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Acessibilidade, inclusão, histórias de vida e atuação estudantil no quarto dia da Semana da Pós-graduação

Palestras de pessoas com deficiência evidenciaram a importância da presença na ciência
Por Vinicius Ferreira29/09/2023 - Atualizado em 03/10/2023

:: Confira a cobertura especial

Mais um dia recheado de histórias e temas de impacto social. A Semana da Pós-graduação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) chegou ao quarto dia de atividades com palestras sobre a importância da inclusão de pessoas com deficiência na ciência, relatos de trajetórias acadêmicas e científicas, informações sobre ações estudantis e as múltiplas possibilidades de uso da citometria de imagem na pesquisa. A moderação ficou a cargo de Jessica Waterman, representante discente da Pós-graduação em Biologia Parasitária.

Logo no início da manhã, a mesa-redonda ‘Diversas histórias, um lugar em comum: o IOC como horizontes de vida e pluralidade' reuniu discentes e egressos dos Programas de Pós do Instituto que contaram sobre suas vidas acadêmicas e profissionais.

Egresso da Pós em Biologia Parasitária, Ademir Martins está na Fiocruz desde 1995. Foto: Gutemberg Brito 

Atual vice-diretor adjunto de Ensino, Informação e Comunicação do IOC, Ademir Martins foi o primeiro a narrar sua trajetória, cujo caminho começou a ser trilhado na Fiocruz desde 1995, como aluno da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV). De lá pra cá, se formou em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e se tornou mestre e doutor pelo Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária IOC, onde atualmente é docente.

Com experiência em estudo sobre mecanismos moleculares de resistência de Aedes aegypti a inseticidas, é chefe substituto do Laboratório de Biologia, Controle e Vigilância de Insetos Vetores e membro do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Entomologia Molecular (INCT-EM) e do consórcio internacional WIN Network. É bolsista FAPERJ - Jovem Cientista do Nosso Estado e editor associado das revistas Parasites & Vectors, Memórias do Instituto Oswaldo Cruz e Current Research in Parasitology & Vector-Borne Diseases.

Nascido na Bahia, João conseguiu realizar o sonho de ter a Fiocruz como sua casa científica. Foto: Gutemberg Brito 

Outro a apresentar seu caminhar científico e acadêmico foi João Paulo Sales. Biólogo e mestre em Zoologia pela Universidade Estadual de Santa Cruz, João ingressou na Fiocruz em 2017 para cursar doutorado no Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Saúde do Instituto e atualmente desenvolve pesquisas no Laboratório de Referência Nacional e Internacional em Taxonomia de Triatomíneos. Tem experiência na área de Taxonomia Integrativa, com ênfase em Morfologia, Citogenética e Sistemática Molecular de Ponerinae.

Já Vinicius da Motta de Mello, último a se apresentar, contou que sua história se entrelaça com a da Fiocruz há cerca de uma década. Enquanto cursava Biologia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), se tornou estudante de Iniciação Científica no IOC, pesquisando o desenvolvimento de teste rápido para detecção de anticorpos contra o vírus da hepatite A. Na sequência, cursou mestrado no Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical, onde atualmente está finalizando seu doutoramento. Foi pesquisador bolsista da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN/SESI) e possui experiência na área de microbiologia, com ênfase em virologia, atuando principalmente com diagnóstico sorológico e molecular das hepatites virais.

Vinicius Mello: especialista em hepatites virais está na Fiocruz há mais de 10 anos. Foto: Gutemberg Brito 


Precisamos falar sobre inclusão

O que você pode faz para promover a inclusão no seu local de trabalho ou de estudo? Com essa provocação, a mesa-redonda ‘Diversidade de sentidos: reconhecendo a importância da inclusão de surdos e cegos na ciência’ trouxe à tona um debate mais que necessário. Com a palavra, discentes com deficiência e autoridades no assunto.

Com surdez profunda bilateral, Nuccia Nicole Theodoro de Cicco viveu duas realidades completamente distintas. Enquanto durante sua infância e juventude possuía audição e não encontrava barreiras para se comunicar e aprender, desde 2007 sente na pele as dificuldades enfrentada pelas pessoas com deficiência, principalmente no campo da educação.

. Foto: Gutemberg Brito 

"Eu percebi tardiamente que estava perdendo a audição. Começou com o ouvido direito e rapidamente passou para o esquerdo. Não tive tempo de reverter o quadro", conta a pesquisadora, que cursou mestrado e o doutorado em Química Biológica já surda.

