Foco de grandes campanhas anuais de vacinação, a poliomielite foi erradicada do país há 16 anos. O esforço de monitoramento sobre a possível reintrodução do vírus, no entanto, permanece como uma preocupação constante. Referência nacional e internacional para o tema e responsável pela vigilância epidemiológica da doença no Brasil e no Peru, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) acaba de aperfeiçoar o método de detecção do vírus. Mesclando a técnica indicada como padrão pela Organização Mundial da Saúde (OMS) com técnicas moleculares, o procedimento desenvolvido pelo IOC reduz de três para uma semana o tempo para o resultado final, além de identificar o sorotipo presente na amostra.
Os poliovírus são conhecidos por causar a poliomielite. Porém, a doença é um evento muito raro. De mil pessoas infectadas com o vírus selvagem, somente uma ou duas irão desenvolver a doença paralítica. As outras, terão sintomas como os de um resfriado comum e também podem acontecer casos de meningite, explica o pesquisador Edson Elias, chefe do Laboratório de Enterovírus do IOC. Um dos desafios para a vigilância da doença é justamente a rara manifestação de sintomas mais graves, ocorrendo a circulação silenciosa do vírus. Situações em que a cobertura não é adequada, causam ainda mais preocupação. Eventualmente, foi observado a partir do ano 2000 que os vírus atenuados utilizados na vacina com circulação em ambientes com baixa cobertura vacinal podem sofrer mutações e readquirir uma característica menos virulenta, com potencial para causar doença como se fosse um vírus selvagem. No Brasil não há registro de casos deste tipo, já que a cobertura vacinal é adequada, esclarece.
O novo método de diagnóstico foi enviado para Organização Mundial de Saúde (OMS) como proposição de um protocolo mais rápido para a identificação de vírus envolvidos na vigilância laboratorial da poliomielite. Segundo Edson Elias, o uso da técnica molecular PCR em tempo real (sigla em inglês para reação em cadeia de polimerase) para realização de diagnóstico não é novidade, mas a aplicação dela na detecção direta de vírus sim. A técnica que desenvolvemos é intermediária, conta com isolamento viral, seguido de PCR e testes sorológicos. Existem outras propostas que visam apenas o uso de PCR, mas apesar de muito sensível, é uma técnica mais cara e que apenas identifica se se trata ou não de um poliovírus. Já no protocolo que desenvolvemos é possível detectar o vírus, identificar se é polio ou não polio e qual o sorotipo presente, dispara o pesquisador se referindo a presença de outros vírus da família Enterovírus, que podem causar doenças como miocardite e meningite hemorrágica.
A técnica já está sendo utilizada de forma experimental no laboratório do IOC. À medida que a polimielite é um evento raro no mundo, este vírus tem um grande poder de disseminação. Por isso, quanto mais rápido for detectado, mais eficientes são as medidas tomadas para controlar, finaliza o pesquisador.
Referência no controle e na vigilância epidemiológica da poliomielite
Referência nacional e internacional para o tema, o Laboratório de Enterovírus do IOC teve participação decisiva no processo de erradicação da poliomielite: detectou, em 1986, que um surto de pólio no Nordeste era causado pelo subtipo III do vírus, auxiliando no desenvolvimento de uma nova formulação para a vacina, que foi adotada pela OMS. Em 2008, foi um dos laboratórios acionados na iniciativa, parte do programa global de erradicação da doença, que mapeou as instituições que armazenam o poliovírus ou amostras clínicas coletadas em momentos de circulação da doença e que potencialmente podem conter o agente.
No Brasil, o último caso de poliomielite causado por vírus selvagem ocorreu em 1989. O país recebeu o Certificado de Eliminação da Poliomielite em dezembro de 1994. O último caso de poliomielite no continente americano foi registrado no Peru, em 1991. O caso foi diagnosticado pelo Laboratório de Enterovírus do IOC, onde a amostra está armazenada. Três anos depois, o continente foi o primeiro a receber a certificação que atestou a erradicação da doença.
Campanhas nacionais de imunização são realizadas anualmente no país. Em 2009, a mobilização aconteceu no último mês de junho e, de acordo com o balanço do Ministério da Saúde, obteve uma cobertura vacinal de cerca de 97%, com mais de 30 milhões de doses aplicadas em crianças brasileiras menores de cinco anos .
O processo de erradicação global da doença está adiantado, porém, a doença ainda ocorre na Índia, Nigéria, Afeganistão e Paquistão, países que submetidos a situações de conflito ou que apresentam condições precárias de saneamento.
