A 30ª Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que será realizada em Belém, em novembro, foi o ponto de partida do debate no Núcleo de Estudos Avançados do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) no dia 23 de outubro.
A sessão integrou a programação em homenagem aos 125 anos do Instituto e foi marcada pelo anúncio da adesão do Núcleo de Estudos Avançados do IOC ao Fórum Brasileiro de Estudos Avançados (Fobreav).
Com o tema ‘Sobrevivência no planeta: COP 30, o futuro do meio ambiente e o combate às mudanças climáticas’, o evento teve como palestrante Eduardo Brondizio, professor do Departamento de Antropologia da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, ganhador do Prêmio Tyler de Conquista Ambiental 2025. A sessão contou ainda com participação de seis debatedores de diferentes instituições.
Assista à íntegra do evento.
A urgência e a relevância da conferência em Belém foram destacadas pelo coordenador do Núcleo de Estudos Avançados e pesquisador emérito da Fiocruz, Renato Cordeiro, na abertura do evento.
“O aumento de temperatura e a intensificação de eventos extremos, como seca, inundações e ondas de calor, não são previsões, são a nossa realidade. É nesse cenário de urgência que se insere a COP 30, em Belém. Pela primeira vez, a principal discussão global sobre o clima será realizada dentro da maior floresta tropical do planeta. Esperamos que a COP coloque no centro do debate as populações tradicionais, povos indígenas e comunidades ribeirinhas, que são os guardiões da floresta e os mais vulneráveis às mudanças climáticas”, disse Renato.
Ao analisar o contexto da COP, Brondizio considerou três dimensões: a crise do multilateralismo e de confiança nas instituições que antecede o evento; os diferentes níveis de governança das ações contra mudanças climáticas e as questões da Amazônia, que podem ser compreendidas como um microcosmos dos dilemas globais.
Citando exemplos de leis ambientais que tiveram impactos significativos, como melhoria da qualidade da água, o pesquisador avaliou que os avanços obtidos pela ação coletiva no passado têm sido esquecidos, o que reforça a apatia da população frente à erosão de conquistas.
Ele ponderou que além da cooperação nos acordos internacionais, existem ações relevantes contra mudanças climáticas por parte de redes de cidades, setores econômicos e lideranças comunitárias.
Sobre a Amazônia, Brondizio afirmou que a solução dos problemas ambientais não pode ser dissociada do enfrentamento das questões sociais.
"Cerca de 70% da população em Belém e Manaus vivem em aglomerados subnormais, onde os impactos das mudanças climáticas se entrelaçam com a pobreza, falta de saneamento e diversas vulnerabilidades. O crime organizado é um problema hoje na Amazônia”, pontou o pesquisador.
O especialista afirmou que a Amazônia depende tanto de soluções globais para bloquear o aquecimento global quanto de ações regionais para enfrentar o desmatamento e a degradação ambiental.
“A reafirmação do compromisso global é fundamental e seria um dos grandes produtos da COP. Por outro lado, não é uma panaceia. Não se pode ter ilusão de que isso vai resolver todos os problemas. A COP tem potencial muito grande de ser um catalisador para mudar a dinâmica que temos agora. É preciso fortalecer diferentes atores para uma agenda mais completa”, avaliou Brondizio.
A desconexão entre as sociedades modernas e a natureza, a visão histórica e atual da Amazônia como fronteira de expansão da produção capitalista nacional, a desconfiança de populações locais em relação a propostas externas para a região, as alternativas de desenvolvimento sustentável e as pesquisas científicas realizadas pelo IOC no bioma foram temas abordados no debate após a palestra.
A atividade contou com a participação de Cristiana Seixas, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais da Universidade Estadual de Campinas (Nepam/Unicamp); Emmanuel Zagury Tourinho, ex-reitor e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA); Marilene Correa, professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e ex-reitora da Universidade do Estado do Amazonas (UEA); Roberto Araujo, pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi; Tatiana Sá, pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e ex-chefe da Embrapa Amazônia Oriental; e Tereza Favre, pesquisadora e coordenadora da Câmara Técnica de Ambiente e Saúde do IOC.