Atualmente, Nuccia se divide entre duas missões: lecionar e lutar pela inclusão de pessoas surdas na ciência. Responsável pelo Laboratório Didático de Ciência para Surdos (Ladics) e membro do Projeto Surdos UFRJ, ela se dedica à educação de surdos no ensino superior. Além disso, integra o Fórum Permanente UFRJ Acessível e Inclusiva (FPAI) e integra a Comissão de Acessibilidade do Centro de Ciências da Saúde da Universidade, criados com o objetivo de tornar a educação acessível para todos.

"No universo da população surda, há muitas especificidades. Existem surdos que sabem português e não sabem libras ou sabem pouco, surdos que sabem libras, mas não foram alfabetizados na língua portuguesa e surdos sem conhecimento em ambas as línguas. Apesar de a lei dizer que é dever do Estado, da família, da escola e da sociedade assegurarem a educação de qualidade à pessoas com deficiência, a pesquisa nacional de saúde, de 2019, mostrou que quase 3% dos brasileiros acima dos 18 anos com deficiência auditiva não possuem instrução ou têm fundamental incompleto e somente 0,5% possuem nível superior completo", alertou.

Nuccia Cicco, coordenadora do Laboratório Didático de Ciência para Surdos. Foto: Gutemberg Brito 

A educadora evidenciou outra chocante realidade: dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), de 2015, mostram que somente um pouco mais de 1600 surdos estavam matriculados em universidades brasileiras. Sendo que o censo de 2010 mostrou que no país há cerca de 10 milhões de pessoas com deficiência auditiva, sendo mais de 2 milhões com deficiência severa ou profunda.

Como entraves para a inclusão de surdos na pesquisa e no ensino, Nuccia destacou que na divulgação científica ainda são utilizados muitos termos técnicos sem tradução para libras. Também comentou sobre a velocidade do avanço cientifico, a intolerância de professores e pesquisadores às pessoas surdas; a ausência de intérpretes suficientes para atender a demana ou intérpretes sem formação em biociências, além da inexistência de acessibilidade em eventos científicos.

"A acessibilidade não é privilegio. É necessário incentivar e investir em legendagem de vídeos, criação de material complementar, contratar interpretes, incentivar o aprendizado de libras e planejar ambientes acessíveis", frisou.

"A inclusão não é um dever apenas do Estado, é um dever de todos nós. Caso você perceba que seu local de trabalho ou estudo não promove acessibilidade, mobilize-se para mudar essa realidade", incentivou.

Bianca Líbera, docente do Instituto Benjamin Constant. Foto: Gutemberg Brito 

Na sequência, Bianca Della Líbera, docente do Instituto Benjamin Constant, tradicional instituição de ensino para deficientes visuais localizada no Rio de Janeiro, abordou a necessidade de inclusão desse público em todas as áreas do conhecimento.

"Não cabe mais discutir a importância da inclusão de pessoas com deficiência visual na ciência. É importante incluir e ponto. Estamos falando de pessoas, de seres humanos. Por que eles teriam que ficar de fora?", exclamou logo no início de sua fala.

Com especial dedicação à pesquisa em divulgação científica na deficiência visual e na formação de professores para uso de tecnologias digitais da informação e comunicação no ensino de pessoas com deficiência visual, Bianca expôs dados alarmantes. Na educação básica, somente estão inscritos cerca de 80 mil pessoas com baixa visão e 7 mil completamente cegos. No ensino superior, os números também são pífios, onde a quantidade de pessoas com baixa visão giram em torno de 20 mil, e a de cegos beira os 3 mil.

A especialista listou alguns desafios relatados pelos estudantes e que também presencia:

    :: Estigma e preconceitos - muitas pessoas têm a tendência de achar que os cegos são menos capazes e por isso se recusam, consciente ou inconscientemente, a oferecer ou lutar para que essas pessoas recebam as mesmas oportunidades;

    :: Falta de acessibilidade - a ausência de ambientes e recursos não adaptados para pessoas com deficiência criam barreiras e dificultam a inclusão. É preciso investir em tecnologia assistiva;

    :: Mobilidade - é necessário lutar pela implementação de políticas públicas de transporte, calçamentos e sinalizações acessíveis e seguros para todos, para que o deficiente conquiste sua independência (e direito) de ir e vir;

    :: Acesso à informação - materiais impressos e digitais precisam estar disponíveis em braille e/ou em áudio para ampliar a difusão da informação;

    :: Recursos humanos - é preciso investir na formação de profissionais voltados para a criação e manutenção de ambientes inclusivos

Exemplificando o tema a partir de relatos pessoais, estava presente nas discussões, a estudante de mestrado do Programa de Pós-graduação em Ensino e Biociências e Saúde do IOC, Ana Beatriz Azevedo. Nascida com deficiência visual degenerativa, Ana, hoje, possui baixa visão.

