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Febre amarela: ontem e hoje

Da erradicação da doença no início do século XX, à produção da vacina e aos aspectos clínicos do agravo, especialistas abordaram o tema durante a abertura do Ano Acadêmico do IOC
Por Lucas Rocha23/03/2017 - Atualizado em 06/01/2023

Alvo de intensa campanha sanitária empreendida por Oswaldo Cruz, a febre amarela urbana foi erradicada do Rio de Janeiro no início do século XX. No Brasil, o último registro do ciclo urbano da doença data da década de 1940, no Acre. No entanto, diante do atual cenário de saúde pública do país, a reemergência dessa forma de transmissão tem sido considerada uma possibilidade.

Presente diariamente nos noticiários e um desafio para pesquisadores e gestores, a febre amarela foi o tema da abertura do Ano Acadêmico do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Realizada na última sexta-feira, 17/03, a atividade, que deu início à edição 2017 do Centro de Estudos do IOC - mais tradicional atividade acadêmica da Instituição -, contou com a presença do chefe do Laboratório de Patologia do IOC, Marcelo Pelajo Machado, do vice-diretor de Desenvolvimento Tecnológico de Bio-Manguinhos, Marcos da Silva Freire, e do coordenador do Centro de Pesquisa em Virologia da Universidade de São Paulo, Luiz Tadeu Moraes Figueiredo. Foram debatidos os aspectos históricos, clínicos e os impactos da doença no país.

O diretor do IOC, Wilson Savino, destacou a importância das parcerias entre instituições e da solidariedade entre pesquisadores em momentos de crise. Foto: Gutemberg Brito


Em sua fala de boas-vindas na mesa de abertura, o diretor do IOC, Wilson Savino, ressaltou a importância do investimento em parcerias dos futuros mestres e doutores com pesquisadores e instituições, especialmente em momentos de crise.

"A marca da solidariedade deve ser perene e ainda mais brilhante em situações adversas. Trabalhar e ser solidário são grandes formas de resistência", destacou Savino.

Também presente na solenidade, o vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Manoel Barral Neto, chamou a atenção para questões que afetam o âmbito da pós-graduação. Ele apontou para a necessidade de integração entre os programas de Ensino, para a importância de estratégias de divulgação científica e para a promoção do debate em torno de aspectos éticos relacionados ao desenvolvimento da pesquisa.

"Precisamos pensar no compartilhamento de saberes, disciplinas e estágios, e expandir isso de forma harmônica e não impositiva, estimulando que esses contatos floresçam e progridam. A tecnologia, por exemplo, favorece a questão do compartilhamento", salientou Barral.

Na ocasião, o representante discente do IOC, Geovane Dias Lopes, lembrou o centenário de morte de Oswaldo Cruz, celebrado em fevereiro de 2017, e o empenho do sanitarista no combate à febre amarela e doenças como a varíola e a peste bubônica.

"Oswaldo impulsionou o estabelecimento da instituição a partir de uma intensa campanha sanitária vinculada a uma forte atuação política. Sem a sintonia entre as duas instâncias torna-se difícil fazer ciência", destacou.

Diferentes perspectivas sobre a doença

"No ano do centenário de morte de Oswaldo Cruz, cientista que nos primórdios do século passado se comprometeu a erradicar a febre amarela da então capital do país [Rio de Janeiro], num prazo de três anos, discutir a parte clínica, epidemiológica e preventiva da doença é muito pertinente", declarou o pesquisador Marcelo Pelajo Machado antes de dar início à apresentação dos principais desafios e avanços em relação ao agravo ao longo do tempo.

Em um belo passeio pela história, Pelajo foi da criação do serviço de profilaxia, em 1903, que tinha como objetivo regulamentar e consolidar a campanha de combate à doença, ao Prêmio Nobel concedido a Max Theiler, em 1951, pelo desenvolvimento da vacina utilizada até os dias de hoje.

"Foi a primeira vez que concederam o prêmio ao desenvolvedor de um imunizante", comentou.

Machado é curador da Coleção de Febre Amarela do IOC, que alberga 498 mil casos, amostras de fígado coletadas por viscerotomia entre as décadas de 1930 e 1970. O acervo também reúne uma vasta documentação escrita, impressa e iconográfica composta, principalmente, de protocolos de pesquisas, registros de casos da doença, fichas com laudos da histopatologia, além de fotos de indivíduos e locais de coleta.

Em um resgate histórico da febre amarela, o pesquisador do IOC Marcelo Pelajo Machado recordou o comprometimento de Oswaldo Cruz com a erradicação da doença no Rio de Janeiro, no início do século XX. Foto: Gutemberg Brito


Vice-diretor de Desenvolvimento Tecnológico de Bio-Manguinhos, unidade da Fiocruz que produz a vacina para febre amarela, Marcos Freire comentou que o processo de fabricação do imunizante não sofreu grandes modificações desde a sua criação na década de 1930.