A 30ª Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que será realizada em Belém, em novembro, foi o ponto de partida do debate no Núcleo de Estudos Avançados do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) no dia 23 de outubro.
A sessão integrou a programação em homenagem aos 125 anos do Instituto e foi marcada pelo anúncio da adesão do Núcleo de Estudos Avançados do IOC ao Fórum Brasileiro de Estudos Avançados (Fobreav).
Com o tema ‘Sobrevivência no planeta: COP 30, o futuro do meio ambiente e o combate às mudanças climáticas’, o evento teve como palestrante Eduardo Brondizio, professor do Departamento de Antropologia da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, ganhador do Prêmio Tyler de Conquista Ambiental 2025. A sessão contou ainda com participação de seis debatedores de diferentes instituições.
Assista à íntegra do evento.
A urgência e a relevância da conferência em Belém foram destacadas pelo coordenador do Núcleo de Estudos Avançados e pesquisador emérito da Fiocruz, Renato Cordeiro, na abertura do evento.
“O aumento de temperatura e a intensificação de eventos extremos, como seca, inundações e ondas de calor, não são previsões, são a nossa realidade. É nesse cenário de urgência que se insere a COP 30, em Belém. Pela primeira vez, a principal discussão global sobre o clima será realizada dentro da maior floresta tropical do planeta. Esperamos que a COP coloque no centro do debate as populações tradicionais, povos indígenas e comunidades ribeirinhas, que são os guardiões da floresta e os mais vulneráveis às mudanças climáticas”, disse Renato.
Ao analisar o contexto da COP, Brondizio considerou três dimensões: a crise do multilateralismo e de confiança nas instituições que antecede o evento; os diferentes níveis de governança das ações contra mudanças climáticas e as questões da Amazônia, que podem ser compreendidas como um microcosmos dos dilemas globais.
Citando exemplos de leis ambientais que tiveram impactos significativos, como melhoria da qualidade da água, o pesquisador avaliou que os avanços obtidos pela ação coletiva no passado têm sido esquecidos, o que reforça a apatia da população frente à erosão de conquistas.
Ele ponderou que além da cooperação nos acordos internacionais, existem ações relevantes contra mudanças climáticas por parte de redes de cidades, setores econômicos e lideranças comunitárias.
Sobre a Amazônia, Brondizio afirmou que a solução dos problemas ambientais não pode ser dissociada do enfrentamento das questões sociais.
"Cerca de 70% da população em Belém e Manaus vivem em aglomerados subnormais, onde os impactos das mudanças climáticas se entrelaçam com a pobreza, falta de saneamento e diversas vulnerabilidades. O crime organizado é um problema hoje na Amazônia”, pontou o pesquisador.
O especialista afirmou que a Amazônia depende tanto de soluções globais para bloquear o aquecimento global quanto de ações regionais para enfrentar o desmatamento e a degradação ambiental.
“A reafirmação do compromisso global é fundamental e seria um dos grandes produtos da COP. Por outro lado, não é uma panaceia. Não se pode ter ilusão de que isso vai resolver todos os problemas. A COP tem potencial muito grande de ser um catalisador para mudar a dinâmica que temos agora. É preciso fortalecer diferentes atores para uma agenda mais completa”, avaliou Brondizio.
A desconexão entre as sociedades modernas e a natureza, a visão histórica e atual da Amazônia como fronteira de expansão da produção capitalista nacional, a desconfiança de populações locais em relação a propostas externas para a região, as alternativas de desenvolvimento sustentável e as pesquisas científicas realizadas pelo IOC no bioma foram temas abordados no debate após a palestra.
A atividade contou com a participação de Cristiana Seixas, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais da Universidade Estadual de Campinas (Nepam/Unicamp); Emmanuel Zagury Tourinho, ex-reitor e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA); Marilene Correa, professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e ex-reitora da Universidade do Estado do Amazonas (UEA); Roberto Araujo, pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi; Tatiana Sá, pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e ex-chefe da Embrapa Amazônia Oriental; e Tereza Favre, pesquisadora e coordenadora da Câmara Técnica de Ambiente e Saúde do IOC.
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)