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'IOC vive em suas pessoas'

Programação comemorativa do IOC emociona com homenagens e lançamento do projeto 'Cartas para Oswaldo'. Mesa-redonda sobre Covid-19 encerra atividades do dia
Por Kadu Cayres e Max Gomes26/05/2022 - Atualizado em 25/07/2022

Na parte da tarde, a programação comemorativa teve início com uma homenagem a profissionais e estudantes do Instituto de todos os vínculos, que fazem parte do cotidiano da Unidade. Ao todo, foram cinco homenageados, cuja base de seleção buscou por profissionais ativos da antiga e da mais nova geração, além de um membro da atual representação dos estudantes do IOC. A cerimônia foi conduzida pela vice-diretora de Desenvolvimento Institucional e Gestão, Wania Santiago.

“É um privilégio fazer parte das comemorações de 122 anos do Instituto e poder falar sobre algo que amo: pessoas, relacionamentos e reconhecimento. Acredito que trabalhar com prazer e alegria deva fazer parte da nossa vida laboral. Por isso, precisamos investir na prática de festejar e homenagear os encontros que a gente tem no ambiente de trabalho e estudo”, comentou a vice-diretora.

Homenageados receberam dedicatórias especiais dos seus colegas de setor. Foto: Gutemberg Brito (IOC/Fiocruz)

Entre os homenageados, estavam: Gilberto Couto Alcântara (geração 1940), que atua no Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores; Brenda Lima Porto Tardan (mais jovem servidora do IOC), do Centro de Experimentação Animal; Maria José da Silva de Souza (geração 1940), do Departamento de Apoio Técnico e Tecnológico (DATT); Max Gomes, profissional terceirizado que atua no Departamento de Jornalismo e Comunicação (DEJOR); e Fernando Alves da Silva Filho, representando os discentes do Instituto. Cada um foi prestigiado com depoimentos das respectivas equipes.

A ocasião também foi marcada pelo registro da perda recente de cientistas que fizeram história no Instituto: José Rodrigues Coura, Marciano Viana Paes e Juliana de Meis.

Assista à transmissão do evento:

Lançamento do projeto institucional ‘Cartas para Oswaldo’

No contexto das celebrações pelos 150 anos de nascimento de Oswaldo Cruz e da temática ‘Oswaldo Vive’, o vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação, Paulo Sérgio D’Andrea, apresentou o projeto ‘Cartas para Oswaldo’, iniciativa que convida a comunidade do Instituto a enviar cartas ao cientista que dá nome à instituição.

 Vice-diretor convida comunidade do IOC para participar da iniciativa. Foto: Gutemberg Brito (IOC/Fiocruz)

“Pode ser um agradecimento, um relato, um comentário ou qualquer outro tipo de expressão. Trechos das mensagens recebidas serão selecionados pela equipe do DEJOR, e utilizados na elaboração de uma carta em formato audiovisual. Imagine-se vivendo, contemporaneamente, com Oswaldo Cruz, e envie cartas a ele. Confesso que estou muito curioso para ver o resultado final deste projeto”, declarou D’Andrea.

Olhar atento para as pessoas

Na sequência, a vice-diretora de Desenvolvimento Institucional e Gestão, Wania Santiago, e a equipe da Assessoria de Promoção da Saúde e Cooperação Social do IOC apresentaram o tema ‘Promoção da saúde e cooperação social: o olhar atento para as pessoas’. Isolamento durante a pandemia, retorno ao trabalho presencial, ações da Assessoria e a importância do acolhimento e da escuta no contexto laboral foram alguns dos aspectos abordados na atividade.

 Apresentação focou no cuidado com as pessoas do Instituto no retorno às atividades presenciais. Foto: Gutemberg Brito (IOC/Fiocruz)

“O cuidado com o bem-estar físico, mental e emocional, nesse momento, é fundamental. Sair do isolamento e voltar à vida ‘normal’ também pode causar transtornos. Desta forma, através de um olhar atento e uma escuta qualificada, queremos proporcionar uma trilha de autocuidado e acolhimento para os profissionais e estudantes do IOC. Em qualquer iniciativa da Assessoria de Promoção da Saúde e Cooperação Social, as pessoas são acolhidas e incentivadas a promover a saúde, para que mental e físico estejam em compasso”, pontuou Wania.

