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Mais pesquisadores e docentes para o Nordeste brasileiro

No Piauí, primeira turma do curso de mestrado em Medicina Tropical do IOC tem projetos dedicados a temas como Aids, malária, leishmaniose e verminoses
Por Lucas Rocha29/09/2015 - Atualizado em 23/02/2023

Resultado de um investimento promissor no ensino e na pesquisa no Estado do Piauí, o Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Medicina Tropical do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) acaba de apresentar os primeiros resultados dos estudos realizados pelos alunos de mestrado.

Os temas abordam questões relacionadas, em especial, aos problemas de saúde pública da região: malária, leishmaniose, coqueluche, verminoses e co-infecção de doenças em pacientes com Aids foram os assuntos dos projetos desenvolvidos pela primeira leva de mestres formados no Estado.

Enfermeiros, médicos ou professores, os alunos têm em comum o interesse em contribuir para mudanças na saúde da população.

Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical do IOC, Martha Mutis destacou a qualidade dos estudos.

"Essas primeiras defesas consolidam a implantação do curso no Piauí, com trabalhos de qualidade ímpar, assuntos relevantes e de alto impacto para a saúde local", enfatizou. As dissertações foram desenvolvidas sob orientação de Filipe Aníbal Carvalho Costa, coordenador de Ensino da Fiocruz Piauí.

"Estas pesquisas contribuem de forma única para o conhecimento das patologias da região. Todos os trabalhos apresentaram aspectos inéditos sobre o padrão epidemiológico de doenças, mostrando a persistência dessas endemias. São inúmeras as possibilidades de desdobramento das pesquisas, como a caracterização de vetores e a taxonomia molecular", observou o pesquisador do Laboratório de Epidemiologia e Sistemática Molecular do IOC.

"Foi uma experiência enriquecedora, os alunos são muito motivados e a turma vem cumprindo todas as expectativas. Além de abrir espaço para estudos inovadores na região, estes projetos, que agregam linhas de pesquisa do IOC, são essenciais para o fortalecimento do Escritório da Fiocruz Piauí", ressaltou Filipe.

"Promover a formação destes novos mestres é motivo de orgulho. Esta etapa é a coroação de um longo trabalho de dedicação à pesquisa científica e a confirmação de que estamos no caminho certo", complementou Martha.

Ao todo, o Programa no Piauí conta com 25 alunos. As próximas defesas devem acontecer nos próximos meses.

Parte dos estudantes da primeira turma do curso ao lado dos pesquisadores do IOC Martha Mutis (à esq.) e Filipe Aníbal (à dir.). Foto: Jéssica Santos
 

Entendendo a transmissão da leishmaniose

O estudante Walfrido Salmito de Almeida Neto discutiu um tema pouco explorado no Estado. A partir da pesquisa 'Aspectos clínicos, epidemiológicos e laboratoriais da leishmaniose tegumentar americana em hospital de referência de Teresina, Piauí', foi verificada que na capital a doença apresenta um padrão de transmissão periurbano, mais concentrado na periferia da cidade e relacionado à expansão de áreas residenciais.

Foi constatado, ainda, que a proporção de casos com comprometimento das mucosas - relacionado à idade avançada e ao sexo masculino - é superior à média nacional e aos dados encontrados no estado vizinho, o Maranhão, que é endêmico para a leishmaniose cutânea.

A pesquisa também demonstrou as dificuldades para o diagnóstico da doença: foram necessários diferentes tipos de procedimentos para a conclusão dos diagnósticos.

Além do teste laboratorial, em alguns casos foi necessário realizar exames parasitológicos adicionais para confirmação. Ao todo, 670 prontuários foram analisados.

Vulnerabilidade para a malária

O estudo 'Epidemiologia descritiva da malária no Estado do Piauí', de Joyce Anny Alves do Nascimento, demonstrou que o Estado é vulnerável à malária.