Ana Beatriz, discente da Pós-graduação em Ensino em Biociência e Saúde do IOC. Foto: Gutemberg Brito 

A discente se tornou a primeira aluna com deficiência visual graduada em Física na UERJ. Sempre muito curiosa, como ela própria se descreve, viu nas aulas da graduação a oportunidade de entender o mundo de uma forma diferente, para além da visão.

"A Fiocruz precisa saber que existem pessoas com deficiência que desejam ser estudantes dessa instituição. Por isso, é importante a implementação de acesso por cota, para proporcionar que pessoas historicamente consideradas incapazes consigam essa oportunidade", protestou. 

No mestrado, a discente se empenha em desenvolver estudos sobre a inclusão de alunos com deficiências visuais em instituições de ensino superior no Rio de Janeiro.

Atualmente, o Ensino do IOC possui, ao menos, três estudantes autodeclarados com baixa visão, sendo um na Pós em Ensino em Biociências e Saúde, um em Medicina Tropical e outro no curso Lato sensu em Entomologia Médica.

A mesa-redonda foi moderada pela pesquisadora Anunciata Cristina Sawada, coordenadora adjunta da Pós-graduação Lato sensu em Ciência, Arte e Cultura na Saúde do IOC.

Outros temas
 

Cynthia Cascabulho, tecnologista da Plataforma de Citometris e Fluxo, e Thassio Ferraz, vice-coordenador geral da APG/Fiocruz. Foto: Gutemberg Brito 

A parte da tarde foi dedicada à palestra ‘Amnis Image Stream: citometria de imagem e suas múltiplas possibilidades na pesquisa científica’, que recebeu Cynthia Machado Cascabulho, tecnologista em saúde pública da Plataforma de Citometria de Fluxo do IOC. A moderação foi de Natália Vacani, discente da Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular do Instituto.

Às 15h, a mesa-redonda ‘Pluralidade em movimento: novas ações da APG Fiocruz RJ 23-24 para e em conjunto com os estudantes’ contou com participação de Thassio Ferraz, vice-coordenador geral da APG/Fiocruz e doutorando da Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz).

Palestras de pessoas com deficiência evidenciaram a importância da presença na ciência
Por: 
viniciusferreira

:: Confira a cobertura especial

Mais um dia recheado de histórias e temas de impacto social. A Semana da Pós-graduação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) chegou ao quarto dia de atividades com palestras sobre a importância da inclusão de pessoas com deficiência na ciência, relatos de trajetórias acadêmicas e científicas, informações sobre ações estudantis e as múltiplas possibilidades de uso da citometria de imagem na pesquisa. A moderação ficou a cargo de Jessica Waterman, representante discente da Pós-graduação em Biologia Parasitária.

Logo no início da manhã, a mesa-redonda ‘Diversas histórias, um lugar em comum: o IOC como horizontes de vida e pluralidade' reuniu discentes e egressos dos Programas de Pós do Instituto que contaram sobre suas vidas acadêmicas e profissionais.

Egresso da Pós em Biologia Parasitária, Ademir Martins está na Fiocruz desde 1995. Foto: Gutemberg Brito 

Atual vice-diretor adjunto de Ensino, Informação e Comunicação do IOC, Ademir Martins foi o primeiro a narrar sua trajetória, cujo caminho começou a ser trilhado na Fiocruz desde 1995, como aluno da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV). De lá pra cá, se formou em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e se tornou mestre e doutor pelo Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária IOC, onde atualmente é docente.

Com experiência em estudo sobre mecanismos moleculares de resistência de Aedes aegypti a inseticidas, é chefe substituto do Laboratório de Biologia, Controle e Vigilância de Insetos Vetores e membro do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Entomologia Molecular (INCT-EM) e do consórcio internacional WIN Network. É bolsista FAPERJ - Jovem Cientista do Nosso Estado e editor associado das revistas Parasites & Vectors, Memórias do Instituto Oswaldo Cruz e Current Research in Parasitology & Vector-Borne Diseases.