Enfrentamento da Covid-19

Encerrando o primeiro dia de atividades, foi promovida a mesa-redonda “Covid-19, genômica e meio ambiente: desafios e questões para o futuro”. Para apresentar o tema, participaram Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do IOC, e Maria Ogrzewalska, pesquisadora do mesmo Laboratório. Também integraram a mesa de debate Maria de Lourdes Oliveira, vice-diretora de Serviços de Referência, Coleções Biológicas e Ambulatórios do IOC, e Marília Santini, assessora da Coordenação de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz.

Na abertura da atividade, foi respeitado um minuto de silêncio em memória das mais de 665 mil vidas perdidas no Brasil em decorrência da Covid-19. Funcionários do IOC que faleceram por causa da doença foram lembrados no memorial.

Na apresentação da mesa, o vice-diretor de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Instituto, Elmo Almeida Amaral, destacou a importância do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do IOC para a compreensão da emergência mundial em Saúde provocada pelo novo coronavírus. “Um Laboratório diretamente envolvido com o enfrentamento da pandemia, desde o primeiro momento, e que temos o grande orgulho por ser parceiro da Organização Mundial da Saúde [OMS] enquanto referência em diagnóstico. Além disso, um Laboratório que tem atuado de forma emblemática nos estudos da genética do SARS-coV-2”, reiterou.

Marilda lembrou que, desde que ingressou na equipe do Laboratório, era previsto o surgimento de uma emergência mundial provocada por vírus respiratório. “Desde aquela época, nós já sabíamos, assim como a maioria dos pesquisadores que trabalham com vírus respiratórios, que a pergunta não era ‘se’ teríamos uma pandemia, mas ‘quando’ teríamos uma pandemia”, ressaltou a virologista.

 O Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo, chefiado por Marilda Siqueira, desempenha papel fundamental no enfrentamento da Covid-19. Foto: Gutemberg Brito (IOC/Fiocruz)

Como símbolo dessa antiga preocupação, a pesquisadora apresentou a carta em que a OMS, em 1951, convidou a Fiocruz para ser referência nacional em influenza (NIC, na sigla em inglês). “Prevendo que poderíamos ter outras pandemias – e tivemos – a OMS começou a se organizar construindo uma rede de laboratório ao redor do mundo, já se antecipando a um futuro enfrentamento de epidemias e pandemias de influenza”, afirmou.

No Brasil, atualmente, a rede de Laboratórios de Referência para influenza da OMS compreende três centros: o IOC, no Rio de Janeiro, o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e o Instituto Evandro Chagas, no Pará. Informações e dados sobre circulação dos vírus influenza são trocadas constantemente entre os membros da rede para que sejam oferecidas respostas precisas para a produção de vacinas.

Com a crise do SARS-CoV-2, emergiram numerosas dúvidas sobre o novo vírus. Entre os questionamentos estavam as manifestações clínicas da doença, quais as tecnologias necessárias para os diagnósticos laboratoriais, a possibilidade de reinfecção e a eficácia de vacinas e antivirais. “Sempre entramos em uma pandemia com muito mais perguntas do que respostas. Dois anos e meio depois, tivemos grande progresso, mas ainda com perguntas que precisam ser respondidas”, declarou.

Uma das formas de encontrar respostas para esse vírus é através da genômica, campo da ciência que estuda os conjuntos de todos os genes de um ser vivo. “O que queremos saber com o dado genômico? Qual é a pergunta por trás dessa análise que estamos realizando?”, questionou a pesquisadora. “Quando trabalhamos com dados genômicos não é sobre sair fazendo diferentes sequências. É saber o propósito de estar fazendo essas sequências”, completou.

Para organizar e facilitar o acesso a essas informações, foi montada a Rede Genômica Fiocruz, uma plataforma de compartilhamento de dados que reúne unidades da Fundação distribuídas pelo Brasil. Contribuindo para um melhor preparo do país no enfrentamento da pandemia, em termos de diagnósticos mais precisos e vacinas eficazes, a iniciativa conta também com uma página virtual onde é possível acompanhar as linhagens e mutações genéticas do novo coronavírus.

“Criamos o website porque ninguém aguentava mais fake news [notícias falsas]. Ele está disponível para acesso da população geral, não apenas para aqueles ligados à área das ciências biológicas. É para qualquer um ver em tempo real o que está acontecendo em genômica no nosso país”, explicou a pesquisadora.