Em uma análise dos registros de notificações, a aluna verificou a presença de 484 casos parasitologicamente comprovados no estado entre 2002 e 2013 - média de 40 casos por ano. Destes, cerca da metade foram considerados autóctones (quando a doença é transmitida localmente).

A pesquisa demonstrou que estes casos obedecem a um padrão sazonal, com aumento da incidência no final do período chuvoso, em maio, e que ocorreram em maior quantidade nos municípios próximos à fronteira com o Maranhão. Já os casos importados estão relacionados ao fluxo de trabalhadores para a região amazônica e são encontrados, principalmente, na capital Teresina.

O 'amarelão' e a iniquidade social

No trabalho 'Ancilostomíase e outras parasitoses intestinais na Região dos Carnaubais: estudo transversal no município de Nossa Senhora de Nazaré, Piauí', desenvolvido pela estudante Elis Regina Chaves dos Reis, foi investigada a prevalência da verminose popularmente conhecida como 'amarelão'.

De grande ocorrência em regiões quentes e úmidas, o agravo causado pelos helmintos Ancylostoma duodenale e Necator americanus é frequentemente associado a condições de vulnerabilidade social e econômica.

O estudo buscou esclarecer, principalmente, os aspectos relacionados à dinâmica de transmissão da doença no sertão piauiense, região carente de recursos hídricos e com índice de pobreza acima da média nacional. Um extenso trabalho de campo na Região dos Carnaubais permitiu a análise dos fatores que contribuem para a prevalência da doença na região, como a defecação a céu aberto, a transmissão percutânea (através da pele) e a sensibilidade reduzida dos adultos ao tratamento com medicamentos anti-helmínticos.

Co-infecção de doenças em pacientes com Aids

A dissertação 'Estudo das dermatoses em pacientes HIV-positivos em um centro de referência em Teresina, Piauí', elaborada por Jesuito Montoril Soares Dantas, descreveu clinicamente as dermatoses que afetam pacientes com HIV atendidos em um hospital da região.

O objetivo foi identificar as doenças que afetam a pele mais relacionadas a pacientes de HIV na região. O trabalho analisou cerca de 150 casos, em sua maioria, de indivíduos em estágio avançado da doença, com elevado grau de comprometimento imunológico.

Sífilis, hanseníase, tuberculose cutânea e casos de leishmaniose dérmica pós-calazar foram identificados. Segundo o estudo, a incidência dos agravos ocorre de forma distinta, de acordo com o estágio de desenvolvimento da Aids.

Enquanto a proliferação anormal do tecido, ou neoplasia, e as dermatites relacionadas a vírus foram associadas aos graus mais elevados de comprometimento imunológico, a leishmaniose foi registrada, na maioria das vezes, em pacientes na fase inicial da manifestação da Aids.

Coqueluche no Brasil

Desenvolvido pelo aluno Lucas Melo Guimarães, o projeto 'Reemergência da coqueluche no Brasil: estudo dos casos notificados e confirmados entre 2007 e 2014' se dedicou a um tema de abrangência nacional. O objetivo foi descrever aspectos relacionados ao aumento da incidência de coqueluche observado no Brasil nos últimos anos. Mais de 80 mil fichas de notificação de casos suspeitos compuseram os dados do estudo.

Destas, cerca de 24 mil confirmaram a doença por meio de diferentes critérios laboratoriais, clínicos ou epidemiológicos. Os dados apontam para um aumento significativo das taxas de incidência a partir de 2012 e o surgimento de um padrão sazonal, com picos no verão.

De acordo com o estudo, mais da metade dos casos ocorreu em bebês ainda em processo de imunização (idade inferior a seis meses), uma quantidade significativa (21%) ocorreu em crianças imunizadas (idade entre 7 meses e 4 anos), além de terem sido verificados casos em adultos.

O trabalho relaciona o aumento da incidência da doença à queda na cobertura vacinal no Brasil e à substituição da vacina tetravalente pela pentavalente (que, além de difteria, tétano, coqueluche e Haemophilus influenzae do tipo b, também imuniza contra hepatite B).

