Portuguese English Spanish
Interface
Adjust the interface to make it easier to use for different conditions.
This renders the document in high contrast mode.
This renders the document as white on black
This can help those with trouble processing rapid screen movements.
This loads a font easier to read for people with dyslexia.
Busca Avançada
Você está aqui: Notícias » Helmintos centenários: representativo para a saúde pública, medicina veterinária e conservação da biodiversidade

Helmintos centenários: representativo para a saúde pública, medicina veterinária e conservação da biodiversidade

O maior acervo biológico de helmintos da América Latina, a Coleção Helmintológica do IOC completa 110 anos e conta a história do Instituto por meio de estudos com vermes
Por Max Gomes27/12/2023 - Atualizado em 11/01/2024
Exemplar centenário de ‘Dioctophyma renale’, popularmente conhecido como verme gigante do rim, foi coletado em 1913 e passa por manutenção constante. Foto: Gutemberg Brito

Colecionar vermes pode soar como uma atividade estranha para muitos. Porém, para a pesquisa científica, esse ofício ajuda cientistas a desvendarem um pouco mais sobre os impactos e as dinâmicas de diferentes doenças parasitárias. E é no Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) que está preservado o maior acervo latino-americano desses organismos: a Coleção Helmintológica do IOC, que comemora 110 anos em 2023.

“Os helmintos são um grupo muito numeroso e diverso de vermes, que podem ser de vida livre ou parasitária. Muitos desses organismos infectam seres humanos e outros animais, desencadeando doenças como filariose, teníase, esquistossomose e diversas outras verminoses”, explica o curador, Marcelo Knoff.

Com foco em exemplares de importância médica e veterinária, a Coleção Helmintológica do IOC alberga mais de 40 mil lotes de helmintos provenientes dos cinco continentes. A maioria desses vermes parasita animais de todos os biomas da fauna brasileira, bem como de ambientes urbanos e ecossistemas de águas continentais e marinhas.

“A maior parte do acervo é de helmintos parasitos de animais vertebrados, com foco em mamíferos. Mas também temos muitos exemplares que parasitam invertebrados, como moluscos e artrópodes”, detalha Marcelo.

Além da biodiversidade, o acervo se destaca por ser um testemunho único: nele, encontram-se para consulta helmintos utilizados em estudos de pesquisadores proeminentes da ciência brasileira, como Oswaldo Cruz, Adolpho Lutz e Gaspar Viana.

Entre os exemplares, estão animais que foram usados para descrever novas espécies, ou que são representativos por refletirem características significativas dos grupos aos quais pertencem, como platelmintos, nematóides, acantocéfalos, gordiáceos e pentastomídeos.

Marcelo Knoff segura lâmina com exemplar utilizado por Lauro Travassos para descrever a espécie ‘Polymorphus corynosoma’. Foto: Gutemberg Brito

“Os helmintos são temas de interesse de pesquisadores do Instituto desde a sua criação. Um grande especialista que passou por aqui foi o Dr. Lauro Pereira Travassos, responsável pela organização da Coleção Helmintológica no início do século XX”, conta a curadora adjunta, Delir Corrêa Gomes.

Até 1913, os exemplares de helmintos eram mantidos separadamente. A unificação ocorreu quando o médico José Gomes de Faria, considerado o grande incentivador da helmintologia no Instituto, decidiu reunir e organizar esses espécimes junto com seu discípulo, Lauro Travassos.

Em 1915, Travassos assumiu a curadoria da Coleção e, apoiado no riquíssimo acervo, formou novas gerações de helmintologistas que, posteriormente, assumiriam a responsabilidade de preservar os exemplares, contribuindo para a modernização e o crescimento do número de amostras.

Foram eles: João Ferreira Teixeira de Freitas, Anna Kohn Hoineff, Henrique Rodrigues de Oliveira, Dely Noronha de Bragança Magalhães Pinto e, a atual curadora adjunta, Delir Corrêa Gomes.