A contribuição do grupo tem sido significativa para o compreender o comportamento do novo coronavírus. De todos os genomas de SARS-CoV-2 produzidos em território brasileiro, cerca de 31% são oriundos da Rede Genômica da Fiocruz. “No começo foi difícil. Tivemos poucos dados no Brasil por falta de financiamento. Até que, em um determinado momento, o Ministério da Saúde e o Ministério da Ciência e Tecnologia resolveram colocar financiamentos adequados para que tivéssemos os dados genômicos”, apontou.

Questões sobre a segurança no compartilhamento de dados adquiridos por análises genômicas também foram trazidas pela virologista. Marilda ressaltou a importância de partilhar essas informações, mas também manifestou a necessidade de refletir sobre ética e proteção dos direitos de pesquisadores e países. “Não é só fazer análises genômicas, é também discutir as implicações por trás delas, como patentes e direitos”, afirmou.

A pesquisadora concluiu sua palestra destacando que não adianta apenas ter aprendido lições com a pandemia da Covid-19, mas que é importante o planejamento e implementação de estratégias já se preparando para a próxima pandemia, com foco em reduzir o número de mortes e os impactos na saúde mental da população e na economia mundial. Entre essas ações, a virologista destacou a solidificação de grupos como a Rede Genômica Fiocruz, a manutenção de recursos humanos dentro dos laboratórios e a autossuficiência nacional na produção de insumos.

“Aqui no Brasil já passou da hora de algumas instituições e universidades começarem – e já estão começando – a ter investimentos para o desenvolvimento de cada item que compõe diversos insumos. Não podemos sair de uma pandemia sem ter uma política de desenvolvimento cientifico tecnológico para que sejamos autossuficientes na produção de vários insumos necessários”, encerrou.

Na sequência, a pesquisadora Maria Ogrzewalska abordou a importância, no contexto da Covid-19, de ir além da saúde humana e trabalhar com o conceito de Saúde Única (One Health). “Neste momento, não podemos somente olhar a parte humana. Temos que ver também a parte ambiental e animal. A pandemia apenas ressaltou essa necessidade na pesquisa”, afirmou.

 Maria Ogrzewalska realçou a importância de pensar em saúde de forma integrada com o ambiente. Foto: Gutemberg Brito (IOC/Fiocruz)

A pesquisadora relembrou que o SARS-CoV-2, apesar de ser um novo vírus, não é uma novidade em termos de emergência mundial em saúde. Para isso, traçou uma breve linha do tempo de epidemias conhecidas provocadas por outros coronavírus. “Antes da pandemia de 2019, já sabíamos da existência de vários coronavírus que afetam os seres humanos. Alguns são mais brandos, causando resfriados, e outros são mais sérios, como os SARS e MERS”, explicou.

O papel dos morcegos na transmissão de doenças respiratórias também foi colocado em foco pela bióloga. “Desde os anos 90, é de conhecimento que esses animais são reservatórios para vírus que causam doenças nos humanos”, apontou. “Em 2017, pesquisadores investigaram várias espécies de morcegos na província de Yunnan, no interior da China, e sugeriram a existência de muitos vírus parecidos com SARS nessas espécies. Então, havia grandes riscos de que esses vírus poderiam surgir de novo”, acrescentou.

A possibilidade de uma pandemia surgir ou ser impulsionada no Brasil foi abordada pela pesquisadora, que destacou o desmatamento como um dos principais agentes. As diversas dinâmicas de convivência entre humanos e animais domésticos e silvestres nas diferentes regiões do país também foram enfatizadas.

Fechando o encontro, a mesa-redonda, com todas as suas integrantes, debateu perspectivas do novo coronavírus, os desafios de fazer vigilância em um país de proporções continentais e o legado que a pandemia do SARS-CoV-2 deixará. “Com a Covid-19 ficou ainda mais evidente a importância da vigilância genômica. Não apenas para monitorar as situações que estão acontecendo, como também antever a emergência de novos vírus. A Rede Genômica Fiocruz é uma conquista extraordinária. A Covid-19 é apenas o primeiro agravo [sendo trabalhado nela]. Temos um potencial de resposta para todos os agravos de importância para Saúde Pública”, destacou Maria de Lourdes Aguiar.

A composição inteiramente feminina da mesa-redonda foi ressaltada por Marília Santini, que concluiu o a sessão abordando a cooperação entre o IOS e a presidência da Fiocruz. “Apesar de ser a única da mesa que é do IOC, eu sinto que nós somos do mesmo lugar”, concluiu.

