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Instituto apresenta vacina pioneira contra esquistossomose

Coletiva de imprensa divulgou o sucesso da fase 1 de testes clínicos do imunizante, que se mostrou eficaz e seguro contra doença parasitária que ameaça 800 milhões de pessoas em 70 países
Por Jornalismo IOC14/06/2012 - Atualizado em 10/01/2024

Na manhã desta terça-feira (12/06), o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) anunciou um divisor de águas para a ciência brasileira e uma vitória na luta contra as doenças negligenciadas: a aprovação, na fase 1 de testes clínicos, da primeira vacina contra a esquistossomose, endemia parasitária presente em mais de 70 países.

A Sm14 foi desenvolvida em solo brasileiro após três décadas de pesquisas no IOC, lideradas pela pesquisadora Miriam Tendler. De todos os imunizantes humanos em uso no mundo, nenhum havia sido desenvolvido no país até este momento.

Em coletiva de imprensa realizada no campus da Fiocruz em Manguinhos (RJ), Miriam disse que a vacina deixou de ser uma aposta para se tornar uma possibilidade concreta. Mais de 800 milhões de pessoas no mundo vivem sob ameaça da doença, segunda endemia parasitária mais grave depois da malária.

A pesquisadora Miriam Tendler exibe uma dose da vacina

Além de Miriam, participaram da coletiva a diretora do IOC, Tania Araújo-Jorge, o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, e o superintendente de produtos biológicos da Ourofino Agronegócios, Carlos Henrique Henrique.

Tania reforçou que, embora exista tratamento, a esquistossomose é uma doença endêmica e reincidente, ou seja, as pessoas são diagnosticadas, tratadas, mas acabam contraindo-a diversas vezes ao longo da vida. Neste sentido, o cenário é preocupante: de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), são 200 milhões de infectados nos países pobres e em desenvolvimento - 2,5 milhões dos quais são brasileiros e residentes, em sua maior parte, no Nordeste e em Minas Gerais.

“A conquista é uma das contribuições mais impactantes do IOC na luta pela erradicação dos efeitos da pobreza no Brasil e no mundo – e uma conquista que segue a tradição desta Casa”, disse Tania.

Equipe do Laboratório de Esquistossomose Experimental

O fato de as populações de áreas endêmicas serem forçadas a conviver com a doença por toda a sua vida tem sido o maior estímulo de Miriam nestas três décadas de desenvolvimento do imunizante.

“É muito duro imaginar crianças indo à escola em fase de aprendizado com náuseas e funções cognitivas reduzidas, e jovens que precisam contribuir com sua força de trabalho para o país debilitados pela anemia e outros sintomas da doença”, destacou.

Desta forma, Miriam adiantou que a vacina, cuja formulação já está finalizada, é destinada à faixa etária em idade escolar residente em áreas endêmicas.

Ao ser questionada sobre a capacidade da vacina de erradicar a esquistossomose, Miriam explicou que se trata de uma tarefa difícil – afinal, a varíola foi, até hoje, a única doença que o homem conseguiu eliminar.

“Por outro lado, a ferramenta que permitiu e permite fazer isso é a vacina, porque age interrompendo a transmissão”, disse. Miriam aproveitou, ainda, o contexto da convenção Rio +20 para falar sobre as vantagens do imunizante sob outro ponto de vista.

Segundo ela, trata-se de um método verde de prevenção. “Não deixa resíduos e é biologicamente lícita, ou seja, em vez de atuar na eliminação de vetores e espécies, apenas protege o organismo de quem precisa ser protegido", finalizou.

 
O modelo tridimensional da proteína Sm14, que serve de base para o imunizante contra a esquistossomose

O presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, destacou a importância dos parceiros no projeto da  Sm14, como a Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (FINEP), CNPq, a Ourofino Agronegócios e o Instituto Ludwig para Pesquisa em Câncer, dos Estados Unidos. 

“Esse feito reflete o estágio nacional em que nos encontramos, com condições reais de realizar parcerias público-privadas, obter financiamentos para pesquisas, fazer inovação e sermos reconhecidos no exterior como parceiros”, disse.

 
Coletiva, realizada às vésperas da Rio +20, também abordou as vantagens da vacina sob a perspectiva ambiental

Uso veterinário

Por seu potencial multivalente, a Sm14 se mostrou eficaz também para a fasciolose, verminose que afeta o gado ovino, caprino e bovino.

A Ourofino Agronegócios, parceira do projeto, representada na coletiva pelo superintendente de produtos biológicos Carlos Henrique Henrique, reiterou o compromisso de produzir os imunizantes e reforçou a importância de sua aplicação veterinária. De acordo com ele, tanto a fasciolose quanto os medicamentos utilizados para combatê-la alteram a qualidade da carne e do leite.

Se por um lado o parasita inutiliza o fígado do animal e altera a produção de leite, o medicamento, depois de algumas semanas, é absorvido pelo organismo e contamina a carne e o leite. Sendo assim, uma vez infectado e tratado, o animal precisa ser abatido para não comprometer a produção. Combater os caramujos, hospedeiros intermediários do parasita causador, tampouco é uma opção.

“É dano para os produtores e para o meio ambiente, pois a utilização de agrotóxicos pode incorrer em intoxicação dos animais e poluição dos pastos. A vacina contra fasciolose pode, de fato, transformar este cenário”, disse.

