"Acredito que nos próximos 20 anos haverá um controle mundial da doença de Chagas”.
O prognóstico positivo é feito pelo especialista em epidemiologia clínica das doenças infecciosas e parasitárias, José Rodrigues Coura, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
Há 50 anos pesquisando Chagas, o médico percebe o atual cenário de contenção da doença com otimismo, mas reforça: “é preciso perseverança e compromisso para atingir esta meta”.
O Brasil foi pioneiro nas ações regulares de contenção da doença, a partir de 1983. A iniciativa foi seguida por outros países e estimulou a criação de redes de vigilância no Cone Sul, em 1991, nos países Andinos, em 1997, na América Central e México, em 1998, e nos países Amazônicos, em 2004.
De acordo com Coura, as redes mantêm contato permanente por meio da troca de informações em encontros anuais, apoiados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Panamericana de Saúde (Opas).
Pesquisador emérito da Fundação Oswaldo Cruz, José Rodrigues Coura lembra do compromisso social dos cientistas com a saúde pública brasileira. Foto: Gutemberg BritoA rede de vigilância foi fortalecida recentemente com o ingresso de países não endêmicos, como Espanha, Suíça, França, Japão, Austrália, Canadá e Estados Unidos, num movimento que reflete as mudanças do perfil epidemiológico da afecção.
A migração de pessoas infectadas tem contribuído para a disseminação da doença nos países desenvolvidos, que até então não estavam preparados para identificar pacientes chagásicos em circunstâncias como transfusões sanguíneas e transplantes de órgãos.
Para Coura, a internacionalização da doença de Chagas tem gerado um novo problema epidemiológico, econômico, social e político.
“Será necessário conter a transmissão, prestar assistência médica aos chagásicos e efetivar um controle adicional de bancos de sangue, em países com pouca experiência no assunto”, reforça.
As conquistas de toda esta mobilização começaram a aparecer nos primeiros anos do século XXI. Em 2006, o Brasil foi certificado pela Opas por ter controlado a transmissão pelo Triatoma infestans, espécie de triatomíneo, vetor da doença de Chagas, que se adaptou ao ambiente domiciliar em diversos estados brasileiros.
No mesmo período, Chile e Uruguai receberam esta certificação, que se tornou uma meta para outros países da América do Sul, como Paraguai e Argentina.
Na década de 1970, Coura foi um dos primeiros pesquisadores a investigar a doença de Chagas na Amazônia brasileira.
O trabalho, ampliado com a participação de outros pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), trouxe contribuições significativas para os estudos nesta área de conhecimento.
Atualmente, as pesquisas realizadas no laboratório de doenças parasitárias, chefiado por Coura, são focadas na dinâmica de transmissão da doença de Chagas na região Amazônica, com eixos que investigam desde a transmissão oral, por meio de frutos contaminados, até metodologias para contenção da doença.
O pesquisador ressalta que a Amazônia apresenta uma forma de infecção diferente da doença de Chagas. “A forma silvestre infecta o homem não porque o barbeiro esteja domiciliado nas casas, mas porque o homem entra em contato com o triatomíneo, ou se infecta por via oral, tomando sucos contaminados por T. cruzi”, explica.
Este fator dificulta o controle da doença na região, pois das 130 espécies de vetores potenciais de T. cruzi conhecidas, cerca de 52 espécies domiciliares já foram identificadas no Brasil e outras 47 espécies silvestres mantêm seu ciclo na natureza entre mamíferos.
O especialista alerta para um cuidado especial a ser adotado nas áreas de expansão da fronteira agrícola, invasões e entradas em ambiente silvestre como a Amazônia e a Mata Atlântica, acentuadamente nos processos de ocupação destes locais e na vigilância sobre eventuais doenças ocorridas nestas áreas.
Para Coura, o desafio do controle da doença de Chagas consiste no equacionamento de aspectos técnicos e político-administrativos de um sistema permanente e sustentável de vigilância epidemiológica, com características de descentralização, constante supervisão e ampla participação comunitária. A interação desta estratégia com entidades internacionais de saúde garantirá o sucesso das ações no combate à doença, afirma o pesquisador.
Outros fatores importantes para potencializar estas ações, segundo Coura, são a melhoria das habitações (e do peridomicilio), a educação sanitária da população exposta e o tratamento dos casos agudos e crônicos recentes de infecção, complementados pela vigilância.
Coura aplicou pela primeira vez, na década de 1960, a nitrofurazona em casos crônicos de pacientes chagásicos, buscando pioneiramente uma terapia específica para a doença.
Em seguida iniciou expedições pelo Brasil, passando pelas regiões Nordeste, Centro Oeste, Sudeste e Norte com sua equipe para estudar a doença de Chagas, suas mudanças e evolução. Hoje, aos 81 anos, tem uma agenda ativa, que inclui palestras em fóruns nacionais e internacionais, reuniões e bancas de mestrado e doutorado, além das aulas que ministra nos cursos da pós-graduação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
Teve seu trabalho reconhecido ao longo da carreira acumulando honrarias como a Gran Cruz do Mérito Científico, concedida, em 2008, pela Presidência de República, e a medalha do centenário de Pirajá da Silva, do Ministério da Saúde. É também professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisador emérito da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/IOC).
Quando questionado sobre suas perspectivas para o futuro das investigações científicas em Chagas ele é objetivo: “Os pesquisadores brasileiros devem somar sua criatividade e energia para trabalhar nas causas da saúde pública do nosso país, ter compromisso social com o seu trabalho”, finaliza.