 Da esquerda para direita: Marília Santini, Marilda Siqueira, Maria Ogrzewalska e Maria de Lourdes Aguiar. Foto: Gutemberg Brito (IOC/Fiocruz)
Programação comemorativa do IOC emociona com homenagens e lançamento do projeto 'Cartas para Oswaldo'. Mesa-redonda sobre Covid-19 encerra atividades do dia
Por: 
kadu
max.gomes

Na parte da tarde, a programação comemorativa teve início com uma homenagem a profissionais e estudantes do Instituto de todos os vínculos, que fazem parte do cotidiano da Unidade. Ao todo, foram cinco homenageados, cuja base de seleção buscou por profissionais ativos da antiga e da mais nova geração, além de um membro da atual representação dos estudantes do IOC. A cerimônia foi conduzida pela vice-diretora de Desenvolvimento Institucional e Gestão, Wania Santiago.

“É um privilégio fazer parte das comemorações de 122 anos do Instituto e poder falar sobre algo que amo: pessoas, relacionamentos e reconhecimento. Acredito que trabalhar com prazer e alegria deva fazer parte da nossa vida laboral. Por isso, precisamos investir na prática de festejar e homenagear os encontros que a gente tem no ambiente de trabalho e estudo”, comentou a vice-diretora.

Homenageados receberam dedicatórias especiais dos seus colegas de setor. Foto: Gutemberg Brito (IOC/Fiocruz)

Entre os homenageados, estavam: Gilberto Couto Alcântara (geração 1940), que atua no Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores; Brenda Lima Porto Tardan (mais jovem servidora do IOC), do Centro de Experimentação Animal; Maria José da Silva de Souza (geração 1940), do Departamento de Apoio Técnico e Tecnológico (DATT); Max Gomes, profissional terceirizado que atua no Departamento de Jornalismo e Comunicação (DEJOR); e Fernando Alves da Silva Filho, representando os discentes do Instituto. Cada um foi prestigiado com depoimentos das respectivas equipes.

A ocasião também foi marcada pelo registro da perda recente de cientistas que fizeram história no Instituto: José Rodrigues Coura, Marciano Viana Paes e Juliana de Meis.

Assista à transmissão do evento:

Lançamento do projeto institucional ‘Cartas para Oswaldo’

No contexto das celebrações pelos 150 anos de nascimento de Oswaldo Cruz e da temática ‘Oswaldo Vive’, o vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação, Paulo Sérgio D’Andrea, apresentou o projeto ‘Cartas para Oswaldo’, iniciativa que convida a comunidade do Instituto a enviar cartas ao cientista que dá nome à instituição.

 Vice-diretor convida comunidade do IOC para participar da iniciativa. Foto: Gutemberg Brito (IOC/Fiocruz)

“Pode ser um agradecimento, um relato, um comentário ou qualquer outro tipo de expressão. Trechos das mensagens recebidas serão selecionados pela equipe do DEJOR, e utilizados na elaboração de uma carta em formato audiovisual. Imagine-se vivendo, contemporaneamente, com Oswaldo Cruz, e envie cartas a ele. Confesso que estou muito curioso para ver o resultado final deste projeto”, declarou D’Andrea.

Olhar atento para as pessoas

Na sequência, a vice-diretora de Desenvolvimento Institucional e Gestão, Wania Santiago, e a equipe da Assessoria de Promoção da Saúde e Cooperação Social do IOC apresentaram o tema ‘Promoção da saúde e cooperação social: o olhar atento para as pessoas’. Isolamento durante a pandemia, retorno ao trabalho presencial, ações da Assessoria e a importância do acolhimento e da escuta no contexto laboral foram alguns dos aspectos abordados na atividade.

 Apresentação focou no cuidado com as pessoas do Instituto no retorno às atividades presenciais. Foto: Gutemberg Brito (IOC/Fiocruz)

“O cuidado com o bem-estar físico, mental e emocional, nesse momento, é fundamental. Sair do isolamento e voltar à vida ‘normal’ também pode causar transtornos. Desta forma, através de um olhar atento e uma escuta qualificada, queremos proporcionar uma trilha de autocuidado e acolhimento para os profissionais e estudantes do IOC. Em qualquer iniciativa da Assessoria de Promoção da Saúde e Cooperação Social, as pessoas são acolhidas e incentivadas a promover a saúde, para que mental e físico estejam em compasso”, pontuou Wania.