“Quando cheguei ao IOC, o Dr. Travassos era a principal referência em helmintologia. Fiz um curso de helmintologia, obrigatório na época, no qual Dr. Travassos era um dos professores”, conta Delir, que iniciou sua carreira como estagiária no Instituto e está presente na Coleção por mais de quatro décadas, tendo sido curadora entre 1982 e 1989.

O treinamento de novos especialistas em helmintologia dentro da vivência da Coleção é um dos aspectos destacados pelos curadores como fundamental para a preservação não apenas dos exemplares, mas também da memória desse acervo centenário.

“Conseguimos manter a coleção dentro da perspectiva e orientação dos Drs. Travassos e Teixeira de Freitas. Essa tradição foi mantida até chegar no Marcelo, que foi orientado por mim e assumiu a curadoria da Coleção em 2007. Em breve, ele também passará esse conhecimento adiante para as próximas gerações de curadores”, compartilha Delir.

“Tenho a noção da importância de ter herdado essa responsabilidade. Precisamos continuar preservando esse patrimônio histórico e em constante expansão, focando na transmissão dos conhecimentos aqui construídos”, destaca Marcelo, que atua na Coleção desde o final da década de 1990.

A dupla de curadores está há décadas preservando esse patrimônio da ciência nacional. Foto: Gutemberg Brito
 

Um acervo que não parou no tempo

Embora sua origem remonte a 1913, o acervo que deu origem à Coleção Helmintológica já existia fragmentado como coleções de cestoides, trematódeos, nematoides e acantocéfalos.

“Gomes de Faria observou que um de seus alunos da faculdade de medicina, Lauro Travassos, tinha grande interesse em taxonomia de helmintos. Juntos, eles começaram a reorganizar os exemplares disponíveis e unificaram as coleções”, conta Marcelo.

Após a unificação, o acervo começou a ser expandido com depósitos de parasitas coletados por Gomes de Faria durante as expedições sanitárias formadas por Oswaldo Cruz para solucionar os problemas de saúde da época. Os depósitos se mantiveram ao longo dos anos com exemplares de pesquisadores e alunos de diversas universidades e instituições, tanto do Brasil quanto do exterior.


Produção audiovisual que destaca o valor histórico e a contribuição científica do acervo foi realizada no ano do centenário da Coleção Helmintológica, em 2013.

Para uma melhor adequação desse acervo, o espaço que abriga a coleção passou por transformações significativas entre 2007 e 2008, graças ao apoio financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Além de melhorias na infraestrutura, os antigos móveis de madeira do século XX foram substituídos por modernos armários deslizantes de aço.

“Na minha época, realizar trabalhos de rotina, como a manutenção dos lotes, era muito desafiador. Os armários de madeira se estendiam até o teto, o que nos obrigava a subir em escadas para acessar gavetas pesadíssimas por conta do volume da madeira e dos materiais líquidos. Hoje em dia, tudo está muito mais acessível”, relata Delir.

Os espécimes são preservados em material permanente, como lâminas lacradas com bálsamo do Canadá, e em meio líquido com álcool a 70%. Além dos exemplares acomodados nos armários deslizantes, também há espécimes congelados em freezer a -30˚C.


Ao alcance das mãos: os armários deslizantes otimizam o espaço e facilitam o acesso aos exemplares do acervo. Foto: Gutemberg Brito

De acordo com os curadores, a otimização do espaço permite que o acervo receba depósitos ao longo dos próximos 100 anos.

O esforço contínuo para modernização e adequação também foi refletido na digitalização das informações associadas ao acervo. Desde 2003, as fichas catalográficas em papel também passaram a ser arquivadas em ambiente virtual, com grande parte desses dados disponíveis online desde 2012, por meio da rede SpeciesLink.

Serviços

Uma fonte de informação valiosa para pesquisadores em várias áreas, como biomedicina, ecologia, epidemiologia e conservação, a Coleção Helmintológica do IOC presta serviços para áreas de ensino e pesquisa com alto padrão de qualidade.

Na pesquisa, são realizados empréstimos e depósito de espécimes. A Coleção recebe visitas para estudo de exemplares e, também, oferece capacitação por meio de cursos e palestras sobre técnicas e história do acervo.