Renata Fontoura
26/07/10
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Foco de grandes campanhas anuais de vacinação, a poliomielite foi erradicada do país há 16 anos. O esforço de monitoramento sobre a possível reintrodução do vírus, no entanto, permanece como uma preocupação constante. Referência nacional e internacional para o tema e responsável pela vigilância epidemiológica da doença no Brasil e no Peru, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) acaba de aperfeiçoar o método de detecção do vírus. Mesclando a técnica indicada como padrão pela Organização Mundial da Saúde (OMS) com técnicas moleculares, o procedimento desenvolvido pelo IOC reduz de três para uma semana o tempo para o resultado final, além de identificar o sorotipo presente na amostra.
Os poliovírus são conhecidos por causar a poliomielite. Porém, a doença é um evento muito raro. De mil pessoas infectadas com o vírus selvagem, somente uma ou duas irão desenvolver a doença paralítica. As outras, terão sintomas como os de um resfriado comum e também podem acontecer casos de meningite, explica o pesquisador Edson Elias, chefe do Laboratório de Enterovírus do IOC. Um dos desafios para a vigilância da doença é justamente a rara manifestação de sintomas mais graves, ocorrendo a circulação silenciosa do vírus. Situações em que a cobertura não é adequada, causam ainda mais preocupação. Eventualmente, foi observado a partir do ano 2000 que os vírus atenuados utilizados na vacina com circulação em ambientes com baixa cobertura vacinal podem sofrer mutações e readquirir uma característica menos virulenta, com potencial para causar doença como se fosse um vírus selvagem. No Brasil não há registro de casos deste tipo, já que a cobertura vacinal é adequada, esclarece.
O novo método de diagnóstico foi enviado para Organização Mundial de Saúde (OMS) como proposição de um protocolo mais rápido para a identificação de vírus envolvidos na vigilância laboratorial da poliomielite. Segundo Edson Elias, o uso da técnica molecular PCR em tempo real (sigla em inglês para reação em cadeia de polimerase) para realização de diagnóstico não é novidade, mas a aplicação dela na detecção direta de vírus sim. A técnica que desenvolvemos é intermediária, conta com isolamento viral, seguido de PCR e testes sorológicos. Existem outras propostas que visam apenas o uso de PCR, mas apesar de muito sensível, é uma técnica mais cara e que apenas identifica se se trata ou não de um poliovírus. Já no protocolo que desenvolvemos é possível detectar o vírus, identificar se é polio ou não polio e qual o sorotipo presente, dispara o pesquisador se referindo a presença de outros vírus da família Enterovírus, que podem causar doenças como miocardite e meningite hemorrágica.
A técnica já está sendo utilizada de forma experimental no laboratório do IOC. À medida que a polimielite é um evento raro no mundo, este vírus tem um grande poder de disseminação. Por isso, quanto mais rápido for detectado, mais eficientes são as medidas tomadas para controlar, finaliza o pesquisador.
Referência no controle e na vigilância epidemiológica da poliomielite
Referência nacional e internacional para o tema, o Laboratório de Enterovírus do IOC teve participação decisiva no processo de erradicação da poliomielite: detectou, em 1986, que um surto de pólio no Nordeste era causado pelo subtipo III do vírus, auxiliando no desenvolvimento de uma nova formulação para a vacina, que foi adotada pela OMS. Em 2008, foi um dos laboratórios acionados na iniciativa, parte do programa global de erradicação da doença, que mapeou as instituições que armazenam o poliovírus ou amostras clínicas coletadas em momentos de circulação da doença e que potencialmente podem conter o agente.
No Brasil, o último caso de poliomielite causado por vírus selvagem ocorreu em 1989. O país recebeu o Certificado de Eliminação da Poliomielite em dezembro de 1994. O último caso de poliomielite no continente americano foi registrado no Peru, em 1991. O caso foi diagnosticado pelo Laboratório de Enterovírus do IOC, onde a amostra está armazenada. Três anos depois, o continente foi o primeiro a receber a certificação que atestou a erradicação da doença.
Campanhas nacionais de imunização são realizadas anualmente no país. Em 2009, a mobilização aconteceu no último mês de junho e, de acordo com o balanço do Ministério da Saúde, obteve uma cobertura vacinal de cerca de 97%, com mais de 30 milhões de doses aplicadas em crianças brasileiras menores de cinco anos .
O processo de erradicação global da doença está adiantado, porém, a doença ainda ocorre na Índia, Nigéria, Afeganistão e Paquistão, países que submetidos a situações de conflito ou que apresentam condições precárias de saneamento.
Renata Fontoura
26/07/10
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Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)