Enfrentamento da Covid-19

Encerrando o primeiro dia de atividades, foi promovida a mesa-redonda “Covid-19, genômica e meio ambiente: desafios e questões para o futuro”. Para apresentar o tema, participaram Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do IOC, e Maria Ogrzewalska, pesquisadora do mesmo Laboratório. Também integraram a mesa de debate Maria de Lourdes Oliveira, vice-diretora de Serviços de Referência, Coleções Biológicas e Ambulatórios do IOC, e Marília Santini, assessora da Coordenação de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz.

Na abertura da atividade, foi respeitado um minuto de silêncio em memória das mais de 665 mil vidas perdidas no Brasil em decorrência da Covid-19. Funcionários do IOC que faleceram por causa da doença foram lembrados no memorial.

Na apresentação da mesa, o vice-diretor de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Instituto, Elmo Almeida Amaral, destacou a importância do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do IOC para a compreensão da emergência mundial em Saúde provocada pelo novo coronavírus. “Um Laboratório diretamente envolvido com o enfrentamento da pandemia, desde o primeiro momento, e que temos o grande orgulho por ser parceiro da Organização Mundial da Saúde [OMS] enquanto referência em diagnóstico. Além disso, um Laboratório que tem atuado de forma emblemática nos estudos da genética do SARS-coV-2”, reiterou.

Marilda lembrou que, desde que ingressou na equipe do Laboratório, era previsto o surgimento de uma emergência mundial provocada por vírus respiratório. “Desde aquela época, nós já sabíamos, assim como a maioria dos pesquisadores que trabalham com vírus respiratórios, que a pergunta não era ‘se’ teríamos uma pandemia, mas ‘quando’ teríamos uma pandemia”, ressaltou a virologista.

 O Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo, chefiado por Marilda Siqueira, desempenha papel fundamental no enfrentamento da Covid-19. Foto: Gutemberg Brito (IOC/Fiocruz)

Como símbolo dessa antiga preocupação, a pesquisadora apresentou a carta em que a OMS, em 1951, convidou a Fiocruz para ser referência nacional em influenza (NIC, na sigla em inglês). “Prevendo que poderíamos ter outras pandemias – e tivemos – a OMS começou a se organizar construindo uma rede de laboratório ao redor do mundo, já se antecipando a um futuro enfrentamento de epidemias e pandemias de influenza”, afirmou.

No Brasil, atualmente, a rede de Laboratórios de Referência para influenza da OMS compreende três centros: o IOC, no Rio de Janeiro, o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e o Instituto Evandro Chagas, no Pará. Informações e dados sobre circulação dos vírus influenza são trocadas constantemente entre os membros da rede para que sejam oferecidas respostas precisas para a produção de vacinas.

Com a crise do SARS-CoV-2, emergiram numerosas dúvidas sobre o novo vírus. Entre os questionamentos estavam as manifestações clínicas da doença, quais as tecnologias necessárias para os diagnósticos laboratoriais, a possibilidade de reinfecção e a eficácia de vacinas e antivirais. “Sempre entramos em uma pandemia com muito mais perguntas do que respostas. Dois anos e meio depois, tivemos grande progresso, mas ainda com perguntas que precisam ser respondidas”, declarou.

Uma das formas de encontrar respostas para esse vírus é através da genômica, campo da ciência que estuda os conjuntos de todos os genes de um ser vivo. “O que queremos saber com o dado genômico? Qual é a pergunta por trás dessa análise que estamos realizando?”, questionou a pesquisadora. “Quando trabalhamos com dados genômicos não é sobre sair fazendo diferentes sequências. É saber o propósito de estar fazendo essas sequências”, completou.

Para organizar e facilitar o acesso a essas informações, foi montada a Rede Genômica Fiocruz, uma plataforma de compartilhamento de dados que reúne unidades da Fundação distribuídas pelo Brasil. Contribuindo para um melhor preparo do país no enfrentamento da pandemia, em termos de diagnósticos mais precisos e vacinas eficazes, a iniciativa conta também com uma página virtual onde é possível acompanhar as linhagens e mutações genéticas do novo coronavírus.

“Criamos o website porque ninguém aguentava mais fake news [notícias falsas]. Ele está disponível para acesso da população geral, não apenas para aqueles ligados à área das ciências biológicas. É para qualquer um ver em tempo real o que está acontecendo em genômica no nosso país”, explicou a pesquisadora.

A contribuição do grupo tem sido significativa para o compreender o comportamento do novo coronavírus. De todos os genomas de SARS-CoV-2 produzidos em território brasileiro, cerca de 31% são oriundos da Rede Genômica da Fiocruz. “No começo foi difícil. Tivemos poucos dados no Brasil por falta de financiamento. Até que, em um determinado momento, o Ministério da Saúde e o Ministério da Ciência e Tecnologia resolveram colocar financiamentos adequados para que tivéssemos os dados genômicos”, apontou.