"O cerne do processo de produção da vacina para a febre amarela é o mesmo: o uso de ovos embrionados. As melhorias implementadas nas últimas décadas incluem aperfeiçoamentos como a termoestabilidade, que facilita a vacinação em áreas rurais, e o maior controle de qualidade do produto", explicou.

Ele destacou ainda que a ampliação no conhecimento da capacidade de indução da resposta imune e das reações adversas tornou o imunizante mais seguro.

"Bio-Manguinhos opera atualmente na produção mensal de cerca de 8 milhões de doses da vacina", pontuou.

Estudos sobre a capacidade de indução da resposta imune e das reações adversas da vacina tornaram o imunizante mais seguro, de acordo com o pesquisador Marcos Freire, de Bio-Manguinhos. Foto: Gutemberg Brito
 

Freire também chamou atenção para as novas abordagens de produção do imunizante, dando destaque para o trabalho que vem sendo desenvolvido por pesquisadores do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM/Fiocruz-PE). O estudo se baseia na produção de uma molécula de DNA capaz de originar proteínas do vírus da febre amarela.

"A molécula de DNA é completamente inerte. Uma vez colocada dentro de um indivíduo, proteínas do vírus são produzidas e, em seguida, anticorpos são gerados. Isso faz com que a imunização ocorra sem a presença do patógeno. O princípio deste imunizante é bem parecido com o que está sendo desenvolvido contra o Zika", comentou.

Para o pesquisador da USP, Luiz Tadeu Figueiredo, a vacinação é fundamental para evitar que a febre amarela atinja a população dos centros urbanos. Foto: Gutemberg Brito


Sobre a possibilidade de urbanização da doença, o cientista da Universidade de São Paulo (USP), Luiz Tadeu Figueiredo, que coordena o Centro de Pesquisa em Virologia na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, explicou que a única possibilidade de a enfermidade chegar aos centros urbanos é se não houver um programa de vacinação adequado.

"Fui um dos primeiros a insistir na vacinação da população do Rio de Janeiro logo no surgimento dos casos em Minas Gerais. A melhor forma de conter o avanço do agravo é por meio da imunização", ressaltou.

Os aspectos clínicos da doença - como os sintomas que podem incluir febre, calafrios, dores no corpo e fraqueza - também foram destacados pelo pesquisador.

Da erradicação da doença no início do século XX, à produção da vacina e aos aspectos clínicos do agravo, especialistas abordaram o tema durante a abertura do Ano Acadêmico do IOC
Por: 
lucas

Alvo de intensa campanha sanitária empreendida por Oswaldo Cruz, a febre amarela urbana foi erradicada do Rio de Janeiro no início do século XX. No Brasil, o último registro do ciclo urbano da doença data da década de 1940, no Acre. No entanto, diante do atual cenário de saúde pública do país, a reemergência dessa forma de transmissão tem sido considerada uma possibilidade.

Presente diariamente nos noticiários e um desafio para pesquisadores e gestores, a febre amarela foi o tema da abertura do Ano Acadêmico do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Realizada na última sexta-feira, 17/03, a atividade, que deu início à edição 2017 do Centro de Estudos do IOC - mais tradicional atividade acadêmica da Instituição -, contou com a presença do chefe do Laboratório de Patologia do IOC, Marcelo Pelajo Machado, do vice-diretor de Desenvolvimento Tecnológico de Bio-Manguinhos, Marcos da Silva Freire, e do coordenador do Centro de Pesquisa em Virologia da Universidade de São Paulo, Luiz Tadeu Moraes Figueiredo. Foram debatidos os aspectos históricos, clínicos e os impactos da doença no país.

O diretor do IOC, Wilson Savino, destacou a importância das parcerias entre instituições e da solidariedade entre pesquisadores em momentos de crise. Foto: Gutemberg Brito

Em sua fala de boas-vindas na mesa de abertura, o diretor do IOC, Wilson Savino, ressaltou a importância do investimento em parcerias dos futuros mestres e doutores com pesquisadores e instituições, especialmente em momentos de crise.

"A marca da solidariedade deve ser perene e ainda mais brilhante em situações adversas. Trabalhar e ser solidário são grandes formas de resistência", destacou Savino.

Também presente na solenidade, o vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Manoel Barral Neto, chamou a atenção para questões que afetam o âmbito da pós-graduação. Ele apontou para a necessidade de integração entre os programas de Ensino, para a importância de estratégias de divulgação científica e para a promoção do debate em torno de aspectos éticos relacionados ao desenvolvimento da pesquisa.