No âmbito educacional, está engajada em diferentes iniciativas de divulgação científica, como o ‘Fiocruz pra Você’, Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, entre outros.

Parte da equipe da Coleção Helmintológica do IOC. Foto: Gutemberg Brito
O maior acervo biológico de helmintos da América Latina, a Coleção Helmintológica do IOC completa 110 anos e conta a história do Instituto por meio de estudos com vermes
Por: 
max.gomes
Exemplar centenário de ‘Dioctophyma renale’, popularmente conhecido como verme gigante do rim, foi coletado em 1913 e passa por manutenção constante. Foto: Gutemberg Brito

Colecionar vermes pode soar como uma atividade estranha para muitos. Porém, para a pesquisa científica, esse ofício ajuda cientistas a desvendarem um pouco mais sobre os impactos e as dinâmicas de diferentes doenças parasitárias. E é no Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) que está preservado o maior acervo latino-americano desses organismos: a Coleção Helmintológica do IOC, que comemora 110 anos em 2023.

“Os helmintos são um grupo muito numeroso e diverso de vermes, que podem ser de vida livre ou parasitária. Muitos desses organismos infectam seres humanos e outros animais, desencadeando doenças como filariose, teníase, esquistossomose e diversas outras verminoses”, explica o curador, Marcelo Knoff.

Com foco em exemplares de importância médica e veterinária, a Coleção Helmintológica do IOC alberga mais de 40 mil lotes de helmintos provenientes dos cinco continentes. A maioria desses vermes parasita animais de todos os biomas da fauna brasileira, bem como de ambientes urbanos e ecossistemas de águas continentais e marinhas.

“A maior parte do acervo é de helmintos parasitos de animais vertebrados, com foco em mamíferos. Mas também temos muitos exemplares que parasitam invertebrados, como moluscos e artrópodes”, detalha Marcelo.

Além da biodiversidade, o acervo se destaca por ser um testemunho único: nele, encontram-se para consulta helmintos utilizados em estudos de pesquisadores proeminentes da ciência brasileira, como Oswaldo Cruz, Adolpho Lutz e Gaspar Viana.

Entre os exemplares, estão animais que foram usados para descrever novas espécies, ou que são representativos por refletirem características significativas dos grupos aos quais pertencem, como platelmintos, nematóides, acantocéfalos, gordiáceos e pentastomídeos.

Marcelo Knoff segura lâmina com exemplar utilizado por Lauro Travassos para descrever a espécie ‘Polymorphus corynosoma’. Foto: Gutemberg Brito

“Os helmintos são temas de interesse de pesquisadores do Instituto desde a sua criação. Um grande especialista que passou por aqui foi o Dr. Lauro Pereira Travassos, responsável pela organização da Coleção Helmintológica no início do século XX”, conta a curadora adjunta, Delir Corrêa Gomes.

Até 1913, os exemplares de helmintos eram mantidos separadamente. A unificação ocorreu quando o médico José Gomes de Faria, considerado o grande incentivador da helmintologia no Instituto, decidiu reunir e organizar esses espécimes junto com seu discípulo, Lauro Travassos.

Em 1915, Travassos assumiu a curadoria da Coleção e, apoiado no riquíssimo acervo, formou novas gerações de helmintologistas que, posteriormente, assumiriam a responsabilidade de preservar os exemplares, contribuindo para a modernização e o crescimento do número de amostras.

Foram eles: João Ferreira Teixeira de Freitas, Anna Kohn Hoineff, Henrique Rodrigues de Oliveira, Dely Noronha de Bragança Magalhães Pinto e, a atual curadora adjunta, Delir Corrêa Gomes.

“Quando cheguei ao IOC, o Dr. Travassos era a principal referência em helmintologia. Fiz um curso de helmintologia, obrigatório na época, no qual Dr. Travassos era um dos professores”, conta Delir, que iniciou sua carreira como estagiária no Instituto e está presente na Coleção por mais de quatro décadas, tendo sido curadora entre 1982 e 1989.