Nascido na Bahia, João conseguiu realizar o sonho de ter a Fiocruz como sua casa científica. Foto: Gutemberg Brito 

Outro a apresentar seu caminhar científico e acadêmico foi João Paulo Sales. Biólogo e mestre em Zoologia pela Universidade Estadual de Santa Cruz, João ingressou na Fiocruz em 2017 para cursar doutorado no Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Saúde do Instituto e atualmente desenvolve pesquisas no Laboratório de Referência Nacional e Internacional em Taxonomia de Triatomíneos. Tem experiência na área de Taxonomia Integrativa, com ênfase em Morfologia, Citogenética e Sistemática Molecular de Ponerinae.

Já Vinicius da Motta de Mello, último a se apresentar, contou que sua história se entrelaça com a da Fiocruz há cerca de uma década. Enquanto cursava Biologia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), se tornou estudante de Iniciação Científica no IOC, pesquisando o desenvolvimento de teste rápido para detecção de anticorpos contra o vírus da hepatite A. Na sequência, cursou mestrado no Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical, onde atualmente está finalizando seu doutoramento. Foi pesquisador bolsista da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN/SESI) e possui experiência na área de microbiologia, com ênfase em virologia, atuando principalmente com diagnóstico sorológico e molecular das hepatites virais.

Vinicius Mello: especialista em hepatites virais está na Fiocruz há mais de 10 anos. Foto: Gutemberg Brito 

Precisamos falar sobre inclusão

O que você pode faz para promover a inclusão no seu local de trabalho ou de estudo? Com essa provocação, a mesa-redonda ‘Diversidade de sentidos: reconhecendo a importância da inclusão de surdos e cegos na ciência’ trouxe à tona um debate mais que necessário. Com a palavra, discentes com deficiência e autoridades no assunto.

Com surdez profunda bilateral, Nuccia Nicole Theodoro de Cicco viveu duas realidades completamente distintas. Enquanto durante sua infância e juventude possuía audição e não encontrava barreiras para se comunicar e aprender, desde 2007 sente na pele as dificuldades enfrentada pelas pessoas com deficiência, principalmente no campo da educação.

. Foto: Gutemberg Brito 

"Eu percebi tardiamente que estava perdendo a audição. Começou com o ouvido direito e rapidamente passou para o esquerdo. Não tive tempo de reverter o quadro", conta a pesquisadora, que cursou mestrado e o doutorado em Química Biológica já surda.

Atualmente, Nuccia se divide entre duas missões: lecionar e lutar pela inclusão de pessoas surdas na ciência. Responsável pelo Laboratório Didático de Ciência para Surdos (Ladics) e membro do Projeto Surdos UFRJ, ela se dedica à educação de surdos no ensino superior. Além disso, integra o Fórum Permanente UFRJ Acessível e Inclusiva (FPAI) e integra a Comissão de Acessibilidade do Centro de Ciências da Saúde da Universidade, criados com o objetivo de tornar a educação acessível para todos.

"No universo da população surda, há muitas especificidades. Existem surdos que sabem português e não sabem libras ou sabem pouco, surdos que sabem libras, mas não foram alfabetizados na língua portuguesa e surdos sem conhecimento em ambas as línguas. Apesar de a lei dizer que é dever do Estado, da família, da escola e da sociedade assegurarem a educação de qualidade à pessoas com deficiência, a pesquisa nacional de saúde, de 2019, mostrou que quase 3% dos brasileiros acima dos 18 anos com deficiência auditiva não possuem instrução ou têm fundamental incompleto e somente 0,5% possuem nível superior completo", alertou.

Nuccia Cicco, coordenadora do Laboratório Didático de Ciência para Surdos. Foto: Gutemberg Brito 

A educadora evidenciou outra chocante realidade: dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), de 2015, mostram que somente um pouco mais de 1600 surdos estavam matriculados em universidades brasileiras. Sendo que o censo de 2010 mostrou que no país há cerca de 10 milhões de pessoas com deficiência auditiva, sendo mais de 2 milhões com deficiência severa ou profunda.

Como entraves para a inclusão de surdos na pesquisa e no ensino, Nuccia destacou que na divulgação científica ainda são utilizados muitos termos técnicos sem tradução para libras. Também comentou sobre a velocidade do avanço cientifico, a intolerância de professores e pesquisadores às pessoas surdas; a ausência de intérpretes suficientes para atender a demana ou intérpretes sem formação em biociências, além da inexistência de acessibilidade em eventos científicos.

"A acessibilidade não é privilegio. É necessário incentivar e investir em legendagem de vídeos, criação de material complementar, contratar interpretes, incentivar o aprendizado de libras e planejar ambientes acessíveis", frisou.

"A inclusão não é um dever apenas do Estado, é um dever de todos nós. Caso você perceba que seu local de trabalho ou estudo não promove acessibilidade, mobilize-se para mudar essa realidade", incentivou.