"Precisamos pensar no compartilhamento de saberes, disciplinas e estágios, e expandir isso de forma harmônica e não impositiva, estimulando que esses contatos floresçam e progridam. A tecnologia, por exemplo, favorece a questão do compartilhamento", salientou Barral.

Na ocasião, o representante discente do IOC, Geovane Dias Lopes, lembrou o centenário de morte de Oswaldo Cruz, celebrado em fevereiro de 2017, e o empenho do sanitarista no combate à febre amarela e doenças como a varíola e a peste bubônica.

"Oswaldo impulsionou o estabelecimento da instituição a partir de uma intensa campanha sanitária vinculada a uma forte atuação política. Sem a sintonia entre as duas instâncias torna-se difícil fazer ciência", destacou.

Diferentes perspectivas sobre a doença

"No ano do centenário de morte de Oswaldo Cruz, cientista que nos primórdios do século passado se comprometeu a erradicar a febre amarela da então capital do país [Rio de Janeiro], num prazo de três anos, discutir a parte clínica, epidemiológica e preventiva da doença é muito pertinente", declarou o pesquisador Marcelo Pelajo Machado antes de dar início à apresentação dos principais desafios e avanços em relação ao agravo ao longo do tempo.

Em um belo passeio pela história, Pelajo foi da criação do serviço de profilaxia, em 1903, que tinha como objetivo regulamentar e consolidar a campanha de combate à doença, ao Prêmio Nobel concedido a Max Theiler, em 1951, pelo desenvolvimento da vacina utilizada até os dias de hoje.

"Foi a primeira vez que concederam o prêmio ao desenvolvedor de um imunizante", comentou.

Machado é curador da Coleção de Febre Amarela do IOC, que alberga 498 mil casos, amostras de fígado coletadas por viscerotomia entre as décadas de 1930 e 1970. O acervo também reúne uma vasta documentação escrita, impressa e iconográfica composta, principalmente, de protocolos de pesquisas, registros de casos da doença, fichas com laudos da histopatologia, além de fotos de indivíduos e locais de coleta.

Em um resgate histórico da febre amarela, o pesquisador do IOC Marcelo Pelajo Machado recordou o comprometimento de Oswaldo Cruz com a erradicação da doença no Rio de Janeiro, no início do século XX. Foto: Gutemberg Brito

Vice-diretor de Desenvolvimento Tecnológico de Bio-Manguinhos, unidade da Fiocruz que produz a vacina para febre amarela, Marcos Freire comentou que o processo de fabricação do imunizante não sofreu grandes modificações desde a sua criação na década de 1930.

"O cerne do processo de produção da vacina para a febre amarela é o mesmo: o uso de ovos embrionados. As melhorias implementadas nas últimas décadas incluem aperfeiçoamentos como a termoestabilidade, que facilita a vacinação em áreas rurais, e o maior controle de qualidade do produto", explicou.

Ele destacou ainda que a ampliação no conhecimento da capacidade de indução da resposta imune e das reações adversas tornou o imunizante mais seguro.

"Bio-Manguinhos opera atualmente na produção mensal de cerca de 8 milhões de doses da vacina", pontuou.

Estudos sobre a capacidade de indução da resposta imune e das reações adversas da vacina tornaram o imunizante mais seguro, de acordo com o pesquisador Marcos Freire, de Bio-Manguinhos. Foto: Gutemberg Brito
 

Freire também chamou atenção para as novas abordagens de produção do imunizante, dando destaque para o trabalho que vem sendo desenvolvido por pesquisadores do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM/Fiocruz-PE). O estudo se baseia na produção de uma molécula de DNA capaz de originar proteínas do vírus da febre amarela.

"A molécula de DNA é completamente inerte. Uma vez colocada dentro de um indivíduo, proteínas do vírus são produzidas e, em seguida, anticorpos são gerados. Isso faz com que a imunização ocorra sem a presença do patógeno. O princípio deste imunizante é bem parecido com o que está sendo desenvolvido contra o Zika", comentou.

Para o pesquisador da USP, Luiz Tadeu Figueiredo, a vacinação é fundamental para evitar que a febre amarela atinja a população dos centros urbanos. Foto: Gutemberg Brito

Sobre a possibilidade de urbanização da doença, o cientista da Universidade de São Paulo (USP), Luiz Tadeu Figueiredo, que coordena o Centro de Pesquisa em Virologia na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, explicou que a única possibilidade de a enfermidade chegar aos centros urbanos é se não houver um programa de vacinação adequado.

"Fui um dos primeiros a insistir na vacinação da população do Rio de Janeiro logo no surgimento dos casos em Minas Gerais. A melhor forma de conter o avanço do agravo é por meio da imunização", ressaltou.

Os aspectos clínicos da doença - como os sintomas que podem incluir febre, calafrios, dores no corpo e fraqueza - também foram destacados pelo pesquisador.

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)