Coletiva de imprensa divulgou o sucesso da fase 1 de testes clínicos do imunizante, que se mostrou eficaz e seguro contra doença parasitária que ameaça 800 milhões de pessoas em 70 países
Por: 
jornalismo

Na manhã desta terça-feira (12/06), o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) anunciou um divisor de águas para a ciência brasileira e uma vitória na luta contra as doenças negligenciadas: a aprovação, na fase 1 de testes clínicos, da primeira vacina contra a esquistossomose, endemia parasitária presente em mais de 70 países.

A Sm14 foi desenvolvida em solo brasileiro após três décadas de pesquisas no IOC, lideradas pela pesquisadora Miriam Tendler. De todos os imunizantes humanos em uso no mundo, nenhum havia sido desenvolvido no país até este momento.

Em coletiva de imprensa realizada no campus da Fiocruz em Manguinhos (RJ), Miriam disse que a vacina deixou de ser uma aposta para se tornar uma possibilidade concreta. Mais de 800 milhões de pessoas no mundo vivem sob ameaça da doença, segunda endemia parasitária mais grave depois da malária.

A pesquisadora Miriam Tendler exibe uma dose da vacina

Além de Miriam, participaram da coletiva a diretora do IOC, Tania Araújo-Jorge, o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, e o superintendente de produtos biológicos da Ourofino Agronegócios, Carlos Henrique Henrique.

Tania reforçou que, embora exista tratamento, a esquistossomose é uma doença endêmica e reincidente, ou seja, as pessoas são diagnosticadas, tratadas, mas acabam contraindo-a diversas vezes ao longo da vida. Neste sentido, o cenário é preocupante: de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), são 200 milhões de infectados nos países pobres e em desenvolvimento - 2,5 milhões dos quais são brasileiros e residentes, em sua maior parte, no Nordeste e em Minas Gerais.

“A conquista é uma das contribuições mais impactantes do IOC na luta pela erradicação dos efeitos da pobreza no Brasil e no mundo – e uma conquista que segue a tradição desta Casa”, disse Tania.

Equipe do Laboratório de Esquistossomose Experimental

O fato de as populações de áreas endêmicas serem forçadas a conviver com a doença por toda a sua vida tem sido o maior estímulo de Miriam nestas três décadas de desenvolvimento do imunizante.

“É muito duro imaginar crianças indo à escola em fase de aprendizado com náuseas e funções cognitivas reduzidas, e jovens que precisam contribuir com sua força de trabalho para o país debilitados pela anemia e outros sintomas da doença”, destacou.

Desta forma, Miriam adiantou que a vacina, cuja formulação já está finalizada, é destinada à faixa etária em idade escolar residente em áreas endêmicas.

Ao ser questionada sobre a capacidade da vacina de erradicar a esquistossomose, Miriam explicou que se trata de uma tarefa difícil – afinal, a varíola foi, até hoje, a única doença que o homem conseguiu eliminar.

“Por outro lado, a ferramenta que permitiu e permite fazer isso é a vacina, porque age interrompendo a transmissão”, disse. Miriam aproveitou, ainda, o contexto da convenção Rio +20 para falar sobre as vantagens do imunizante sob outro ponto de vista.

Segundo ela, trata-se de um método verde de prevenção. “Não deixa resíduos e é biologicamente lícita, ou seja, em vez de atuar na eliminação de vetores e espécies, apenas protege o organismo de quem precisa ser protegido", finalizou.

 
O modelo tridimensional da proteína Sm14, que serve de base para o imunizante contra a esquistossomose

O presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, destacou a importância dos parceiros no projeto da  Sm14, como a Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (FINEP), CNPq, a Ourofino Agronegócios e o Instituto Ludwig para Pesquisa em Câncer, dos Estados Unidos. 

“Esse feito reflete o estágio nacional em que nos encontramos, com condições reais de realizar parcerias público-privadas, obter financiamentos para pesquisas, fazer inovação e sermos reconhecidos no exterior como parceiros”, disse.

 
Coletiva, realizada às vésperas da Rio +20, também abordou as vantagens da vacina sob a perspectiva ambiental

Uso veterinário

Por seu potencial multivalente, a Sm14 se mostrou eficaz também para a fasciolose, verminose que afeta o gado ovino, caprino e bovino.

A Ourofino Agronegócios, parceira do projeto, representada na coletiva pelo superintendente de produtos biológicos Carlos Henrique Henrique, reiterou o compromisso de produzir os imunizantes e reforçou a importância de sua aplicação veterinária. De acordo com ele, tanto a fasciolose quanto os medicamentos utilizados para combatê-la alteram a qualidade da carne e do leite.

Se por um lado o parasita inutiliza o fígado do animal e altera a produção de leite, o medicamento, depois de algumas semanas, é absorvido pelo organismo e contamina a carne e o leite. Sendo assim, uma vez infectado e tratado, o animal precisa ser abatido para não comprometer a produção. Combater os caramujos, hospedeiros intermediários do parasita causador, tampouco é uma opção.

“É dano para os produtores e para o meio ambiente, pois a utilização de agrotóxicos pode incorrer em intoxicação dos animais e poluição dos pastos. A vacina contra fasciolose pode, de fato, transformar este cenário”, disse.

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)