante mais seguro.
"Bio-Manguinhos opera atualmente na produção mensal de cerca de 8 milhões de doses da vacina", pontuou.
Estudos sobre a capacidade de indução da resposta imune e das reações adversas da vacina tornaram o imunizante mais seguro, de acordo com o pesquisador Marcos Freire, de Bio-Manguinhos. Foto: Gutemberg Brito ÂFreire também chamou atenção para as novas abordagens de produção do imunizante, dando destaque para o trabalho que vem sendo desenvolvido por pesquisadores do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM/Fiocruz-PE). O estudo se baseia na produção de uma molécula de DNA capaz de originar proteÃnas do vÃrus da febre amarela.
"A molécula de DNA é completamente inerte. Uma vez colocada dentro de um indivÃduo, proteÃnas do vÃrus são produzidas e, em seguida, anticorpos são gerados. Isso faz com que a imunização ocorra sem a presença do patógeno. O princÃpio deste imunizante é bem parecido com o que está sendo desenvolvido contra o Zika", comentou.
Para o pesquisador da USP, Luiz Tadeu Figueiredo, a vacinação é fundamental para evitar que a febre amarela atinja a população dos centros urbanos. Foto: Gutemberg BritoSobre a possibilidade de urbanização da doença, o cientista da Universidade de São Paulo (USP), Luiz Tadeu Figueiredo, que coordena o Centro de Pesquisa em Virologia na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, explicou que a única possibilidade de a enfermidade chegar aos centros urbanos é se não houver um programa de vacinação adequado.
"Fui um dos primeiros a insistir na vacinação da população do Rio de Janeiro logo no surgimento dos casos em Minas Gerais. A melhor forma de conter o avanço do agravo é por meio da imunização", ressaltou.
Os aspectos clÃnicos da doença - como os sintomas que podem incluir febre, calafrios, dores no corpo e fraqueza - também foram destacados pelo pesquisador.
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)