O treinamento de novos especialistas em helmintologia dentro da vivência da Coleção é um dos aspectos destacados pelos curadores como fundamental para a preservação não apenas dos exemplares, mas também da memória desse acervo centenário.

“Conseguimos manter a coleção dentro da perspectiva e orientação dos Drs. Travassos e Teixeira de Freitas. Essa tradição foi mantida até chegar no Marcelo, que foi orientado por mim e assumiu a curadoria da Coleção em 2007. Em breve, ele também passará esse conhecimento adiante para as próximas gerações de curadores”, compartilha Delir.

“Tenho a noção da importância de ter herdado essa responsabilidade. Precisamos continuar preservando esse patrimônio histórico e em constante expansão, focando na transmissão dos conhecimentos aqui construídos”, destaca Marcelo, que atua na Coleção desde o final da década de 1990.

A dupla de curadores está há décadas preservando esse patrimônio da ciência nacional. Foto: Gutemberg Brito
 

Um acervo que não parou no tempo

Embora sua origem remonte a 1913, o acervo que deu origem à Coleção Helmintológica já existia fragmentado como coleções de cestoides, trematódeos, nematoides e acantocéfalos.

“Gomes de Faria observou que um de seus alunos da faculdade de medicina, Lauro Travassos, tinha grande interesse em taxonomia de helmintos. Juntos, eles começaram a reorganizar os exemplares disponíveis e unificaram as coleções”, conta Marcelo.

Após a unificação, o acervo começou a ser expandido com depósitos de parasitas coletados por Gomes de Faria durante as expedições sanitárias formadas por Oswaldo Cruz para solucionar os problemas de saúde da época. Os depósitos se mantiveram ao longo dos anos com exemplares de pesquisadores e alunos de diversas universidades e instituições, tanto do Brasil quanto do exterior.

Produção audiovisual que destaca o valor histórico e a contribuição científica do acervo foi realizada no ano do centenário da Coleção Helmintológica, em 2013.

Para uma melhor adequação desse acervo, o espaço que abriga a coleção passou por transformações significativas entre 2007 e 2008, graças ao apoio financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Além de melhorias na infraestrutura, os antigos móveis de madeira do século XX foram substituídos por modernos armários deslizantes de aço.

“Na minha época, realizar trabalhos de rotina, como a manutenção dos lotes, era muito desafiador. Os armários de madeira se estendiam até o teto, o que nos obrigava a subir em escadas para acessar gavetas pesadíssimas por conta do volume da madeira e dos materiais líquidos. Hoje em dia, tudo está muito mais acessível”, relata Delir.

Os espécimes são preservados em material permanente, como lâminas lacradas com bálsamo do Canadá, e em meio líquido com álcool a 70%. Além dos exemplares acomodados nos armários deslizantes, também há espécimes congelados em freezer a -30˚C.


Ao alcance das mãos: os armários deslizantes otimizam o espaço e facilitam o acesso aos exemplares do acervo. Foto: Gutemberg Brito

De acordo com os curadores, a otimização do espaço permite que o acervo receba depósitos ao longo dos próximos 100 anos.

O esforço contínuo para modernização e adequação também foi refletido na digitalização das informações associadas ao acervo. Desde 2003, as fichas catalográficas em papel também passaram a ser arquivadas em ambiente virtual, com grande parte desses dados disponíveis online desde 2012, por meio da rede SpeciesLink.

Serviços

Uma fonte de informação valiosa para pesquisadores em várias áreas, como biomedicina, ecologia, epidemiologia e conservação, a Coleção Helmintológica do IOC presta serviços para áreas de ensino e pesquisa com alto padrão de qualidade.

Na pesquisa, são realizados empréstimos e depósito de espécimes. A Coleção recebe visitas para estudo de exemplares e, também, oferece capacitação por meio de cursos e palestras sobre técnicas e história do acervo.

No âmbito educacional, está engajada em diferentes iniciativas de divulgação científica, como o ‘Fiocruz pra Você’, Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, entre outros.

Parte da equipe da Coleção Helmintológica do IOC. Foto: Gutemberg Brito
Edição: 
Vinicius Ferreira

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)