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OMS inaugura iniciativa inédita para controle global da doença de Chagas

Coordenador do programa aponta mudança de paradigma no entendimento da doença como primeiro passo para seu enfrentamento e alerta para emergência da patologia em países ricos
Por Jornalismo IOC21/02/2008 - Atualizado em 10/12/2019

Quase um século após a sua descoberta, a doença de Chagas ainda representa um desafio internacional à saúde pública: em todo o mundo, mais de 14 milhões de pessoas estão infectadas pelo parasito causador da doença. Apesar da alta endemicidade, a doença de Chagas permanece no grupo de doenças negligenciadas. Na tentativa de reverter este quadro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu explicitamente a importância global da enfermidade, há pouco restrita à América Latina.

A Rede Global para Eliminação da doença de Chagas (Global Network for Chagas elimination – GNChE), aprovada na primeira reunião mundial sobre a doença de Chagas, em julho de 2007, inicia suas atividades em 2008. Coordenando a equipe composta por especialistas de todo o mundo, o pesquisador do Laboratório de Doenças Parasitárias do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), Pedro Albajar Vinas, aponta a mudança de paradigma sobre o entendimento da doença como primeiro passo para seu enfrentamento global e alerta sobre riscos como a emergência da doença também em países ricos.

 Gutemberg Brito

Especialista em doença de Chagas, o pesquisador do IOC Pedro Albajar Viñas coordenará iniciativa inédita da OMS para o controle da patologia
Como a Rede Global para Eliminação da Doença de Chagas da OMS modificará o cenário de enfrentamento da patologia?

A doença de Chagas hoje é um desafio global que atinge mais de 14 milhões de pessoas em todo o mundo, inclusive em países ricos, onde já foram constatados casos crônicos e agudos, importados e autóctones, por causa da mobilidade populacional, transmissão transfusional, congênita ou por transplante de órgãos. Até agora, os esforços da OMS para o enfrentamento da patologia estiveram restritos à América Latina, através da Organização Pan-Americana da Saúde, e a programas de financiamento, sobretudo de pesquisa básica, como o TDR [Programa Especial de Pesquisa e Treinamento em Doenças Tropicais] da própria OMS.

A formação da Rede Global para Eliminação da Doença de Chagas sinaliza uma mudança de paradigma sobre como a OMS entende este desafio, ao estender a responsabilidade sobre o controle da doença para todo o mundo, incluindo países chamados não-endêmicos. É um passo muito importante, pois sem esta perspectiva seria impossível desenvolver uma estratégia eficiente para o enfrentamento da doença de Chagas.

Quais fatores podem justificar esta nova percepção da OMS sobre a doença de Chagas?

A doença de Chagas foi descoberta há quase cem anos. Muito já se avançou sobre seu conhecimento e controle na América Latina, mas a alteração de padrões epidemiológicos clássicos impõe desafios. Um caso é a mobilidade populacional, que provoca a disseminação da doença em territórios não-endêmicos, como Europa, Estados Unidos e Austrália. Outro é o estabelecimento de rotas alternativas de transmissão, como a oral, que favorecem a emergência da doença em locais onde ela ainda não havia sido identificada.

É muito importante também manter programas de controle a longo prazo, sobretudo em regiões que  hoje apresentam baixa endemicidade - o chamado castigo do sucesso. Há ainda o desafio imposto pela reemergência da doença em territórios como o Grande Chaco (sul da Bolívia, norte da Argentina e noroeste do Paraguai), que hoje apresentam vetores silvestres e até resistentes a inseticidas. E é preciso atender o grande número de pacientes infectados sem acesso a diagnóstico e tratamento.

Esta complexa transição epidemiológica sinaliza a abrangência global da doença, que exige o esforço integrado de diversos países para seu enfrentamento. Por fim, um importante fator que justifica esta nova percepção é a constatação de que a meta estabelecida pela OMS para erradicação da doença de Chagas até 2010 não será cumprida.