Questões sobre a segurança no compartilhamento de dados adquiridos por análises genômicas também foram trazidas pela virologista. Marilda ressaltou a importância de partilhar essas informações, mas também manifestou a necessidade de refletir sobre ética e proteção dos direitos de pesquisadores e países. “Não é só fazer análises genômicas, é também discutir as implicações por trás delas, como patentes e direitos”, afirmou.

A pesquisadora concluiu sua palestra destacando que não adianta apenas ter aprendido lições com a pandemia da Covid-19, mas que é importante o planejamento e implementação de estratégias já se preparando para a próxima pandemia, com foco em reduzir o número de mortes e os impactos na saúde mental da população e na economia mundial. Entre essas ações, a virologista destacou a solidificação de grupos como a Rede Genômica Fiocruz, a manutenção de recursos humanos dentro dos laboratórios e a autossuficiência nacional na produção de insumos.

“Aqui no Brasil já passou da hora de algumas instituições e universidades começarem – e já estão começando – a ter investimentos para o desenvolvimento de cada item que compõe diversos insumos. Não podemos sair de uma pandemia sem ter uma política de desenvolvimento cientifico tecnológico para que sejamos autossuficientes na produção de vários insumos necessários”, encerrou.

Na sequência, a pesquisadora Maria Ogrzewalska abordou a importância, no contexto da Covid-19, de ir além da saúde humana e trabalhar com o conceito de Saúde Única (One Health). “Neste momento, não podemos somente olhar a parte humana. Temos que ver também a parte ambiental e animal. A pandemia apenas ressaltou essa necessidade na pesquisa”, afirmou.

 Maria Ogrzewalska realçou a importância de pensar em saúde de forma integrada com o ambiente. Foto: Gutemberg Brito (IOC/Fiocruz)

A pesquisadora relembrou que o SARS-CoV-2, apesar de ser um novo vírus, não é uma novidade em termos de emergência mundial em saúde. Para isso, traçou uma breve linha do tempo de epidemias conhecidas provocadas por outros coronavírus. “Antes da pandemia de 2019, já sabíamos da existência de vários coronavírus que afetam os seres humanos. Alguns são mais brandos, causando resfriados, e outros são mais sérios, como os SARS e MERS”, explicou.

O papel dos morcegos na transmissão de doenças respiratórias também foi colocado em foco pela bióloga. “Desde os anos 90, é de conhecimento que esses animais são reservatórios para vírus que causam doenças nos humanos”, apontou. “Em 2017, pesquisadores investigaram várias espécies de morcegos na província de Yunnan, no interior da China, e sugeriram a existência de muitos vírus parecidos com SARS nessas espécies. Então, havia grandes riscos de que esses vírus poderiam surgir de novo”, acrescentou.

A possibilidade de uma pandemia surgir ou ser impulsionada no Brasil foi abordada pela pesquisadora, que destacou o desmatamento como um dos principais agentes. As diversas dinâmicas de convivência entre humanos e animais domésticos e silvestres nas diferentes regiões do país também foram enfatizadas.

Fechando o encontro, a mesa-redonda, com todas as suas integrantes, debateu perspectivas do novo coronavírus, os desafios de fazer vigilância em um país de proporções continentais e o legado que a pandemia do SARS-CoV-2 deixará. “Com a Covid-19 ficou ainda mais evidente a importância da vigilância genômica. Não apenas para monitorar as situações que estão acontecendo, como também antever a emergência de novos vírus. A Rede Genômica Fiocruz é uma conquista extraordinária. A Covid-19 é apenas o primeiro agravo [sendo trabalhado nela]. Temos um potencial de resposta para todos os agravos de importância para Saúde Pública”, destacou Maria de Lourdes Aguiar.

A composição inteiramente feminina da mesa-redonda foi ressaltada por Marília Santini, que concluiu o a sessão abordando a cooperação entre o IOS e a presidência da Fiocruz. “Apesar de ser a única da mesa que é do IOC, eu sinto que nós somos do mesmo lugar”, concluiu.

 Da esquerda para direita: Marília Santini, Marilda Siqueira, Maria Ogrzewalska e Maria de Lourdes Aguiar. Foto: Gutemberg Brito (IOC/Fiocruz)
Edição: 
Raquel Aguiar

Permitido a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)