No Piauí, primeira turma do curso de mestrado em Medicina Tropical do IOC tem projetos dedicados a temas como Aids, malária, leishmaniose e verminoses
Por: 
lucas

Resultado de um investimento promissor no ensino e na pesquisa no Estado do Piauí, o Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Medicina Tropical do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) acaba de apresentar os primeiros resultados dos estudos realizados pelos alunos de mestrado.

Os temas abordam questões relacionadas, em especial, aos problemas de saúde pública da região: malária, leishmaniose, coqueluche, verminoses e co-infecção de doenças em pacientes com Aids foram os assuntos dos projetos desenvolvidos pela primeira leva de mestres formados no Estado.

Enfermeiros, médicos ou professores, os alunos têm em comum o interesse em contribuir para mudanças na saúde da população.

Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical do IOC, Martha Mutis destacou a qualidade dos estudos.

"Essas primeiras defesas consolidam a implantação do curso no Piauí, com trabalhos de qualidade ímpar, assuntos relevantes e de alto impacto para a saúde local", enfatizou. As dissertações foram desenvolvidas sob orientação de Filipe Aníbal Carvalho Costa, coordenador de Ensino da Fiocruz Piauí.

"Estas pesquisas contribuem de forma única para o conhecimento das patologias da região. Todos os trabalhos apresentaram aspectos inéditos sobre o padrão epidemiológico de doenças, mostrando a persistência dessas endemias. São inúmeras as possibilidades de desdobramento das pesquisas, como a caracterização de vetores e a taxonomia molecular", observou o pesquisador do Laboratório de Epidemiologia e Sistemática Molecular do IOC.

"Foi uma experiência enriquecedora, os alunos são muito motivados e a turma vem cumprindo todas as expectativas. Além de abrir espaço para estudos inovadores na região, estes projetos, que agregam linhas de pesquisa do IOC, são essenciais para o fortalecimento do Escritório da Fiocruz Piauí", ressaltou Filipe.

"Promover a formação destes novos mestres é motivo de orgulho. Esta etapa é a coroação de um longo trabalho de dedicação à pesquisa científica e a confirmação de que estamos no caminho certo", complementou Martha.

Ao todo, o Programa no Piauí conta com 25 alunos. As próximas defesas devem acontecer nos próximos meses.

Parte dos estudantes da primeira turma do curso ao lado dos pesquisadores do IOC Martha Mutis (à esq.) e Filipe Aníbal (à dir.). Foto: Jéssica Santos
 

Entendendo a transmissão da leishmaniose

O estudante Walfrido Salmito de Almeida Neto discutiu um tema pouco explorado no Estado. A partir da pesquisa 'Aspectos clínicos, epidemiológicos e laboratoriais da leishmaniose tegumentar americana em hospital de referência de Teresina, Piauí', foi verificada que na capital a doença apresenta um padrão de transmissão periurbano, mais concentrado na periferia da cidade e relacionado à expansão de áreas residenciais.

Foi constatado, ainda, que a proporção de casos com comprometimento das mucosas - relacionado à idade avançada e ao sexo masculino - é superior à média nacional e aos dados encontrados no estado vizinho, o Maranhão, que é endêmico para a leishmaniose cutânea.

A pesquisa também demonstrou as dificuldades para o diagnóstico da doença: foram necessários diferentes tipos de procedimentos para a conclusão dos diagnósticos.

Além do teste laboratorial, em alguns casos foi necessário realizar exames parasitológicos adicionais para confirmação. Ao todo, 670 prontuários foram analisados.

Vulnerabilidade para a malária

O estudo 'Epidemiologia descritiva da malária no Estado do Piauí', de Joyce Anny Alves do Nascimento, demonstrou que o Estado é vulnerável à malária.

Em uma análise dos registros de notificações, a aluna verificou a presença de 484 casos parasitologicamente comprovados no estado entre 2002 e 2013 - média de 40 casos por ano. Destes, cerca da metade foram considerados autóctones (quando a doença é transmitida localmente).