Quais as estratégias da Rede para o enfrentamento da doença?

A primeira reunião mundial sobre doença de Chagas, realizada em julho deste ano em Genebra, propôs e aprovou a criação de quatro grupos técnicos, criados para trabalhar durante cinco anos com objetivos anuais sobre quatro blocos temáticos: vigilância epidemiológica e sistemas de informação sobre pacientes, vetores e reservatórios; prevenção transfusional e de transplante de órgãos; triagem e diagnóstico laboratorial; e prevenção e manejo de casos congênitos e não congênitos.

Foram indicados coordenadores para cada um dos quatro grupos e instituições participantes de todo o mundo já se inscreveram em cada um dos grupos, de acordo com sua especialidade, interesses e área de abrangência. O mundo científico raramente tem uma visão política e de saúde pública nacionais e, sobretudo, não detém o poder governamental. Por outro lado, as autoridades governamentais raramente têm um conhecimento atualizado sobre aspectos técnicos da doença. Ambos são necessários e devem ter diferentes papéis. Os grupos de coordenadores estão convidando diferentes instituições, mas as instituições também podem manifestar o seu interesse em participar ativamente da Rede Global. 

Qual o planejamento de ações da Rede?

Através da Rede Global para Eliminação da Doença de Chagas, a OMS se compromete a investir, nos próximos cinco anos, em ações operacionais em prol do controle e eliminação deste problema internacional de saúde pública. Até o fim do ano, cada grupo técnico definirá objetivos, metodologia e cronograma anual.

Os itens propostos incluem metas distintas, desde a elaboração de um projeto piloto para um sistema georeferenciado de coleta e armazenamento de dados, no qual o Brasil está envolvido, até a estandardização do manejo de uma cardiopatia chagásica e a produção de um manual interativo sobre tratamento e acompanhamento de pacientes, que permitirá o levantamento de lacunas do conhecimento atual e abrirá perspectivas para novos projetos de pesquisa operacional.

Bel Levy
21/02/2008
Permitida a reprodução desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)
Coordenador do programa aponta mudança de paradigma no entendimento da doença como primeiro passo para seu enfrentamento e alerta para emergência da patologia em países ricos
Por: 
jornalismo

Quase um século após a sua descoberta, a doença de Chagas ainda representa um desafio internacional à saúde pública: em todo o mundo, mais de 14 milhões de pessoas estão infectadas pelo parasito causador da doença. Apesar da alta endemicidade, a doença de Chagas permanece no grupo de doenças negligenciadas. Na tentativa de reverter este quadro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu explicitamente a importância global da enfermidade, há pouco restrita à América Latina.

A Rede Global para Eliminação da doença de Chagas (Global Network for Chagas elimination – GNChE), aprovada na primeira reunião mundial sobre a doença de Chagas, em julho de 2007, inicia suas atividades em 2008. Coordenando a equipe composta por especialistas de todo o mundo, o pesquisador do Laboratório de Doenças Parasitárias do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), Pedro Albajar Vinas, aponta a mudança de paradigma sobre o entendimento da doença como primeiro passo para seu enfrentamento global e alerta sobre riscos como a emergência da doença também em países ricos.

 Gutemberg Brito

Especialista em doença de Chagas, o pesquisador do IOC Pedro Albajar Viñas coordenará iniciativa inédita da OMS para o controle da patologia

Como a Rede Global para Eliminação da Doença de Chagas da OMS modificará o cenário de enfrentamento da patologia?

A doença de Chagas hoje é um desafio global que atinge mais de 14 milhões de pessoas em todo o mundo, inclusive em países ricos, onde já foram constatados casos crônicos e agudos, importados e autóctones, por causa da mobilidade populacional, transmissão transfusional, congênita ou por transplante de órgãos. Até agora, os esforços da OMS para o enfrentamento da patologia estiveram restritos à América Latina, através da Organização Pan-Americana da Saúde, e a programas de financiamento, sobretudo de pesquisa básica, como o TDR [Programa Especial de Pesquisa e Treinamento em Doenças Tropicais] da própria OMS.