Bianca Líbera, docente do Instituto Benjamin Constant. Foto: Gutemberg Brito 

Na sequência, Bianca Della Líbera, docente do Instituto Benjamin Constant, tradicional instituição de ensino para deficientes visuais localizada no Rio de Janeiro, abordou a necessidade de inclusão desse público em todas as áreas do conhecimento.

"Não cabe mais discutir a importância da inclusão de pessoas com deficiência visual na ciência. É importante incluir e ponto. Estamos falando de pessoas, de seres humanos. Por que eles teriam que ficar de fora?", exclamou logo no início de sua fala.

Com especial dedicação à pesquisa em divulgação científica na deficiência visual e na formação de professores para uso de tecnologias digitais da informação e comunicação no ensino de pessoas com deficiência visual, Bianca expôs dados alarmantes. Na educação básica, somente estão inscritos cerca de 80 mil pessoas com baixa visão e 7 mil completamente cegos. No ensino superior, os números também são pífios, onde a quantidade de pessoas com baixa visão giram em torno de 20 mil, e a de cegos beira os 3 mil.

A especialista listou alguns desafios relatados pelos estudantes e que também presencia:

    :: Estigma e preconceitos - muitas pessoas têm a tendência de achar que os cegos são menos capazes e por isso se recusam, consciente ou inconscientemente, a oferecer ou lutar para que essas pessoas recebam as mesmas oportunidades;

    :: Falta de acessibilidade - a ausência de ambientes e recursos não adaptados para pessoas com deficiência criam barreiras e dificultam a inclusão. É preciso investir em tecnologia assistiva;

    :: Mobilidade - é necessário lutar pela implementação de políticas públicas de transporte, calçamentos e sinalizações acessíveis e seguros para todos, para que o deficiente conquiste sua independência (e direito) de ir e vir;

    :: Acesso à informação - materiais impressos e digitais precisam estar disponíveis em braille e/ou em áudio para ampliar a difusão da informação;

    :: Recursos humanos - é preciso investir na formação de profissionais voltados para a criação e manutenção de ambientes inclusivos

Exemplificando o tema a partir de relatos pessoais, estava presente nas discussões, a estudante de mestrado do Programa de Pós-graduação em Ensino e Biociências e Saúde do IOC, Ana Beatriz Azevedo. Nascida com deficiência visual degenerativa, Ana, hoje, possui baixa visão.

Ana Beatriz, discente da Pós-graduação em Ensino em Biociência e Saúde do IOC. Foto: Gutemberg Brito 

A discente se tornou a primeira aluna com deficiência visual graduada em Física na UERJ. Sempre muito curiosa, como ela própria se descreve, viu nas aulas da graduação a oportunidade de entender o mundo de uma forma diferente, para além da visão.

"A Fiocruz precisa saber que existem pessoas com deficiência que desejam ser estudantes dessa instituição. Por isso, é importante a implementação de acesso por cota, para proporcionar que pessoas historicamente consideradas incapazes consigam essa oportunidade", protestou. 

No mestrado, a discente se empenha em desenvolver estudos sobre a inclusão de alunos com deficiências visuais em instituições de ensino superior no Rio de Janeiro.

Atualmente, o Ensino do IOC possui, ao menos, três estudantes autodeclarados com baixa visão, sendo um na Pós em Ensino em Biociências e Saúde, um em Medicina Tropical e outro no curso Lato sensu em Entomologia Médica.

A mesa-redonda foi moderada pela pesquisadora Anunciata Cristina Sawada, coordenadora adjunta da Pós-graduação Lato sensu em Ciência, Arte e Cultura na Saúde do IOC.

Outros temas
 

Cynthia Cascabulho, tecnologista da Plataforma de Citometris e Fluxo, e Thassio Ferraz, vice-coordenador geral da APG/Fiocruz. Foto: Gutemberg Brito 

A parte da tarde foi dedicada à palestra ‘Amnis Image Stream: citometria de imagem e suas múltiplas possibilidades na pesquisa científica’, que recebeu Cynthia Machado Cascabulho, tecnologista em saúde pública da Plataforma de Citometria de Fluxo do IOC. A moderação foi de Natália Vacani, discente da Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular do Instituto.

Às 15h, a mesa-redonda ‘Pluralidade em movimento: novas ações da APG Fiocruz RJ 23-24 para e em conjunto com os estudantes’ contou com participação de Thassio Ferraz, vice-coordenador geral da APG/Fiocruz e doutorando da Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz).

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)