A pesquisa demonstrou que estes casos obedecem a um padrão sazonal, com aumento da incidência no final do período chuvoso, em maio, e que ocorreram em maior quantidade nos municípios próximos à fronteira com o Maranhão. Já os casos importados estão relacionados ao fluxo de trabalhadores para a região amazônica e são encontrados, principalmente, na capital Teresina.

O 'amarelão' e a iniquidade social

No trabalho 'Ancilostomíase e outras parasitoses intestinais na Região dos Carnaubais: estudo transversal no município de Nossa Senhora de Nazaré, Piauí', desenvolvido pela estudante Elis Regina Chaves dos Reis, foi investigada a prevalência da verminose popularmente conhecida como 'amarelão'.

De grande ocorrência em regiões quentes e úmidas, o agravo causado pelos helmintos Ancylostoma duodenale e Necator americanus é frequentemente associado a condições de vulnerabilidade social e econômica.

O estudo buscou esclarecer, principalmente, os aspectos relacionados à dinâmica de transmissão da doença no sertão piauiense, região carente de recursos hídricos e com índice de pobreza acima da média nacional. Um extenso trabalho de campo na Região dos Carnaubais permitiu a análise dos fatores que contribuem para a prevalência da doença na região, como a defecação a céu aberto, a transmissão percutânea (através da pele) e a sensibilidade reduzida dos adultos ao tratamento com medicamentos anti-helmínticos.

Co-infecção de doenças em pacientes com Aids

A dissertação 'Estudo das dermatoses em pacientes HIV-positivos em um centro de referência em Teresina, Piauí', elaborada por Jesuito Montoril Soares Dantas, descreveu clinicamente as dermatoses que afetam pacientes com HIV atendidos em um hospital da região.

O objetivo foi identificar as doenças que afetam a pele mais relacionadas a pacientes de HIV na região. O trabalho analisou cerca de 150 casos, em sua maioria, de indivíduos em estágio avançado da doença, com elevado grau de comprometimento imunológico.

Sífilis, hanseníase, tuberculose cutânea e casos de leishmaniose dérmica pós-calazar foram identificados. Segundo o estudo, a incidência dos agravos ocorre de forma distinta, de acordo com o estágio de desenvolvimento da Aids.

Enquanto a proliferação anormal do tecido, ou neoplasia, e as dermatites relacionadas a vírus foram associadas aos graus mais elevados de comprometimento imunológico, a leishmaniose foi registrada, na maioria das vezes, em pacientes na fase inicial da manifestação da Aids.

Coqueluche no Brasil

Desenvolvido pelo aluno Lucas Melo Guimarães, o projeto 'Reemergência da coqueluche no Brasil: estudo dos casos notificados e confirmados entre 2007 e 2014' se dedicou a um tema de abrangência nacional. O objetivo foi descrever aspectos relacionados ao aumento da incidência de coqueluche observado no Brasil nos últimos anos. Mais de 80 mil fichas de notificação de casos suspeitos compuseram os dados do estudo.

Destas, cerca de 24 mil confirmaram a doença por meio de diferentes critérios laboratoriais, clínicos ou epidemiológicos. Os dados apontam para um aumento significativo das taxas de incidência a partir de 2012 e o surgimento de um padrão sazonal, com picos no verão.

De acordo com o estudo, mais da metade dos casos ocorreu em bebês ainda em processo de imunização (idade inferior a seis meses), uma quantidade significativa (21%) ocorreu em crianças imunizadas (idade entre 7 meses e 4 anos), além de terem sido verificados casos em adultos.

O trabalho relaciona o aumento da incidência da doença à queda na cobertura vacinal no Brasil e à substituição da vacina tetravalente pela pentavalente (que, além de difteria, tétano, coqueluche e Haemophilus influenzae do tipo b, também imuniza contra hepatite B).

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)