A formação da Rede Global para Eliminação da Doença de Chagas sinaliza uma mudança de paradigma sobre como a OMS entende este desafio, ao estender a responsabilidade sobre o controle da doença para todo o mundo, incluindo países chamados não-endêmicos. É um passo muito importante, pois sem esta perspectiva seria impossível desenvolver uma estratégia eficiente para o enfrentamento da doença de Chagas.

Quais fatores podem justificar esta nova percepção da OMS sobre a doença de Chagas?

A doença de Chagas foi descoberta há quase cem anos. Muito já se avançou sobre seu conhecimento e controle na América Latina, mas a alteração de padrões epidemiológicos clássicos impõe desafios. Um caso é a mobilidade populacional, que provoca a disseminação da doença em territórios não-endêmicos, como Europa, Estados Unidos e Austrália. Outro é o estabelecimento de rotas alternativas de transmissão, como a oral, que favorecem a emergência da doença em locais onde ela ainda não havia sido identificada.

É muito importante também manter programas de controle a longo prazo, sobretudo em regiões que  hoje apresentam baixa endemicidade - o chamado castigo do sucesso. Há ainda o desafio imposto pela reemergência da doença em territórios como o Grande Chaco (sul da Bolívia, norte da Argentina e noroeste do Paraguai), que hoje apresentam vetores silvestres e até resistentes a inseticidas. E é preciso atender o grande número de pacientes infectados sem acesso a diagnóstico e tratamento.

Esta complexa transição epidemiológica sinaliza a abrangência global da doença, que exige o esforço integrado de diversos países para seu enfrentamento. Por fim, um importante fator que justifica esta nova percepção é a constatação de que a meta estabelecida pela OMS para erradicação da doença de Chagas até 2010 não será cumprida.

Quais as estratégias da Rede para o enfrentamento da doença?

A primeira reunião mundial sobre doença de Chagas, realizada em julho deste ano em Genebra, propôs e aprovou a criação de quatro grupos técnicos, criados para trabalhar durante cinco anos com objetivos anuais sobre quatro blocos temáticos: vigilância epidemiológica e sistemas de informação sobre pacientes, vetores e reservatórios; prevenção transfusional e de transplante de órgãos; triagem e diagnóstico laboratorial; e prevenção e manejo de casos congênitos e não congênitos.

Foram indicados coordenadores para cada um dos quatro grupos e instituições participantes de todo o mundo já se inscreveram em cada um dos grupos, de acordo com sua especialidade, interesses e área de abrangência. O mundo científico raramente tem uma visão política e de saúde pública nacionais e, sobretudo, não detém o poder governamental. Por outro lado, as autoridades governamentais raramente têm um conhecimento atualizado sobre aspectos técnicos da doença. Ambos são necessários e devem ter diferentes papéis. Os grupos de coordenadores estão convidando diferentes instituições, mas as instituições também podem manifestar o seu interesse em participar ativamente da Rede Global. 

Qual o planejamento de ações da Rede?

Através da Rede Global para Eliminação da Doença de Chagas, a OMS se compromete a investir, nos próximos cinco anos, em ações operacionais em prol do controle e eliminação deste problema internacional de saúde pública. Até o fim do ano, cada grupo técnico definirá objetivos, metodologia e cronograma anual.

Os itens propostos incluem metas distintas, desde a elaboração de um projeto piloto para um sistema georeferenciado de coleta e armazenamento de dados, no qual o Brasil está envolvido, até a estandardização do manejo de uma cardiopatia chagásica e a produção de um manual interativo sobre tratamento e acompanhamento de pacientes, que permitirá o levantamento de lacunas do conhecimento atual e abrirá perspectivas para novos projetos de pesquisa operacional.

Bel Levy

21/02/2008

Permitida a reprodução desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)