"Acredito que nos próximos 20 anos haverá um controle mundial da doença de Chagas”.
O prognóstico positivo é feito pelo especialista em epidemiologia clínica das doenças infecciosas e parasitárias, José Rodrigues Coura, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
Há 50 anos pesquisando Chagas, o médico percebe o atual cenário de contenção da doença com otimismo, mas reforça: “é preciso perseverança e compromisso para atingir esta meta”.
O Brasil foi pioneiro nas ações regulares de contenção da doença, a partir de 1983. A iniciativa foi seguida por outros países e estimulou a criação de redes de vigilância no Cone Sul, em 1991, nos países Andinos, em 1997, na América Central e México, em 1998, e nos países Amazônicos, em 2004.
De acordo com Coura, as redes mantêm contato permanente por meio da troca de informações em encontros anuais, apoiados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Panamericana de Saúde (Opas).
Pesquisador emérito da Fundação Oswaldo Cruz, José Rodrigues Coura lembra do compromisso social dos cientistas com a saúde pública brasileira. Foto: Gutemberg BritoA rede de vigilância foi fortalecida recentemente com o ingresso de países não endêmicos, como Espanha, Suíça, França, Japão, Austrália, Canadá e Estados Unidos, num movimento que reflete as mudanças do perfil epidemiológico da afecção.
A migração de pessoas infectadas tem contribuído para a disseminação da doença nos países desenvolvidos, que até então não estavam preparados para identificar pacientes chagásicos em circunstâncias como transfusões sanguíneas e transplantes de órgãos.
Para Coura, a internacionalização da doença de Chagas tem gerado um novo problema epidemiológico, econômico, social e político.
“Será necessário conter a transmissão, prestar assistência médica aos chagásicos e efetivar um controle adicional de bancos de sangue, em países com pouca experiência no assunto”, reforça.
As conquistas de toda esta mobilização começaram a aparecer nos primeiros anos do século XXI. Em 2006, o Brasil foi certificado pela Opas por ter controlado a transmissão pelo Triatoma infestans, espécie de triatomíneo, vetor da doença de Chagas, que se adaptou ao ambiente domiciliar em diversos estados brasileiros.
No mesmo período, Chile e Uruguai receberam esta certificação, que se tornou uma meta para outros países da América do Sul, como Paraguai e Argentina.
Na década de 1970, Coura foi um dos primeiros pesquisadores a investigar a doença de Chagas na Amazônia brasileira.
O trabalho, ampliado com a participação de outros pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), trouxe contribuições significativas para os estudos nesta área de conhecimento.
Atualmente, as pesquisas realizadas no laboratório de doenças parasitárias, chefiado por Coura, são focadas na dinâmica de transmissão da doença de Chagas na região Amazônica, com eixos que investigam desde a transmissão oral, por meio de frutos contaminados, até metodologias para contenção da doença.
O pesquisador ressalta que a Amazônia apresenta uma forma de infecção diferente da doença de Chagas. “A forma silvestre infecta o homem não porque o barbeiro esteja domiciliado nas casas, mas porque o homem entra em contato com o triatomíneo, ou se infecta por via oral, tomando sucos contaminados por T. cruzi”, explica.
Este fator dificulta o controle da doença na região, pois das 130 espécies de vetores potenciais de T. cruzi conhecidas, cerca de 52 espécies domiciliares já foram identificadas no Brasil e outras 47 espécies silvestres mantêm seu ciclo na natureza entre mamíferos.
O especialista alerta para um cuidado especial a ser adotado nas áreas de expansão da fronteira agrícola, invasões e entradas em ambiente silvestre como a Amazônia e a Mata Atlântica, acentuadamente nos processos de ocupação destes locais e na vigilância sobre eventuais doenças ocorridas nestas áreas.
Para Coura, o desafio do controle da doença de Chagas consiste no equacionamento de aspectos técnicos e político-administrativos de um sistema permanente e sustentável de vigilância epidemiológica, com características de descentralização, constante supervisão e ampla participação comunitária. A interação desta estratégia com entidades internacionais de saúde garantirá o sucesso das ações no combate à doença, afirma o pesquisador.
Outros fatores importantes para potencializar estas ações, segundo Coura, são a melhoria das habitações (e do peridomicilio), a educação sanitária da população exposta e o tratamento dos casos agudos e crônicos recentes de infecção, complementados pela vigilância.
Coura aplicou pela primeira vez, na década de 1960, a nitrofurazona em casos crônicos de pacientes chagásicos, buscando pioneiramente uma terapia específica para a doença.
Em seguida iniciou expedições pelo Brasil, passando pelas regiões Nordeste, Centro Oeste, Sudeste e Norte com sua equipe para estudar a doença de Chagas, suas mudanças e evolução. Hoje, aos 81 anos, tem uma agenda ativa, que inclui palestras em fóruns nacionais e internacionais, reuniões e bancas de mestrado e doutorado, além das aulas que ministra nos cursos da pós-graduação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
Teve seu trabalho reconhecido ao longo da carreira acumulando honrarias como a Gran Cruz do Mérito Científico, concedida, em 2008, pela Presidência de República, e a medalha do centenário de Pirajá da Silva, do Ministério da Saúde. É também professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisador emérito da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/IOC).
Quando questionado sobre suas perspectivas para o futuro das investigações científicas em Chagas ele é objetivo: “Os pesquisadores brasileiros devem somar sua criatividade e energia para trabalhar nas causas da saúde pública do nosso país, ter compromisso social com o seu trabalho”, finaliza.
Matéria de Pâmela Pinto
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)